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De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e com o Departamento Municipal de Água e Esgoto72, a bacia hidrográfica do Lago Guaíba situa-se a leste do Estado e possui uma área de 2.523,62 km², abrangendo municípios como Canoas, Guaíba, Porto Alegre, Tapes, Triunfo e Viamão. Os principais usos de água destinam-se ao abastecimento público e à irrigação. A área, por ser densamente urbanizada, gera diversos problemas ambientais, que comprometem a qualidade da bacia. A poluição industrial e o baixo índice de tratamento do esgoto doméstico são alguns exemplos. Embora a consequência não seja sempre positiva, o fato é que a geografia influencia muito no desenvolvimento das cidades e a presença da água é considerada um fator extremamente positivo.

Alguns dos significados do Guaíba e suas derivações trazem metáforas e diretrizes. O etnólogo Bernardino José de Souza o caracteriza como pântanos

profundos. Teodoro Sampaio busca sua origem tupi, sendo “na enseada”. Há também a

acepção de vale ruim, do tupi. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira compõe gwa, seio; i, água; e ba “no seio da água”.73

Pântano profundo, na enseada, vale ruim, no seio da água, desde suas primeiras investidas toponímicas, o Guaíba apresenta contrastes. Por suas águas chegaram seus colonizadores, partiram e chegaram viajantes, exploradores, forasteiros, fugitivos, exploradores, em suas águas foram refletidas as esperanças, medos, expectativas, desejos, inseguranças de algumas personagens pelas quais escolhemos enxergá-lo.

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Sites da SEMA e do DMAE respectivamente. Disponível em

http://www.sema.rs.gov.br/conteudo.asp?cod_menu=56&cod_conteudo=6475 e

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/dmae/default.php, acesso em 11/07/16

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RAMÍREZ, Hugo. Guaibeguara, os Primitivos Habitantes de Porto Alegre. In: Revista Rio Grande Cultura. Ano IX – Nº 23. Porto Alegre: Fundação Educacional e Cultural Padre Landell de Moura.

Contudo, é na literatura que a soberania da água e a imagem do Guaíba, referente indefinível, resplandecem, presentes em todos os romances do corpus. Lago, rio, lagoa, rio-mar, cinde mundos, separa vidas, é ponto de contemplação para uns, de escape para outros. Passagem pela qual, durante muito tempo, as pessoas chegavam e partiam. Lugar onde a paisagem se torna borrada, indefinida, tanto quando se olha para o Guaíba da terra firme quanto quando se olha para a terra firme desde o Guaíba. Entre Porto Alegre e sua outra margem há intrigas que se escondem submersas ou nos interiores das ilhas. Há perigos e prazeres clandestinos em suas rotas. Na outra margem, sob uma pulverização de ouro, especialmente quando o sol se põe, há outras imagens que dele se desprendem, como se estivéssemos “a lembrar iluminada aquarela de Pio Jorris” (OLIVEIRA, 1910:66).

O Guaíba, (também Ygayba ou Guahyba) é a foz dos rios Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí. Além de acumular um grande volume fluvial, é um dos meios que liga o Estado à capital, um meio que liga a capital à Lagoa dos Patos e, finalmente, ao oceano. Por muitos anos, na formação da capital gaúcha, o Guaíba teve papel fundamental nas relações comerciais e de mobilidade urbana. Por ser um falso rio, Porto Alegre estabeleceu essas ligações com o mundo, “gerando marujos e mercadores, construindo barcos, importando e exportando. Em função dele e de sua bacia, Porto Alegre tornou- se entreposto de uma vasta região agrícola e industrial” (FRANCO, 2008:329).

Retirado de uma das primeiras representações cartográficas de Porto Alegre, o fragmento a seguir é uma amostra da importância do cuidado com as águas e de como o Guaíba está presente desde muito cedo na história da cidade.

