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CAPÍTULO 3 – GOVERNANÇA E A TRAJETÓRIA DA GESTÃO

3.7 O GOVERNO FERNANDO HENRIQUE AO GOVERNO

Com um trabalho preparado para conferir estabilidade econômica à nação ainda como Ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco, Fernando Henrique, também de estilo neoliberal, aprofunda o Plano Real e começa a criar as condições para diversas reformas em diferentes frentes das atividades de Estado (política monetária e fiscal, reforma da administração pública, reforma da política de educação entre outras).

A reforma da administração pública veio a partir de uma releitura histórica do modelo de administração pública.

Com esse espírito, analistas políticos e econômicos observaram que entre os anos 30 até meados dos anos 70, o forte papel do Estado na condição de promotor do desenvolvimento levou a um paulatino esgotamento da capacidade de investimento, fato que repercutiu no momento em que a demanda por infraestrutura econômica e novos aportes voltados para a competitividade começou a aumentar junto com a globalização crescente da economia.

Entre as décadas de sessenta e setenta a preocupação maior não era com instrumentos ou processos de governança tal como pensados hoje, mas com as condições necessárias à garantia da governabilidade e com instrumentos de controle que concentrassem no Estado a palavra final. Aliás, sequer havia ambiente político para algo diferente.

No início dos anos 90 o País viu se agravarem o desemprego e a inflação e da mesma forma, graves e complexos problemas sociais até então ignorados.

Os anos avançavam e com o modelo neoliberal de reducionismo do Estado, que se sucedeu ao modelo desenvolvimentista, a solução parecia ser uma troca desse reducionismo pela expansão da participação do setor privado nos investimentos. Esse era um grande equívoco.

Bresser (1997) analisando a questão em meados dos anos 90, observou que a ênfase dada às reformas econômicas, transferindo à iniciativa privada a co-responsabilidade pelos

investimentos mais estratégicos, se revelou inviável. Segundo ele, a reforma do Estado brasileiro deveria envolver quatro problemas que se mostravam interdependentes: “(a) um problema econômico-político – a delimitação do tamanho do Estado; (b) um outro também econômico-político, mas que merece tratamento especial – a redefinição do papel regulador do Estado; (c) um econômico-administrativo – a recuperação da governança (grifo nosso) ou capacidade financeira e administrativa de implementar as decisões políticas tomadas pelo governo; e (d) um político – o aumento da governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade, e governar.”. Começava a ser criado o ambiente para a reforma do aparelho de Estado.

Em 1995, capitaneando um estudo com o objetivo de promover essa reforma, o mesmo Bresser, então Ministro da Administração do Governo Fernando Henrique, detalhou em um plano, que veio a ser conhecido como Plano Diretor de Reforma do Aparelho de Estado (PDRAE), sete pontos principais, que deveriam ser estudados para se compreender a administração do passado e projetar a administração do futuro: a) breve interpretação da crise do Estado; b) classificação evolutiva da administração pública; c) histórico das reformas administrativas no Brasil a partir dos anos 1930; d) diagnóstico da administração pública brasileira; e) quadro referencial das formas de propriedade, setores do Estado e tipos de gestão; f) estratégia de mudança; e, g) os principais projetos de reforma.

O PDRAE tinha como proposta implantar a “administração gerencial”, um marco divisor de águas em relação à administração pública tradicional de até então. Este plano adotava como premissa que “a crise latino-americana era uma crise de Estado”, razão pela qual o plano tinha como sustentáculo: a) o ajustamento fiscal duradouro; b) as reformas econômicas orientadas para o mercado, acompanhadas de uma política industrial e tecnológica; c) a reforma da previdência social; d) a inovação de instrumentos de política social; e, e) a reforma do aparelho de Estado, com vistas a aumentar sua “governança” (capacidade de implementar de forma eficiente, políticas públicas) (BRESSER, 1997).

De acordo com o PDRAE, o problema do governo brasileiro não era de governabilidade, mas de governança. Nesse contexto, o Estado deixa seu papel de responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social, para se tornar seu promotor e regulador. Torna-se menos executor e mais provedor de serviços. Para tanto precisaria promover uma progressiva descentralização vertical para os níveis estadual e municipal das funções

executivas no campo da prestação de serviços sociais e de infra-estrutura. Seria a transição programada de um tipo de administração pública, burocrática, rígida e ineficiente, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento da cidadania.

Nesse sentido o plano estabelecia como necessário: a) a redefinição dos objetivos da administração pública, voltada para o cidadão-cliente; b) o aperfeiçoamento dos instrumentos de coordenação, formulação e implementação e avaliação de políticas públicas; c) a flexibilização de normas e a simplificação de procedimentos; d) o redesenho de estruturas mais descentralizadas; e, e) o aprofundamento das idéias de profissionalização e de permanente capacitação dos servidores públicos.

No contexto da reforma administrativa, Abrucio e Gaetani (2006) mostram que, em que pese o Governo Federal ter sido precursor no lançamento do trabalho em 1995, foram o estados, alguns até de forma antecipada e voluntária, que entre 1995 e 2006 partiram para efetivamente implementar, por etapas, ações inovadoras, revelando que não havia uma relação de dependência com a União, embora com impactos temporais e de intensidade heterogêneos (ABRUCIO et al., 2006, p.1). Esse conjunto de fatores contribuiu, em certa medida, para o surgimento, no cenário da administração pública, da preocupação com a temática governança e com a participação social, e nesse contexto, a pergunta sobre como fazer para alcançar bons resultados, e mais, como mensurá-los.

Enfim, “nos anos 90 o poder local passa a ser visto, de um lado, como sede político- administrativa do governo municipal, mais especificamente de suas sedes urbanas – as cidades (vide Barbosa, 2000, p.56), e de outro, pelas novas formas de participação e organização popular, como dinamizador das mudanças sociais”. Na mesma época, os representantes municipais passam a estimular a discussão democrática via criação de Conselhos para diferentes temas sociais, como saúde, habitação, direito das crianças e adolescentes e assistência social entre outros.

Fato é que o impacto das decisões da administração central, sempre concentrando em Brasília a escolha das principais prioridades do desenvolvimento e colocando a sociedade por um bom tempo, como mera consumidora de bens, contribuiu para distanciar social e economicamente, ainda mais, regiões como o Nordeste, dos níveis de desenvolvimento de outras regiões, tema do capítulo seguinte.

CAPÍTULO 4

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