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2. GLOBALIZAÇÃO, INOVAÇÕES E COMPETITIVIDADE

2.2 GLOBALIZAÇÃO

O termo globalização pode ser compreendido, de forma geral, como “um estágio mais avançado do processo histórico de internacionalização”. (COUTINHO E FERRAZ, 1995, p.221). Essa conceituação geral deve ser qualificada segundo vários aspectos, que recebem diferentes ênfases pelos diversos autores que abordam o tema.

Os autores destacam três aspectos relevantes:

a) uma etapa forte de aceleração da mudança tecnológica, caracterizada pela intensa difusão das inovações nas telecomunicações e na informática;

b) a rápida difusão de novo padrão de organização da produção e da gestão que vem acentuando o peso do comércio regional intra- indústria (e também intra-firma, especialmente no caso das transnacionais) uma vez que o sistema just-in-time e a resposta adaptada às demandas específicas dos mercados, exigem uma certa proximidade física dos produtores com seus fornecedores e clientes/consumidores;

c) o avanço da concentração dos mercados dentro dos blocos regionais, assim como o contínuo aprofundamento da centralização do capital (através de fusões e aquisições) nos anos 80, contribuiu para a emergência de um número significativo de setores oligopoiizados à escala mundial. (COUTINHO E FERRAZ, 1995, p.221).

Gonçalves et a i (1998, p. 136) distingue na globalização a “interação de três dimensões distintas, que têm ocorrido ao longo dos últimos 20 anos e que têm afetado as dimensões financeira, comercial e produtiva”.

A dimensão financeira está conectada à expansão dos fluxos financeiros, ao crescimento da concorrência e à maior integração entre sistemas financeiros nacionais. Durante as décadas de 80 e 90, ocorreram aumentos significativos nesses fluxos, decorrentes das inovações tecnológicas nas áreas de informática e telecomunicações, que propiciaram para as diversas organizações o

desenvolvimento de um ambiente de conexão de redes entre si, para a geração de novos produtos financeiros.

A criação de um sistema de crédito internacional, objetivando oferecer maior segurança nas aplicações e conseqüente redução no risco e a busca incessante pela liquidez e lucros possibilita alterações constantes nas aplicações, permitindo o seu deslocamento para qualquer país ou na troca de títulos, onde surge de um lado a vantagem em relação a maior disponibilidade de capital, porém aumentando a instabilidade aos países receptores e sua dívida.

Em função desse processo, ocorreu um aumento da concorrência, com disputas entre bancos e instituições não bancárias, entre elas, as seguradoras, fundos de pensão e empresas transnacionais, resultando na diversificação de produtos e serviços com o objetivo de atender a crescente demanda do mercado financeiro nas mais diversas regiões do mundo. O contexto hoje é de maior integração dos sistemas financeiros nacionais.

Quanto às dimensões comercial e produtiva da globalização percebe-se um aumento considerável nos fluxos de transações internacionais a partir dos anos 80 e 90, através da elevação do fluxo de comércio e dos investimentos diretos no exterior pelas empresas multinacionais, observando-se uma dinâmica retratada pélo chamado Ciclo de Vernon, como observa Gonçalves et al. (1998), num primeiro instante, as grandes empresas em seu processo de produção desenvolvem experiências com diversos tipos de insumos, matérias-primas, projetos e desenhos de produtos finais para atender a demanda do mercado interno; num segundo instante, quando o produto se encontra na fase de maturação, parte-se para as exportações; num terceiro instante ocorrem as transferências de suas fábricas para os países onde o mercado ainda é atraente, sendo que neste estágio, possivelmente, não exista mais interesse por parte da empresa na produção deste produto no país de origem, haja vista sua padronização e menor custo de fabricação nas regiões menos desenvolvidas.

Na dimensão produtiva da globalização, de acordo com Gonçalves et al. (1998), são identificados três processos diferentes, que interagem entre si: a

internacionalização da produção., a concorrência internacional e a integração entre as estruturas produtivas nacionais. No que diz respeito a internacionalização da produção, percebe-se que as empresas subdividem seus produtos em componentes que podem ser produzidos nas filiais em outros países onde existam maiores vantagens, de mão de obra, custos, matéria-prima etc., e serem montados por exemplo na matriz.

Em relação à concorrência, pode-se dizer que está atrelada ao fato de um país poder ser mais competitivo ém relação ao outro nos aspectos de produção, no que tange a flexibilidade, produtividade, qualidade, atendimento, transporte e etc. Quanto à integração entre as estruturas produtivas nacionais, refere-se a possibilidade de as empresas formarem parcerias produtivas “integrando” suas especificidades com o objetivo de obter as vantagens comparativas mencionadas acima.

Franco (1998) aponta para a globalização como um estágio aprofundado da internacionalização do capital devido ao crescimento dos fluxos de comércio de bens e serviços e do investimento internacional em níveis consistentemente superiores aos do crescimento da produção.

