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Para McDaniel e Gates (2004), grupos focais tiveram seu início em terapias de grupo conduzidas por psiquiatras, que pretendiam compreender o que as pessoas tinham a dizer e o porquê. O método permitia, então, que as pessoas falassem com riqueza de detalhes sobre o assunto e pudessem receber feedback imediato dos colegas que ali estavam.

Vergara (2005) também afirma que as entrevistas em grupos, na área de ciências sociais, têm sido utilizadas desde a década 1920. De acordo com Schifter e Monolescu (2000), na área de pesquisa em

marketing, os grupos focais são utilizados desde a década de 1940, mas

ainda com um formato de entrevistas em grupos. E ainda há autores que tratam como sinônimos as entrevistas grupais e os grupos focais ou de discussão. Morgan (1996) declara também que foi com Robert Merton e Paul Lazarsfeld que o método desenvolveu-se, antes da Segunda Guerra

Mundial. Entre os anos de 1950 e 1980, o método foi utilizado basicamente em pesquisas na área de marketing, tendo-se difundido mais recentemente para outras áreas. A técnica em grupos de discussão como fonte de informação em pesquisa foi comum em áreas muito particulares, a partir de 1980 houve a preocupação em adaptar essa técnica ao uso na investigação científica (GATTI, 2005).

Neste sentido, o trabalho com grupos focais permitiu compreender os seguintes aspectos: processos de construção da realidade por determinados grupos sociais; práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos e atitudes. Assim, constitui- se uma técnica importante para o conhecimento de representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado.

Tomamos como base de referência o Grupo Focal presencial. O objetivo central do Grupo Focal presencial é identificar percepções, sentimentos, atitudes e ideias dos participantes a respeito de um determinado assunto. Seus objetivos específicos variam de acordo com a abordagem de pesquisa. Em pesquisas exploratórias, seu propósito é gerar novas ideias ou hipóteses e estimular o pensamento do pesquisador, enquanto que, em pesquisas fenomenológicas ou de orientação, é aprender como os participantes interpretam a realidade, seus conhecimentos e experiências. Com os adolescentes, a proposta tem enfoque misto exploratório e orientação, na expectativa de que as reflexões possam gerar conhecimentos e novas “ideias” sobre prevenção de gravidez e, ao mesmo tempo, aproveitando para orientar, informar e tirar dúvidas dentro de um clima de educação e não de ensino, ou seja, aproveitando o que vem dos adolescentes nos grupos.

Como procedimento de coleta de dados, os grupos focais têm sido muitas vezes utilizados em pesquisas na área de saúde (GATTI, 2005), em pesquisas explorativas ou avaliativas ou ainda como uma técnica complementar aos dados obtidos por meio de pesquisas quantitativas, ou seja, de questionários aplicados. Para fins mercadológicos ou de coleta de opiniões sobre um determinado assunto, diferenças econômicas e sociais, o nível de formação e a faixa etária dos entrevistados não são relevantes para a análise. Também não é necessário que os membros de um grupo focal se conheçam ou tenham algum tipo de vínculo (GASKELL, 2002).

Para a composição do grupo, Morgan (1998 apud BARBOUR, 2009, p. 87) proporciona um lembrete útil dizendo que “[...] os grupos focais devem ser homogêneos em termos de contexto de vida, não de atitudes”. Portanto, que são estabelecidos alguns critérios associados às metas da pesquisa, sendo importante uma composição que se baseie em algumas características homogêneas dos participantes, mas com variações entre eles para que apareçam opiniões diferentes ou divergentes, sendo que a escolha das variáveis a serem consideradas depende do problema da pesquisa, do escopo teórico em que ele se situa e para quê se realiza o trabalho. Outro ponto importante a ser considerado é não se juntar no mesmo grupo pessoas que se conhecem muito ou que conheçam o moderador do grupo, porém há trabalhos em que a formação do moderador e sua experiência com grupos focais merecem atenção especial.

Grupo focal é uma técnica de pesquisa, dentre as consideradas de abordagem rápida, que permite a obtenção de dados de natureza qualitativa a partir de sessões em grupo. De acordo com Dias (2000), o grupo deve ser composto por 6 a 10 pessoas, que compartilham alguns traços comuns, discutem aspectos de um tema sugerido. A técnica de grupo focal permite a identificação e o levantamento de opiniões que refletem o grupo em um tempo relativamente curto, pela reunião de muitos participantes e pelo confronto de ideias que se estabelece, assim como pela concordância em torno de uma mesma opinião, o que permite conhecer o que o grupo pensa. Em alguns poucos encontros, é possível conhecer percepções, expectativas, representações sociais e conceitos vigorantes no grupo.

