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caPítulo 02

PArA AlÉm de GUAykUrUs e PAyAGUás:

diVersAs nAÇões indÍGenAs nAs cOnqUistAs dOs riOs PArAGUAi e PArAná

muitos povos nos sertões dos rios Paraná e Paraguai

O espaço físico que investigamos neste capítulo abarca a faixa de terras que compreende a margem ocidental do rio Paraná, desde a boca do rio Tietê, ao norte, até a altura do Salto Grande ou do Guairá, ao sul. No outro extremo, a oeste, está o rio Paraguai desde a boca que nele faz o rio Jauru até a altura do rio Jejui, ao sul. No rio Paraguai o enfoque concentrar-se-á em sua margem oriental, entre os rios Jauru, ao norte, e Jejui, ao sul. Divide a bacia dos dois rios a formação rochosa chamada Serra de Maracaju.

É sabido, desde os historiógrafos dos oitocentos, que, entre as décadas de 1670/80, os moradores da capitania de São Vicente, referidos pelos habitantes hispanocriollos da província do Paraguai como mamalucos de San Pablo del Brasil, estabeleceram duas bases de apoio em afluentes dos rios Paraná e Paraguai. Apesar da nominação genérica de paulistas ou bandeirantes, o grupo atuante no espaço supradelimitado provinha das vilas de Sorocaba, Parnaíba, Itu e São Paulo. Também se resolveu que suas ações de prear índios teriam sido cruciais para definir a grandeza e conquista do território nacional brasileiro101.

Como as fronteiras entre as monarquias ibéricas na América foram discutidas, embora não chegassem a ser definidas, na temporalidade colonial, as ditas bandeiras paulistas foram apontadas como prova da posse brasileira daquele território. Na mesma linha de raciocínio, os povos indígenas que ali viviam foram tidos como defensores ou traidores do solo pátrio. Um exemplo bastante difundido é o dos Payaguás e Guaykurus. Os primeiros, acusados de aliaram-se aos espanhóis, são representados como ferozes traidores. Já os segundos, aliados dos portugueses, foram valorizados por sua “resistência” aos espanhóis. Mas as bandeiras eram endereçadas a outros povos que não aparecem registados nos documentos e, portanto, não fazem parte da história.

Para além das referências a Payaguás e Guaykurus, pouco se sabe do impacto de tais bandeiras para outros povos indígenas ali radicados. Após 1670, os índios que foram capturados, ou eufemisticamente descidos, pelos paulistas não faziam parte das

101 Sobre a figura do bandeirante na conquista das terras de oeste ver, entre outros: Afonso de Taunay,

História Geral das Bandeiras Paulistas, São Paulo, Edições Melhoramentos, 1920/40, 11 volumes.

Quanto ao debate crítico a respeito da figura do bandeirante na produção historiográfica brasileira ver: Ilana Blaj, “Mentalidade e sociedade: revisitando a historiografia sobre São Paulo colonial”, in

reduções jesuíticas. Em sua maioria eram índios que resistiam ao contato, pela força das armas ou através da fuga. Consequentemente, as informações sobre eles são exíguas e, salvo engano, apenas as encontramos nos relatos dos jesuítas hispânicos. Quem e quantos eram? Que língua(s) falavam? Que quantidade foi descida ou capturada pelos bandeirantes? Como se organizavam do ponto de vista social, material e espiritual? Talvez jamais tenhamos respostas cabais a estas e outras perguntas. Mas não podemos nos eximir de procurá-las.

Para os colonizadores ibero-americanos, a espacialidade acima recortada foi alvo de várias tentativas de controle. Desde meados do século XVI, têm-se notícias da presença dos hispânicos em luta com os nativos ali radicados. As guerras, ou as disputas travadas, entre espanhóis e diferentes povos indígenas, remontam à fundação de Assunção (1541) e continuavam acirradas no século XVIII. Assim, por volta de 1680, quando os paulistas fixaram bases de apoio (arraiais) nos campos da Vacaria, de onde saíam para capturar negros da terra, as populações das cidades e pueblos da província do Paraguai viviam sitiadas e em confronto aberto com distintas nações indígenas em diversas frentes.