Segundo o autor, pelo menos três eixos fundamentais do processo de globalização merecem destaque:

a) o fenomenal crescimento das redes de filiais de empresas transnacionais (ETNs) resultou numa transição, no seio dessas organizações, de um status de "federações de filiais" para outro onde o caráter global de suas atividades lhes determina esforços contínuos de racionalização de atividades em escala global, dos quais resulta uma nova identidade supra-nacional com amplas e profundas implicações no tocante às suas propensões ao comercio exterior;

b) a proliferação de estratégias de ajustamento e racionalização compreendendo desintegração vertical, outsourcing e relocalização no exterior, tendo como exemplo mais notável o chamado modelo Kojima - Osawa para a experiência japonesa de investimento direto no exterior;

c) a proliferação de "novas formas" de investimento internacional compreendendo uma miríade de vínculos financeiros e notadamente tecnológicos estabelecendo uma racionalidade global no processo

produtivo sem necessariamente envolver a complexidade do processo de investimento direto. (FRANCO, 1998, p. 122).

A globalização comercial pode ser associada a reduções de custos nos transporte de cargas através da conteinerização dos produtos, a melhoria nas comunicações e a facilidade de viagens aéreas. Isto facilitou os esforços das corporações em compor um novo tecido industrial, formado de associações e redes inter-empresas (tie-ups) e intra-empresas (networking arrangements), como forma de diluir os crescentes custos fixos em P&D e marketing global.

Deste modo, a globalização evidencia-se num processo de substancial crescimento do comércio e de investimentos internacionais, reunindo um número cada vez maior de países em trocas, num intenso sistema de abertura e de conflitos comerciais, procurando envolver os comércios inter-industrial, intra-industrial e intra- firma, diminuindo deste modo o poder de políticas públicas internas dos países.

Outros autores fazem críticas à globalização devido às desigualdades oriundas desse processo. Para Chesnais (1995) o termo “globalização” está carregado de ideologias, segundo as quais a sociedade composta por países e suas classes sociais, não tem outra alternativa a não ser adaptar-se. A globalização é tão relevante que as organizações econômicas internacionais usam este termo como

slogan. De acordo com uma ideologia o livre jogo de mercado, em sua plenitude,

conduz à globalização da concorrência dada pela abertura das fronteiras nacionais, pelo desmantelamento das regulamentações públicas e pela atuação das empresas numa concorrência global, mesmo num ambiente desigual. Os grandes vencedores seriam os “compradores” que, através da livre negociação, poderiam adquirir os produtos que desejassem pelo menor preço.

Essa visão ideológica da globalização, no sentido de liberação comercial, ocorrida nas décadas de 80 e 90, possibilitou sua aceitação, pois passa a ser vista como processo benéfico e necessário. Mas, a liberalização das trocas e, principalmente, a constituição de blocos continentais de áreas de livre comércio ou

de “mercados únicos” beneficiaram muito mais as empresas transnacionais do que a qualquer outra categoria de firma e ou agentes econômicos. (CHESNAIS, 1995).

A globalização comercial também é vista como uma forma sutil de abertura das economias dos países desenvolvidos com o objetivo, de controlar o jogo de oferta e demanda nos mercados mundiais, pêlo domínio de um mesmo padrão de consumo.

Dessa forma, conforme Baumann (1996, p.34), a globalização:

reflete a tendência de uma semelhança crescente das estruturas de demanda e na crescente homogeneidade da estrutura de oferta nos diversos países, possibilitando a apropriação de ganhos de escala, a uniformização de técnicas produtivas e administrativas, e a redução do ciclo do produto e, ao mesmo tempo, muda o eixo focal da competição de concorrência em termos de produtos para a competição em tecnologia de processos.

Neste sentido Baumann (1996) destaca que a globalização possui uma característica problemática ao aumentar a dependência e a vulnerabilidade dos países em desenvolvimento. O processo de internacionalização das companhias dos países desenvolvidos, principalmente dos EUA, Europa e Japão permite a apropriação ainda maior do conhecimento tecnológico, ampliando a concentração e a dependência. Através da apropriação da tecnologia e da diferenciação salarial, as empresas instalam suas plantas em países ou regiões menos desenvolvidas aproveitando-se do diferencial tecnológico e impondo um ritmo de produção que altera o posicionamento das concorrentes ou seu estilo de trabalho para buscar o padrão dominante.

Todavia, a dependência tecnológica e a menor capacidade de acumulação as induzem a uma maior dependência, haja vista que só lhe resta a associação com concorrentes internacionais. Em contrapartida, essa exposição ao mercado internacional e a maior fluidez de recursos desestabilizam a liberdade dos governos locais. Como conseqüência deste processo, tem-se à hierarquização do sistema produtivo mundial e a marginalização dos países menos desenvolvidos. Desta

forma, ao lado das oportunidades, há riscos para os países que, como o Brasil, engajaram-se no processo de globalização como um aprofundamento do processo de globalização da economia.

Cabe aos países e empresas que almejam sobreviver nesse ambiente tirar proveito das oportunidades criadas neste cenário, onde a informação e a tecnologia são ferramentas que se fazèm presentes. Os governos devem criar mecanismos de desenvolvimento internos e externos que permitam maior competitividade às suas empresas e estas, por seu lado, devem alavancar métodos e processos também internos e externos que possibilitem ser referência a nível mundial naquilo que produzem, estando sempre um passo a frente de seus concorrentes agora globais. Para tanto se faz necessário investimentos em capacitação tecnológica e organizacional. Nos tópicos adiante abordaremos mecanismos que possam ajudar as empresas a obterem esses requisitos.