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4.2 Métodos de Investigação

4.2.1 Grounded Theory (GT)

Em 1967, Glaser e Strauss desenvolveram a Grounded Theory, que consiste numa abordagem de investigação qualitativa, permitindo o desenvolvimento da teoria, a partir de um processo sistemático e interactivo de recolha e análise de dados, adequado na investigação de processos e conceitos sociais (Strauss & Corbin, 1990).

A Grounded Theory teve a sua origem no contexto de estudos sociológicos, apesar de ser cada vez mais utilizada em trabalhos de investigação, nas novas tecnologias. Caracteriza-se pelo desenvolvimento constante da teoria, através de um processo recorrente, que evolui naturalmente, em que a recolha e a análise dos dados ocorrem ao mesmo tempo (Strauss & Corbin, 1990).

Assim, a Grounded Theory tem por fim, construir e não verificar a teoria (Flick, 2002). Portanto, ao utilizar esta metodologia, o investigador tem um papel essencialmente interpretativo, introduzindo durante toda a investigação, o ponto de vista dos participantes.

A Grounded Theory seguiu duas abordagens distintas, separando os seus criadores, na forma como entendem o método de aplicação da teoria, sendo elas:

a) Grounded Theory Objectivista (ou Positivista), segundo a qual, a teoria emerge directamente dos dados através de um processo de comparação, e é essencial neutralizar os enviesamentos do investigador;

b) Grounded Theory Construtivista, segundo a qual, os dados são construídos, num processo interactivo de investigação, entre o investigador e o investigado, podendo emergir várias perspectivas da mesma realidade.

Fernandes e Maia (2001) mostram como os criadores e os defensores da grounded theory, se têm vindo a afastar do paradigma positivista, assumindo uma postura mais próxima do paradigma construtivista, em que o investigador enriquece a análise dos dados com o seu conhecimento adquirido, procurando não ser influenciado por ideias pré-concebidas que tenha do assunto.

No decorrer deste processo de investigação, procurou-se o mais possível, em todos os momentos de análise e reflexão, afastar de ideias do senso comum, cingindo-se apenas a análise aos dados recolhidos.

4.2.1.1 Grounded Theory Vs. Outros Métodos

Segundo Locke (2001) a Grounded Theory tem características que a diferenciam de outros métodos qualitativos. No referente à investigação-acção (“action research”), a diferenciação situa-se tanto no seu propósito de utilização, como no diagnóstico do problema. A investigação- acção, para além de promover o desenvolvimento de uma determinada área do conhecimento, fornece também conselhos práticos de actuação. A questão de investigação apresenta um âmbito muito mais restrito, do que quando é utilizada a Grounded Theory.

A Grounded Theory e o estudo de caso distinguem-se, devido ao centro da investigação. No estudo de caso, o investigador canaliza a sua atenção no estudo de objectos particulares, ou de sistemas limitados, ainda que existam os chamados casos múltiplos, que alargam o estudo a mais do que um caso. Ao inverso da Grounded Theory, no estudo de caso, a investigação é orientada pela teoria. A questão a estudar é estabelecida antecipadamente, não sofrendo eventuais alterações ao longo do processo de investigação. É, muitas vezes, utilizada a “lógica de replicação”, que se relaciona com o teste de uma teoria já existente, e não com o propósito de acrescentar conhecimento numa determinada área teórica.

A Grounded Theory e a etnografia diferenciam-se, porque a etnografia acentua a descrição detalhada da natureza de um fenómeno social específico, num número de cenários bastante reduzido, não sendo geralmente desenvolvida num único sistema social ou cenário de estudo. A apresentação de descrições das experiências dos participantes no estudo deverão ser fiéis à sua própria percepção e compreensão, assim como aos contextos dinâmicos, complexos e em constante mudança (Bartle, et al., 2002). Ainda que a Grounded Theory seja mais concordante com o estudo de caso, reparte com a etnografia o mesmo objectivo em relação à teoria existente.

A etnografia é usada para produzir um aprofundamento do contexto e um enquadramento geral e, mais raramente, para testar as hipóteses que derivam de outros métodos de estudo. A análise sistemática de registos etnográficos pode proporcionar contribuições significativas para o desenvolvimento de teorias organizacionais, através do levantamento de novos conceitos e de novas hipóteses a analisar, assim como testar hipóteses que derivam da utilização de outros métodos de investigação, embora alguns ramos das ciências sociais utilizem os registos etnográficos e materiais qualitativos, com o objectivo de desenvolvimento e teste de teorias já existentes (Hodson, 1998).

Confunde-se frequentemente a etnografia com a observação participante, porque a designação “etnografia” pode indicar tanto o processo como o resultado da investigação,

enquanto a observação participante, diz respeito somente ao método da investigação. Uma síntese das características dos métodos expostos anteriormente é apresentada no quadro seguinte.

Propósito Questão de

Investigação Cenários de Estudo

Grounded Theory Aprofundar o conhecimento sobre um determinado fenómeno. Desenvolver a teoria.

Não pode ser muito específica.

Será desenvolvida com o decorrer do processo de análise dos dados.

O estudo pode ser desenvolvido num único cenário. Podem ser utilizados vários cenários.

Investigação- Acção

Desenvolver uma área do conhecimento.

Fornecer conselhos práticos de actuação.

Âmbito restrito. O estudo será

conduzido num número reduzido de cenários.

Estudo de Caso

Testar teoria existente (“lógica de replicação”). Atenção centrada em objectos específicos ou em sistemas restritos. Determinada A priori Não é modificada ao longo da investigação. Possibilidade de existirem casos múltiplos.

Etnografia Aprofundar o conhecimento sobre um contexto e/ou enquadramento geral. Desenvolver teoria existente. Testar hipóteses (menos frequente). Âmbito restrito. Fenómeno social concreto. O estudo será desenvolvido num limitado número de cenários.

4.2.1.2 Adequação da Grounded Theory

A selecção da Grounded Theory mostrou-se adequada, como método de operacionalização deste estudo, por dar ocasião ao desenvolvimento de um sistema conceptual em improvisação organizacional, através do aproveitamento da utilização de evidências concretas, retiradas de um contexto complexo.

Não é simples a aplicação deste método. A possível variedade das fontes de dados, a configuração do tratamento dos mesmos, e a construção da narrativa teórica, são trabalhos que impõem como condição, o cumprimento das linhas orientadoras da sua execução. A utilização da

Grounded Theory permite que se obtenham conclusões fortes, que se harmonizam com a

realidade das ciências sociais e organizacionais, e dá indícios sobre aspectos comportamentais que os intervenientes no estudo considerem como fundamentais para o crescimento da sua actividade.

4.2.1.3 Dificuldades no Uso da Grounded Theory

A Grounded Theory é um método de investigação, que não parte de uma hipótese ou teoria. A investigação baseada na Grounded Theory parte normalmente de um problema mal estruturado, que vai sendo continuamente estruturado ao longo do desenvolvimento da investigação. É portanto importante que o investigador não focalize a sua investigação e não tenha ideias preconcebidas, quando recolhe e analisa os dados (Rodrigues, et al., 2004).

Apesar de na Grounded Theory, não se partir de uma hipótese, este método não defende a posição ingénua de que os problemas são abordados pelo investigador, como uma tábua rasa. O investigador deve ter uma perspectiva acerca das coisas, de forma a observar os dados relevantes e conseguir extrair deles, categorias.

No entanto essa perspectiva pessoal, não deve afectar a objectividade da investigação. Um estudo de Grounded Theory deve ser obrigatoriamente realizado de forma objectiva e nunca subjectiva.