• Nenhum resultado encontrado

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 2 Motivação e Hábitos de Estudo

2.2. Hábitos de Estudo

Actualmente um estudante é encarado como um profissional de aprendizagem,

que tem por ocupação aprender (Romainville & Gentile, 1995). Deste modo, mais do

que aprender, o objectivo é que os estudantes aprendam a aprender (Benet, Andrada,

Alvarez & Bellon, 1983), ou seja, aprendam a integrar de forma duradoira,

conhecimentos novos em conhecimentos anteriores, necessitando para tal de

desenvolver métodos de estudo, que facilitarão a captação, compreensão e retenção de

informação (Romainville & Gentile, 1995).

Isto assume maior importância na medida em que a qualidade do trabalho no

estudo vale tanto como a quantidade, sendo necessário, para que haja qualidade, uma

boa planificação (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon, 1983). O que não significa que

exista um método bom, recomendável, a todas as pessoas, mas sim, que cada indivíduo

pode optimizar o seu método de estudo tendo em conta as suas características

(Romainville & Gentile, 1995).

Romainville e Gentile (1995) consideram como importante, no que se refere aos

métodos de estudo, a análise das características e funcionamento da memória, o registar

e rever apontamentos, resumir, esquematizar um texto, a preparação para um exame, a

elaboração de respostas e a gestão do tempo.

As informações oriundas dos órgãos dos sentidos são mantidas durante um

espaço de tempo muito curto (0,5 segundos) num registo sensorial, sendo que com a

ajuda do depósito da nossa memória a longo prazo estas imagens são descodificadas,

a curto prazo, que só pode trabalhar alguns elementos de uma só vez, sendo a memória

a longo prazo o grande reservatório de todos os nossos conhecimentos e experiências

(Romainville & Gentile, 1995).

O tirar apontamentos obriga a estar com atenção nas aulas, facilita a assimilação

da matéria, permitindo organizá-las mentalmente pela primeira vez, seleccionando o

essencial. Existem contudo, situações em que tirar apontamentos deixa de ser uma boa

opção, como quando o professor dá a aula a um ritmo muito rápido, podendo prejudicar

a compreensão verbal, e sendo preferível, neste caso, estar atento ao discurso

(Romainville & Gentile, 1995).

Para a eficácia do registo de notas é necessário utilizar palavras-chave,

abreviaturas, captar de uma maneira completa as frases-chave, estruturar a informação,

colocando uma ideia por parágrafo, sublinhando, utilizando cores, organizando por

colunas, pois facilita a memorização, e rever os apontamentos (Romainville & Gentile,

1995).

A revisão dos apontamentos que deve ser feita tão cedo quanto possível, permite

assegurar a compreensão dos conteúdos e preparar a memorização. Nesta revisão

podem utilizar-se estratégias diferentes como reler e completar as notas, estruturar a

informação, assinalar frases ou parágrafos menos perceptíveis (assinalando as dúvidas a

colocar), verificar a eficácia das palavras-chave, identificar palavras-chave que

resumam o conteúdo de cada parágrafo, parafrasear (reformulando por palavras

próprias), transformar o texto em imagem e vice-versa, procurar exemplos e elaborar

Elaborar resumos é crucial, facilitando a memorização da matéria. Para tal é

necessário efectuar uma leitura panorâmica (visa captar o sentido global do texto),

depois uma análise (para permitir a identificação das ideias elementares de cada parte da

matéria), sintetizar e por fim redigir o resumo (Romainville & Gentile, 1995).

Esquematizar um texto permite representar de uma maneira simplificada e

estruturada qualquer conteúdo de um texto, facilitando a compreensão de matérias mais

complexas (Romainville & Gentile, 1995).

A realização de um exame é frequentemente um momento de tensão para o

estudante, podendo distinguir-se entre exames escritos e orais. Antes do exame é

importante obter informações sobre o tipo de exame, o tipo de perguntas, o seu tamanho

e o tipo de respostas pretendidas, evitando o estudo intensivo até momentos antes do

início do exame (Romainville & Gentile, 1995).

A preparação deve ser feita com antecedência para possibilitar a descontracção e

o descanso (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon, 1983).

No decurso da realização do exame é recomendável uma leitura atenta de todas

as perguntas antes de escrever, seleccionando palavras-chave que ajudarão a estruturar

as respostas, anotando-as numa folha de rascunho e posteriormente organizando-as sob

a forma de resposta (Romainville & Gentile, 1995).

A elaboração de respostas assume crucial importância quando estamos perante

perguntas de desenvolvimento. Para tal é conveniente ler a questão procurando perceber

exacto sobre o qual incide a questão e seleccionar o modo de estruturação da resposta

(Romainville & Gentile, 1995).

