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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 GRADIENTES DE RENDA DA TERRA E DE RENDA DA ÁREA ÚTIL

Neste capítulo são analisados os resultados encontrados após a tabulação dos dados coletados na Zona de Uso Agropecuário da APA da Serra da Esperança, em Mallet. São apresentados os resultados gráficos do gradiente de renda da terra na região e os gráficos do gradiente de renda da área útil para os cinco principais produtos da região, pinus, erva-mate, milho, soja e fumo. Outras culturas tradicionais, como feijão e arroz, não foram objeto de análise específica por ocuparem extensão de área pouco significativa nas propriedades onde são cultivadas, na maioria dos casos sendo culturas de subsistência.

Durante a pesquisa, através de formulário (ver Anexo 1), foram levantados dados sobre custos e receitas relativos aos quatro principais cultivares de cada propriedade da amostra. Para o cálculo da renda da terra de cada propriedade foram considerados os dados relativos aos cultivares. Tendo em vista que a maioria dos produtores locais não faz controle contábil detalhado de seus custos e receitas, as lacunas de dados foram preenchidas com valores médios para a região, obtidos por intermédio de proprietários mais zelosos com a contabilidade ou através da literatura disponível.

A distância média entre a Rodovia PR153 e a Escarpa Mesozóica, no Município de Mallet, é de 25 Km, considerando o percurso através das estradas vicinais. A dimensão da área em distância, no entanto, mostrou-se de pequena amplitude para afetar significativamente a declividade da curva representativa do gradiente de renda da terra medido.

Um dos principais fatores a afetar a pouca declividade encontrada no gradiente de renda da terra na região em relação á distância, deve-se à natureza da formação de preços nos serviços de transporte. Os serviços de transporte obedecem à lógica econômica de ter custos para viagens curtas proporcionalmente maiores do que para longas distâncias, em função da economia de escala que dilui a cobertura dos custos fixos por um número maior de quilômetros rodados. Tal procedimento está

em conformidade com referências encontradas na literatura sobre o tema (Clemente, 1992; Hoover e Giarratani, 1999). Sendo assim, é prática na região a cobrança de tarifas únicas por unidade de produto transportado dentro de um raio de até trinta quilômetros rodados. Por exemplo, os armazéns cerealistas cobram dos produtores sem transporte próprio, em média, R$ 1,20 (um real e vinte centavos) por saca de produto transportado de uma propriedade até trinta quilômetros de distância. O mesmo vale para o custo de transporte de madeira. Embora, em longas distâncias, o cálculo de custo de transporte possa ser feito com base em R$ 0,30/m3/Km (trinta centavos de real por metro cúbico por quilômetro), para distâncias inferiores a trinta quilômetros, o preço do transporte praticado é de R$ 30,00/m3 (trinta reais por metro cúbico), independentemente da quilometragem percorrida. Como, na prática, o custo dos primeiros trinta quilômetros de transporte é fixo, a variação do gradiente de renda da terra, na extensão dos vinte e um quilômetros abrangidos por esta pesquisa, não resultaria do custo de transporte. No entanto, considerando que o percurso de cada quilômetro em estradas pouco conservadas envolve custos de combustível, tempo e desgaste dos equipamentos, considerou-se para o cálculo do gradiente de renda o valor do frete por quilômetro.

Fig. 11 Gradiente de Renda da Terra na APA da Serra da Esperança, Mallet

-2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Km R $ / h a / a n o Renda da Terra Log. (Renda da Terra)

A curva do gradiente de renda da terra (Fig. 11) apresenta grande oscilação ao longo dos vinte e um quilômetros cobertos pela pesquisa.

