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4. RESULTADOS DA CPI PETROBRAS 2015

4.1 DOS RESULTADOS TÍPICOS PRODUZIDOS PELA CPI

4.1.1 Governança e gestão dos riscos internos nas estatais

Não obstante o Relatório Final da Comissão tenha consignado a impossibilidade de afirmar que a corrupção ocorrida dentro da estatal tenha sido institucionalizada, restou demonstrado que o desvio ético das pessoas e das empresas foram substanciais para que a corrupção ocorresse.

Diante disso, a CPI sugeriu a apresentação de projetos de lei para o aprimoramento da governança, da gestão de riscos e dos controles internos das estatais. Dentre os mais variados pontos, destacam-se aqueles que buscam estabelecer a obrigatoriedade de decisões colegiadas, indicação de critérios técnicos para seleção de diretor e vice-presidente, gestão profissional do risco e alocação de capital para suportar riscos.

Nesse sentido, o Projeto de Lei n° 4083/2015 estabelece normas e princípios para aprimorar a governança, a gestão de riscos e os controles internos das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União. Em que pese o inegável mérito do PL, o Parlamento não deu andamento à sua análise de modo prioritário, de maneira que continua tramitando na Câmara dos Deputados.

O referido projeto traz em seu bojo uma série de considerações a respeito de uma boa governança. Os principais pontos são:

1) definição de governança como estrutura organizacional e processo de decisão estratégico, tático e operacional;

2) tomada de decisões serem colegiadas, mediante estabelecimento de competências;

3) possibilidade de decisões individuais, desde que não haja conflito de interesses, sendo avaliada a situação pelo Conselho de Administração;

4) criação de Comitê de Auditoria, subordinado ao Conselho de Administração;

5) criação de Comitê Estratégico de Gestão de Riscos e Controles Internos;

6) estabelecimento do cargo de diretor como privativo de empregado de carreira;

7) estabelecimento do mandato de três anos para o exercício do cargo de diretor e de vice-presidente, prorrogável por mais dois.

Quanto ao tratamento de denúncias, o projeto, entre outras coisas, determina:

1) a criação de canais para o recebimento de denúncias;

2) a competência da auditoria interna para realizar correição em face do presidente, do vice-presidente e dos diretores, inclusive de ofício.

Ao final, o projeto encaminha para a criação de um código de ética corporativa, estabelecendo diretrizes básicas.

Logo, o Projeto de Lei n° 4083/2015 produz resultado típico ao tentar, por meio da via legislativa, realizar modificações que a CPI entende relevantes para a melhor governança e controle interno de estatais.

A respeito da implementação de regras de governança, o Tribunal de Contas da União, em seu Referencial Básico de Governança aplicável a órgãos e entidades da Administração Pública, de 2014, aponta que, desde a crise ocorrida em 1980, o Estado passou a adotar medidas que garantissem uma maior eficiência, sendo consideradas como boas práticas de governança, tendo como base os principais aspectos:

liderança, compromisso, integração, transparência, integridade e prestação de contas.

O Referencial supracitado dispõe que, para a Governança atender aos anseios da sociedade, deve garantir:

“comportamento ético, íntegro, responsável, comprometido e transparente da liderança; controlar a corrupção; implementar efetivamente um código de conduta e de valores éticos; observar e garantir a aderência das organizações às regulamentações, códigos, normas e padrões; garantir a transparência e a efetividade das comunicações; balancear interesses e envolver efetivamente os stakeholders (cidadãos, usuários de serviços, acionistas, iniciativa privada) (Tribunal de Contas da União, 2014, p.13)”.

Conforme mencionado, no setor público, a Governança deve observar os valores éticos, definir as intervenções necessárias para potencializar e otimizar resultados,

investir no desenvolvimento das capacidades técnicas, atentando-se sempre à gestão de riscos e de desempenho e sustentando-se em controles internos e instrumentos vigorosos de gestão dos recursos financeiros.

