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Grupos Filogenéticos: relação entre os perfis de resistência, virulência e

CAPÍTULO 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.6. Estudos de Filogenia e Virulência na Escherichia coli

3.6.4. Grupos Filogenéticos: relação entre os perfis de resistência, virulência e

Com o intuíto de verificar uma possivel associação entre o grupo filogenético, virulência e resistência, como anteriormente descrito por outros autores34, 39, 41, 43, 72, 73, 85, os resultados anteriormente obtidos foram agrupados de acordo com o grupo filogenético da amostra representativa estudada (Tabela 20).

Capítulo 3. Resultados e Discussão

Cátia Caneiras 67 Tabela 20. Distribuição dos perfis de resistência e virulência pelos grupos

filogenéticos dos isolados de E. coli.

Grupos Filogenéticos Nº isolados (%) A B1 B2 D 6 (100) 2 (100) 27 (100) 10 (100) Resistência CIP 5 (83,33) 2 (100) 27(100) 10 (100) GM 5 (83,33) 2 (100) 23 (85,19) 4 (40,00) Factores de Virulência pap 0 0 0 0 sfa 0 0 0 0 afa 0 0 0 0 fimH 5 (83,33) 1 (50,00) 26 (96,39) 9 (90,00) hyl 0 0 1 0 cnf 0 0 0 0 iucC 4 (66,67) 0 19 (70,37) 5 (50,00) ecpA 5 (83,33) 1 (50,00) 26 (96,39) 9 (90,00) usp 0 0 0 0 Ilhas de Patogenicidade PAI I 536 0 0 0 0 PAI II 536 1 0 6 0 PAI III 536 0 0 0 0 PAI IV 536 5 2 23 9 PAI I CFT073 1 1 16 5 PAI II CFT073 2 0 16 2 PAI I j96 1 0 13 0 PAI II j96 0 0 0 0

Tendo já verificado que os todos os isolados em estudo apresentam menor número de factores de virulência do que os descritos por outros autores84, 86, é possível percepcionar uma maior

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Cátia Caneiras 68 distribuição dos FV pesquisados no grupo filogenético B2 comparativamente aos restantes, confirmada pela sua significância estatística (p<0,05). Os isolados pertencentes aos grupos filogenéticos A e D apresentam similar percentagem de factores de virulência, não existindo diferença estatística entre eles (p<0,05).

A totalidade dos isolados dos grupos filogenéticos B1, B2 e D apresentam resistência à ciprofloxacina (CIP), como é possível observar na Tabela 11. Também no que infere à gentamicina (GM) todos os grupos, com excepção do grupo D, apresentam mais de 80% dos isolados resistentes a este antibiótico (83,33%-100%). O grupo filogenético comensal A verifica uma igual percentagem de isolados resistentes a estes antibióticos (83,33%). Como é possível verificar, o perfil de resistência não se encontra restrito a grupos filogenéticos específicos, como amplamente tem sido descrito58, os quais usualmente associam os grupos B2 e D a perfis de menor resistência antimicrobiana.

Horcajada et al. descreve que dentro do Grupo B2, isolados resistentes às fluoroquinolonas demonstraram prevalencias mais baixas de papC, hlyA e cnf1 comparativamente aos isolados sensíveis (P < 0,001), embora não se tenha detectado este contraste para a detecção de hemolisina e fímbria do tipoP. Estudos prévios referem que isolados resistentes às quinolonas apresentam menos FV do que os sensíveis35, 97, sendo que recentemente foi descrito que este fenómeno parece estar apenas associado a estirpes do grupo filogenético B235, comportamento não identificado no presente estudo. De facto, os resultados obtidos sugerem que para situações de bacteriémia causada por isolados multirresistentes de E. coli produtores de ESBL não é possível antever a sua virulência ou capacidade de patogenicidade pela associação ao grupo filogenético.

