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Como já dito, a imagem dos bárbaros através dos anos sustenta e carrega uma negatividade perante às sociedades. O que ainda não foi dito, e é necessário que o seja, é como há uma predisposição para nós todos sermos bárbaros, ou seja, o que me impede de agir através de atitudes que configurem a barbárie? Leonard Cohen dizia que “há uma falha em

tudo/é assim que a luz entra”3, parafraseando-o, para o nosso contexto: somos humanos, e nada garante que não cometamos a barbárie.

Mais uma vez preciso me reportar aos gregos, pois foram eles os mais interessados em dividir sua sociedade entre civilizados – eles próprios – e não civilizados – os estrangeiros. Instaurou-se arbitrariamente o binarismo – que será aprofundado no capítulo 3 – “nós” e “os outros”. Em um levantamento feito por Todorov (2010), é possível ver o quão sensível essas denominações sempre foram, porém, pela Grécia Antiga ser o berço da intelectualidade essa separação foi não só respeitada como reproduzida por séculos.

A mais arbitrária de todas as formas de dividir a população era denominar um indivíduo como bárbaro por este não ter domínio da língua grega: “eram, então, todos aqueles que não a compreendiam, nem falavam ou que a falavam incorretamente” (TODOROV, 2010, p. 25). Ou seja, em nenhum momento se fala da coexistência de outras línguas, de sistemas educacionais, de aquisição de linguagem, é como se fôssemos visitar o Leste Europeu nos dias de hoje, por exemplo, sem ter a permissão de utilizarmos o inglês, só seria permitido falar a língua materna de cada país. Como venho repetindo e como constata Todorov, essa visão é frágil e insustentável.

O que Todorov levanta como questão é: apesar desses indivíduos não falantes da língua grega serem taxados de bárbaros, não há uma precisão de sua selvageria, e em uma série de características as quais ele encontrou em diversos documentos que tratavam do tema, em uma maioria o respeito à humanidade sua e do outro é sempre citada, por exemplo: “Os bárbaros são aqueles que transgridem as leis fundamentais da vida comunitária”; ou “Os bárbaros são aqueles que estabelecem uma verdadeira ruptura entre eles próprios e os outros homens” (idem). Há uma preocupação recorrente em uma vida em comum e harmônica uns com os outros, e em algumas dessas características bárbaras estão comunidades afastadas ou que preferiram se fixar longe das grandes civilizações. O que não é possível compreender, ao menos por minha parte, é como essas pessoas responsáveis por esses documentos que narravam o comportamento dos bárbaros queriam – ou aparentavam querer – a urdidura a uma sociedade – a grega – que sempre foi segregadora?

É preciso dizer que há comportamentos humanos no passar dos séculos que são atos de barbárie, como a definição lúcida a que chega Todorov, que esses indivíduos dotados de traços barbarescos – que não dizem respeito à vaidade e soberania de uma sociedade – “são aqueles que, em vez de reconhecerem os outros seres humanos semelhantes a eles, acabam

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por considera-los como assimiláveis aos animais, ao consumi-los ou ao julgá-los incapazes de refletir e, portanto, de negociar (eles preferem a briga)” (TODOROV, 2010, p. 26-27). Neste caso, não há uma precondição linguística ou de nacionalidade, mas sim uma atenção ao que é humano e se comporta como tal. A exemplo dessa visão, coloca Kristeva:

(...) o estrangeiro não é nem uma raça nem uma nação, (...) inquietante, o estranho está em nós: somos nós próprios estrangeiros – somos divididos, (...) O meu mal- estar em viver com o outro – a minha estranheza – repousa numa lógica perturbada que regula esse feixe estranho de pulsão e de linguagem, de natureza e de símbolo que é o inconsciente, sempre já formado pelo outro. É por desatar a transferência (...) que, a partir do outro, eu me reconcilio com a minha própria alteridade-estranheza, que jogo com ela e vivo com ela. (...) Como poderíamos tolerar o estrangeiro se não nos soubermos estrangeiros para nós mesmos? (KRISTEVA, 1994, p. 190-191).