A coordenação do Grupo Focal deverá ser conduzida por um moderador/facilitador cujas funções englobam “[...] a elaboração do tema, a condução da discussão, a análise e o relato de seus resultados” (DIAS, 2000, p. 146). O moderador (que no caso de pesquisas acadêmicas deve ser o próprio pesquisador, conforme Morgan, 1997, p. 2) precisa, além de conhecer muito bem os objetivos da pesquisa, ser capaz de orientar o andamento da discussão de modo a respeitar as opiniões, evitando introduzir qualquer ideia preconcebida. Deve promover o debate entre os participantes sem, no entanto, direcionar questões individualmente a cada um deles, evitando que a reunião se transforme numa série de entrevistas particulares. As ideias devem surgir e ser emitidas pelos participantes de forma espontânea. Não se busca necessariamente um consenso e, sim, um confronto de opiniões,

que será tanto mais enriquecedor quanto maior for a sinergia entre os participantes.

Todavia, os debates incluem também questões mais profundas e não só relacionadas à informação. Por esse motivo, é importante que o mediador seja capacitado não só a tratar das questões técnicas, mas que também tenha sensibilidade para abordar os assuntos e para escutar o grupo sem pré-julgamentos.

O tema gravidez, por exemplo, exigirá do mediador flexibilidade e compreensão. Precisa atentar para o fato de que os motivadores da gravidez na adolescência não são apenas a desinformação. O importante, ao abordar esse e outros temas, é que o mediador não imponha sua visão de mundo sobre a dos demais participantes. Por exemplo, pode propor como sugestão para debate: por que algumas jovens engravidam cedo, desvantagens de ter filhos cedo, vantagens de ter filhos cedo.

As vantagens da utilização do Grupo Focal são diversas. Uma delas é que promove insight, isto é, os participantes se dão conta das crenças e atitudes que estão presentes em seus comportamentos e nos dos outros, do que pensam e aprenderam com as situações da vida, através da troca de experiências e opiniões entre os participantes. Os Grupos Focais são eficientes na etapa de levantamento de dados, pois um número pequeno de grupos pode gerar um extenso número de ideias sobre o estudo desejado. O grupo auxilia o pesquisador a conhecer a linguagem que a população usa para descrever suas experiências, seus valores, os estilos de pensamento e o processo de comunicação.

É utilizado para investigar comportamentos complexos e motivações, pois compara diferentes visões sobre o mesmo tópico (CAREY, 1994; O’BRIEN, 1993; MORGAN, KRUEGERr, 1993). Outra vantagem do Grupo Focal é que a dinâmica do grupo pode ser um fator sinergético no fornecimento de informações (BERG, 1995; CAREY, 1994, MORGAN, 1997). O termo sinergia é usado para descrever o fenômeno que ocorre na união de duas ou mais forças que produzem um efeito maior do que a soma dos efeitos individuais (BRONFENBRENNER, 1989). Portanto, as informações trazidas pelo participante podem ser identificadas como dados do grupo. Informações, confirmação ou refutação de crenças, argumentos, discussões e soluções escutadas e expressas durante as sessões do grupo revelam o que os participantes pensam e que resulta na compreensão coletiva sobre os temas discutidos (BERG, 1995).

Segundo Rodrigues (1988), Grupo Focal (GF) é uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com a população que se deseja investigar. Gomes e Barbosa (1999) acrescentam que dizendo que o grupo focal é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter informações de caráter qualitativo em profundidade. Por sua vez, Krueger (1996) descreve-o onde pessoas reunidas em uma série de grupos que possuem determinadas características e que produzem dados qualitativos sobre uma discussão focalizada.

Apesar de tais definições terem sido elaboradas sob a influência de diferentes pesquisas de mercado e marketing, é possível trabalhá-las em perspectiva e adequá-las às demandas da pesquisa social. Para isso, faz-se imprescindível compreender que essa sinergia não implica a ausência de dissemelhanças e contradições entre os diferentes campos de investigação, mas sim que elas devem ser examinadas e analisadas em consonância com as práticas e os conceitos que lhes são subjacentes. Como ilustração, categorias utilizadas para referir-se aos participantes do GF – “população”, “público-alvo” e mesmo “pessoas”: quando os setores de mercado as empregam, direcionam seu enfoque para o aspecto “consumidor” de cada um, enquanto na pesquisa social a dimensão da existência humana enfatizada é a do “cidadão”, do “sujeito social”. Além disso, conforme destaca Westphal (1992, p. 21):