No mapa, o rio aparece em um traçado cuidadoso retratado em seu tamanho, posição e composição fluvial, além de estarem representadas suas ilhas:

Fonte: http://www.popa.com.br/docs/cronicas/mapa_antigo1.htm

A presença do Guaíba nas obras demonstra a importância e o fascínio que este elemento paisagístico complexo para a cidade exerce sobre ela e seus habitantes. O esmero em suas descrições espelha o cuidado com o mapa acima. Nas narrativas, o Guaíba não tem menções episódicas apenas, seus registros são, por vezes, poéticos, contundentes, vívidos, sua relação com as personagens e com os narradores é sempre construída de maneira que as visões ou observações sejam parte imprescindível da história. Podemos ter noção da dimensão de sua importância a começar pelo seguinte trecho de Mãos de cavalo:

Do outro lado das águas do Guaíba, o sol vermelho ameaçava tocar a difusa linha dos morros, que se dissolvia diante dos olhos a ponto de formar algo semelhante a um horizonte oceânico, o rio Guaíba se transformando em mar, carminado pela iluminação do poente. (GALERA,2006:31)

Dentre os romances do corpus, o de Galera é o que parece compreender mais densamente a presença do Guaíba, uma presença de dimensões oceânicas. O rio se transforma em mar aos olhos do narrador, não por acaso, não é só o capricho descritivo e poético que o autor despende que chama atenção do leitor, mas a metáfora do oceano. A comparação engrandece o elemento de maneira tal que ele passa a ser maior que a própria cidade. Essa comparação com o mar aparece também em Caminhos cruzados. Se observarmos o mapa do romance (ver página 84) podemos notar que as marcações quase traçam uma margem para o lago, sua importância está ali como ideia de idílio,

como quando Noel e Fernanda vão à praia (o Guaíba) e o contemplam, como mobilidade, entrada e saída da cidade, além de possibilidade de fuga.

Outra analogia com o oceano está em O beijo na parede. Depois que a personagem João faz uma viagem, provavelmente a Torres, e mantém esse registro para si, no seu trajeto para casa revela:

Antes de voltar, vou até o Guaíba, porque às vezes o Guaíba faz barulho de mar. Sei que parece uma coisa besta ficar olhando a esmo para o fundo das águas, mas gosto disso. Vou pensar em tudo que o Seu Ramiro me ensinou. Ainda continuo não sabendo quantas coisas podemos aprender na vida. [...] E gostaria de dizer a vocês que, se um dia tiverem a necessidade de beijar uma parede, vão em frente. É preciso não ter medo. (TENÓRIO, 2013:134).

O transbordamento da personagem pensando em questões profundas da vida vem de frente para o Guaíba, sua imensidão atribuída marítima, mas ao mesmo tempo, a metáfora da parede surge na fala de João, para ele, a água não é caminho, não é rota de fuga. Através do estímulo aos sentidos, as personagens engrandecem as cores, os sons, as dimensões do lago, de modo que ele passa a ser tratado como mar, oceano, imensidão de águas. E mesmo que o fundo das águas seja também uma parede, é preciso encará-la e não ter medo. João, nessa metáfora, incentiva o leitor a um mergulho para a vida.

Em E as águas invadiram a metrópole, a movimentação principal do romance é baseada nos rios que levam à capital e que desembocam no Guaíba, chegando ao cais. Os protagonistas Aldo e Doris conhecem a cidade a partir do rio: “Calma e tranqüilamente, o vapor entrou no pôrto defronte ao Palácio do Comércio. O cais estava quase deserto. Dois ou três mariolas e alguns choferes eram as únicas pessoas que esperavam o vapor” (MARRONI, 194[?]:79). É também nos rios que desembocam ali que Aldo, durante as chuvas que provocaram a enchente de 1941, sofre um acidente (o barco que ele insiste em pegar para descer o rio vira e as duas pessoas que ele havia convencido de acompanhá-lo morrem) e quase morre afogado. Enquanto isso, em Porto Alegre, o rio se pronunciava sobre o centro e ameaçava também a vida de sua esposa. A cena é descrita entre a tragédia e o encantamento, mais uma vez confirmando a indefinibilidade do Guaíba:

Apesar de traduzir uma catástrofe sem precedentes, a cena era maravilhosa e encantadora. Era a beleza trágica de um rio manso, que saudoso de seu leito antigo, zombou dos diques que os homens lhe

interpuseram e espraiou-se pela cidade a dentro, brincando novamente com o mesmo chão em que brincara em sua meninice.

Grande parte da cidade transformou-se num extenso lençol prateado discretamente dourado pelos brilhantes raios solares.

