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1.2 A corte de D Sancho II

1.2.2 A guerra civil de 1245-1247

Em 1245 os grupos de nobres estavam bem definidos. Entre os opositores a Sancho II encontravam-se as grandes famílias de Sousa, Ribeira, Albuquerque, Valadares, Baião e alguns Correia, para além das linhagens de cavaleiros: Portocarreiro, Briteiros e Rodrigo Sanches, o bastardo de Sancho I, que comandava o partido do conde (Medina 2013, 621; Ventura 1996, 113). Estavam contra Sancho II aqueles que em 1211 haviam estado contra D. Afonso II, isto é, que em ambos os casos se opunham à centralização do poder (Pizarro 2013, 281). A favor do rei legítimo encontravam-se os

      

18 A 30 de janeiro de 1245 é promulgada a bula Terra Sancta, onde se informava Afonso de Bolonha da

queda de Jerusalém, a 23 de agosto de 1244, e se lhe pedia socorro urgente. Aliciando-o para a cruzada, foi-lhe prometido, a ele e seus acompanhantes, a graça da indulgência plenária (Ventura 2009, 71). É notória a promiscuidade entre o poder pontifício e o conde pois, só sendo suficientemente conhecido, lhe poderia ter sido dirigido tal pedido, tanto mais que essa bula foi comunicada a um conjunto mais vasto de príncipes da cristandade.

19 A Igreja foi um elemento fundamental na consecução dos objetivos do conde, um instrumento

imprescindível para lograr e firmar o poder em Portugal, criando deste logo uma distância, se bem que inexistente, face às políticas de centralização régia que tinham sido levadas a cabo tanto pelo pai como pelo irmão.

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Soverosa, os Tougues e os Riba de Vizela, que lhe foram fiéis até ao fim (Ventura 1996, 114).

Desde a chegada do conde de Bolonha, em dezembro de 1245 ou janeiro de 1246, os ataques dirigiram-se a Coimbra, principal bastião de D. Sancho II. Durante o tempo que durou o ataque da cidade, a rainha Mencía foi raptada e aprisionada na fortaleza de Ourém que pertencia aos seus inimigos (Mattoso 1987, 281-285), como forma de prevenir a possibilidade de descendência direta do monarca.

Foi durante a guerra-civil de 1245-1247 que se fortaleceu a relação entre o rei português e aqueles que o apoiavam, como é o caso do herdeiro da coroa castelhana, o infante Afonso, futuro Afonso X. Embora a intervenção do príncipe tivesse desempenhado um papel fulcral no futuro de D. Sancho e, de certo modo, determinasse a política que o monarca castelhano manteve com Portugal durante os primeiros anos do seu reinado (idem 1992, 64; Medina 2013, 618), as fontes preservadas são escassas.

São várias as razões apontadas pelos historiadores para explicar a participação do infante Afonso na guerra civil portuguesa. González Jiménez e Mattoso perspetivam esta incursão no reino luso como uma questão ideológica, em que Afonso de Castela defendeu a autoridade real sobre o papado e a sua interferência nos assuntos nacionais (González Jiménez 2004/05, 21; Mattoso 1990; 84), posição que posteriormente assumiu nas Partidas (cf. González Jiménez 2004, 120-123). Lançam, igualmente, a hipótese do monarca português ter prometido entregar ao infante o território do Algarve como pagamento pela ajuda (ibid., 55). Por sua vez, José Varandas defende a teoria de que o desempenho do príncipe castelhano não foi inocente, uma vez que no caso do rei lusitano morrer sem filhos, este apoio poderia ser uma forma legítima de assegurar aquele território (Varandas 2003, 402-403). Noutra perspetiva, Medina afirma que os interesses pessoais e familiares dos nobres atravessaram fronteiras e a solidariedade familiar influenciou, levando à participação do herdeiro de Leão e Castela na guerra civil portuguesa (Medina 2013, 620).

A instabilidade do reino português era bem conhecida dos leoneses e do rei de Castela desde o seu começo. Contudo, o pedido de ajuda lançado pelo Capelo ao infante castelhano ocorreu apenas nos finais de 1246, quando Sancho II se preparava para atacar Leiria (González Jiménez 2004/05, 21; Medina 2013, 623; Ventura & Gomes 1993, 166). Ao que parece, vários castelos e outros bens que o infante castelhano possuía em Portugal (desconhece-se quais eram e em que momentos lhos foram entregues), estavam a ser atacados com máquinas de guerra que haviam causado grande

destruição (Varandas 2003, 403). Após a denúncia do sucedido, o papa dirigiu-se ao conde de Bolonha, ordenando-lhe que não atacasse a propriedade de Afonso de Castela (Medina 2013, 623) e solicitou, poucos dias depois, ao infante Pedro de Portugal, filho de Sancho I, que interviesse no conflito em apoio do conde, tal como a cúria romana havia pedido (Varandas 2003, 143). A ordem papal parece ter ajudado o herdeiro castelhano a proteger as suas propriedades lusitanas, mas o seu interesse em auxiliar D. Sancho II persistiu; tal deve-se ao facto de Pedro de Portugal, um inimigo poderoso e um político hábil, bem conhecido de Leão, se ter juntado às tropas de Afonso de Portugal.

A 15 de agosto, Afonso de Castela partiu a caminho da fronteira20, acompanhado

pelos bispos de Leão, Coria e do mestre de Alcântara, bem como de diversos nobres castelhanos como Lope López de Haro, irmão da rainha de Portugal Dona Mencía López de Haro, Nuno González de Lara, Afonso Téllez de Meneses, o galego Rodrigo Gómez de Traba e pelos leoneses Rodrigo Froilaz, Rodrigo Fernandez de Valduerna, Pedro Ponce, o asturiano Alvar Diaz de Norena e de D. Rodrigo Afonso, filho de Afonso IX e da portuguesa Aldonça Martins de Silva (Medina 2013, 624).

A 13 de janeiro de 1247 já as tropas do herdeiro castelhano se encontravam às portas de Leiria junto a Sancho e seus partidários. A ação sangrenta levada a cabo por D. Afonso em terras lusas teve as suas consequências para aqueles que nela se envolveram. Provavelmente, em fevereiro de 1247, os bispos de Braga e Coimbra escreveram aos franciscanos da Guarda e Covilhã para que excomungassem “al infante Alfonso y a don Diego López de Haro, Rodrigo Gómez de Traba, Fernando Iohannes de Limia y a los hermanos Rodrigo y Ramiro Froilaz por haber desobedecido la provisión papal al enfrentarse al conde de Boulogne” (ibid., 628). Nesta fase, já as forças de Sancho II se encontravam muito debilitadas, não tendo o apoio da aristocracia eclesiástica do reino ou das ordens militares, e, sem qualquer força para enfrentar a opinião papal, pelo que a guerra se reduziu a pequenos conflitos locais. José Varandas afirma que no momento da intervenção do príncipe castelhano, Sancho II já quase tudo perdera, restando-lhe apenas fugir para a fronteira, após a batalha de Leiria, com o que sobrara do seu exército e deixar o reino (Varandas 2003, 405-406).

      

20 O seu pai, Fernando III, opôs-se à participação do infante castelhano no conflito português, enviando

uma ordem dirigida aos cavaleiros de várias cidades do reino, exigindo-lhes que não acompanhassem o seu filho. Apesar da resposta negativa de vários concelhos, D. Afonso contou com a participação das cidades de Leão e Salamanca, das quais era tenente, bem como com a milícia conselheira de Cidade Rodrigo (González Jiménez 2004/05, 21; Medina 2013, 624).

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