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1. SÍNTESE

A perspectiva de uma recuperação para a economia da Guiné-Bissau durante o ano de 2002, preconizada pelas autoridades guineenses e pelo FMI, não se concretizou. Reflectindo a continuação da instabilidade política, a falta de políticas estruturantes, e a suspensão do apoio externo, a actividade económica estagnou durante 2001, e chegou mesmo a contrair-se durante 2002. Neste ano, os problemas estruturais da economia foram agravados pelas condições climatéricas adversas, levando o produto interno guineense a registar uma contracção real de 7.1%.

Esta contracção da actividade económica em 2002 desenvolveu-se num contexto de pressões inflacionistas, em particular durante os dois primeiros trimestres de 2002. O aumento nos preços dos bens alimentares, em conjunto com a continuação das dificuldades no fornecimento de energia eléctrica, colocou a taxa de inflação média anual nos 3.9% em 2002, o que compara com 3.3% no ano imediatamente anterior. A situação orçamental do país continua a ser preocupante, e constitui um dos principais pontos de conflito com a comunidade financeira internacional, em particular o FMI. O despesismo praticado em anos anteriores, que resultou na acumulação de atrasados e de dívida interna, continuou a criar dificuldades à execução orçamental em 2002. Esta situação foi ainda dificultada por uma forte quebra nas receitas orçamentais, reflectindo não só a deterioração da situação económica mas também uma diminuição na taxa do imposto sobre a exportação de castanha de cajú. Apesar destes problemas, e de acordo com os dados fornecidos pelas

nas despesas públicas em 2002 permitiu compensar a fraca mobilização de receitas no mesmo período, colocando o défice global público nos 7.5% do PIB, abaixo do valor verificado em 2001 (10.7% do PIB).

A conta corrente externa guineense não conseguiu repetir em 2002 a boa prestação evidenciada no ano anterior, registando nova deterioração. O défice corrente externo nesse ano aumentou em 11.4 p.p. para 16% do PIB, reflectindo principalmente o agravamento do défice comercial. A conjugação da fraca campanha agrícola e da diminuição dos preços internacionais do principal produto de exportação do país, a castanha de cajú, contribuiu para que o saldo da balança comercial registasse novamente um défice em 2002.

Com a normalização das condições climatéricas em 2003 é esperada uma recuperação da actividade económica na Guiné-Bissau. No entanto, sem melhorias no clima de investimento e na assistência externa, a tendência para 2003 continuará a ser de estagnação económica, acompanhada por um agravar da tendência de mudança da actividade económica do sector formal para o informal. Para reestabelecer a confiança dos principais doadores internacionais será necessário ultrapassar a actual crise institucional que o país atravessa. Nesse sentido, e após sucessivos adiamentos, as eleições legislativas foram marcadas para 12 Quadro I

Principais Indicadores Económicos

2001 2002 2003

Est. Proj.

PIB real (t.v. anual) 0.2 -7.1 2.4

Inflação (t.v. média) 3.3 3.9 ---

Massa monetária (t.v.a.) 10.1 23.9 4.7

Saldo Bal. Corrente (% PIB) -4.6 -16.0 -16.2

Saldo orçamental (% PIB) -10.7 -7.5 -8.5

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2. PROCURA, PRODUÇÃO E PREÇOS

O desempenho da economia guineense em 2002 caracterizou-se pelo agravamento da tendência de desaceleração do crescimento económico iniciada em 2001. Após a quase estagnação económica verificada nesse ano (correspondente a um aumento real do produto interno guineense de apenas 0.2%), a actividade económica retraiu-se em 2002, registando uma taxa de crescimento real de -7.1%.

Por detrás desta contracção está um conjunto de factores que demonstram bem as fragilidades desta economia. A continuação da redução dos preços da castanha de cajú nos mercados internacionais, em combinação com uma quebra na produção agrícola deste produto (que constituiu cerca de 90% das exportações de mercadorias da Guiné-Bissau), as perturbações no fornecimento de electricidade, e a insuficiência de financiamento externo, resultante da suspensão do programa trienal 2000-2003 acordado com as instituições de Bretton Woods, afectaram de forma negativa o crescimento da actividade económica.

