• Nenhum resultado encontrado

Ortopiroxênio granulito félsico

4.2.2. Granulito máfico

O granulito máfico é maciço ou apresenta um bandamento composicional incipiente e paralelo a uma foliação descontínua (Fig. 4.7a). Quando isotrópico, sua cor é verde-escura ou cinza-escura. Quando bandado, caracteriza-se pela intercalação entre níveis máficos de cor preto-esverdeada, constituídos de piroxênios, anfibólios, biotita e por vezes granada, e níveis félsicos de cor castanha e composição quartzo-feldspática.

Sob o aspecto microscópico, o granulito máfico exibe textura inequigranular granoblástica de granulação muito fina a grossa. É constituído de plagioclásio (15 – 40%), ortopiroxênio (<1 – 35%), clinopiroxênio (<1 – 30%), biotita (<1 – 30%), quartzo (<1 - 15%), hornblenda (0 – 45%) e granada (0 - 8%). Os minerais menores e os minerais secundários são allanita, apatita, cummingtonita, escapolita, sericita, titanita, zircão e minerais opacos (mais comumente ilmenita).

As amostras analisadas apresentam evidências de deformação dúctil e, localmente, de deformação rúptil. No primeiro caso observaram-se as mesmas microestruturas de deformação descritas para os litotipos félsicos. As evidências de recristalização dinâmica consistem de: contatos ameboides em quartzo, como indícios de migração de borda de grão (Fig. 4.8d); microestrutura núcleo-manto em plagioclásio, definida por novos grãos de até 50 µm, associados aos contatos suturados e sugestivos de bulging (Fig. 4.8c), mas também por novos grãos equidimensionais e de tamanho equiparável ao dos subgrãos, o que sugere a rotação de subgrãos. A recristalização estática é indicada pelos contatos poligonais (Fig. 4.8f). A deformação rúptil está registrada sob a forma de grãos segmentados e envoltos por uma nuvem de grãos extremamente cominuídos (Fig. 4.8e-f). A respeito das texturas de exsolução e/ou reação, foram observados o intercrescimento antipertítico (Fig. 4.7b), o intercrescimento simplectítico entre granada e minerais opacos e a textura coronítica, definida pela granada em torno do plagioclásio, quando este está em contato com o clinopiroxênio ou com a hornblenda (Fig. 4.7e-f). Com relação ao retrometamorfismo é notável a substituição intensa, algumas vezes pseudomórfica, do ortopiroxênio pela cummingtonita (Fig. 4.8a-b).

Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 74, 117 p.

37

Figura 4.7 - Aspectos petrográficos e microscópicos do granulito máfico. (a) Bandamento mineralógico

incipiente (Ponto K11); (b) Plagioclásio porfiroclástico antipertítico contornado por foliação descontínua definida por biotita (Bt). LPX, Lâmina K11D2 (Ponto K11); (c - d) Associação mineral principal. LPP e LPX, Lâmina A7-18 (Ponto HMI5); (e - f) Granada coronítica em torno de plagioclásio. LPP e LPX, Lâmina DS-11- 41 (Ponto AM41). Abreviações: .

O plagioclásio é xenoblástico a subidioblástico e sua granulação varia de fina a grossa (0,1 – 6,0 mm). Em algumas amostras ocorre porfiroclástico e antipertítico, contornado por biotita (Fig. 4.7b). Os grãos se justapõem por meio de contatos interlobados a suturados. Associados aos contatos suturados ocorrem novos grãos de até 50 µm, configurando a microestrutura núcleo-manto (Fig. 4.8c). Apresenta maclas de deformação, extinção ondulante e por vezes subgrãos. São menos frequentes a

macla Carlsbad e o zonamento químico. Porta inclusões de biotita, granada, hornblenda, quartzo e minerais opacos, estes últimos na forma de simplectitas. De modo geral, os grãos se mostram algo fraturados e variavelmente saussuritizados e/ou sericitizados.

