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FREDERICO Lembke tem a honra de avizar ao respeitável público, que

o panorama do Sr. Hagedorn estará a vista hoje 5 do corrente, e durante as noites seguintes, desde as 7 atá as 10 horas, e que de 4 em quatro dias se mudarão as vistas, as quaes, serão inteiramente novas nesta Província. A exposição é no Salão do Theatro de S. Luís e os quadros da primeira, são os seguintes:

A cidade de Rio de Janeiro, vista de Santa Tereza. Sebastopol e a Fortaleza.

Krostadt e a Fortaleza.

Peterhof, Palácio do Imperador da Russia. Bombadeamento de Sebastopol.

Balaclava.

Kertsch no mar d’Azof. Tivoly, em Roma.

Preço da entrada de 500 rs. Para cada pessoa; crianças menores de 10 annos tem entrada franca. (DIÁRIO DO MARANHÃO, 05 DE NOV. DE 1855).

Os panoramas elaborados pelo Sr. Hagedorn permaneceram na cidade duran- te menos de um mês, no que pesem todos os esforços do empresário em divulgar seu empreendimento, talvez por não agradar muito ao público.

A fim de dar maior visibilidade ao negócio do Sr. Lumbek, a divulgação da exposição fora vinculada dentro da fala de um personagem de um folhetim publicado pelo mesmo jornal escolhido junto ao anunciante. (DIÁRIO DO MARANHÃO, 07 DE NOV. DE 1855). A estratégia mais uma vez parece não ter obtido êxito. Em nota divulgada após a primeira semana de exibição da exposição, um dos redatores do jornal Diário do Maranhão parece fazer um apelo ao público para que prestigiasse a apresentação. (DIÁRIO DO MARANHÃO 16 DE NOV. DE 1855).

O grande Panorama realizara na cidade apenas 4 exposições, sendo as vistas trocadas a cada semana. O jornal Diário do Maranhão noticiou a última exposição do evento no dia 26 de novembro de 1855, não sendo divulgado mais após esta data, nenhum anúncio.

Somente no ano seguinte foi possível verificar o legado da passagem do pin- tor Hagedorn pela cidade, um anúncio da casa Fournier Rodorf & Cia vinculado no

Jornal Publicador Maranhense, em 31 de outubro de 1856, que divulgava a comerciali- zação de 3 vistas elaboradas pelo artista e litografadas em Paris, como atesta o seguinte anúncio:

Figura 6 - Anúncio vistas

Fonte: Jornal Publicador Maranhense, 31 de outubro de 1856.

De maneira mais detalhada, outro anúncio, de 28 de novembro de 1856, do jornal Diário do Maranhão, especificava se tratarem de três vistas correspondentes à Sé, Largo do Palácio e da entrada da Barra.

Figura 7 - HAGEDORN, Friedrich, Maranhão: Place du Palais. - [1856]. Paris: Lemercier, gravura: litografia, p&b.

Apesar de não se ter encontrado notícias da presença de profissionais litó- grafos exercendo suas atividades na cidade do Maranhão, na época da passagem de Hagedorn, verifica-se que o gênero foi posto em circulação no estado por impressões realizadas em países como a França.

Noutro anúncio veiculado no jornal A coalição, de 20 de junho de 1862, é possível visualizar novamente a comercialização de imagens do Maranhão à venda na livraria de Carlos Seidl, sem contudo mencionar a autoria:

Figura 8 - Anúncio vistas

Fonte: jornal A Coalição, 20 de jun. de 1862.

Em 2003, o pesquisador Luiz de Mello identifica duas das três imagens de Hagedorn ilustrando um artigo de Francisco Marialva Mont’Alverne Frota, na Re- vista Maranhense de Cultura, nº 2, junho de 1978. As vistas fizeram parte da coleção do escritor e folclorista Domingos Vieira Filho. Restava ainda ser localizada a última imagem do conjunto, sendo encontrada pelo pesquisador João Carlos Pimentel nos arquivos digitalizados da Biblioteca Nacional de Portugal. Com a localização desta última imagem, o conjunto estaria agora completo. (ESTADO DO MARANHÃO, 25 DE JAN. DE 2011).

Causou surpresa o fato de que, em todas as citações sobre o pintor alemão, en- contradas na bibliografia especializada consultada, não consta o registro da passagem de Hagedorn pelo Maranhão. Os registros geralmente mencionam sua passagem por cidades da província do Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais. (CAVALCANTI, 1973; VALE, 2002, p.37; VASQUEZ, 2000, p.188) “mesmo tendo permanecido no Brasil por um período de 20 anos e tendo comercializado de forma expressiva a sua

produção, a presença de Hagedorn foi pouco notada pelos círculos de arte da época.” (O ESTADO DO MARANHÃO, 25 DE JAN. DE 2011).