Em termos sectoriais, destaca-se o contributo negativo dos sectores primário e terciário para a taxa de crescimento do PIB, que correspondeu a –4.1 e –2.7 p.p., respectivamente. A actividade do sector primário, que representa 56.4% do PIB nominal em 2002, foi afectada pelas más condições climatéricas, acabando por registar uma quebra, em termos reais, de 7%. O produto do sector terciário também registou uma diminuição, em particular na Administração Pública (-20.2%), reflectindo a redução nos efectivos das forças armadas e o aumento dos salários em atraso dos funcionários públicos. A quebra registada pelo produto da indústria acabou por determinar a evolução real negativa no sector secundário, apesar da recuperação da actividade de construção. Gráfico I 5,0 1,6 1,2 3,2 3,8 4,8 6,5 -28,2 7,6 7,5 0,2 -7,1 2,4 -35 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 (taxa de variação anual em percentagem)

(proj.) (prov.) PIB Real (1991 - 2003)

Do lado da despesa, o aumento em termos reais da procura interna em 2002 não foi suficiente para compensar a quebra verificada nas exportações. A diminuição conjugada da produção e dos preços internacionais da castanha de cajú reflectiu-se numa quebra de 25.4% em termos reais das exportações de bens e serviços. Por seu lado, a procura interna beneficiou de um aumento substancial das componentes públicas, principalmente do investimento público, que evidenciou uma subida real de 153.1% em 2002. No entanto, as Quadro II Decomposição do PIB (em percentagem) 2000 2001 2002 Est. Sector Primário 57.4 55.1 56.4 Sector Secundário 12.0 12.5 12.9 Sector Terciário 28.2 30.7 29.1 Impostos Indirectos 2.4 1.7 1.5 PIBpm 100.0 100.0 100.0 Consumo 89.1 95.5 100.1 Público 17.6 16.8 18.3 Privado 71.5 78.7 81.8 Investimento 15.1 15.9 22.5 Exportações (1) 31.8 35.2 28.3 Importações (1) 36.0 46.6 50.7 (1) Bens e Serviços

dificuldades do sector privado continuam a ser evidentes, especialmente no que diz respeito à falta de infra-estruturas - cujo maior sintoma são as constantes quebras no fornecimento de energia eléctrica -, e à falta de capital, causada pelos problemas com a regularização dos atrasados internos por parte do Estado. O consumo privado assistiu a uma redução real na ordem dos 3.5%, fruto da diminuição do rendimento disponível associado à quebra nas receitas geradas pelas exportações e ao aumento dos atrasados internos, em particular dos salários dos funcionários públicos.

Em 2003, de acordo com as previsões fornecidas pelas autoridades nacionais, a economia guineense deverá recuperar face a 2002 e crescer a uma taxa de 2.4%. O regresso de condições climatéricas normais deverá permitir um crescimento real de 3% do produto do sector primário, enquanto que o sector secundário continuará a beneficiar do efeito impulsionador do sector da construção, em particular das obras públicas. O sector terciário deverá alcançar um aumento em termos reais de apenas 0.7%. O comportamento dos preços no consumidor durante 2002 caracterizou-se por um aumento da inflação logo no início do ano. Este período coincidiu com a abertura da campanha de colheita de castanha de cajú, altura em que a mão-de-obra se desloca dos sectores da pecuária e das pescas para o sector agrícola, causando uma insuficiência de produtos alimentares à disposição da população e, consequentemente, um aumento dos preços dos bens alimentares. No final do ano, a taxa de inflação média anual situou-se nos 3.9%, o que compara com 3.3% em 2001. A persistência da crise energética também contribuiu para esta

a Guiné-Bissau, à semelhança dos seus parceiros na UEMOA, substituiu o cálculo do IPC pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC). Para 2003 é esperado que a Guiné-Bissau registe uma taxa de inflação média anual abaixo dos 3%, concretizando um dos critérios de convergência impostos pela participação na UEMOA. Os dados disponíveis até Junho de 2003 indicam um aumento de 0.9% dos preços em termos acumulados desde o início do ano. Gráfico II -15 -10 -5 0 5 10 15