[...] a função do grupo focal para os cientistas sociais e para os pesquisadores do mercado é diferente. Os primeiros pretendem observar o processo através do quais participantes especialmente selecionados respondem às questões da pesquisa para que, posteriormente, possam os dados ser teoricamente interpretados. A pesquisa de mercado busca propostas imediatas e custos reduzidos. Através do trabalho com grupo procura-se apreender a psicodinâmica das motivações, para imediata obtenção de lucro. Sob este contexto, definiremos nesta pesquisa, o Grupo Focal como uma técnica de pesquisa na qual o pesquisador reúne, num mesmo local e durante certo período, uma determinada quantidade de pessoas que fazem parte do público-alvo de suas investigações, tendo como objetivo coletar, a partir do diálogo e do debate com e entre eles, informações acerca de um tema específico.

A principal característica da técnica de Grupos Focais reside no fato de ela trabalhar com a reflexão expressa através da “fala” dos participantes, permitindo que eles apresentem, simultaneamente, seus conceitos, suas impressões e concepções sobre determinado tema. Em decorrência, as informações produzidas ou aprofundadas são de cunho essencialmente qualitativo. Transpondo ao campo virtual, em vez da “fala”, o mais comum é a digitação, conhecido como “teclar”, para se comunicar com os demais membros do grupo, porém também pode ser utilizados recursos de som e imagem.

Grupos focais presenciais são reuniões, na qual se usam técnicas de intervenção em grupo para facilitar a interação entre as pessoas e promover troca de sentimentos e experiências a respeito de um determinado assunto (MALHOTRA, 2001; RUEDIGER, RICCIO, 2004). Os grupos focais são mais do que meras entrevistas, cuja preocupação é com as respostas individuais de cada membro do grupo à pergunta de pesquisa. Eles permitem uma interação grupal que faz com que os participantes discutam e manifestem suas opiniões que revelem pontos de consenso e dissenso, fundamentais para dar resposta às indagações da pesquisa.

A principal função do coordenador do grupo é a de conduzir o processo de discussão permitindo a discussão do assunto. Para ajudar no trabalho, podemos ter um observador. Um observador “[...] é de suma importância para o sucesso da técnica de grupos focais”, afirmam Dall’Agnol e Trench (1999, p. 18). Auxilia o coordenador a conduzir o grupo em especial nas linguagens “não verbais”. Nos grupos focais on-

line, o observador auxilia na gravação de registros de trocas de

mensagens e da dinâmica do processo de discussão.

É importante que os participantes saibam escutar, trabalhar com monopolistas crônicos, que centralizam a discussão, dificultam e atrapalham a interação e as trocas de opiniões, fatores primordiais para uma boa dinâmica e enriquecimento do trabalho. Na composição dos grupos, os critérios de homogeneidade e heterogeneidade são importantes (idade, sexo, estado civil etc.) considerando os objetivos do pesquisador (SCHIFTER; MONOLESCU, 2000).

Em pesquisa de mercado, de acordo com McDaniel e Gates (2004), dois procedimentos são mais comuns no recrutamento de pessoas: a interceptação em ambientes públicos e a escolha aleatória por telefone, podendo haver variação desse procedimento, conforme a proposta do trabalho.

A opinião de um integrante pode incentivar outros a manifestar suas ideias e seus sentimentos, facilitando a integração a manifestação dos posicionamentos concordando ou discordando, contribuindo para entendermos os pontos de consenso e dissenso. É com base nesse entendimento que entender os grupos focais é necessário estar atento ao que emerge no grupo e não às respostas individuais de cada um. Um tema pode ter sido abordado por apenas uma pessoa e ter gerado discordância entre outros membros. Ainda assim trata-se de um aspecto a ser considerado no todo grupal e na dinâmica do grupo.

Os pontos mencionados até o momento tradicionalmente são considerados no âmbito dos grupos focais presenciais. Dever-se-ia perguntar, então, se seriam aplicáveis aos grupos focais on-line. E a princípio a resposta é afirmativa, embora existam especificidades nessa última modalidade que a distingue dos grupos focais presenciais.

Com as novas tecnologias, os grupos focais começaram a utilizar as salas virtuais. A metodologia aplicada em ambiente on-line, na essência, não se diferencia do grupo focal presencial, considerando os objetivos. Mas o ambiente on-line possui características totalmente diferentes, não temos a presença física dos integrantes.

Outro procedimento essencial à condução de grupos focais é o da qualidade de um roteiro, um esboço dos tópicos que serão abordados no grupo que tem a finalidade de assegurar que todos os principais itens sejam abordados, visto que na interação dos participantes assuntos diversos podem surgir e causar grande dispersão temática.

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