Kristeva toca no ponto em que eu ensaiei entrar no início desse tópico, mas optei por acrescentar colocações no que concerne à identidade imposta ao bárbaro (ou estrangeiro). Ela nos oferece uma ótica que dá ao estrangeiro uma carga de humanização, além de nos lembrar de olhar os diversos ângulos das relações, não só o que causa medo, mas também quem sente medo e a origem do próprio medo. Apesar de séculos de existência, o indivíduo ainda é um estrangeiro para si, e o não conhecimento ou o pouco conhecimento de determinados comportamentos assusta e o acua como animal. Destaco, além dessa humanização que ela dá ao estrangeiro, a forma direta ao anular assertivamente a concepção grega antiga do que era o bárbaro “o estrangeiro não é nem uma raça nem uma nação”, é uma forma de enxergar o traço bárbaro não definido por questões frágeis, genéricas e insustentáveis.

Ampliar as concepções do bárbaro ou do estrangeiro, como fez Kristeva e como refletiu Todorov, envolve outras questões a serem discutidas como: noções mais viáveis do que se pode considerar barbárie; noções do que vem a ser as civilizações bem como o status de civilizado; e, noções de cultura. Longe de ser condescendente com questões comportamentais, apesar de contestar sempre a condição de um sujeito indicado como bárbaro, a problematização que aqui levanto, tem mais o caráter de perceber como essas divisões são instáveis e como por diversas ocasiões elas estão entrelaçadas.

Muito do que é colocado como bárbaro ou civilizado, como adiantei no tópico anterior, diz respeito a uma ótica, e, não raro, essa ótica é externa, exotizante e sem intenção de entender os movimentos e diferenças como uma pluriculturalidade, termo utilizado por Todorov, comportando-se de maneira segregadora com o outro ou tentando diluir essa pluriculturalidade no que já está acostumado ou engendrado em sua identidade.

O retraimento em si mesmo opõe-se, aqui, à abertura aos outros. Considerar-se o único grupo propriamente humano, recusar-se a conhecer algo fora de sua própria existência ou a oferecer algo aos outros, permanecer deliberadamente enclausurado no seu meio de origem, eis um indício de barbárie; reconhecer a pluralidade dos grupos, das sociedades e culturas humanas, colocar-se no mesmo plano dos outros, faz parte da civilização. Esta extensão progressiva não se confunde com xenofilia, ou preferência sistemática pelos estrangeiros, nem com um culto qualquer de diferença; simplesmente indica-se assim, a capacidade, maior ou menor, de reconhecer nossa comum humanidade (TODOROV, 2010, p. 34).

Longe de questões linguísticas ou de uma ótica com juízo de valor de mão única, o que o autor coloca como barbárie leva em conta, assim como Kristeva, aspectos relacionados ao humano. Fica claro que, antes de tudo, civilidade e barbárie é uma questão de como nos comportamos perante outros e como refletimos nossos próprios comportamentos. Como já dito, conhecer-se não é uma tarefa fácil, mas não adianta de nada permanecer em uma bolha tentando chegar a conclusões ou tomando essa mesma bolha como o único local habitável, civilizado e superior aos outros. Veja como a escolha lexical de Todorov nos coloca defronte a uma pluriculturalidade, não há um grupo, uma sociedade, uma cultura, e sim grupos, sociedades e culturas. Portanto, é seguro falar que antes de entrar em um debate sobre um frágil binarismo bárbaro-civilizado, o melhor seria pensar a humanidade comum entre os indivíduos.

No segmento de seu raciocínio o autor fala da “falha” que mencionei logo no início, a predisposição que temos a caminhar pela linha tênue do que pode ser considerado civilizado ou bárbaro, parafraseando-o, ele diz que esse movimento de olhar para si é uma forma do indivíduo atentar que apesar de fazer parte de um grupo considerado socialmente como um “nós” é possível que “somos capazes de executar atos de barbárie” (TODOROV, 2010). Ou seja, nenhum de nós está totalmente resguardado pela esfera de uma civilidade imaculada, visto que viver em sociedade é viver em contato com os mais diversos indivíduos. O próprio autor assinala comportamentos de sociedades que têm leis diferentes para agir com as diferenças raciais, religiosas e sexuais estão muito mais perto da barbárie do que da civilização que nelas, ilusoriamente, é pregada.