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

2000 2001 2002

IPC - Bissau (2000 - 2002)

(variação mensal em percentagem)

Gráfico III -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 T. v. homóloga T. v. média 2002 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 IPC - Bissau (1993 - 2002)

(variação mensal em percentagem)

2001 Gráfico IV -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 T. v. homóloga T. v. média IPC - Bissau (1997 - 2002)

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3. CONTAS EXTERNAS

De acordo com os dados fornecidos pelas autoridades nacionais, a conta corrente externa guineense mostra em 2002 um desempenho negativo. Contrariando a tendência de recuperação iniciada no ano anterior, o saldo da balança corrente em 2002 registou uma nova deterioração, alcançando um défice de 32.6 milhões de dólares, o que corresponde a cerca de 16% do PIB, e que compara com um défice de 4.6% do PIB em 2001. Gráfico V 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 0 10 20 30 40 50 60 70

Índia Portugal Outros TOTAL Exportações de Mercadorias (1992 - 2002)

(Destinos em percentagem, total em milhões de USD)

Para esta evolução negativa contribuiu essencialmente o agravamento do saldo da balança comercial que, após ter alcançado um excedente equivalente a 0.5% do PIB em 2001, regressou em 2002 a valores negativos, registando um défice de 8.5% do PIB. Este agravamento resulta essencialmente de uma forte quebra das exportações (-20%), em particular das exportações de castanha de cajú, que foram prejudicadas pela combinação de uma quebra na produção agrícola com a descida dos preços deste produto nos mercados internacionais. Adicionalmente, as importações de bens e serviços evidenciaram uma subida de 9.2% no mesmo período, contribuindo igualmente para a degradação do saldo da balança comercial.

Gráfico VI 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Portugal Senegal China Holanda Outros TOTAL Importações de Mercadorias (1992 - 2002)

(Destinos em percentagem, total em milhões de USD)

A balança de serviços e rendimentos também registou um agravamento face ao ano anterior, que resultou num aumento do défice desta balança em 1 p.p., para 18.9% do PIB. No mesmo período, as transferências correntes evidenciaram uma quebra em 10% no seu excedente para cerca de 11% do PIB, em particular nas transferências de origem pública.

Contrariando o agravamento da balança corrente, a balança de capitais e financeira registou em 2002 um aumento do seu excedente de 13 para 46.2 milhões de dólares no final do ano. Por detrás desta melhoria está um aumento do endividamento, proporcionado pelo não pagamento de amortizações programadas, e também, por um aumento das transferências de capital e investimento directo estrangeiro (líquido). Gráfico VII -20 -15 -10 -5 0 5 10 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Bal.Global Bal.Comercial Bal.Corrente

(proj.) Balança de Pagamentos (1996 - 2003)

(Saldos, em percentagem do PIB)

(est.) (est.)

Para 2003, as projecções das autoridades guineenses apontam para uma nova deterioração da conta corrente externa, que passará eventualmente a registar um défice de 38.7 milhões de dólares, ou 16.2% do PIB. Para este cenário deverá contribuir uma nova degradação do défice comercial que, apesar da recuperação esperada das exportações, irá ser influenciado pelo aumento bastante forte das importações. Gráfico VIII 0 300 600 900 1200 1500 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 0 100 200 300 400 500 600 em milhões de USD em % do PIB (est.) (est.) Dívida Externa (1994 - 2001)

A evolução da dívida externa da Guiné-Bissau tem sido marcada por algumas dificuldades no relacionamento do país com a comunidade financeira internacional. No âmbito da Iniciativa HIPC, o país atingiu o ponto de decisão em Dezembro de 2000, beneficiando de alívio da dívida por parte de credores que representavam cerca de 81% da dívida externa total. O Banco Africano de Desenvolvimento, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, o FMI, o Clube de Paris e o Banco Mundial forneceram assistência intercalar, enquanto que a China e Cuba cancelaram as suas dívidas bilaterais com a Guiné-Bissau. O país assinou ainda em 2000 um novo acordo por três anos com o FMI no âmbito da Facilidade de Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF). No entanto, a

em 2000 levou à suspensão deste acordo no primeiro semestre de 2001. Apesar de vários esforços, entre os quais a elaboração e implementação de dois programas macro-económicos de curto-prazo em 2001 e 2002, esta situação não foi corrigida.

