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Gramática implícita e gramática explícita

Capítulo I- Enquadramento teórico

2. O uso das canções na aprendizagem da gramática

2.1. Gramática implícita e gramática explícita

Para o ensino da gramática, o professor deve ter consciência de que existem dois tipos de gramática que vão influenciar a aprendizagem. São a gramática implícita e a gramática explícita. Ambas são muito importantes e condicionam o ensino e a aprendizagem da língua estrangeira.

A gramática implícita é a gramática que o indivíduo aprendeu por si só, ou seja, é a gramática que usamos sem nos apercebermos. Assim, Thalita Fernandes Clemente (SD: 1594) refere que gramática implícita é “a competência linguística” que está dentro do falante, ou seja, é a gramática que o falante utiliza sem se dar conta, sem ter consciência que é gramática. Desta forma, a autora denomina-a também como gramática de uso, já que permite o uso intuitivo da língua. Esta gramática de uso está presente nas canções, pois os autores, quando escrevem, não reparam se estão a utilizar o Presente do Indicativo ou o Presente do Subjuntivo. Esta gramática está dentro deles e é esse material real (a canção) que os alunos devem ter contato, pois é uma gramática utilizada em contexto e não se usa de forma isolada.

Neus Sans Baulenas (2004: 2), no primeiro encontro prático de professores de ELE na Alemanha, destacou que este conhecimento gramatical é de natureza “intuitiva o subconsciente y no se halla formulado como un corpus de reglas”, ou seja, este conhecimento não se aprende a partir de regras, adquire-se espontaneamente, é manifestado a partir da especulação. A mesma autora (2004: 2) destaca que a gramática implícita:

Se compone de unidades sin analizar de dos tipos: frases-fórmulas y reglas intuitivas. Las frases-fórmula son producciones lingüísticas sin analizar, aprendidas en bloque. Las reglas intuitivas forman la gramática que subyace cuando el alumno habla o escribe la lengua espontáneamente. Ésta se manifiesta a través de juicios de gramaticalidad sobre muestras de lengua en los que el alumno especula sobre el funcionamiento del sistema. No es accesible conscientemente. Por ejemplo, los hablantes de español como lengua materna son incapaces, en su mayoría, de explicar el funcionamiento gramatical de sus producciones.

A gramática implícita refere-se ao conhecimento inato e inconsciente que todo o falante tem da sua língua. Esta não implica uma aprendizagem formal e adquire-se através do uso da língua. Na visão de Ormezinda Ribeiro (2001: 1) esta gramática é assimilada e interpretada intuitivamente pelos falantes de uma língua quando estes a ouvem, falam, leem ou escrevem, isto é, esta gramática é apreendida pelos sentidos, inconscientemente. Com o uso das canções, conseguimos que esta assimilação inconsciente seja feita, contudo, como se trata de uma língua estrangeira institucionalizada, é necessário que o professor ensine as regras e os usos. Desta maneira, passamos de uma gramática implícita para uma gramática explícita.

A gramática explícita são as regras gramaticais ensinadas na sala de aula, que explicam o funcionamento da língua. Deste modo, Neus Sans (2004: 2) reconhece-a como o conjunto de regras e estruturas analisadas e organizadas conscientemente num sistema por um aluno. Esta destaca como características:

Está formado por reglas o representaciones abstractas del funcionamiento gramatical; Estas reglas gramaticales han sido analizadas, ya que pueden ser descritas y clasificadas; Es conocimiento explicativo, ya que las reglas dan cuenta objetivamente del funcionamiento del lenguaje utilizado para la comunicación; El alumno puede acceder y hablar sobre ellas sin esfuerzo.

Estamos de acordo com esta autora, pois, para ensinar uma língua estrangeira a estudantes não nativos é necessário explicar o porquê da utilização de certas caraterísticas da gramática e ensinar o como se aplica. Desta forma, torna-se fulcral a utilização da gramática explícita. O professor até poderá levar os alunos a descobrir as regras, os usos gramaticais, contudo, deve explicar o melhor que pode essas regras e usos.

Thalita Clemente (SD: 1594) define esta gramática como o “conjunto de todas as gramáticas normativas e descritivas que, metalinguisticamente, explicam o funcionamento dessa língua” e refere que esta também se pode chamar gramática teórica. A mesma acrescenta que, nas atividades metalinguísticas, os alunos entram em contato com a estrutura, com a constituição e o funcionamento da língua materna. Isto quer dizer que, por vezes, o professor de línguas estrangeiras recorre à língua materna para explicar a gramática da língua estrangeira, quer seja por contraste ou por semelhança.

A gramática explícita adquire-se através da observação. Da análise, da sistematização e do estudo das regras da língua. Este conceitos têm uma grande importância, pois o papel fundamental da gramática deve ser o de ampliar, desenvolver a gramática implícita do aluno e explicá-la, para fazê-la mais funcional e prática e para torná-la instrumento de comunicação. Então, o papel da gramática deve ser o de tomar consciência do que se sabe, desenvolver as capacidades expressivas do discente, transmitir-lhe uma panóplia de conhecimentos sobre a língua que está a estudar e levar o aluno a refletir. O professor deve desenvolver a gramática já interiorizada (implícita) e deve ter consciência de que o aluno não é uma tábua rasa, que este já possui conhecimentos.

Durante a prática pedagógia, fez-se uso destes dois tipos de gramática. Primeiramente, no oitavo ano, com a apresentação da canção “Estoy cambiando” de Rosário Flores, tentámos consolidar os conhecimentos sobre a Perífrasis Verbal que os alunos tinham abordado na aula. Tivemos em atenção a gramática implícita para aprofundar a gramática explícita. No nono ano, com a canção “Camina” dos Orishas, como os alunos já tinham conhecimento dos usos do Imperativo, a partir do título e dos conselhos expressos na letra da canção, tentámos aproveitar a gramática explícita para aprofundar a gramática implícita. No sétimo ano, foram também utilizadas estas duas gramáticas. Com a canção “Esta vida es un sueño” do grupo La Oreja de Van Gogh, consolidámos os determinantes demonstrativos e o advérbio de lugar abordados nas aulas anteriores (gramática implícita) e, a partir de informações sobre o grupo musical e sobre a letra da canção, foram introduzidos e explicados os pronomes de complemento direto, ou seja, a partir da gramática implícita dos alunos foram introduzidas as regras, usando assim a gramática explícita.

Para concluir, estas duas gramáticas são fundamentais para o ensino de uma língua, quer seja materna quer seja estrangeira, já que o professor deve criar mecanismos para ativar os conhecimentos já adquiridos dos alunos e desenvolver os novos conteúdos a partir destes.

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