A gestão do tempo é um dos aspectos em que os alunos costumam ter

dificuldade, tratando-se de um dos pontos cruciais para o sucesso escolar (Romainville

& Gentile, 1995; Paiva, 2007; Estanqueiro, 2007).

Para uma gestão eficaz do tempo é necessário elaborar planos de trabalho, de

forma a repartir o tempo por todas as actividades, e a avaliação deste plano, o qual

poderá ser a longo ou a curto prazo, devendo ser heterogéneo, isto é, prever todas as

actividades necessárias, havendo um equilíbrio entre as diversas actividades, estando

ajustado às necessidades pessoais de cada indivíduo, sendo maleável, podendo ser alvo

de reajustamentos em função de acontecimentos imprevistos, realista, na medida de ter

hipóteses de ser concretizado e controlável pelo próprio indivíduo (Romainville &

Gentile, 1995; Paiva, 2007; Estanqueiro, 2007).

Benet, Andrada, Alvarez e Bellon (1983) apresentam um método de estudo,

método Rasero, constituído por seis etapas, uma rápida leitura global do tema, seguida

de uma leitura atenta do tema, do sublinhar das ideias principais, do esquematizar o que

se leu, da elaboração de um resumo do tema e a operatividade, ou seja, a aplicação das

actividades a realizar.

Um outro aspecto que assume particular importância são as condições de estudo,

que englobam as condições do meio envolvente e as condições pessoais (Benet,

O local ideal para o estudo deve ser simples, num lugar fixo, familiar,

proporcionando-se um ambiente agradável e significativo para o estudante, que estimule

o seu trabalho (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon, 1983; Paiva, 2007).

Em termos de condições físicas, o local deve reunir iluminação suficiente,

preferencialmente natural e, quando artificial, com intensidade adequada, bem

distribuída e um misto de directa e indirecta (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon 1983;

Paiva, 2007).

O local onde se desenvolve o estudo deve ser arejado e ter uma temperatura

agradável, estando equipado, preferencialmente com mobiliário específico para o

estudo, concretamente uma mesa e uma cadeira. A mesa deve ter tamanho suficiente

para permitir estudar mesmo quando se precisa de utilizar muito material, e a cadeira

deve permitir mudar a posição do corpo, mantendo as costas direitas, não sendo

excessivamente cómoda, estando a uma altura adequada à altura da mesa, e permitindo

que os pés estejam completamente assentes no chão (Benet, Andrada, Alvarez &

Bellon, 1983; Paiva, 2007).

Na realidade nem todos os estudantes podem dispor de um local com as

condições ideais para o estudo, sendo muitos os factores que podem interferir. Benet,

Andrada, Alvarez e Bellon (1983) apontam a presença de irmão também estudante, a

dificuldade em desenvolver trabalho solitário e a existência de distracções.

Relativamente às condições pessoais é necessário ter em conta a saúde mental, a

alimentação e a actividade física, pois corpo e mente estão estreitamente relacionados

entre si e o desequilíbrio físico tem implicações na estabilidade emocional e nas

A saúde mental depende da inexistência de ansiedades, preocupações, do

respeito por hábitos de exercício físico, sono, regime alimentar, e tanto quanto possível

do controlo do ambiente físico em que se vive, podendo identificar-se como factores

prejudiciais à saúde mental o excessivo conformismo, a exagerada dependência,

sentimentos de inferioridade, o pensar constantemente no mesmo, a existência de

excitações não habituais, o isolamento e a revolta (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon,

1983).

A alimentação deve ser equilibrada, com quantidades adequadas de proteínas,

gorduras, hidratos de carbono, sais minerais, vitaminas e água ingeridas, pois é a fonte

de energia para o trabalho e funções vitais do corpo (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon,

1983).

Entre os produtos que prejudicam o estudo estão o álcool, que reduz as

capacidades psicológicas e rendimento geral, o tabaco que é prejudicial sobretudo a

longo prazo e o café quando consumido em grandes doses, tendo no entanto, efeitos

positivos, em doses moderadas (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon, 1983).

A actividade física regular tem efeitos benéficos a nível anatómico, fisiológico,

estético, psicológico e mental (Benet, Andrada, Alvarez & Bellon, 1983).

Como vimos são variados os factores potencialmente influentes do sucesso

escolar. Estes factores e o próprio modo dos adolescentes lidarem com os seus

desempenhos académicos condicionam esta fase de vida, a qual, pelas marcadas

transformações que acarreta, é por si só de grande relevância.

Torna-se pois crucial identificar alguns factores explicativos do (in) sucesso

Documentos relacionados