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3. UECE: TEMPOS E ESPAÇOS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO CEARÁ

3.2 Governo Plácido Castelo (1966-1971)

3.2.1 A primeira tentativa de criação da UECE

A criação da Universidade Estadual do Ceará foi uma dessas ideias que, ainda no governo Plácido Castelo, foi bater na Reitoria da Universidade Federal do Ceará, solicitada a prestar à Secretaria de Educação do Estado e também ao próprio Gabinete do Governador assessoramento no projeto de criação e instalação da primeira universidade estadual no Ceará. Então Reitor Agregado26 da UFC, Antônio Martins Filho tomou-se de entusiasmo e assumiu

de pronto a empreitada. O relato que faz do episódio é significativo.

Designado para executar essa tarefa, passei a coligir a documentação referente a cada uma das autarquias educacionais que iriam compor a instituição universitária e a promover os necessários contatos com órgãos vinculados ao empreendimento, na esfera estadual.

Como Coordenador do movimento, já então credenciado pelo Governador, compareci perante o Conselho Estadual de Educação e ali fiz um pronunciamento bastante minucioso. A minha argumentação, segundo observei, não causou um efeito positivo perante o Plenário daquele Colegiado. Notei até mesmo que alguns Senhores Conselheiros estavam tomando as minhas palavras à guisa de idealismo, em virtude do trabalho por mim realizado na esfera federal.

Não obstante, a minha confiança na possibilidade de concretização, a ideia não arrefeceu. Cheguei mesmo a elaborar planos quanto à localização da nova Universidade.

Neste sentido, visitei o prédio da Cadeia Pública e bem assim as instalações da Estação João Felipe da RFFSA que, no meu entender, poderiam ser transferidas para Parangaba.

Na minha concepção, o campus da Universidade Estadual começaria na Santa Casa de Misericórdia, onde poderiam funcionar os Cursos de Ciências da Saúde, notadamente Enfermagem e Nutrição.

No prédio da Cadeia Pública, hoje ocupado pela EMCETUR, seriam instalados a Reitoria e Órgão da Administração Superior da Instituição, bem como vários cursos do Centro de Estudos Sociais Aplicados, ou seja – Administração, Serviço Social e outros.

Os cursos de Pedagogia, concentrados na Faculdade de Educação, deveriam ocupar uma parte da Estação João Felipe, cuja área daria também espaço suficiente para os Cursos de Humanidades, Ciências e Tecnologia e também uma Vila Olímpica.

26 Antônio Martins Filho, foi fundador e primeiro reitor da Universidade Federal do Ceará, no período de 1955 a 1967, sucedeu-lhe o Prof. Fernando Leite, eleito pelos representantes dos colegiados superiores, a partir de lista tríplice, resultante de consulta à comunidade universitária, para o período de 1967 a 1971. Ao assumir o cargo, o novo reitor encaminhou projeto aos colegiados superiores de outorga ao Prof. Martins Filho, do título de Reitor Agregado, sendo aprovado por aclamação. Assim, ficou até a sua morte, com direito a gabinete na Reitoria e assento nos colegiados superiores.

O plano seria naturalmente executado a curto, médio e longo prazos. Ainda hoje, decorridos já tantos anos, estou convencido de que, o que foi por mim esboçado naquela época, seria perfeitamente exequível.

É de importância acentuar que estávamos na vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, que possibilitava a criação de uma Universidade, pela “reunião, sob administração comum, de cinco ou mais estabelecimentos de ensino superior”. Nesse regime, tudo seria bastante simples, uma vez que o Estado já contava com quatro autarquias educacionais, necessitando apenas incorporar mais um estabelecimento de ensino superior a ser escolhido entre as Escolas ou Faculdades particulares, sediadas em Fortaleza.

Lamentavelmente comecei a observar que o governador Plácido Castelo já não mais manifestava seu entusiasmo, que representava a tônica nas nossas conversações anteriores.