Uma leitura mais apressada dos documentos exarados pelos moradores civis, representantes da coroa de Espanha e religiosos da Companhia de Jesus, pode nos levar a crer que havia ali apenas os índios aliados e duas ou três nações de inimigos infiéis. Delas fariam parte os Guaranis, os Guaykurus-Mbayás e os Payaguás 102. Outros povos,

quando se opunham à conquista, eram referidos, indistintamente, com o epíteto infieles fronterizos. Em se tratando das chamadas nações que aceitaram a dominação, poucas foram as nominadas e não tiveram seus modos de viver descritos. Isto é válido, ao menos, para o século XVII e primeira metade da centúria seguinte.

Do lado da coroa portuguesa, a produção de documentos sobre o espaço-tempo recortado foi menos profícua. Em primeiro lugar, os jesuítas a serviço de Portugal não se fizeram ali presentes. Por sua vez, os bandeirantes, ao prear índios, sabiam que infringiam as leis que proibiam a sua escravidão e, portanto, evitavam deixar registros de seus atos. Digno de nota é que a partir de 1720, altura em que existe um maior volume de fontes, os inimigos declarados são os mesmos da monarquia espanhola: Guaykurus e Payaguás. O que, certamente, não é uma coincidência.

A resistência dos chamados Guaycurús-Mbayas e Payaguás lhes assegurou um lugar visível na história da conquista da América. Seus feitos correram o mundo

102 Do que se pode depreender da bibliografia os chamados Mbayá seriam parte constitutiva da família linguística Guaykuru que na passagem dos séculos XVII para o XVIII viviam ao norte de Assunção e tinham como submetidos os Guaná, povo da família linguística Arawak. Entretanto, pelas informações das pessoas que viviam nos séculos XVII e XVIII eles constituíam povos ou nações distintos. No caso dos demais grupos hoje ditos pertencentes à família linguística Guaykuru e que viviam espalhados pelo Chaco tiveram que enfrentar as incursões dos moradores da província de Tucumán. Sobre as guerras levadas a cabo pelos moradores de Tucumán contra diversos povos indígenas que habitam o espaço conhecido por Chaco ver: Beatriz Vitar, Guerra y misiones en la frontera chaqueña del Tucumán (1700-1767), cit,.

ainda no século XVII fosse em Madrid ou mesmo em Roma, seja através dos relatos de funcionários e autoridades ligadas à coroa de Espanha, seja pelas cartas ânuas ou pelos os escritos históricos dos jesuítas 103. O reconhecimento desses povos, por

parte da monarquia lusitana, foi mais tardio. Ocorreu após 1725, quando do primeiro ataque a uma monção que saíra de São Paulo com destino ao Cuiabá. Desde então surgiram com maior frequência na correspondência dos agentes da coroa portuguesa e em relatos de colonos. Somente em 1728, foram declarados inimigos e, portanto, concedida autorização para que se lhes fizesse guerra justa.

Ainda no Brasil independente, ao menos os Guaykurus continuaram a ter seu lugar na história. Agora não mais pela resistência, mas por “capitularem”. No bojo do projeto de construção da ideia de nação e constituição de uma territorialidade brasileira foram tidos como exemplo. Segundo consta, a aliança que fizeram com a coroa portuguesa, em 1790, teria assegurado, para o Império brasileiro, argumentos para reivindicarem como seus um vasto território ao sul da província de Mato Grosso.

Não é por acaso que o artigo de caráter histórico que inaugura a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839) intitulava-se “História dos Índios Cavalleiros ou da Nação Guaycurú” 104. A pecha de defensores do território nacional seria reforçada “por

sua participação na guerra com o Paraguai” (1864/1870) 105. Nos últimos anos, vários

estudos, como os de Roberto Cardoso de Oliveira, Branislava Susnik, Chiara Vangelista e Andrey Cordeiro Ferreira, têm repensado, a partir de perspectivas teóricas distintas, o lugar destinado aos Guaykurus na história da conquista da América portuguesa e espanhola 106.