A oscilação verificada na curva do gradiente de renda da terra deve se, em parte, à natureza das atividades desenvolvidas nas propriedades e, em parte, a oscilação resultante das diferenças de manejo, intensidade de uso, escala de investimento ou alguma externalidade ambiental. A natureza da atividade, que se refere ao tipo de cultura, afeta o gradiente de renda da terra porque os tipos de culturas diferentes pagam rendas diferenciadas. A diferença de manejo se refere à capacidade tecnológica e à disponibilidade de capacidade de trabalho, pois há casos em que a propriedade é usada apenas para produção de subsistência por proprietários aposentados que possuem renda fixa extra-terra. A escala do investimento afeta a Renda da Terra em função da economia de escala que aumenta a produtividade ou reduz o custo por unidade de terra cultivada. Quanto às externalidades ambientais, afetam a renda da terra porque se constituem em fatores imprevisíveis que afetam os resultados programados. As externalidades ambientais mais importantes a afetar as safras de produtos no ano de 2006 na região da APA da Serra da Esperança foram: (1) sobrevida da ratada da taquara, conseqüência da floração da taquara em 2005 e (2) a prolongada estiagem ocorrida entre os meses de fevereiro e agosto de 2006.

Se a variação da renda dependesse apenas do custo do transporte, ou seja, como o modelo sugere que, ceteris paribus, o valor da terra diminui com a distância ao centro de mercado, tendo em vista o fato de a equação para o cálculo da renda ser linear, graficamente a curva representando o gradiente de renda da terra teria a forma mostrada na Figura 12. O gráfico mostra que a partir do quilômetro dezoito a renda torna-se negativa, indicando aí o limite ideal para a fronteira produtiva.

As atividades com o maior indicador de renda da terra no roteiro da pesquisa são atividades industriais localizadas a uma distância máxima de um quilômetro da rodovia. Entre elas estão duas laminadoras de Pinus que aparentam estar operando próximo do limite mínimo do volume de negócios necessários para cobrir os custos fixos. Ambas as unidades pesquisadas possuem capacidade tecnológica e volume de produção semelhante, no entanto, na forma de financiamento do capital reside a principal diferença entre elas em relação à expectativa de lucros para o ano de 2006. Há previsão de resultado financeiro menor para uma delas devido aos encargos

financeiros sobre empréstimo na compra de novo equipamento. A outra opera com capital totalmente próprio e, apesar do aparente descontentamento de seu proprietário com o atual volume de negócios, apresenta renda da terra superior às atividades agrícolas desenvolvidas no seu entorno. O mercado de produtos laminados atualmente encontra-se com preços reprimidos e deixa pouca margem para riscos administrativos. O preço médio do m3 de lâmina de Pinus praticado no segundo semestre de 2006, de R$170,00 (cento e setenta reais), é 40% (quarenta por cento) inferior ao preço médio do produto praticados em 2004, de R$290,00 (duzentos e noventa reais). Possivelmente os produtores serão forçados a promover rearranjos produtivos no curto prazo para reduzir os custos de produção. Dentre as alternativas mais evidentes está a desoneração da folha de pagamento de salários que, na atual conjuntura, apresenta-se incompatível com as perspectivas do mercado.

Fig. 12 Simulação de gradiente de renda da terra “linear” na APA da Serra da Esperança, Mallet -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Km R $ / h a / a n o

Fonte: Pesquisa de Campo realizada no período mar-set/2006.

A tendência decrescente do gradiente de renda da terra com o aumenta da distância em relação ao principal corredor de distribuição de insumos e produtos, é representada pela curva “Log.(renda da terra)” (Fig. 11). Esta curva logarítmica

acentua a declividade negativa do gradiente de renda da terra referente à diminuição da renda auferida por unidade de terra com o aumenta da distância em relação ao principal corredor rodoviário regional.

A renda da terra aqui apresentada é uma medida que representa a renda por hectare de terra relativa ao conjunto de terras de uma propriedade. Para saber a renda apenas da área produtiva foi calculada o gradiente de renda da área útil em relação à distância da Rodovia PR153. Na Figura 13 é apresentado um gráfico comparativo entre as duas curvas.

Na comparação entre as duas curvas observa-se que onde há coincidência entre elas, ocorre utilização de cem por cento da superfície disponível. Nos intervalos de grande distanciamento entre as duas curvas, ocorre um grande percentual de terra improdutiva ou área de reserva.

Fig. 13 Gradiente de renda da terra e gradiente de renda da área útil na APA da Serra da Esperança, Mallet. 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Km R $ / h a / a n o Renda da Terra Renda da Área Útil

Fonte: Pesquisa de Campo realizada no período mar-set/2006.

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