O que se pretende com a gestão de riscos é garantir que as organizações, públicas ou privadas atinjam seus objetivos, levando sempre em consideração a transparência do processo decisório, a fim de facilitar a criação de um planejamento estratégico efetivo, de modo a aumentar a capacidade do governo e, consequentemente, utilizar as verbas públicas de maneira adequada.

No que concerne ao controle interno, o Tribunal de Contas da União define como:

“[...] processo composto pelas regras de estrutura organizacional e pelo conjunto de políticas e procedimentos adotados por uma organização para a vigilância, fiscalização e verificação, que permite prever, observar, dirigir ou governar os eventos que possam impactar na consecução de seus objetivos.

É, pois, um processo organizacional de responsabilidade da própria gestão, adotado com o intuito de assegurar uma razoável margem de garantia de que os objetivos da organização sejam atingidos” (Tribunal de Contas da União, 2009. p. 4).

Diante disso, vê-se que foi acertado o projeto de lei apresentado, a fim de que a PETROBRAS adote as medidas que visam garantir boa governança, gestão de riscos e controles internos. Nesse sentido, manifestou-se o resultado típico da CPI com a apresentação do PL, na medida em que, diante das informações obtidas a partir da investigação realizada, foram utilizados os instrumentos próprios da CPI para tentar prevenir, no futuro, a prática de corrupção, ao buscar a melhoria da gestão das estatais.

Ainda que o projeto de lei continue em trâmite, de modo que ainda não ostenta caráter de lei, observa-se que, em atenção às recomendações propostas pela Comissão Parlamentar de Inquérito, a PETROBRAS adotou uma série de medidas visando o fortalecimento de sua governança, conforme se verifica a partir da entrevista realizada com o atual presidente da PETROBRAS, contida no apêndice desta dissertação.

A PETROBRAS passou a adotar, após a CPI de 2015, uma postura diferente da

que apresentava. O próprio presidente da estatal registra que, após 2015, foi criada a Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, a qual, a partir desse período, começou a trabalhar com mecanismos de compliance. Dessa maneira, busca-se o monitoramento do comprometimento ético de seus colaboradores, visando assegurar o cumprimento das normas previstas no Código de Conduta e Políticas da Companhia e, consequentemente, a redução da incidência de fraudes.

A estatal também atendeu a recomendação de que as decisões da empresa fossem colegiadas, a fim de evitar desvios éticos ou conflitos de interesses.

Ainda no período posterior à CPI da PETROBRAS de 2015, o presidente Roberto Castello Branco, na entrevista concedida para elaboração deste texto, destaca a formulação do Programa PETROBRAS de Prevenção da Corrupção – PPPC, abordando uma série de medidas que têm por objetivo:

1) prevenir – identificar, avaliar e mitigar riscos de desvios éticos;

2) detectar – identificar e interromper o desvio ético;

3) corrigir – responsabilizar e aplicar a penalidade a quem não tenha devidamente observado o PPPC; e

4) oportunizar o aperfeiçoamento das medidas que não impediram o desvio detectado, reduzindo a ocorrência de fraude, corrupção e lavagem de dinheiro.

Ainda a respeito da realização de resultado típico em decorrência da CPI, vale destacar que o presidente Castello Branco esclareceu, na entrevista, que o Tribunal de Contas da União, no Acórdão nº 1532/2019 – TCU – Plenário, verificou que a PETROBRAS implementou boa parte das medidas decorrentes do Relatório Final da CPI da PETROBRAS de 2015.

Por fim, registre-se que a Indicação n° 1907/2015 sugeriu a análise da viabilidade de reestruturação da Controladoria-Geral da União, com vistas à adequação das atividades do órgão quanto às auditorias e ao acompanhamento das empresas estatais. Com isso, a Indicação também pode ser enxergada como resultado típico, especialmente na medida em que há a tentativa de, a partir do caso investigado na

PETROBRAS, sugerir a adoção de medidas para o órgão de controle, no intuito de tentar evitar que tais práticas se repitam em outras estatais da Administração Pública.

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