[...]

O Guaíba, atrevido e soberbo, dominava grande parte da cidade." (MORRONI, 194[?]:156-157)

Grande parte do desenvolvimento de Porto Alegre se deve ao Guaíba. O porto, as praças, o comércio, como já mencionados, foram, nos primórdios da cidade, seu centro ativo. Primeiro houve a exaltação da água por sua função de transporte de pessoas e mercadorias, em seguida, sua dominação, por meio dos aterros, dos diques, dos trapiches. Evidencia-se no trecho acima a dupla relação com as águas: ao passo que domadas, também são soberbas e invadem o espaço das pessoas e zomba delas. A beleza trágica da cena é o que resume essa relação. O Guaíba indômito, soberbo amedronta, porém sua existência é irrevogavelmente necessária.

A enchente acabou por interferir tanto na cidade, quanto na mentalidade das pessoas e sua relação com ela. Na cidade, primeiro destruiu a efervescência da capital, expondo também a sua fragilidade estrutural e na mentalidade das pessoas influenciou na relação com ruas, com o próprio Guaíba e com trajetos e as mudanças implantadas depois do evento, além de ter marcado história de pavor, deixando mais de oitenta mil pessoas sem absolutamente nada. Após esse evento houve a canalização do Arroio Dilúvio e o desmanche da pequena ilha, chamada Ilhota, bairro pobre no início do século XX, que hoje corresponde à Cidade Baixa. Além disso, foi implementada a construção do muro da hoje Avenida Mauá.

O outro romance que mostra claramente essa relação de trânsito e desejo é Os

voluntários:

Este barco – veleiro, ou lancha a motor, velho navio, qualquer coisa, este barco era o meu sonho. Me via descendo o Guaíba, passando Itapuã, navegando na lagoa, chegando ao mar, à África. Só em sonhos: barco era coisa proibida. (SCLIAR, 1979:26)

As águas contêm o querer e a possibilidade de buscar outro lugar, uma saída. No romance de Scliar, a história começa e termina no Guaíba. Paulo, o narrador, conta toda a história do estabelecimento de seus pais na cidade, desde que “desembarcaram do

navio numa noite de temporal, uma noite em que o rio, enfurecido, lançava-se contra as pedras do cais” (SCLIAR, 1979:15). Em que pese toda a adversidade do rio que se reflete um pouco na conquista da cidade por seus pais, o narrador segue relatando sua vida e o que mais deseja, seu sonho: sair dali pela mesma via por onde seus pais chegaram. Toda narrativa se encaminha para o dia em que o rebocador Voluntários finalmente sai de Porto Alegre em 1970, para naufragar, sem nunca ter chegado a Jerusalém. O desejo de trânsito se encerra como frustração na ferocidade do rio que, ao tempo que é passagem, é novamente impedimento.

Em outro romance, o rio também apresenta essa dualidade desejo/morte. Em O

perdão, a personagem Stella busca o Guaíba como um meio: ele é a saída para sua fuga.

Depois da descoberta da traição da personagem com o sobrinho Armando, é no cais que tomam um vapor para o Rio de Janeiro. Num primeiro momento, o rio é descrito assim:

O Guahyba, de uma limpidez de espelho retratava a face iluminada do firmamento. E com as ilhas viçosas de nuances verde e de vários matizes de flores róseas ou brancas, e com os com os seus barcos leves, esguios uns, pesados e chatos outros, os hiates de longos mastros e alterosos canos, era o rio uma dessas pujantes aquarelas que uma vez encaixilhadas o nome guardam de um artista. (OLIVEIRA, 1910:218)

Assim também sucedeu à protagonista de O perdão, que se suicida, durante sua fuga a bordo do vapor. Stella, como Ismália, fica entre o mar e a lua e acaba por deixar- se cair, “contemplou, soberba o oceano imenso... Toda aquela água não lavaria a mácula do seu corpo?!” (OLIVEIRA, 1910:261). Encontrou o fim e, talvez, seu perdão, nas águas oceânicas onde deságua o Guaíba.

