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4 PROPOSTA DE UMA INTERVENÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-

4.2 O produto e a perspectiva intercultural

4.2.1 Guia de orientações para possibilidades de uso didático do produto

Aqui intentamos apresentar de forma sucinta algumas sugestões para o uso didático do nosso produto. Contudo, não pretendendo, com isso, esgotá-lo ou limitar o seu uso, ficando a cargo do professor utilizá-lo total ou parcialmente da melhor maneira, a depender do seu planejamento. Nesse caso, essa seria apenas

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BRASIL, 2008.

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BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Entrevista: Gresem José dos Santos Luciano – Gersem Baniwa. Revista História Hoje, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 127-148, 2012. p. 141.

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uma maneira de apontar como no âmbito da formulação dessa proposta pensei algumas de suas possibilidades (quadro 6).

Quadro 6 – Descrição do produto

FICHA TECNICA:

Titulo: “Não há conflito se for feita releitura”. A experiência escolar dos Potiguara do Catu no contexto de convivência intercultural numa escola não indígena.

Gênero: Documentário.

Tempo: 30 min e 10 segundos. Autor: Tiago Cerqueira Santos. Ano: 2019.

Acesso: “NÃO HÁ conflito se for feita releitura”: a experiência escolar dos Potiguara do Catu. Publicado pelo canal Tiago Cerqueira Santos. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (30 min). Disponível em: https://youtu.be/XyEtWkSRILQ. Acesso em: 10 jul. 2019.

Sinopse: O documentário retrata as narrativas dos indígenas Potiguara do Catu, estudantes da Escola Municipal Dr. Hélio Mamede de Freitas Galvão no município de Goianinha – RN. O filme apresenta aspectos da experiência escolar desses sujeitos no contexto de convivência intercultural com os não indígenas.

Fonte: Dados da pesquisa realizada pelo autor

QUESTÕES A SEREM ABORDADAS:

a) A cena inicial do documentário (a apresentação de dança do projeto Eleotérios do Catu: tradições e modernidades.) concorda ou discorda dos argumentos apresentados no restante da obra? Nesse caso, a pergunta tem a intenção de orientar e verificar o entendimento dos alunos em relação ao documentário, visto que a estratégia narrativa foi a de contrapor a primeira cena com o restante dos argumentos apresentados pelos personagens.

b) A sua visão anterior sobre os povos indígenas foram confirmadas ou não, após assistir ao documentário?

Aqui sugiro uma atividade anterior, em grupo ou individual, onde o professor possa verificar o conhecimento prévio dos alunos sobre a temática indígena. Uma boa estratégia pode ser o uso de imagens. Nesse sentido, é

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importante que o professor esteja atento a falas que apontem para representações estereotipadas e genéricas, utilizando-as, posteriormente, como mote para discussão.

c) Um dos personagens do documentário (Jamile – no minuto 6:18) fala que não se considera indígena porque “nunca procurou saber “sobre essas histórias lá no Catu”. O que você acha sobre isso? Essa pergunta tem a intenção de proporcionar ao professor introduzir um debate sobre identidade cultural, desconstruindo a perspectiva naturalizada/essencializada do senso comum sobre cultura e a importância da história nesses processos.

d) Na última parte do documentário, são apresentadas as expectativas dos personagens sobre seu futuro. Lá eles falam sobre continuar seus estudos, fazendo cursos técnicos e universitários. Você acha que esse fato pode interferir na vida da aldeia?

Professor, aqui a ideia é discutir as noções de tradição e modernidade, buscando problematizar as visões estereotipadas e essencialistas dos indígenas como povos do passado, em contraponto dos ocidentais como povos modernos, questionando o caráter artificial e político da identidade moderna-ocidental, tida como universal.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sempre ouvi de colegas, que tinham também passado pela experiência de desenvolver um trabalho dessa natureza, que a última coisa que se faz numa dissertação é dar a ela um título. Achava isso um tanto estranho, minhas limitações não permitiam ver nisso alguma regra a ser seguida, já que o título, para mim, é a personalidade do trabalho, por isso, tinha que vir no início, conduzindo todo o restante do processo. Ledo engano! No meu caso, ele veio a partir da fala de um dos entrevistados, o Cacique Luiz Katu, respondendo à principal inquietação motivadora de todo esse esforço: como um professor, não indígena, deve dar aulas sobre história e cultura indígena quando, entre os alunos, existem os próprios indígenas? Como disse lá na introdução, me incomodava essa situação, principalmente por enxergar nela a possibilidade de poder promover uma experiência positiva de encontro e aprendizado o que, de fato, ainda não se efetivou, como vimos. A sentença: Não há conflito se for feita releitura parece resumir, em uma frase, todo um percurso bem mais longo e complexo. Cabe, então, recuperar alguns passos dessa caminhada que nos trouxe até aqui.

Primeiramente, fizemos o esforço de dialogar com alguns conceitos e autores, que nos permitiram pensar nosso objeto de maneira crítica, a partir do entendimento de como se construiu historicamente a visão essencialista sobre os povos indígenas, permeada por interesses múltiplos e reproduzida por diferentes meios. A partir daí, tivemos a preocupação em trazer fontes, como a obra de Rodolfo Amoedo, O último tamoio de 1883 e matérias em revistas e jornais atuais, onde pudemos identificar elementos de permanência desse pensamento. Também buscamos apresentar algumas das perspectivas historiográficas mais recentes sobre o tema, a chamada “Nova História Indígena”, que surge da aproximação com a antropologia, especialmente nos estudos sobre cultura e que promove uma leitura renovada de antigas fontes históricas, esquadrinhando as ações dos indígenas a partir delas, construindo valorosas categorias analíticas, a exemplo do conceito de

territorialização, que nos foi de suma importância no entendimento sobre a indianidade dos Potiguara do Catu. Isso se deu tanto na perspectiva do processo de

afirmação étnica, empreendido por eles no início dos anos 2000, como a partir da experiência escolar de alguns dos seus membros, que foi o nosso caso.