Mas nem todos os povos tiveram a mesma força, determinação e resistência de Guaykurus/Mbayás e Payaguás. Mas nem todos os povos tiveram a mesma determinação, e força de Guaykurus/Mbayás e Payaguás. Já apontamos a dificuldade

103 Pedro Lozano S.J., Historia de la Compañia de Jesús de la Provincia del Paraguay, Tomo Segundo, Madrid, Imprenta de la Viuda de Manuel Fernanadez, M.DCC.LV; Martin Dobrizhoffer, Historia de

los Abipones, Resistencia, Universidad Nacional del Nordeste, 1967/70, Tomos I-III; Félix de Azara,

“Diário de Azara, ano de 1785”, in Pedro De Angelis, Colección de obras y documentos relativos a la

historia antigua y moderna de las Províncias del Rio de la Plata, Buenos Aires, Vol. 6, Buenos Aires,

Editorial Plus Ultra, 1836, p.183-449; José Sánchez Labrador, El Paraguay Católico, cit,. 104 Francisco Rodrigues do Prado, “História dos Índios Cavalleiros ou da Nação Guaycurú”, cit.. 105 Tal epíteto de defensores do Brasil contra os paraguaios foi divulgado a partir de escritos como os

de Alfredo de Escragnolle de Taunay, Entre os nossos índios: Chanés, Terena, Kinikinaus, Guanás,

Laianas, Guatós, Guaycurús, Caingangs, São Paulo, Editora Companhia Melhoramentos de São

Paulo e Rio de Janeiro, Editora Cayeiras, 1931 (Edição póstuma).

106 Roberto Cardoso de Oliveira, Do índio ao bugre: o processo de assimilação dos Terena, 1976, cit.; Branislava Susnik, Los aborígenas del Paraguay III/1 – Etnohistória de los chaqueños 1650–1910, Asunción, Museo Etnográfico “Andres Barbero”, 1981; Elaine Smaniotto, Relações de Gênero entre

Populações Indígenas Nômades do Chaco: Abipón, Mocovi, Toba, Payaguá e Mbayá século XVIII,

dissertação de mestrado apresentada ao PPGHIS, UNISINOS, São Leopoldo/RS, 2003; Chiara Vangelista, “Los Guaikurú, Españoles y Portugueses en una Región de Frontera: Mato Grosso, 1770- 1830”, in Boletín del Instituto de Historia Argentina y Americana “Dr. Emilio Ravignani”, cit., 1993; Andrey Cordeiro Ferreira, “Conquista colonial, resistência indígena e formação do Estado-Nacional: os índios Guaicuru e Guana no Mato Grosso dos séculos XVIII-XIX”, cit.

de se reconstituirem os conflitos e as territorialidades, envolvendo o conjunto de indígenas na mesopotâmia Paraná/Paraguai, antes do contato com os europeus e ao longo dos séculos XVI e XVII. Todavia, relatos dos primeiros conquistadores, de religiosos e civis que por ali transitaram dão conta de como eram complexas as tramas, as disputas e as alianças estabelecidas.

Um dos problemas é que um mesmo povo podia ser identificado por diferentes referenciais e por várias formas: pelos espanhóis/asunceños; distintos vizinhos aliados ou inimigos; portugueses/paulistas; jesuítas; e por eles próprios. Por outro lado, com o passar dos tempos, as alianças e as pressões podem ter feito com que grupos se fundissem, com que as pronúncias dos nomes fossem alteradas, com que grupos com o nome de seus chefes tivessem sido renomeados após a morte desses107. De igual modo é impossível contar os que foram dizimados pelas guerras entre si e com europeus, “descidos” pelos paulistas e reduzidos como cativos ou administrados, submetidos às encomiendas pelos criollos de Assunção ou os vitimados por epidemias de gripes, varíola e sarampo, etc.

Para encetar uma releitura daquele espaço faz-se necessário perceber a consciência que os povos indígenas adquiriram dos mecanismos da conquista ao longo do tempo, particularmente a de quem eram os outros à sua volta. Cremos que era a partir dessa percepção que se tomavam as decisões. O fato de sentirem- se ameaçados levava às escolhas. Fugir para uma área distante implicava fazer guerra com outro(s) povo(s) ou acatar algum tipo de sujeição, uma vez que não havia territórios vazios. Aceitar a paz com a coroa de Espanha significava viver sob ordens de seus funcionários e o sistema de la encomienda.

Assim, submeter-se aos desígnios da Cruz e ao grêmio da Igreja acabou sendo uma solução para muitos. Mesmo sob tal “proteção” não estavam isentos de prestar serviços e compor os exércitos que combateriam os índios ditos infiéis e os temidos mamalucos de San Pablo. Finalmente, há indícios de uma quarta via: vagar em pequenos grupos por terras montuosas ou alagadiças de difícil acesso e, aparentemente, de ninguém. Ai residia o perigo maior de ser cativado por grupos inimigos, pelos encomenderos de Assunção ou pelos sertanistas do Brasil.