Esse arrefecimento deve ter sido resultado do fato de políticos influentes da Zona Sul do Ceará estarem convencidos de que eu iria candidatar-me a Deputado Federal. Desse modo, exercendo liderança na criação de mais uma universidade, poderia contar com grande apoio no Cariri, com prejuízo para as pretensões de reeleição de alguns parlamentares daquela região.

O governador Plácido Castelo deve ter acolhido, pelo menos em parte, aquela versão das minhas pretensões de natureza política.

Por isso, o movimento pro-criação da Universidade Estadual, que eu já considerava vitorioso, ficou confinado ao plano das ideias. Foi uma pena, pois que o meu amigo governador Plácido Aderaldo Castelo perdeu a excelente oportunidade de assinalar, com o marco indelével da criação de uma Universidade, a sua passagem no posto mais alto da Administração Estadual. (Martins Filho, 1979, pag. 23 e 24).

Colocamos abaixo o capítulo II da Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961.

LEI Nº 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961 Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:

Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO II Das Universidades

Art. 79 - As universidades constituem-se pela reunião, sob administração comum, de cinco ou mais estabelecimentos de ensino superior.

§ 1º - O Conselho Federal de Educação poderá dispensar, a seu critério, os requisitos mencionados no artigo acima, na criação de universidades rurais e outras de objetivo especializado.

§ 2º - Além dos estabelecimentos de ensino superior, integram-se na universidade institutos de pesquisas e de aplicação e treinamento profissional.

§ 3º - A universidade pode instituir colégios universitários destinados a ministrar o ensino da 3ª (terceira) série do ciclo colegial. Do mesmo modo pode instituir colégios técnicos universitários quando nela exista curso superior em que sejam desenvolvidos os mesmos estudos. Nos concursos de habilitação não se fará

qualquer distinção entre candidatos que tenham cursado êsses colégios e os que provenham de outros estabelecimentos de ensino médio.

§ 4º - O ensino nas universidades é ministrado nos estabelecimentos e nos órgãos complementares, podendo o aluno inscrever-se em disciplina lecionadas em cursos diversos, se houver compatibilidade de horários e não se verificar inconveniente didático a juízo da autoridade escolar.

§ 5º - Ao Conselho Universitário compete estabelecer as condições de equivalência entre os estudos feitos nos diferentes cursos.

Art. 80 - As Universidades gozarão de autonomia didática, administrativa, financeira e disciplinar, que será exercida na forma de seus estatutos.

Art. 81 - As universidades serão constituídas sob a forma de autarquias, fundações ou associações. A inscrição do ato constitutivo no registro civil das pessoas jurídicas será precedida de autorização por decreto do governo federal ou estadual.

Art. 82 - Os recursos orçamentários que a União consagrar à manutenção das respectivas universidades terão a forma de dotações globais, fazendo-se no orçamento da universidade a devida especificação.

Art. 83 - O ensino público superior, tanto nas universidades como nos estabelecimentos isolados federais, será gratuito para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos. (Art.168, II da Constituição).27

Art. 84 - O Conselho Federal de Educação, após inquérito administrativo, poderá suspender, por tempo determinado, a autonomia de qualquer universidade, oficial ou particular, por motivo de infringência desta lei ou dos próprios estatutos, chamando a si as atribuições do Conselho Universitário e nomeando um reitor pro tempore.

Esta lei entrará em vigor no ano seguinte ao de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 20 de dezembro de 1961; 140º da Independência e 73º da República. JOÃO GOULART

Tancredo Neves Alfredo Nasser Ângelo Nolasco João de Cegadas Vianna San Tiago Dantas Walther Moreira Salles Virgílio Távora Armando Monteiro Antônio de Oliveira Brito André Franco Montoro Clóvis Monteiro Travassos Armando Souto Maior Ulysses Guimarães Gabriel de Resende Passos

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