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2.4 A individualização e as gramáticas do português no Brasil

2.4.2 Gramáticas de uso

O Brasil produziu, até o momento, poucas gramáticas de uso. Neste item, apresenta-se uma revisão da gramática de uso de Neves, publicada no Brasil, e de Cintra & Koch, publicada em Portugal.

Sob um ponto de vista bastante diverso, Neves (2000) considera a classe dos adjetivos, em geral, como aquelas palavras que atribuem uma “propriedade singular a uma categoria, a qual já é um conjunto de propriedades”, denominada substantivo. Tem a função de qualificá-lo ou de sub-categorizá-lo.

Segundo a autora, podem ser classificados em adjetivos simples e adjetivos perifrásticos ou locuções adjetivas. O adjetivo simples é aquele que compreende apenas uma lexia, o perifrástico é composto de um substantivo precedido de preposição. A existência de um adjetivo simples correspondente a um perifrástico é apenas uma questão de léxico, não de gramática.

A autora acrescenta que um substantivo pode assumir a função de adjetivo, atribuindo a outro substantivo, o “conjunto de propriedades que indica”, para que funcione como qualificador. Por exemplo:

Romãozinho, que era assim chamado por ser pequeno: era MENINO; e malévolo. (LOB).

CHAVE para o Brasil é o acordo de terceira geração, que está praticamente finalizado com a CEE. (JL-O)

Ou, como em:

É por isso que o Unibanco nem parece banco. E é por isso também que as tarifas do Unibanco nem parecem tarifas. (revista VEJA)

Neves distingue, ao tratar das funções sintáticas do adjetivo, as seguintes:

a. Função de adjunto adnominal.

b. Função de predicativo: . predicativo do sujeito . predicativo do objeto

c. Função de argumento:

“O adjetivo tem função na estrutura argumental do nome com o qual ocorre, isto é, ele exprime o que seria um complemento do nome. (complemento nominal)”. (Neves, 2000, p. 183)

Nos anos cinqüenta, o debate da reforma agrária estava ligado à discussão mais geral dos rumos da industrialização BRASILEIRA. (AGR)

d. Função apositiva:

O adjetivo pode constituir uma expansão de um termo ocorrente na estrutura da oração, podendo, de tal modo, ser omitido sem afetar essa estrutura:

Viu o cano, RELUZENTE, parecia de prata (SE).

e. Funções próprias de substantivos:

O adjetivo passa, facilmente, a designar um conjunto de

propriedades, ou seja, um tipo de indivíduos e passa, assim, a ser usado como núcleo do sintagma nominal:

E agitou-se pela primeira vez a idéias de um Concurso Mundial de COMILÔES no Maracanãzinho. (BA)

A autora considera que existem subclasses para os adjetivos, quais sejam:

a. adjetivos qualificadores ou qualificativos: são aqueles que podem atribuir ao substantivo a que se referem uma característica mais ou menos subjetiva, mas sempre de forma vaga. Assim, não indicam uma propriedade que, necessariamente, compõe o “feixe de propriedades que o definem”: É ideal para o dia-a-dia e para suas receitas favoritas.

Nessa categoria, estão incluídos todos aqueles compostos por prefixos negativos e por sufixos que formam derivados de verbos, como -do/-to e -nte: o Seguro Auto Itaú é diferente.(revista VEJA)

b. Classificadores ou classificatórios: “esses adjetivos colocam o substantivo que acompanham em uma subclasse, trazendo para si uma indicação objetiva sobre essa subclasse. Eles constituem, pois, uma verdadeira denominação para a subclasse, e, portanto, são denominativos, e não predicativos, possuindo um caráter não vago”

(Neves, 2000: 186): Derivativos são ativos de renda variável, ou seja, não oferecem ao investidor rentabilidade garantida, previamente conhecida. (revista Exame)

Esses adjetivos admitem algumas propriedades: são graduáveis (admitem superlativo e comparativo) e são intensificáveis.

Muitos adjetivos classificadores correspondem a sintagmas nominais do tipo de + nome (locuções adjetivas) – têm a mesma distribuição, no texto, que essas locuções e, frequentemente, se coordenam com elas.

Já Koch (2001,p.233) afirma que:

“O adjetivo, ou “NOMEN ADJECTIVUM (nome acrescentado) ou NOMEM QUALITATIS, é, depois do substantivo e do verbo, a classe mais representada na língua. Caracteriza-se gramaticalmente como uma categoria não autônoma sintaticamente e dotada de flexão e graduação sob o ponto de vista morfológico; semanticamente designa qualidades, propriedades ou relações. Estes valores semânticos não ocorrem de forma independente na realidade: são selecionados a partir das coisas a que estão umbilicalmente ligados e depois armazenados no saber lingüístico como propriedades, qualidades ou relações”.

No primeiro caso, do adjetivo explicativo, sua função discursiva é de apresentar o produto, dar a informação que o outro desconhece. O seu conteúdo semântico é definitório ou conceitual. Já o adjetivo restritivo individualiza um ser. Ou seja, dado que todos os substantivos são

hiperônimos, não falam do ser, mas da classe de seres, a função do adjetivo restritivo é de individualizar o ser, desempenhando função semântica. O discurso publicitário utiliza os dois.

Em síntese, os aspectos teóricos apresentados neste capítulo orientaram também as análises realizadas por um procedimento teórico- analítico. Como as gramáticas de uso são poucas, a revisão apresentada por gramáticos tradicionais com tratamento semântico abriram perspectivas para o tratamento da gramaticalização, a fim de se construir o lugar retórico da sedução.

Essas concepções sobre o adjetivo em situação uso estão delineadas no capítulo seguinte, onde serão analisados os recursos de adjetivação presentes em anúncios publicitários escritos.

Capítulo III

Resultados obtidos nas análises da organização textual

de anúncios publicitários escritos

Este capítulo apresenta resultados obtidos de análises de anúncios publicitários escritos, relativas à estrutura canônica do anúncio, à superestrutura do descritivo, à organização multimodal do texto e à estrutura da argumentação.

A título de exemplificação, são apresentadas as análises de nove anúncios, sendo que dois, relativos a “10.800 agências”, estão contidos no mesmo item. Esses anúncios publicitários foram selecionados pelo critério da pertinência de sua construção textual e argumentativa.

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