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1. INTRODUÇÃO

3.2 GRUPO ALTO PARAGUAI

3.2.1 Trabalhos anteriores

As primeiras citações acerca das rochas siliciclásticas do Grupo Alto Paraguai foram feitas pelo Conde Francis de Castelnau (1850 apud Almeida, 1964) durante sua visita a Serra do Tombador, expressa em sua obra “Expédition dans les parties centrales de l’Amerique du

Sud”; e por Evans (1894), o qual denominou os arenitos feldspáticos de Rizama Sandstone,

sobrepostas discordantemente a unidade por ele denominada de Arara Limestone, durante viagem de reconhecimento geológico na porção centro-oeste do Mato Grosso. Posteriormente, muitos outros levantamentos geológicos foram realizados (Almeida, 1964; Vieira, 1965; Hennies, 1966; Guimarães & Almeida, 1972; Figueiredo & Olivatti, 1974; Luz et al., 1980), sendo destaque o trabalho de Almeida (1964) por ser o primeiro a agrupar estratigraficamente as rochas siliciclásticas no Grupo Alto Paraguai, compreendido da base para o topo pelas formações Raizama, Sepotuba e Diamantino, sendo esta proposta reafirmada por Nogueira & Riccomini (2006). Recentemente, a proposta apresentada por Silva Junior (2011) acrescentou membros as formações do Grupo Alto Paraguai, mas ainda mantendo a proposta estratigráfica de Almeida (1964).

3.2.2 Litoestratigrafia

As rochas siliciclásticas do Grupo Alto Paraguai sobrepõem as sucessões carbonáticas do Grupo Araras, representando o último estágio deposicional ocorrido na Faixa Paraguai. Inicialmente, Almeida (1964) definiu o Grupo Alto Paraguai como um complexo de rochas pré-silurianas com espessura de mais de 3000 m. Segundo este, o Grupo Alto Paraguai seria composto pela Formação Raizama (1600 m), objeto deste estudo, essencialmente constituída por arenitos com siltitos e folhelhos subordinados, estratigraficamente posicionada na base do Grupo Alto Paraguai. Sobrepondo essas rochas estariam os depósitos pelíticos da Formação Sepotuba (~900 m), os quais seriam bruscamente recobertos pela Formação Diamantino (~ 600 m), predominantemente composta por arenitos e pelitos, marcando o topo do Grupo Alto Paraguai.

A proposta adotada neste trabalho é baseada em Silva Jr. (2011), o qual fornece uma melhor definição dos termos litoestratigráficos e de interpretações paleoambientais, antes de cunho essencialmente litológico (Figura 6). De acordo com esta proposta, os depósitos siliciclásticos do Grupo Alto Paraguai apresentam espessura de aproximadamente 2400 m, compreendida pelas formações Raizama, Sepotuba e Diamantino. A Formação Raizama é distribuída em um membro inferior e um membro superior, compreendendo uma sucessão com espessura em torno de 570 m. O membro inferior (~270 m) seria correlato a Formação Serra Azul (Alvarenga et al., 2007), restrito a porção leste da bacia. Tal membro seria caracterizado por espessuras decamétricas de pelitos, os quais localmente apresentariam seixos de arenito disseminados, ritmitos arenito fino/pelito e arenitos finos intercalados com pelitos, depositados em um ambiente de plataforma marinha localmente influenciada por fluxo de detritos e face litorânea influenciada por tempestade. O membro superior (~ 300 m) é constituído por arenitos finos a grossos, conglomerados, arenitos finos a médios com cimento de dolomita espática, siltitos, pelitos com espessuras centimétricas e, subordinadamente silexitos, depositados em face litorânea dominada por onda, tempestades e maré associada a uma planície costeira com canais fluviais entrelaçados.

As melhores exposições do limite inferior da Formação Raizama são observadas na região de Nobres, na base da Serra do Tombador, e são caracterizadas por arenitos de plataforma marinha do membro inferior intercalados com dolomitos finos da plataforma marinha da Formação Serra do Quilombo (Silva Jr., 2011). A oeste da bacia este limite é caracterizado pelo contato brusco e erosivo com os dolomitos e siliciclásticos de planície de maré da Formação Nobres (Nogueira & Riccomini, 2006). O limite superior da Formação

Raizama com a Formação Sepotuba é melhor observado na região de Glória d’Oeste, marcado por arenitos carbonáticos de face litorânea dominada por onda e tempestade que gradam para dolomitos, pelitos, e arenitos de planície de maré da Formação Sepotuba (Silva Jr. et al., 2007). Nas regiões de Tangará da Serra e Nobres, este contato é marcado pela passagem dos depósitos fluviais do membro superior da Formação Raizama, separado por um intervalo métrico de ritmitos de maré que passam para os folhelhos costa afora da Formação Sepotuba (Silva Jr., 2011). O contato entre os membros superior e inferior é descrito por Silva Jr. (2011) como transicional, caracterizado pelas intercalações de arenitos e pelitos com estratificação cruzada hummocky de face litorânea que gradam para arenitos e pelitos com estruturas produzidas por onda e maré também de face litorânea.

3.2.3- Idade

Inicialmente, o referencial de idade mínima para as rochas do Grupo Alto Paraguai era de 500 Ma baseado em datações K/Ar e Rb/Sr do Granito São Vicente, intrusivo nas rochas metassedimentares do Grupo Cuiabá (Hasui & Almeida, 1970; Almeida & Mantovani, 1975). Tentativas mais específicas em prol da determinação da idade do Grupo Alto Paraguai foram realizados por Cordani et al. (1978). Este datou os sedimentos argilosos da Formação Sepotuba pelo método Rb/Sr, os quais forneceram idades de 569±20 Ma interpretadas como idades deposicionais. Posteriormente, essas idades foram admitidas como marcadora do evento tectônico Brasiliano que deu origem a Faixa Paraguai (Bonhomme et al., 1982).

Outras tentativas foram realizadas por Cordani et al.(1985), o qual datou os sedimentos finos da parte superior da Formação Diamantino pelo método Rb/Sr, os quais forneceram idade de 660±60 Ma. Entretanto, a alta dispersão das amostras ao longo da isócrona gerou dúvidas quanto à confiabilidade dos dados. Recentemente, datações pelo método U-Pb em zircões detríticos da Formação Diamantino realizadas por Bandeira et al. (2012) sugerem uma idade máxima de deposição de 541±7 Ma, indicando que a sedimentação do Grupo Alto Paraguai se estendeu até o Cambriano Inferior.

Figura 6 - Carta litoestratigráfica da bacia neoproterozoica-cambriana do sul do Cráton Amazônico/Faixa Paraguai Norte, com destaque para a posição estratigráfica da principal seção estudada da Formação Raizama em contato com os carbonatos da Formação Serra do Quilombo (Modificado de Silva Júnior, 2011).

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