A leitura de uma carta do jesuíta Cristóbal de Altamirano, superior das missões do Paraná e Uruguai, nos permite clarificar duas das situações acima descritas. Tendo notícias de três bandeiras de mamalucos de San Pablo del Brasil

107 Um exemplo elucidativo da confusão/diversidade de nomes que um determinado povo podia receber é o dos chamados Guaycurú – propositadamente grafamos o nome do povo tal como aparece na maioria das fontes de origem hispânica –, ver: Ludwik Kersten, Las tribus Indígenas del Gran

Chaco Hasta Fines del Siglo XVIII, Una Contribuición a la Etnografía Histórica de Sudamérica,

próximas à antiga ciudad de Jerez e temendo pela sorte de seus índios reduzidos afirma ter espalhado vigias ao longo do rio Paraná acima. Segundo ele…

…tuvo noticia cierta da la espía que despachó… como estaban tres banderas de certonistas en los parajes, que declararon los que llegaron al Paraguay y que venían recogiendo los infieles que habían por la

costa del río, lo cual se supo de unos indios infieles, que salieron al encuentro del espía, pidiendo los llevase a las doctrinas, porque el portugués, que ya venía corriendo y asolando las márgenes de dicho río, no los llevase108(grifos nossos).

Em 1678, o bispo do Paraguai solicitava ao seu rei autorização para introduzir naquela província mais vinte missionários. Os argumentos para tal pedido se justificariam pela demanda, pois, “que en los montes del Paraná de su Obispado, los Caaiguas han pedido Padres para que se les hagan pueblos y les doctrinen, y que pocos días ha los tupíes llagaron à Caazapa, doctrina de franciscanos, à pedir el mismo”109. Tal como este, há outros exemplos que

indicam como os grupos ameríndios compostos de poucos indivíduos, frente às ameaças externas, se ofereciam para fazer parte de alguma redução. O que denota que esses indígenas eram capazes de ponderar sobre os riscos que corriam e fazer escolha.

Através dos relatos deixados pelos jesuítas e por agentes da coroa de Espanha, conseguimos saber os nomes com os quais alguns povos indígenas ali estabelecidos foram referidos e passaram a ser conhecidos. Para esclarecer nossa assertiva, destacamos um dos muitos episódios de conflitos protagonizados por Guaykurus e asunceños.

No dia 20 de janeiro de 1678, os moradores de Assunção desferiram um violento ataque às tolderias de um grupo Guaykuru, estabelecido na margem do rio Paraguai oposta àquela cidade. Consta das fontes que 600 foram mortos e 300 aprisionados. Nas palavras de Frei Faustino de las Casas, bispo daquela província, com tal ação, “con que se ha abierto con seguridad el paso para muchas naciones bárbaras, y reducirlas al suave yugo de la ley, que por ser fáciles de conquistar”110. Sobre esse episódio a

108 “Carta del P. Cristóbal de Altamirano, Superior de las Misiones del Paraná y Uruguay, al Gobernador de Buenos Aires, D. José de Garro. Doctrina de San Carlos, 6 de Noviembre de 1679”, in R. P. Pablo Pastells, S.J., (Cont. Francisco Mateos, S.J.) História de la Compañia de Jesús la Provincia del Paraguay

(Argentina, Paraguay, Uraguay, Perú, Bolivia y Brasil), segund los documentos originales del Archivo

General de Indias, Tomo III, Librería de Victoriano Suárez y Consejo Superior de Investigaciones

Científicas Instituto Santo Toribio de Mogrovejo, Madrid, 1912 a 1949, (8 tomos), pp. 247/48. 109 “Informe que hace á S. M. el Obispo del Paraguay, Fray Faustino de las Casas. Asunción, 31 de

Marzo de 1678”, in Pablo Pastells, Historia de la Compañía de Jesús en la provincia del Paraguay..., Tomo III, cit., pp. 158/59.

correspondência entre o governador, D. Felipe Rexe Gorbalán, e o padre Nicolás del Techo, reitor do Colégio Jesuíta de Assunção, nos informa ainda que:

…se ha tenido noticia que hay otras muchas naciones de más doméstico natural para introducirles la fe, como son: Los guanas,

naparus, layana, quiniquina, chogalete, enimate, quiquila, payagua, tubichuare; lenguas calchaquíes, chiri guazú, guaycurú guazú y demás de que se tiene noticia; quitado el

impedimento de los guaycurús, sería bien solicitar su conversión por dichos Rvdos. Padres misioneros111 (grifos nossos).