As negociações entre o Fundo e a Guiné-Bissau relativamente à implementação de um programa monitorado para 2003 foram iniciadas em finais de 2002, mas a dissolução do parlamento e a demissão do governo em Novembro desse ano vieram provocar graves atrasos a este processo. As autoridades guineenses conseguiram alcançar acordos relativos ao reescalonamento de atrasados da dívida com um número significativo de credores multilaterais mas, devido à continuação da instabilidade governativa e de fragilidades estruturais, a maioria destes acordos não chegou a ser implementada. Dada a continuação dos incumprimentos dos objectivos acordados com o FMI, este decidiu suspender a sua assistência intercalar em inícios de 2002.

Mais recentemente, o Clube de Paris decidiu, em Janeiro de 2003, parar de aplicar o acordo respeitante ao provimento de alívio intercalar da dívida. Consequentemente, a Guiné-Bissau continua a acumular atrasados do serviço da dívida relativo a todos os credores excepto o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, e ainda o FMI. O ponto de conclusão no âmbito da Iniciativa HIPC foi adiado para finais de 2004.

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4. FINANÇAS PÚBLICAS

A evolução das contas públicas em 2002 caracterizou-se, de acordo com os dados disponíveis, por uma melhoria do défice global do sector público. Não obstante uma forte quebra nas receitas públicas, a redução registada nas despesas estatais, fruto essencialmente de um corte substancial nas despesas de capital, permitiu à conta do Estado registar no final do ano um défice global (base compromissos) equivalente a 7.5% do PIB, que compara com 10.7% em 2001.

A execução orçamental de 2002 evidenciou uma quebra preocupante nas receitas públicas (-36%), resultante de uma redução das receitas correntes e, mais substancialmente, dos donativos. As receitas correntes registaram, pelo segundo ano consecutivo, uma diminuição, reflectindo, entre outros factores, o abrandamento económico evidenciado pelo país. Em particular, a mobilização de receitas tributárias ficou novamente aquém dos valores inicialmente projectados, registando uma quebra de 19% relativamente a 2001. A

conjugação da redução nas receitas de exportação da castanha de cajú com a descida da taxa de imposto sobre a exportação deste produto poderá explicar em parte a diminuição assistida nas receitas tributárias. As dificuldades sentidas por algumas empresas guineenses em 2002 também tiveram um impacto negativo sobre estas receitas, nomeadamente o encerramento de treze grandes empresas que geravam importantes receitas fiscais para o Estado. Adicionalmente, as empresas petrolíferas, cuja contribuição em termos fiscais é importante, sofreram perdas significativas devido ao aumento dos preços internacionais do petróleo, aumentos esses que não se repercutiram sobre o preço no consumidor. A diminuição dos lucros destas empresas reflectiu-se também numa redução de receitas fiscais para o Estado.

Gráfico IX -40 -35 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Corrente Global Corrente s/ juros Global s/ donativos

(est.) (proj.) Finanças Públicas (1995 - 2003)

(Saldos, em percentagem do PIB)

(est.) Gráfico X 0 5 10 15 20 25 30 35 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Donativos Não-Tributárias Tributárias

Receitas Públicas (1995 - 2003)

(em percentagem do PIB)

(est.) (proj.) (est.)

De acordo com os dados fornecidos pelas autoridades nacionais, os donativos

QUADRO III

Operações Financeiras do Estado

(em percentagem do PIB)

2001 2002 2003

Est. Est. Proj.