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Cátia Caneiras 69 O facto de serem os isolados do grupo B2 e D os maioritariamente envolvidos em processos infecciosos levou Escobar et al. a estudar a distribuição de 17 factores de virulência numa colecção de 98 isolados representativos de Escherichia coli patogénicas e comensais. O autor sugere que a virulência se deve ao background genético o qual permite numerosos eventos de transferência horizontal, responsáveis pela aquisição e expressão de diferentes factores de virulência22. Também Piatti et al. infere que as mutações que conferem resistência às quinolonas e fluoroquinolas parecem requerer um background genético específico, não estando este facto correlacionado com os grupos filogenéticos, embora o evento mutacional em si pareça afectar a expressão de determinados factores de virulência, pelo menos no complexo e prevalente grupo B272. Surgem, no entanto, estudos contraditórios que inferem que a associação do grupo filogenético B2 à virulência extraintestinal é atribuível à abundância de factores de virulência que contém e não a um background genético definido40, permanecendo, no entanto, por esclarecer a aparente compatibilidade entre o grupo filogenético B2 e os genes de virulência, também verificado no presente estudo.

As clássicas comparações entre isolados de populações comensais e extra-intestinais de E. coli, baseados em factores de virulência, demonstraram que o potencial de virulência destas estirpes em indivíduos saudáveis é mais baixo do que em indivíduos com ITU84. Russo, T.A. et al. sugere que a definição entre E. coli patogénicas e comensais deverá ser alvo de re-definição 83. De facto, não é claro se todas as E. coli no tracto intestinal de indivíduos saudáveis devem ser considerados comensais, independentemente do seu grupo filogenético ou apenas os isolados do grupo A e B1. Permanece também por esclarecer se um isolado pertencente ao grupo A ou B1 de um indivíduo

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Cátia Caneiras 70 com infecção do tracto urinário deve ser considerado um verdadeiro isolado patogénico ou apenas um isolado comensal que produz infecção num indivíduo imunocomprometido.

Johnson, J. et al. estudou 63 isolados de E. coli provenientes de diferentes patologias urinárias: pielonefrite, prostatite e cistite, caracterizando o grupo filogenético dos isolados e pesquisando a presença de 35 factores de virulência. O autor verificou que não havia diferença significativa na distribuição dos grupos filogenéticos pelas diferentes patologias, sugerindo deste modo que seria a distinta acumulação de factores de virulência que condicionaria a patogenicidade dos isolados e, consequentemente a evolução clínica42. Entre outros40, também Sannes, M.R. et al. comparou os isolados bacteriémicos de 63 idosos com 71 isolados rectais, verificando uma distribuição filogenética comum, embora os isolados do grupo filogenético B2 e D apresentassem uma virulência superior aos restantes grupos85. Ao analizarmos a distribuição filogenética dos factores de virulência em estudo nos isolados de E. coli de bacteriémias, verificamos que apesar do grupo B2 ter sido o predominante, exibindo a maior concentração individual de FVs e contendo um maior número de clones virulentos, o mesmo comportamento foi detectado em outros grupos filogenéticos, nomeadamente o A e D.

Jaureguy, F., et al. desenvolveu um estudo cohort prospectivo durante um ano, no qual seguiu todos os isolados provenientes de bacteriémia em 2 hospitais universitários em França. Através de uma análise multifactorial permitiu distinguir 2 populações: os do grupo filogenético B2 associados mais frequentemente a susceptibilidade a antibióticos, infecção da comunidade, provenientes do tracto urinário e de hospedeiros imunocompetentes. Os que pertencem ao grupo A, B1 ou D foram associados mais frequentemente à resistência aos antibióticos, infecção

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nosocomial, origem não urinária e hospedeiros imunocomprometidos38. Embora não minimizando a importância do hospedeiro e da bactéria na severidade inicial na evolução para quadros de bacteriémia e sépsis, os resultados obtidos no presente estudo evidenciam uma supremacia do reportório de FV sobre o grupo filogenético na previsão do comportamento de patogenicidade. No entanto, aumenta a complexidade desta análise quando consideramos a multirresistência dos isolados, a qual parece ser determinante para o reduzido número de FV e PAIs detectadas.

De facto, considerando a diversidade de perfis observados em todos os níveis da árvore filogenética, é possível sugerir que diferentes percursos podem originar isolados de E. coli extraintestinais e que a evolução destas estirpes, envolve extensa transmissão horizontal de FV e que o processo de remodelação dos factores de virulência e ilhas de patogenicidade é altamente activo e ocorre de forma contínua 44.

Capítulo 4. Conclusões e Perspectivas Futuras

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