Esse comportamento de enclausuramento e negação de outras culturas diz respeito ao que Todorov chama de “medo e ressentimento”. No prefácio de seu livro O medo dos

bárbaros: Para além do choque das civilizações, ele nos mostra um panorama de violência

entre países que são cerceados por esse sentimento. Os países “do medo”, dizem respeito a um grupo de países que construíram sua imagem mundial sob o alicerce das grandes expansões, grandes conquistas econômicas e territoriais pelo viés da exploração do povo e da terra de

pequenos países, ou seja, houve uma usurpação do território, do trabalho do povo, das riquezas desses países considerados “mais fracos” e vulneráveis à exploração.

Porém, hoje, esses mesmos países do medo, apesar de estarem estabelecidos economicamente, temem o crescimento, a liberdade construída desses mesmos países que foram explorados. Como é possível deduzir, os países “do ressentimento” são esses locais que foram humilhados por este primeiro grupo:

Essa atitude resulta de uma humilhação, real ou imaginária, que lhes teria sido infligida pelos países mais ricos e mais poderosos; ela está disseminada, em diversos graus, em boa parte dos países, cuja população é majoritariamente muçulmana, desde o Marrocos até o Paquistão. Há já algum tempo, ela está presente, também, em outros países asiáticos ou em alguns países da América Latina. O alvo do ressentimento é constituído pelos antigos países colonizadores da Europa, e de maneira crescente, pelos Estados Unidos, considerados como responsáveis pela miséria, no plano privado, e pela incapacidade pública. O ressentimento para com o Japão é bastante intenso na China e na Coreia. É claro, ele não é predominante em todas as mentes, nem em todas as atividades; todavia, ele desempenha um papel estruturante na vida social porque, à semelhança do que se passa com outras paixões sociais, ele caracteriza uma minoria influente e atuante (TODOROV, 2010, p. 13).

Como colocado pelo autor, esse sentimento termina por estruturar a vida social dos países. Apesar da ressalva de não ser um modo geral de sentir o passado, é perceptível como a memória move estes países de modo que suas ações sejam sempre recebidas com medo, por parte dos países que os afetaram. Há um terceiro grupo de países que o autor coloca como países “do apetite”, que são, basicamente, países que começam a tirar proveito dos processos de mundialização, ou seja, países em ascensão que “não tem necessidade de prosseguir a competição pela hegemonia mundial” (idem).

Estes dois últimos grupos amedrontam o primeiro, pois, neles há uma carga de ligação ao passado, a um modelo hegemônico de poder em que não há espaço para uma comunicação sem que presuma que será atacado de alguma maneira. O medo aqui não diz respeito apenas à violência física e guerras, o medo reside na expansão ideológica e capacidade de organização que as minorias vêm tendo. Por exemplo, o terceiro grupo – o do apetite – não almeja domínio global, expansão territorial, ele quer usufruir o que os avanços tecnológicos, os grandes debates, entre outras coisas podem oferecer não mais a um grupo de países ricos.

O que esse panorama brevemente apontado significa, ao menos para grupo do medo e do ressentimento, é um ancoramento ainda em um passado que não é deixado para trás. Há uma “atualização” do passado aos moldes dos dias de hoje, eu diria. Com isso, a tendência é sempre uma iminência de confronto entre os dois grupos.

A invocação do passado constitui uma das estratégias mais comuns nas interpretações do presente. O que inspira tais apelos não é apenas a divergência quanto ao que ocorreu no passado e o que teria sido esse passado, mas também a incerteza se o passado é de fato passado, morto e enterrado, ou se persiste, mesmo que talvez sob outra forma (SAID, 2011, p. 34).