Donativos 13.0 6.1 5.6

Receitas correntes 19.5 15.3 14.0

Receitas não-tributárias 9.5 6.9 6.1

dq: Sector das Pescas 5.1 6.0 5.0

Receitas tributárias 10.1 8.4 7.9

Imp. s/ comércio intern. 4.5 2.7 2.7

Empréstimos Líquidos 0.0 1.2 2.5 Despesas de capital 14.8 8.7 5.9 Despesas correntes 28.5 18.3 18.9 Com o Pessoal 7.7 7.4 7.2 Bens e Serviços 4.6 5.7 7.2 Transferências 4.7 4.8 4.3 Juros programados 8.4 0.4 0.3 Saldo corrente -8.9 -3.0 -5.0

evidenciaram uma forte redução de 19 mil milhões de francos CFA em 2001 para 8.7 mil milhões em 2002, o que corresponde a uma quebra de 6.9 p.p. em termos de percentagem sobre o PIB. Esta evolução negativa poderá ser explicada pela falta de confiança evidenciada pela maioria dos principais doadores do país, resultante em grande parte da actual crise institucional guineense. Gráfico XI 0 10 20 30 40 50 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Pessoal Bens Serv. Transf. Juros Inv. Emp. Líq. (em percentagem do PIB)

Despesas Públicas (1995 - 2003)

(est.) (proj.) (est.)

Por seu lado, as despesas públicas diminuíram também a um ritmo elevado em 2002, registando uma quebra de 35% face ao período anterior. Perante uma redução abrupta das receitas orçamentais, as autoridades guineenses responderam com um corte substancial nas despesas de capital do Estado, que passaram a representar apenas 8.7% do PIB (14.8% em 2001). O ano de 2002 assistiu também a uma significativa redução das despesas correntes (-37.5%), para o que contribuiu uma diminuição substancial registada nos juros da dívida programados. As despesas com o pessoal conseguiram também em 2002 inverter a tendência crescente registada em anos anteriores, e diminuíram em 0.3 p.p. para 7.4% do PIB nesse ano. Esta quebra nas despesas públicas permitiu compensar a fraca mobilização de receitas e, consequentemente, registar uma melhoria no

No entanto, esta melhoria não evitou uma nova acumulação de atrasados internos. Os funcionários públicos tinham no final de 2002 uma média de 3 a 4 meses de salários em atraso.

Para 2003 as autoridades guineenses projectam uma nova quebra na mobilização de receitas públicas, que deverá ser acompanhada pela manutenção dos gastos públicos nos mesmos níveis de 2002. As despesas correntes deverão registar um novo aumento, que deverá ser mais do que compensado pela redução nas despesas de investimento do Estado. Desta forma, o défice global público deverá aumentar para cerca de 12.4 mil milhões de francos CFA (8.5% do PIB). Estes valores para as contas públicas em 2003 deverão, no entanto, ser entendidas de forma cautelosa. Neste momento, o governo guineense não dispõe de um orçamento geral para 2003, e está a realizar uma gestão corrente baseada em duodécimos. Esta situação dificilmente permitirá ao país mobilizar os recursos externos providenciados pela comunidade financeira internacional comprometendo, consequentemente, as previsões para as finanças públicas.

Dados divulgados recentemente pelas autoridades nacionais relativamente à execução orçamental do primeiro semestre de 2003 revelam uma progressão mais rápida das despesas do que das receitas face aos valores projectados. No entanto, os mesmos dados apontam para uma melhoria significativa no défice público, calculado em 5.4 mil milhões de francos CFA. Contrariamente às projecções para a totalidade do ano, ocorreu no primeiro semestre uma nova acumulação de atrasados

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5. SITUAÇÃO MONETÁRIA, FINANCEIRA E

CAMBIAL

A situação monetária na Guiné-Bissau em 2002, desenvolvida no contexto da UEMOA, caracterizou-se essencialmente por uma consolidação da posição externa das instituições monetárias, um aumento do crédito interno total e, consequentemente, um incremento da massa monetária.