Aos protagonistas de Mário-Vera, o Guaíba é saída real e metafórica, porque inclui desejos de uma vida nova, aventuras, traz águas, deságua em Porto Alegre e segue para o mar, para o mundo e para a morte. Há ainda outros desejos que as águas comportam. Para Mário, personagem do romance de Tania Faillace, atravessar a ponte era estar um pouco mais livre, onde a água corria e onde “A cidade além da ponte tem

uma fosforescência branda de antes da tempestade" (FAILLACE, 1983:263). Ir além

da ponte, estar nas ilhas, onde as pessoas eram diferentes, estar rodeado de água, para ele era tranquilizador. Além de trabalhar num armazém próximo ao Guaíba, Mário, por diversas vezes no romance, é posto junto ao rio/lago. As águas são parte da relação misteriosa das personagens (Mário e Vera). Para além da fuga, as margens, as águas e

as ilhas são refúgio, ponto seguro para observar as intempéries. Todavia, isso não deixou que as mesmas águas fossem também sinônimo de solidão, entrega e morte: “Dentro d‟água, se está sozinho. Vera escorregou no mar aquela vez , quando era pequena. E ninguém a socorreu. Vera escolheu sozinha, contra os outros, contra o convite intolerável daquela água. Água mãe, insidiosa, diluente.” (FAILLACE, 1983:442-443). Na água estamos absolutamente sozinhos, diz a narradora. E, apesar de mãe imensa, nela, não se pode confiar. Grandes metáforas de vida e morte, de contemplação e intransigência, de caminho e impedimento, mas para além da dualidade, o Guaíba carrega, nas narrativas, singularidades e relações íntimas e essenciais com as personagens.

Límpido, refletindo o céu e todas as cores da paisagem que o compõem, o rio mimetiza a cidade e a torna arte. O Guaíba é referente inseparável, indispensável, talvez o elemento paisagístico mais importante de Porto Alegre. As tentativas empreendidas para compreendê-lo e decifrá-lo refletem o modo como este elemento interage com a cidade e vice-versa. Como miragem, o Guaíba transmuta-se em bem e mal, em beleza e feiura, em salvação e perigo, mas nunca passa em branco. Hermano, num jogo de futebol, antes de levar uma bolada, tem um momento epifânico em que define o Guaíba em sua singularidade:

Um sol se encaminhando para o ocaso nas águas do oceano seria impossível nesta cidade, ou mesmo neste país, mas condicionar a visão a apagar definitivamente os morros esmaecidos no horizonte e acreditar que aquilo estava de fato acontecendo, que o Guaíba era um mar californiano, investia de soberania a imaginação de Hermano e colocava a realidade em segundo plano. Isso dava-lhe prazer. (GALERA, 2006:33)

A soberania das águas tem a capacidade de, aos olhos da personagem, se transmutar em mar, e junto, transmutar a cidade em outra, investindo as pessoas de imaginação. Elemento fundamental na existência de narradores e personagens O Guaíba é o referente absoluto de e para Porto Alegre.

Rua, do latim ruga, significa sulco, caminho. Via ladeada de casas e prédios, todo espaço por onde se pode caminhar. A rua é espaço público, lugar do encontro, caminho e separação, o que liga as distâncias, o que contém os lugares, espaço que promove o direito do cidadão de ir e vir74. A rua oferece sempre mais do que os olhos podem captar e certamente mais do que os ouvidos podem ouvir. Com ela, temos a possibilidade de ir e vir. Como nos movemos nas ruas, depende do nosso objetivo. Se caminharmos para encontrar os lugares, traçamos um caminho mais curto, mais prático. Se passearmos apenas, nosso estar-na-rua difere do anterior.

É na rua que a modernidade se inicia, com a flânerie de Baudelaire, e junto dela, a mudança de caráter da literatura. A literatura passa então a pertencer à cidade no seu sentido mais intrínseco. Tentar entender a construção da cidade no momento em que ela vai surgindo é uma de suas funções, capturar, de alguma maneira, o que significa estar na cidade, porque os sujeitos estão imersos nessas mudanças. O espaço agora é compartilhado e altamente regulado pelo Estado e pelo capital. As mudanças não estão a cargo dos cidadãos, podem estar, se pequenas. Mas a cidade parece ter uma vida própria, baseada em necessidades de expansão e crescimento (físico e econômico) e essas necessidades, como chamamos, não estão isentas de questões fundamentalmente políticas que, não por acaso, vem de polis.