Esse jogo de afastamento por medo ou ressentimento deixa esses grupos de países próximos à barbárie, pois o mínimo movimento ou a ideia de um movimento, que saia dos padrões com que cada um deles deve se comportar, gera uma reação desmedida a fim de conservar seu passado ou amenizar a humilhação sofrida por séculos. Nesse âmbito, como em tantos outros, é impossível rotular de forma definitiva quem é o civilizado ou quem é o estrangeiro, pois todos são passíveis de coabitar essas posições nas mais diversas ocasiões. Como se pode ver nessas duas citações, a primeira de Edward W. Said:

Porém, cumpre insistir que, por mais completo que possa parecer o domínio de uma ideologia ou um sistema social, sempre vão existir partes da experiência social que escapam a seu controle. É dessas partes que muito amiúde surge a oposição, tanto autoconsciente como dialética. Isso não é tão complicado quanto parece. A oposição a uma estrutura dominante surge de uma percepção consciente, às vezes até militante, de indivíduos e grupos internos e externos de que, por exemplo, algumas linhas de ação dessa estrutura estão equivocadas (SAID, 2011, p. 372).

E a segunda, de Tzevetan Todorov:

O medo dos bárbaros é o que ameaça converter-nos em bárbaros. E o sofrimento que vamos nos infligir irá superar aquele que havia provocado nosso receio. A história nos ensina: o remédio pode ser pior que a enfermidade. Os totalitarismos apresentaram-se como um recurso para sanear a sociedade burguesa de seus defeitos; e acabaram engendrando um mundo mais perigoso do que aquele que havia sido alvo de seu combate (TODOROV, 2010, p. 15).

Dando prosseguimento às “noções” que apontei anteriormente, depois de observar a fragilidade das noções de barbárie, de como é relativa e aplicável a todo e qualquer ser humano que viva em sociedade, apontei mais duas: noções do que vem a ser as civilizações bem como o status de civilizado e as noções de cultura. Seria incoerente da minha parte dividi-las de modo que não se comunicassem entre si. Não só essas últimas, mas também a primeira, pois é impossível tocar em palavras-chave como “bárbaro” sem entrar em questões que dizem respeito a concepções de civilizações, culturas e, mais uma vez, identidades, caso tentasse isso, estaria indo de encontro a uma das questões que venho defendendo no decorrer

do texto, a insuficiência do binarismo, como diz o próprio Said que venho citando, “as formas culturais são híbridas, ambíguas, impuras” (2011, p. 50).

Quando Todorov, ao falar do que nos separa da barbárie, coloca no plural palavras como: sociedade, cultura e civilização, é para nos alertar dos maniqueísmos que levam a uma falsa crença de que nesses aspectos da vida humana é possível agir de modo raso e optar por isso ou aquilo. Há tantas visões de mundo que enriquecem a concepção de humanidade, que não cabe a nós nos limitarmos de tal modo, pois, “A recusa de considerar visões de mundo diferentes das nossas separa-nos da universalidade humana e mantém-nos mais perto da barbárie (...) progredimos na civilização ao aceitarmos que os representantes de outras culturas têm uma humanidade semelhante à nossa” (2010, p. 46).

As noções de civilizações não dizem respeito a uma lista de características que as seguindo de modo regular eu venho a me ternar uma pessoa mais civilizada ou menos civilizada. O cerne da questão, ao que parece, para Todorov, concentra-se na relação de antonímia que se dá entre os adjetivos civilizado e bárbaro:

(...) o civilizado é quem sabe reconhecer plenamente a humanidade dos outros. Portanto, para atribuir tal qualificativo, é necessário transpor duas etapas: no decorrer da primeira, descobre-se que os outros têm modos de vidas diferentes dos nossos; e durante a segunda etapa, aceita-se que eles sejam portadores de uma humanidade semelhante à nossa. A exigência moral duplica-se de uma dimensão intelectual: levar os membros do seu grupo a compreender uma identidade estrangeira, seja ela individual ou coletiva, é um ato de civilização porque, dessa maneira, amplia-se o círculo de humanidade; assim, os cientistas, filósofos e artistas contribuem para fazer recuar a barbárie (TODOROV, 2010, p. 33).