Gráfico XII -50 0 50 100 150 200 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Activos Líq. s/ Exterior

Crédito Interno Líquido Factores de Variação da Liquidez (1997-2003)

(variações em % do stock inicial da massa monetária)

As disponibilidades líquidas sobre o exterior constituíram em 2002 o maior factor de variação da liquidez, registando um aumento de 52.9% para 48.3 mil milhões de francos CFA. Para esta evolução contribuiu um novo aumento dos activos líquidos externos da agência do BCEAO na Guiné-Bissau, que ficaram bastante acima do valor programado para aquele período.

Gráfico XIII -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 2000 2001 2002 2003

S.P.A. (líq.) Economia Total Crédito Interno Total (2000 - 2003)

(taxas de variação homóloga)

O crédito interno total evidenciou no final de 2002 uma recuperação face aos valores registados em Dezembro de 2001, registando uma subida de cerca de 16%. O aumento assistido no crédito interno total reflecte uma forte subida no crédito líquido ao sector público (22.1%), o que veio retirar alguma capacidade de financiamento do sistema bancário à economia. Em resultado, o crédito privado registou uma quebra de 5.3% em 2002 face ao ano anterior, revelando um dos principais obstáculos ao relançamento do sector privado.

Gráfico XIV -50 -30 -10 10 30 50 70 90 110 2000 2001 2002 2003

Circulação Depósitos Massa monetária Meios de Pagamento (2000 - 2003)

(taxas de variação homóloga)

Este forte aumento dos activos líquidos sobre o exterior e do crédito interno total permitiu uma aceleração do ritmo de expansão da massa monetária em circulação em 2002, que evidenciou um aumento de 23.9% (10.2% em 2001). A taxa de crescimento da circulação monetária também acelerou relativamente a 2001, perante uma nova diminuição dos depósitos à ordem e a prazo (em 6.9%). Este processo de desintermediação financeira reflecte a crise que ainda se sente no sistema bancário guineense.

O sistema bancário da Guiné-Bissau sofreu importantes revezes durante 2002. No final de 2001, o sistema bancário guineense era composto por três bancos comerciais: o

Banco Totta e Açores (BTA), o Banco Internacional da Guiné-Bissau (BIGB) e o Banco da África Ocidental (BAO). No seguimento de um processo de compra da empresa-mãe por um grupo financeiro espanhol, o BTA, que reduziu significativamente a sua actividade durante 2001, encerrou definitivamente em Março de 2002. Por seu lado, o BIGB, cujas actividades tinham sido suspensas no início de 2000, foi liquidado em Abril de 2002. Consequentemente, após Maio de 2002, o sistema bancário guineense resume-se à presença de um banco comercial, o BAO. Perante uma situação interna difícil, em grande parte devido à crise verificada na Costa do Marfim, e dos fracos resultados da campanha agrícola de 2002/2003, a política monetária, conduzida num contexto regional pelo BCEAO, permaneceu prudente durante 2001 e 2002. O banco central manteve, desde Junho de 2000, as suas taxas de juro nominais inalteradas, o que permitiu uma evolução positiva da inflação dentro da UEMOA. Mais recentemente, os ganhos registados em termos de redução da inflação e da estabilidade monetária permitiram ao BCEAO reduzir em Julho de 2003 as suas taxas directoras em 100 p.b., colocando a taxa de desconto nos 5.5%.

Para 2003 os dados enviados pelas autoridades guineenses apontam para um abrandamento no crescimento da massa monetária, que deverá registar um aumento de 4.7% face a 2002. A subida prevista nos activos líquidos sobre o exterior deverá ser suficiente para compensar a quebra antecipada no crédito interno total. O crédito à economia deverá manter em 2003 a tendência decrescente que o tem

Gráfico XV 95 100 105 110 115 120 125 130 M J S N J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M 550 600 650 700 750 800 ITCE Nominal ITCE Real CFA/USD 1997 1998 1999 2001 eixo secundário Taxas de Câmbio (1997 - 2003)

(índices base 100: Maio de 1997, médias mensais)

2000 2002 2003

No mercado cambial, o franco CFA registou durante 2002 uma tendência de apreciação, acompanhando a recuperação do euro face ao dólar norte-americano nos principais

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