No entanto, a afirmativa supracitada pode ser repensada se se considerar, como afirma Vasquez (2000) que Hagedorn teve entre seus clientes o Imperador Dom Pedro II, que se tornou proprietário de uma de suas mais famosas vistas, a da baía da Guanabara, que teve como ponto de vista o morro de Santa Teresa, talvez a mesma pintura anunciada pela primeira exposição do Panorama que estivera em São Luís, em 1855.

Maria Inez Turazzi (2010) considera que a elaboração das imagens panorâmi- cas funcionou como uma espécie de síntese visual que caracterizou a cultura visual do oitocentos, a partir do intercâmbio e fusão de múltiplas linguagens que dinamizaram a produção e o comércio de imagens, no século XIX. Por esse argumento, a presença das galerias óticas exerce papel fundamental para a apropriação e difusão de um novo olhar, ao documentar graficamente o campo visual.

Após algum tempo aprendendo a ver os registros de diferentes lugares e acon- tecimentos universais, as galerias óticas com suas exposições, contribuíram para a formação da iconoteca da memória maranhense, ao possibilitar a divulgação de espa- ços como o largo do Palácio, local tido como uma espécie de marco zero da capital São Luís. A exemplo do Cosmorama do Sr. Gregório da Rocha Pereira que, em 1862, instalou-se na cidade, com a Galeria Óptica, localizada na rua de São João, nº 45. A galeria permaneceu em funcionamento durante 3 meses, realizando 10 exposições en- tre janeiro e março. Em sua última apresentação, a galeria lista, entre as vistas a serem exibidas, uma vista da Praça do Palácio da capital da província do Maranhão. (PUBLI- CADOR MARANHENSE, 08 DE MARÇO DE 1862).

Juntamente com as gravuras realizadas pelo pintor Fredrich Hagedon o cos- morama do Sr. Gregório contribuiu para a difusão dos primeiros registros da vida ur- bana da província do Maranhão. No mesmo ano da passagem deste último cosmorama por São Luís, o jornal Estrella do Amazonas, com circulação em Manaus, também anuncia num cosmorama a exibição de duas vistas do Maranhão entre as que seriam exibidas na capital amazonense, uma representando a Praça do Palácio, e a outra, o Porto do Maranhão. (ESTRELLA DO AMAZONAS, 19 DE DEZ. DE 1862). Aos poucos íamos adquirindo conhecimento de diversas localidades e de nós mesmos, nas palavras de Lima (1991, p. 71): “A familiaridade com as imagens educa o olhar para o novo padrão de visualidade que dominará os meios de comunicação de massa.”

2.2 A máquina de fazer retratos: o daguerreotipo chega ao norte do Império

Já havia iniciado a estiagem em pleno meado de agosto, quando o jovem daguerreotipista Charles Fredricks chega a São Luís, com apenas 23 anos. Apesar da pouca idade, não lhe faltava ousadia e espírito empreendedor. A primeira incursão de Fredricks rumo ao sul do continente americano se inicia, em 1843, quando resolve deixar os Estados Unidos rumo à Venezuela, na intenção de encontrar o irmão, um comerciante da Cildad Bolivar. Antes de partir para Venezuela, ainda em Nova York, adquire um daguerreotipo e aprende a manuseá-lo com Jeremiah Gurney, um dos da- guerreotipistas pioneiros, na América, chegando ao Brasil, percorrendo os rios Ore- noco e Amazonas. Durante a jornada, fora abandonado por seus guias indígenas em meio à selva, perdendo suas provisões e material de trabalho. Sobreviveu durante dias se alimentando de mandioca, quando fora encontrado por militares e funcionários do governo que garantiram seu retorno a Nova York. (NEWHALL, 1961).

Boris Kossoy (1980, p.29) e Pedro Vasquez (2002, p.48) afirmam que Fredri- cks iniciara suas atividades em Belém, em 1844, mais tarde o próprio Kossoy (2002, p.147) se contradiz e afirma que a data talvez não seja precisa. O primeiro registro so- bre a presença do daguerreotipista, em Belém, aparece no Jornal Treze de Maio, no dia 05 de maio de 1846, quando este anuncia na imprensa paraense a divulgação de seus serviços. O anúncio parece ser um dos primeiros divulgados por Fredricks e seu pos- sível sócio ou assistente, quando da sua instalação na cidade, onde pelo teor da men- sagem é possível perceber a preocupação imediata do daguerreotipista em desfazer possíveis boatos quanto à qualidade do retrato feito em pelo sistema do daguerreotipo: