impugnação das decisões arbitrais (algumas notas)”, in Estudos em Homenagem ao
Prof. Doutor José Lebre de Freitas, vol. II, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, pp. 753 a
756, e JORGE MIRANDA /RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, tomo III,
cit., pp. 117 e 118; admitindo, igualmente, a possibilidade de recurso (em geral) de
decisões arbitrais para o Tribunal Constitucional, veja-se MARIANA FRANÇA GOUVEIA,
Curso de Resolução Alternativa de Litígios, cit., p. 297 (nota de rodapé n.º 487), PAULA
COSTA E SILVA, A Nova Face da Justiça…, cit., pp. 105 e 106, J.J.GOMES CANOTILHO
/VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada, vol. II, cit., p. 521, FERNANDA DA SILVA PEREIRA, Arbitragem voluntária nacional - Impugnação de
sentenças arbitrais: o tortuoso e longo caminho a percorrer, Livraria Petrony, Lisboa,
2009, p. 100, e JOSÉ ROBIN DE ANDRADE,in DÁRIO MOURA VICENTE (coordenador),
Lei da Arbitragem Voluntária Anotada, cit., pp. 105 e 106.
372
Parece ser inegável que o artigo 6.º da CEDH se encontra, à partida, previsto para um processo estadual, e não arbitral (vide GEORGIOS PETROCHILOS, Procedural
Law in International Arbitration, cit., p. 130), em que o n.º 1 se aplica ao processo civil
e ao processo penal, e os n.os 2 e 3 se encontram pensados apenas para o processo penal [cfr. EVA BREMS, “Conflicting Human Rights: An Exploration in the Context of the
Right to a Fair Trial in the European Convention for the Protection of Human Rights and Fundamental Freedoms”, in Human Rights Quarterly, vol. 27, n.º 1, The Johns Hopkins University Press, Baltimore, 2005, p. 295, e JORGE DE JESUS FERREIRA ALVES,
A Convenção Europeia dos Direitos do Homem anotada e Protocolos Adicionais anotados (Doutrina e Jurisprudência), Legis Editora, Porto, 2008, p. 72]. Daí as
dúvidas que se têm colocado a este propósito, dúvidas estas que são agravadas pelo facto de os trabalhos preparatórios da CEDH nada dizerem a respeito da sua aplicação (ou não) à arbitragem – vide JULIAN D. M.LEW /LOUKAS A.MISTELIS /STEFAN M. KRÖLL, Comparative International Commercial Arbitration, cit., p. 91, GEORGES- ALBERT DAL, “Le point de vue Belge”, in L‟arbitrage et la Convention européenne des
droits de l‟homme, Droit et Justice, n.º 31, Nemesis / Bruylant, Bruxelas, 2001, p. 59, e
JUAN CARLOS LANDROVE, “European Convention on Human Rights‟…”, cit., p. 74.
De todo o modo, como de forma quase unânime tem vindo a reconhecer a doutrina e jurisprudência do TEDH, isto não significa que a arbitragem voluntária seja contrária ou incompatível com o artigo 6.º, n.º 1, da CEDH, nem que tal norma seja inaplicável à arbitragem [veja-se, entre outros, ALEKSANDAR JAKSIC, Arbitration and Human Rights,
cit., p. 184, ALEXIS MOURRE, “Le droit français de l‟arbitrage international...”, cit., pp.
26 e 34, MARIE-LAURE NIBOYET, “Incertitude sur l‟incidence de la Convention
120
Cubic de la Cour de cassation”, in Les Cahiers de l‟Arbitrage, numéro spécial, édition Juillet 2002, Gazette du Palais, Paris, 2002, p. 35, GEORGES-ALBERT DAL, “Le point de
vue Belge”, cit., pp. 57, 58, e 63, JULIAN D.M.LEW /LOUKAS A.MISTELIS /STEFAN
M.KRÖLL, Comparative International Commercial Arbitration, cit., p. 93, SEBASTIEN
BESSON, “Arbitration and Human Rights”, cit., p. 398, e, na jurisprudência do TEDH, o
conhecido caso Deweer v. Belgium, de 27/02/1980 (queixa n.º 6903/75), in http://www.echr.coe.int/Pages/home.aspx?p=home; em sentido diferente, vide CHARLES
JARROSSON, “L‟arbitrage et la Convention européenne des droits de l‟Homme”, cit., pp.
576, 577 e 607].
A este respeito, e no que à primeira questão se refere (não contrariedade da arbitragem com este preceito), importa começar por salientar que o artigo 6.º da CEDH não se opõe à criação de tribunais arbitrais [cfr. IRENEU CABRAL BARRETO, A
Convenção Europeia dos Direitos do Homem Anotada, 5.ª ed., Almedina, Coimbra,
2015, p. 149 (nota de rodapé n.º 108), e a decisão do TEDH proferida no âmbito do caso
TRANSADO - Transportes Fluviais do Sado, S.A. v. Portugal, de 16/12/2003 (queixa n.º
35943/02), in http://www.echr.coe.int/Pages/home.aspx?p=home]. Dir-se-á, a este propósito, que o direito de acesso aos tribunais – implicitamente garantido no n.º 1 do artigo 6.º da CEDH (veja-se JUAN CARLOS LANDROVE, “European Convention on
Human Rights‟…”, cit., p. 78, ALEXIS MOURRE, “Le droit français de l‟arbitrage
international...”, cit., p. 27, e J.J.FAWCETT, “The impact of article 6(1) of the ECHR on
Private International Law”, in The International and Comparative Law Quarterly, vol. 56, n.º 1, Cambridge University Press, Cambridge, 2007, p. 2) – não exige que o tribunal a que se acede tenha se ser sempre um tribunal estadual. Neste sentido, e em consonância com a jurisprudência do TEDH, não deveremos interpretar a palavra “tribunal”, prevista no n.º 1 do artigo 6.º da CEDH, como significando, necessariamente, um tribunal estadual, excluindo os tribunais arbitrais – vide casos
Lithgow and others v. The United Kingdom, de 08/07/1986 (queixas n.os 9006/80, 9262/81, 9263/81, 9265/81, 9266/81, 9313/81 e 9405/81), e Regent Company v.
Ukraine, de 03/04/2008 (queixa n.º 773/03), ambos disponíveis em http://www.echr.coe.int/Pages/home.aspx?p=home, e caso TRANSADO…, cit.; na doutrina, veja-se PIERRE LAMBERT, “L‟arbitrage et l‟article 6, 1º de la Convention
européenne des droits de l‟homme”, e ALESSANDRA CAMBI FAVRE-BULLE, “L‟état de
la jurisprudence en suisse”, ambos os artigos publicados em L‟arbitrage et la
Convention européenne des droits de l‟homme, Droit et Justice, n.º 31, Nemesis /
Bruylant, Bruxelas, 2001, pp. 17 a 19 e 73, respectivamente, bem como ALEKSANDAR
JAKSIC, Arbitration and Human Rights, cit., pp. 185 e 186, GEORGES-ALBERT DAL, “Le
point de vue Belge”, cit., pp. 64 e 65, SÉBASTIEN BESSON, “Arbitration and Human
Rights”, cit., p. 401, MARTINA ZÁVODNÁ, The European Convention on Human Rights
and Arbitration, Faculty of Law Masaryk University, in http://is.muni.cz/th/325836/pravf_m/Zavodna_Final.pdf, 2014, pp. 25 e 26, e KLÁRA
SVOBODOVÁ, “Application of the Article 6(1) of the ECHR in International
Commercial Arbitration”, in http://dfk-online.sze.hu/koszonto, 2010, p. 113. O direito de acesso a um tribunal (estadual) pode, assim, ser renunciado a favor da arbitragem, não sendo tal facto incompatível com o artigo 6.º da CEDH (vide IRENEU CABRAL
BARRETO, A Convenção Europeia dos Direitos do Homem Anotada, cit., p. 196, MATTI
S. KURKELA / SANTTU TURUNEN, Due Process in International Commercial
Arbitration, cit., p. 2, JUAN CARLOS LANDROVE, “European Convention on Human
Rights‟…”, cit., p. 79, ALEXIS MOURRE, “Le droit français de l‟arbitrage