Afastando-se da humanidade, sua e do outro, o sujeito aproxima-se da barbárie, mas fazendo o movimento contrário, compreendendo uma identidade estrangeira, como coloca o autor, o sujeito alcança o status de civilizado. Parece simples, colocando dessa forma, lendo o que Todorov nos fala, que assume uma linha tênue entre o binarismo, mas o mais importante de todas essas colocações e, de certa forma, definições de termos que utilizamos sem muita preocupação, é perceber que o centro disso tudo é a preservação de uma humanidade nos sujeitos que vivem em nas sociedades, que participam, que entram em contato com outras culturas e o que resulta disso tudo.

Outro aspecto que devo salientar no trecho acima é o peso que a moralidade tem para uma classificação possível de civilizado, não no sentido de moralismo, mas de conduta moral do ser humano como partícipe de uma sociedade. Salientar essa diferença é imprescindível, pois, ao que me parece, Todorov coloca a moral como um par para o comportamento ético

perante o outro e não como uma forma de julgamento absoluto para com o outro. A questão da moralidade que o autor coloca, diz respeito a aumentar seu círculo de convivência e não em estigmatizar tendo como resultado a periferização desses indivíduos que, a princípio, são- nos estrangeiros.

Há uma beleza nessas relações entre um eu e um estrangeiro – que será discutida com mais afinco no próximo capítulo –, se pensadas de forma que não se construam como rasas, ou seja, as relações concebidas por um respeito à diferença do outro. Penso que, por mais que seja frágil, estabelecer relações a fim de se encaixar em definições pré-estabelecidas do que é civilizado e do que é bárbaro não deve ser difícil. Elas podem não ser legítimas, orbitam em uma circunferência de diplomacia, mas, ainda assim configuram relações de sujeitos civilizados.

Talvez o meu maior desconforto perante a essas relações é que nelas não há espaço para conhecer e respeitar o que o suposto estrangeiro carrega. Inclusive, é possível que esse tipo de conveniência seja praticado para reafirmar uma concepção do valor universal de uma cultura. Bem, desconfortos à parte, fica claro a linha tênue entre o bárbaro e o civilizado, pois se trata de comportamentos humanos e tanto a barbárie quanto a civilização estão dentro da humanidade e não encontradas fora dela.

É impossível, apesar de ter tocado nesse tópico no primeiro capítulo, fala de noções ou concepções de culturas sem falar em identidades, seja no tocante às formações de identidades individuais, seja com relação às identidades que definem e acompanham grupos no decorrer das vidas dos que deles fazem parte. Como já foi dito também e preciso repetir, as identidades são híbridas e mutáveis, consequentemente as culturas também. Para melhor entendimento e evitar confusão ou precipitação de que ambos os termos significam a mesma coisa, separei esses dois trechos em que Todorov abre um diálogo entre identidades e culturas para pensar o humano:

As culturas existem sem serem imutáveis, tampouco impermeáveis umas às outras. Convém superar a oposição estéril entre duas concepções: por um lado, a do indivíduo desencarnado e abstrato que existe fora da cultura; e, por outro, a do indivíduo confinado por toda a vida em sua comunidade cultural de origem (2010, p. 78-79).

E,

A aspiração à identidade, a aquisição de uma cultura fornece a condição necessária para a construção de uma personalidade plenamente humana; mas somente a

abertura à alteridade – cujo horizonte seja a universalidade, portanto, a civilização – é que garante sua condição suficiente (2010, p. 82).

Preciso destacar alguns termos de ambas as citações: (não) imutáveis, (não) impermeáveis, concepções e construções. Essas palavras, mesmo que isoladamente, denotam sentidos que vão de encontro a situações estanques. Dizer que as culturas são multáveis, que as identidades nascem de construções e que tanto uma quanto a outra são permeáveis, é romper de uma vez por todas com as concepções de estruturas estanques e absolutas. E, mais uma vez, o autor se volta para a questão humana, colocando-a sob a condição da “abertura à

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