O ortopiroxênio é xenoblástico a subidioblástico e possui granulação fina a média (0,1 – 4 mm). Exibe nítido pleocroísmo entre tons de rosa e verde muito claro ou incolor, o que caracteriza o hiperstênio (Fig. 4.7c-d). Tal feição é dificilmente observada em grãos alterados, os quais exibem um aspecto turvo que mascara o pleocroísmo. Comumente ocorre associado ao clinopiroxênio por meio de contatos interlobados e em alguns casos é envolto por este mineral. Os grãos se apresentam variavelmente fraturados. Ao longo dessas fraturas e nas bordas dos grãos observa-se a substituição por agregados fibrosos de cummingtonita e biotita, além de material amorfo de cor marrom ou laranja, provavelmente composto por hidróxidos de ferro. Nos casos em que a substituição é total, configuram- se pseudomorfos compostos majoritariamente por cummingtonita (Fig. 4.8a-b).

O clinopiroxênio é xenoblástico a subidioblástico e possui granulação fina a grossa (0,1 – 8 mm). Exibe pleocroísmo discreto entre o verde-claro e o incolor (Fig. 4.7c-d). Assim como o ortopiroxênio, algumas vezes mostra um aspecto turvo, porém sua alteração é menos intensa. Ocorre associado à biotita, hornblenda e ortopiroxênio, com os quais exibe contatos interlobados. Contém inclusões de plagioclásio e minerais opacos. Parte dos grãos está uralitizada, o que é caracterizado pela substituição parcial em suas bordas e fraturas por hornblenda (Fig. 4. 8a-b).

A hornblenda constitui grãos xenoblásticos a subidioblásticos e exibe pleocroísmo entre tons de marrom-esverdeado, verde-escuro e castanho-claro. Sua granulação varia de fina a grossa (0,1 – 5,0 mm). Comumente ocorre associada à biotita e piroxênios (Fig. 4. 7c-d). Porta inclusões de apatita, clinopiroxênio, plagioclásio e minerais opacos, estes últimos por vezes na forma de uma fina “poeira” opaca. Em alguns grãos foi observada a extinção ondulante. A hornblenda ocorre também como uma geração secundária, originada da desestabilização dos piroxênios e da própria hornblenda primária. Sua granulação é fina e o pleocroísmo varia entre tons de verde-oliva, verde-azulado e amarelo-claro, sendo menos comuns os matizes amarronzados (Fig. 4.8a-b). Por vezes forma com o quartzo microestruturas simplectíticas.

A biotita caracteriza-se por palhetas xenoblásticas a subidioblásticas e possui granulação fina a grossa (0,1 – 6,0 mm). Seu pleocroísmo varia entre o castanho- avermelhado e o amarelo-claro. Por vezes, palhetas orientadas definem uma foliação anastomosada que contorna porfiroclastos de plagioclásio (Fig. 4.7b). Porém, na maioria das amostras a biotita é escassa e não apresenta orientação preferencial (Fig. 4. 7c-d). Uma geração secundária é xenoblástica e possui granulação muito fina a fina. Ocorre associada à cummingtonita e/ou hornblenda e é resultante da uralitização dos piroxênios.

Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 74, 117 p.

39

Figura 4.8 - Aspectos microestruturais do granulito máfico. (a - b) Substituição pseudomórfica de ortopiroxênio

por cummingtonita e substituição marginal do clinopiroxênio por hornblenda. LPP e LPX, Lâmina DS-11-41 (Ponto AM-41); (c) Microestrutura núcleo-manto em plagioclásio. Lâmina DS-11-44 (Ponto AM-44); (d) Microestrutura núcleo-manto em quartzo. LPX, Lâmina K2C3 (Ponto K2); (e - f) Grãos segmentados de clinopiroxênio e hornblenda, envoltos em matriz de grãos cominuídos. Destaque para o quartzo poligonal. LPP e LPX, Lâmina DS-11-44 (Ponto AM-44). Abreviações: Cpx – clinopiroxênio; Cum – cummingtonita; Grt – granada; Hbl – hornblenda; Opx – Ortopiroxênio; Pl - plagioclásio; Qz – quartzo; Scp – escapolita.

O quartzo é xenoblástico e sua granulação varia de muito fina a grossa (0,05 – 8,0 mm). Ocorre, sobretudo, em agregados monominerálicos, nos quais exibe contatos interlobados a ameboides (Fig. 4.8d). Em agregados de granulação fina foram observados também contatos poligonais (Fig.

4.8F). Exibe pronunciada extinção ondulante e nos grãos maiores observam-se subgrãos, os quais por vezes definem a microestrutura tabuleiro de xadrez.

