• Nenhum resultado encontrado

5 AS RELAÇÕES ENTRE O BRASIL E O FMI

5.1.5 Governo Castelo Branco (1964-1967): afinidades com o FMI

Segundo Cano (2000, p.180), o golpe militar em 31 de março de 1964 (que tomou o poder de Goulart) teve grande apoio da conspiração civil, que cresceu ao longo de 1963, e dos Estados Unidos. Por meio de Ato Institucional, o General Castelo Branco foi eleito indiretamente pelo Congresso como Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, com mandato até 15 de março de 1967. Seu governo defendeu a aproximação do país com investidores estrangeiros buscando melhorar relações com os EUA e as organizações internacionais, Banco Mundial, FMI e BID, sob a temática de que o Brasil defendia a economia do mundo livre.

As primeiras medidas adotadas pelo novo governo não diferiram significativamente de tentativas anteriores de estabilização, pois, estavam centradas na renovação da Lei de Remessa de Lucros, fim da estabilidade no emprego, política de redução salarial pelos reajustes inferiores à inflação, redução dos subsídios e das taxas de câmbio. Considerando a inflação como o problema maior, foi adotada uma política de redução de déficit público, controle de crédito e dos preços112. A inflação caiu para 34,5% em 1965, 38,8% em 1966 e 24,3% em 1967113

.

Com a adoção de tais medidas, o novo regime político obteve apoio dos Estados Unidos e, conseqüentemente, dos organismos internacionais. A partir de então, todas as ações buscavam uma integração maior com os países capitalistas desenvolvidos. Em meados de 1964, após quatorze anos de desaprovação da política econômica brasileira, o Banco Mundial anunciou que recomeçaria a emprestar para o país. Destaca-se neste período, o Eximbank americano como credor mais importante, implicando numa presença discreta do FMI no monitoramento do programa de estabilização.

111

Cano (2000): obra: Soberania e política Econômica na América Latina.

112

Arantes (2002)

98

“A “generosidade” do governo americano na concessão de novos empréstimos ao Brasil obedece a razões de ordem política e econômica, na sua função de Condutor da estratégia global do sistema capitalista. Por outro lado, através dos empréstimos, ou melhor, da exigência de relatórios específicos a respeito dos empréstimos- projeto (...) sobre a performance macroeconômica (...) os Estados Unidos não só tem acesso a todas as informações relativas ao desempenho da economia, mas se transformam num supervisor de todos os aspectos da política econômica brasileira.” (BRUM, 1996, p.156)

Somente após apresentar um novo plano de estabilização, recursos foram liberados pelos Estados Unidos, que divulgaram um Programa de Empréstimo de US$ 50 milhões. A princípio, o recurso disponibilizado não aumentou o fluxo de capitais para o país devido à cautela das agências internacionais. Somente no início de outubro de 1964 surgiram sinais estimuladores, com a afirmação do Embaixador Lincoln Gordon, sobre o comprometimento de US$ 222 milhões para o Brasil. Em dezembro, o diretor da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) David Bell, após visitar projetos financiados por aquele país, anunciou um empréstimo de US$ 650 milhões ao governo brasileiro.

Apesar da afinidade com o governo militar, o Fundo tinha críticas em relação à política econômica, especialmente com relação à indexação financeira da economia que fazia parte de uma abordagem mais gradualista de combate à inflação. Isso dificultou as negociações com a instituição ao final de 1964, tendo assinado um acordo stand by somente em 1965. Nesse período os compromissos multiplicaram-se: o Banco Mundial anunciou uma gama de empréstimos e o FMI um acordo de US$ 120 milhões e uma linha de crédito sob a qual o Brasil poderia sacar em qualquer momento. Isso mostrava que o Fundo estava de acordo com o Programa de Ajuste Econômico do Governo (PAEG)114

.

Após este período, as relações do governo militar com o FMI melhoraram. Comprova- se essa situação com os sucessivos acordos stand-by negociados, ano após ano, entre 1965 e 1972. Segundo Almeida (2002), dos quase 570 milhões de DES concedidos nessa época em oito operações anuais, o Brasil sacou apenas 150 milhões (em duas tranches de 75 milhões cada, as primeiras sem condicionalidades), contentando-se o governo com o aval do Fundo (que não impôs restrições relevantes) para fins de renegociação da dívida com Credores oficiais. O BIRD, também passou a emprestar com maior liberalidade ao Brasil, assim como a USAID cujos recursos, apesar de estarem condicionados a um acordo stand by com o Fundo, tornou o país o seu quarto maior beneficiário.

114 Balaban (2001)

Segundo Arantes (2002), para comprovar o comprometimento do governo com as políticas sugeridas pelo Fundo, o governo adotou um conjunto de reformas econômicas rigorosas, um forte estímulo creditício e fiscal, efetuou um corte drástico das importações, e estimulou as exportações (que crescem 21%a.a. entre 1961 e 1967 e 42%a.a. entre 1962 e 1967). Além disso, a renegociação da dívida (que estava praticamente estável, passou de US$ 3,1 bilhões em 1961 para US$ 3,4 bilhões em 1967) e a retomada de financiamentos internacionais permitiram o desafogo no Balanço de Pagamentos115. O PIB cresceu à média anual de 5% no período da recuperação (1962-1965) enquanto que no período recessivo, a média anual tinha sido apenas de 2,4% (entre 1962-1965)116

. Com saldos positivos o país pôde efetuar o pagamento de seus compromissos internacionais sem necessitar de novos empréstimos.

Observou-se durante o Governo Castelo Branco (1964-1967) a adoção de políticas afins as defendidas pelo FMI. O governo defendeu a aproximação do país com investidores estrangeiros buscando melhorar as relações com os EUA e organismos internacionais (Banco Mundial, FMI e BID). Para tanto, adotou medidas tais como: fim da estabilidade do emprego, política de redução salarial, redução de subsídios e redução das taxas de câmbio. O FMI anuncia então um acordo stand by de US$ 120 milhões com possibilidade de saque imediato, o que comprovava a concordância da instituição quanto ao Programa de Ajuste Econômico do Governo (PAEG).

Documentos relacionados