Por aqui, temos a mesma intenção: a de interpretar de algum modo a cidade. Quando Totta, Azurenha, Lobo e Andradina Oliveira começam a mover suas penas para, com tinta, compreender Porto Alegre, eles prestam um grande serviço à memória coletiva e estabelecem precedentes para Dyonélio e Érico. Esses últimos escrevem já do olho do furacão da modernidade, já os outros a inventam. Para entender o epicentro de uma cidade, na qual o fenômeno de abrir caminho tem início onde se desencadeia sua necessidade, é preciso estar na própria cidade. Estar nas ruas. Elas são os caminhos por onde passam (e passamos nós), a rede que, ao mesmo tempo deve ser previsível, porém não óbvia. Os sulcos, as rugas fincadas no corpo. Essa geografia em rede mostra o tempo vivido. Devemos saber de onde viemos e para onde vamos e de modo geral escolhemos o caminho a tomar em função dos nossos objetivos que podem ser um fim ou um meio. Sendo um fim, é a chegada a algum lugar; sendo um meio é,

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Conforme a definição do dicionário FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986

provavelmente, um passeio, uma flânerie, indecisão de calçada, vagabundagem, fuga, deambulação. Junções, conversões, secções, mudanças, tudo interfere na nossa jornada, estejamos a pé ou não. E damos nomes aos caminhos conforme essas interferências ou objetivos. Athos Damasceno registra, no seu livro Imagens sentimentais da cidade, como eram dados os nomes das ruas:

Por volta de 1839, a ex-povoação dos casais tinha-se como uma cidade pronta, no seu licencioso sistema de vias urbanas.

Prontíssima.

[...] Perto do rio – a da Praia. A que tinha uma curva – rua do Cotovelo. Onde havia uma pinguela – a da Ponte. Rua próxima ao local onde se enterravam os defuntos – rua do Cemitério. Caminho bonito – rua Bela.

Obedientes sempre a tão imaginosa nomenclatura, outras e outras. (DAMASCENO, 1940:12)

Se não está pronta, ao menos se pretende pronta em seu provincianismo infantil denotativo: rua Formosa, Nova, da Varzinha, do Ouvidor, Ponta da Cadeia, beco do Leite, da Fonte e até do Fanha. Muitas dessas reverberações vão perdendo força com o passar das décadas, nomes desaparecem da história, mudanças forçadas e forçosas acontecem, mas alguns ecos perduram na Península, na Ladeira, na rua da Praia, nessas ruas de Porto Alegre.

Num total de setenta e sete ruas mencionadas, as mais citadas ao longo do período coberto pelo corpus são: rua dos Andradas ou rua da Praia e rua Voluntários da Pátria, citadas em sete dos romances; a rua Sete de Setembro, citada em seis dos romances; a avenida Independência, que aparece em seis; a rua Riachuelo, em quatro romances; e a rua General Câmara ou Ladeira e avenida Borges de Medeiros, que aparecem em três dos romances.75 As demais ruas são referidas em apenas dois ou três romances, portanto não são exemplares. Abaixo temos um fragmento do mapa que mostra as mais citadas:

Um fator interessante observável no mapa é que há três ruas principais que são paralelas e que se localizam obviamente bem no centro, e três outras que são continuações dessas. A rua Sete de Setembro é de alguma forma continuada pela rua Voluntários da Pátria e a rua dos Andradas, pela avenida Independência. A avenida Borges de Medeiros não chega a ser uma continuação da rua General Câmara, mas

75

Especificamente a rua dos Andradas ou rua da Praia aparece em sete romances (Estrychnina, O perdão, Caminhos cruzados, E as águas invadiram a metrópole, Os voluntários, Mário-Vera: Brasil, 1962/1964 e Rastros do verão); a rua Voluntários da Pátria também aparece em sete dos romances (O perdão, Caminhos cruzados, E as águas invadiram a metrópole, Estrada nova, Os voluntários, Mário-Vera: Brasil, 1962/1964 e Habitante irreal); a rua Sete de Setembro aparece em 6 romances (Estrychnina, Os ratos, E as águas invadiram a metrópole, Os voluntários, Mário-Vera: Brasil, 1962/1964 e Rastros do

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