A granada é xenoblástica a subidioblástica e sua granulação varia de muito fina a fina (0,05 – 1,0 mm). Apresenta aspecto turvo devido a inclusões de minerais opacos, os quais constituem uma fina “poeira” opaca ou ocorrem sob a forma de simplectitas (Fig. 4.7c-d). Porta também inclusões de biotita e plagioclásio. Na matriz, ocorre espacialmente associada à biotita. Ademais, constitui coronas em torno de minerais opacos e plagioclásio, quando este está em contato com clinopiroxênio ou hornblenda (Fig. 4.7e-f).

4.2.3. Granulito aluminoso

O granulito aluminoso se individualiza dos demais litotipos até então descritos devido à particularidade de sua composição, na qual se destacam os minerais aluminosos como a granada, a biotita, o espinélio e a sillimanita. Em escala macroscópica, a rocha é foliada e exibe um pronunciado bandamento composicional milimétrico, definido por níveis melanocráticos compostos por biotita e ortopiroxênio, intercalados com níveis leucocráticos de composição quartzo-feldspática (Fig. 4.3d). A granada é porfiroblástica, de tonalidade avermelhada e atinge até 2 cm. Os granulitos aluminosos comumente exibem indícios de fusão parcial, que incluem afloramentos com leucossoma rico em granada (Fig. 4.9a) e afloramentos constituídos apenas por melanossoma rico em ortopiroxênio, granada, plagioclásio e biotita (Fig. 4.9b).

Em termos texturais, a rocha é inequigranular porfiroblástica/porfiroclástica com matriz granolepidoblástica. A granulação varia de muito fina a média para a matriz e grossa para os porfiroblastos/porfiroclastos. A composição modal é formada por granada (9 – 40%), plagioclásio (15 – 25%), quartzo (10 – 30%), biotita (2 – 25%), feldspato potássico (0 – 40%) e ortopiroxênio (0 – 30%). Os minerais menores são apatita, epidoto, hercinita, sericita, sillimanita, zircão e minerais opacos, sendo o principal deles a ilmenita.

A textura granolepidoblástica é definida por palhetas de biotita, orientadas segundo uma foliação que comumente contorna os porfiroblastos de granada. Os minerais apresentam evidências de deformação, recristalização dinâmica e recristalização estática similares àquelas já descritas nos litotipos anteriores, com destaque para kink bands em biotita e ortopiroxênio e ribbons de quartzo deformado. Entre as microestruturas de reação/exsolução destacam-se as texturas coroníticas e os intercrescimentos pertítico, antipertítico e simplectítico.

A granada é porfiroblástica, subidioblástica a xenoblástica e por vezes ameboide. Sua granulação varia de fina a muito grossa (0,1 – 20 mm). Pode apresentar-se poiquiloblástica, contendo inclusões arredondadas a ameboides de todos os outros constituintes da rocha (4.10a-b), além de

Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 74, 117 p.

41

Figura 4.9 - Aspectos petrográficos e microscópicos do granulito aluminoso. (a) Amostra de granulito

aluminoso com leucossoma rico em granada (Ponto HMI-9). (b) Amostra de granulito aluminoso com bandamento composicional formado por opx + plg na base e grt + bt no topo da amostra. (Ponto K39). (c) Porfiroblasto de granada com inclusões de hercinita e biotita. LPP, Lâmina A7-32 (Ponto HMI-9); (d) Inclusões aciculares de sillimanita em granada. LPX, Lâmina DS-14-125 (Ponto MM-125); (e) Filme de plagioclásio envolvendo parcialmente a granada. LPX com lâmina de quartzo, Lâmina DS-14-125 (Ponto MM-125); (f) Porfiroblasto de granada com inclusões feldspáticas ameboides e que envolve parcialmente embaiamentos quarto-feldspáticos. LPX com lâmina de quartzo, Lâmina A7-32 (Ponto HMI-9). Abreviações: Bt – biotita; Grt – granada; Hc – hercinita; Kfs – feldspato potássico; Opx – ortopiroxênio; Pl - plagioclásio; Qz – quartzo; Sill – sillimanita.

hercinita (Fig. 4.9c) e sillimanita (Fig. 4.9d), as quais só foram observadas inclusas neste mineral. A hercinita é xenoblástica e possui granulação fina (até 0,6 mm), enquanto a sillimanita é acicular com granulação fina (até 0,2 mm). A granada também aprisiona total ou parcialmente inclusões ameboides ou embaiamentos compostos por agregados quartzo-feldspáticos (Fig. 4.9e-f). Nestes embaiamentos são observados filmes de plagioclásio na interface entre a granada e os outros minerais do agregado (Fig. 4.9e). Uma geração tardia, simplectítica, constitui coronas em torno da granada porfiroblástica e dos minerais opacos (Fig. 4.10c). De maneira geral, os grãos se mostram variavelmente fraturados.