Ao elencar os 13 povos ou nações que sofriam a ‘má influência’ dos Guaykurus, o governador nos dá os nomes de outras nações que viviam no vale do rio Paraguai e que, aos olhos dos espanhóis, não ofereceriam resistência à conquista. Ao compararmos os dados da fonte acima com os mapas desenhados pelos padres da Companhia de Jesus, veremos que os povos mencionados encontravam-se na territorialidade denominada como Chaco112. Mais ainda, que a maioria deles

pertencia ao que, modernamente, se classifica como famílias linguísticas Arawak e Guaykuru – entretanto, para este informante existiu uma nação Guaykuru que submetia ou influenciava negativamente outras nações.

Ao iniciar a década de 1670 a situação política e militar da província do Paraguai era delicada. Fazia parte do vice-reinado do Peru, à qual respondia e recorria quando se tratava de segurança e guerra. Em questões civis e políticas, estava subordinada à Real Audiência de Charcas. Possuindo um aparente extenso território, confinava ao norte com a província de Santa Cruz de la Sierra, a oeste com a de Tucumán e ao sul com a de Río de la Plata. A leste, tendo como referencial as serranias de Mabaracayu ou Maracaju, ficaria a nebulosa fronteira com os mamalucos de San Pablo del Brasil. Ao longo do rio Paraguai, os conquistadores espanhóis e seus descendentes tinham como nuclear a capital da província homônima. Com uma população de 2.000 vecinos, a cidade de Assunção, que também abrigava a sede do governo, se confundia com a própria província.

Apesar de situar-se num espaço geográfico bastante interior do continente sul-americano, o gigantesco território definido como sendo da província do Paraguai havia que ser conquistado. Ali os inimigos não eram os súditos da coroa portuguesa

111 “Auto exhortatorio del Gobernador del Paraguay, D. Felipe Rexe Gorbalán, al P. Nicolás del Techo, de la Compañía de Jesús, Rector del Colegio de la Asunción. Asunción, 22 de Marzo de 1678”, in Pablo Pastells, Historia de la Compañía de Jesús en la provincia del Paraguay..., Tomo III, cit., pp. 154/55.

112 PARAQUARIE PROVINCIAE SOC. JESU CUM ADIAACENTI(US) NOVISSIMA DESCRIPTO

POST ITERATAS Peregrinationes, & plures observationes Patrum Missionarium eiusdem Soc. tum huius Provinciae, cum & Peruanae accuratissime delineata & emendata Anno 1732.

ou de qualquer outra potência europeia, mas variada gama de povos indígenas. Tendo que dominar la frontera de los índios infieles, a situação militar do Paraguai não era das mais confortáveis, dada a falta de soldados, armas e munições. A guerra que se travava com Guaycurús, Mbayás y Payaguás, havia já dois séculos, mantinha sua população exaurida113. Assim sendo, a segurança da capital asunceña, das suas

chácaras e haciendas, e a exploração dos ervais nativos, requereram sempre muito cuidado e dispêndio. Para manter a integridade dos moradores, seus governantes construíram uma rede de fortificações no rio Paraguai acima e abaixo de Assunção.

Segundo o padre Diego Altamirano, os “guaycurús y otras naciones bárbaras; cuyas tierras empiezan a tiro de mosquete de dicha ciudad, sin que medie más distancia que la del río Paraguay, que las divide”, significavam, de fato, uma ameaça à população de Assunção. Suas ações impediam os asunceños de ampliar os povos de encomienda, incrementar a produção agropastoril e de extração de erva- mate, além de impossibilitar a abertura de um caminho de acesso direto e célere ao maior mercado consumidor das Índias Ocidentais de Castela: Potosi. Considerando que os Guaykurus, Mbayás e Payaguás foram as nações indígenas mais referidas nas fontes pelos primeiros conquistadores e depois, no século XVII, pelos colonos hispanocriollos e jesuítas tentaremos, ao seguir seus passos, encontrar referências sobre os demais povos ameríndios que ali viviam.

os eyiguayegi – Mbayá – guaycurúes

O povo indígena referenciado ora como guaykuru, ora como mbayá e

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