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Grupos heterogéneos e as suas mais-valias para as crianças

2. Análise reflexiva da intervenção

2.1. Intenções para a ação

3.2.2. Grupos heterogéneos e as suas mais-valias para as crianças

Em 1995, Nye et al. definiu grupos heterogéneos como

A prática de agrupar as crianças de mais de um ano de idade a nível de habilidade (geralmente três níveis etários) em conjunto, tem o objetivo de maximizar as práticas de ensino que envolvam interação, aprendizagem experiencial, flexibilidade do pequeno grupo e aumentam a participação entre as crianças que vivenciam uma

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contínua progressão de aprendizagem (cognitiva e social) de acordo com a sua taxa individual de aquisição de conhecimentos e habilidade dentro de um ambiente que proíbe situações artificiais (McClellan & Kinsey, 1999, citado por Maia, 2014, p. 6).

Desde então que o conceito tem sido abordado e aplicado em diversos contextos, começando a ser abordado na valência de creche, ainda que de forma muito superficial e inicial, defendida pelo MEM. São vários os autores, como Sérgio Niza (2013), Lilian Katz (1995; 1998), Assunção Folque (2014), Marilyn Rasmussen (2005), entre outros, que defendem a constituição de grupos heterogéneos a nível etário, reconhecendo as vantagens da sua aplicabilidade na organização dos grupos e no que toca ao desenvolvimento da criança.

De acordo com o MEM, e embora este seja essencialmente aplicado e utilizado em JI, a adaptação “do modelo pedagógico MEM para a creche procura no entanto encontrar modos específicos de concretização de acordo com as características do contexto institucional da creche, dos seus atores e do tipo de atividade que desenvolvem” (Folque, Bettencourt & Ricardo, 2015, p.17). Uma destas formas de concretização do modelo em creche passa pela organização do grupo, que privilegia os grupos constituídos com crianças de várias idades, assegurando, assim, a heterogeneidade do mesmo (ibidem, 2015), bem como a valorização da diversidade e da cultura dentro do próprio grupo. Este enriquecimento que é conferido à sala, e por consequência ao grupo, pode ser visto de inúmeras formas, ao que Folque, Bettencourt e Ricardo (2015) associam-no às próprias ações das crianças, sendo que

As crianças mais velhas, ou mais capazes em determinado domínio, assumem a responsabilidade de cuidar, integrar e apoiar a participação plena dos mais novos. Estes, por sua vez, ao participarem em atividades com pares mais velhos alargam o seu leque de interesses e necessidades e, progressivamente, apropriam-se de formas mais elaboradas de interagir (p. 22).

São contributos como estes, ao nível da organização de grupo, que se revelam ricos em aprendizagens diversas, principalmente no que diz respeito ao nível de

23 desenvolvimento social das crianças, pois, e tal como defende Folque (2014), a organização dos grupos

com crianças de diferentes idades visa enriquecer a aprendizagem social e cognitiva das crianças, criando uma zona de capacitação que vai para além do que a criança é capaz de fazer sozinha, incluindo actividades que pode realizar com sucesso com ajuda do educador e colegas, num grupo inclusivo e diversificado (p. 53).

Também para Rasmussen (2005) a criação de salas heterogéneas, em que as crianças se encontram em diferentes etapas de desenvolvimento e aprendizagens, apresenta os seus benefícios ao permitir uma interação mais dinâmica entre os diferentes intervenientes. Para além disso, essa mesma dinâmica “vai fomentar a cooperação, pois as crianças mais novas procurarão a liderança, apoio e empatia nas mais velhas, e estas verão nas mais novas uma necessidade de orientação e ajuda” (Costa, 2015, p.24), dando assim ênfase ao espírito de cooperação e entreajuda entre as crianças, bem como ao sentido de responsabilidade, principalmente para as crianças mais velhas do grupo. É nestas interações entre os pares, seja em contexto de brincadeira livre ou de atividades estruturadas ou semiestruturadas, em que “uma criança aprende a ser um ‘amigo’ ou um ‘mandão’ através da sua experiência com os outros” (Formosinho, Katz, McClellan & Lino, citado por Costa, 2015, p.24), que a criança vai adquirir e apreender as suas capacidades sociais, sendo capaz das replicar no futuro.

Para Teixeira et al. (2011) a convivência em salas heterogéneas proporciona benefícios ao nível do desenvolvimento intelectual e social da criança, pois o facto do grupo de crianças se encontrar em diferentes estádios de desenvolvimento vai criar situações propícias para o aparecimento dos desafios cognitivos e por consequente, vai proporcionar condições para que exista um progresso contínuo ao nível das várias áreas de desenvolvimento da criança (ibidem, 2011). Assim, e para o mesmo autor, a integração das crianças em salas heterogéneas vai proporcionar uma “melhoria ao nível da auto-estima, aumento das condutas pró-sociais ao nível do cuidar, tolerância, paciência e entreajuda, . . . relações interpessoais, responsabilidade individual e diminuição dos problemas relacionados com a disciplina” (ibidem, 2011, p.59).

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Os benefícios ao nível social e intelectual são igualmente defendidos por Katz (1998), manifestando-se tanto para as crianças mais velhas como para as mais novas, entre os quais é possível destacar uma maior ajuda e partilha de conhecimentos e comportamentos, um melhoramento das habilidades sociais, e uma maior sensibilidade e sentido de responsabilidade das crianças mais velhas para com as mais novas. Para as mais novas, é notória a maior frequência em que participam em atividades ou tarefas mais complexas, bem como a exposição/participação na resolução de conflitos.

Um outro aspeto importante igualmente referenciado aquando das relações entre pares numa sala heterogénea é, tal como diz Costa (2015), “que as crianças são capazes de ajustar a sua comunicação, ao nível do comprimento e complexidades das frases, à idade ouvinte” (p.26), para que os mais novos possam tirar igualmente partido das diferentes situações de aprendizagem e brincadeiras a que se encontram expostos ao fazerem parte de uma sala heterogénea, onde as diferenças ao nível do desenvolvimento se encontram, por vezes, bastante acentuadas. Por exemplo, na comunicação entre pares, as crianças mudam a voz e o tom da sua expressão verbal para criar um ambiente de comunicação favorável, dependendo da idade do destinatário, melhorando assim as suas habilidades comunicativas, tendo em conta as características do outro (Katz, 1998).

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