O ortopiroxênio é xenoblástico e exibe nítido pleocroísmo em tonalidades de verde-claro a rosa-acastanhado, o qual é característico do hiperstênio. Sua granulação varia de fina a grossa (0,1 – 7 mm). Alguns grãos estão deformados, o que é evidenciado pela presença de extinção ondulante e kink bands (Fig. 4.10d). Geralmente está fraturado e apresenta substituição parcial por biotita ao longo dessas fraturas. São comuns as inclusões de apatita, biotita, quartzo e plagioclásio.

A biotita é fortemente colorida e o seu pleocroísmo varia entre o castanho-avermelhado e o amarelo claro. É xenoblástica a subidioblástica e possui granulação muito fina a média (0,05 – 2,5 mm). Define uma foliação incipiente e descontínua que geralmente contorna os porfiroblastos de granada e ortopiroxênio. Alguns grãos estão deformados e exibem extinção ondulante e kink bands. Contém inclusões de zircão e minerais opacos. Uma geração secundária é resultante da substituição do ortopiroxênio e ocorre principalmente ao longo de suas fraturas. Caracteriza-se pela granulação muito fina a fina e pelo pleocroísmo entre tons de marrom-esverdeado e amarelo-claro.

O plagioclásio constitui porfiroclastos xenoblásticos e antipertíticos que apresentam granulação fina a grossa (0,1 – 5 mm) (Fig. 4.10e). Seus contatos são interlobados a ameboides, ou por vezes poligonais. Comumente exibe evidências de deformação, tais como extinção ondulante e macla polissintética com lamelas tortas e acunhadas. Alguns grãos são zonados e em geral o plagioclásio está variavelmente sericitizado e/ou saussuritizado e fraturado.

O quartzo é xenoblástico e sua granulação varia de muito fina a média (0,05 – 4,0 mm). Constitui agregados cujos grãos apresentam contatos interlobados a ameboides. Cristais maiores exibem fortes evidências de deformação como extinção ondulante, bandas de deformação e subgrãos, os quais por vezes configuram a microestrutura “tabuleiro de xadrez”. Também é comum ocorrer na forma de ribbons alongados segundo a foliação e que também exibem feições indicativas de deformação dúctil (Fig. 4.10f).

O feldspato potássico é pertítico, xenoblástico, por vezes porfiroclástico e sua granulação varia de muito fina a grossa (0,01 – 6,0 mm). Não exibe a macla tartan, sugerindo tratar-se do ortoclásio. Pode exibir microestrutura núcleo-manto, quando ocorre envolvido por grãos muito finos. Seus contatos são interlobados a suturados e é comum a presença de extinção ondulante.

Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 74, 117 p.

43

Figura 4.10 - Aspectos microestruturais do granulito aluminoso. (a-b) Granada com inclusão de plagioclásio

que por sua vez contém inclusão de ortopiroxênio. LPP e LPX, Lâmina K39 (Ponto K39); (c) Granada porfiroblástica (Grt1) envolta por corona de granada simplectítica (Grt2), a qual também envolve ilmenita. LPP,

Lâmina K39 (Ponto K39); (d) Kink bands e extinção ondulante em ortopiroxênio. LPX, Lâmina K39 (Ponto K39); (e) Plagioclásio porfiroclástico antipertítico. LPP, Lâmina K46A (Ponto K46); (f) Ribbon de quartzo com feições de deformação dúctil. LPX, Lâmina DS-14-125 (Ponto MM-125). Abreviações: Bt – biotita; Grt – granada; Ilm – ilmenita; Kfs – feldspato potássico; Opx – ortopiroxênio; Pl - plagioclásio; Qz – quartzo.

CAPÍTULO 5