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Hégira, Saída de Makka para Yathrib

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2.2 ISLAM, SEU SIGNIFICADO

3.2.2 Hégira, Saída de Makka para Yathrib

Se por um lado os moradores de Makka hesitavam em abandonar a crença idólatra e investiam na privação social e comercial dos seguidores de Muhammad, os habitantes de Yathrib abraçaram incondicionalmente o Islam e insistiram em acolher definitivamente os muçulmanos que não se refugiaram na Abissínia e continuavam a sofrer as humilhações dos coraixitas em Makka.

No décimo ano da revelação, as mortes de Khadija e Abu Talib – esposa e tio do profeta respectivamente – abalam fortemente Muhammad. Os coraixitas, juntamente com outras tribos da região, aproveitam a ocasião para aumentar as provocações e agressões contra o grupo islâmico, que acaba retirando-se para

Yathrib:

Talvez não se devesse falar de fuga. Nesta cidade ele encontrou ampla acolhida e aceitação de sua pregação. Conseguiu estabelecer uma bem organizada comunidade. Lá teve a ocasião de dedicar-se à realização de seu plano, que consistia em reunir na fé todas as tribos árabes, com o auxílio do Alcorão e com a confissão em um único e comum Deus. A dimensão política do monoteísmo aparece claramente. Maomé desenvolveu-se como um genial homem de Estado (GNILKA, 2006, p. 29). Não tarda muito e, no décimo terceiro ano da revelação, concretiza-se a expulsão do profeta de sua cidade natal com todos os que o acompanhavam – começava o estabelecimento em Yathrib do Islam, era o primeiro ano da Hégira:

Maomé teve pleno sucesso na pacificação da cidade de Yathrib, que logo foi chamada madinat an nabi, ‘cidade do Profeta’, ou simplesmente Medina. O estatuto da ordenação da comunidade que ele, por intermédio dos ‘companheiros de fuga’, muhadshir, entregou aos membros de uma população composta de duas tribos árabes (ansar=’ajudantes’), de alguns judeus e de uns poucos cristãos, representa, antes de mais nada, na historiografia islâmica, a primeira constituição regular (SCHIMMEL, 1999, p. 139).

A ida do profeta Muhammad para Yathrib, ou Madina, assim é descrita por A. Mohamad (1989, p. 150):

31 Com a fuga de Muhammad para Yathrib, essa veio a ser chamada de Madina al Nabi (cidade do

45 Era verão, dia 13 de setembro, correspondente a 21 de Rabiyul-Awwal, numa segunda-feira. [...] o Profeta não estava a descansar: encontrava-se com o seu primo Áli, de 22 anos conversando. Estranhou ao ver que em direção a sua casa, chegavam homens armados; [...] Quando já tinha passado da meia-noite, os descrentes já tinham cercado a casa de Mohammad. Mas o Profeta conseguiu sair do cerco. Foi primeiro à Caaba; olhou para ela e disse: ‘Macca! Tu és a terra mais querida para mim. Mas os teus filhos (habitantes) não me deixam viver aqui, e se eu não fosse expulso nunca sairia daqui’.

Samuel (1997, p. 143) também relata o acontecido e explica-nos a origem da Hégira ao contextualizar a migração do profeta da cidade natal àquela que viria a se chamar Madina al Nabi (Cidade do Profeta) ou simplesmente, Madina:

[...] Iatrib passou a chamar-se Medina-al-Nabi (a cidade do Profeta) ou simplesmente Medina. Esse episódio tomou o nome de Hijra, a Hégira, isto é, a ‘migração’, a ‘expatriação’. Era o dia 12 de rabi (24 de setembro) de 622. Essa data se tornou, para os muçulmanos, o ponto de partida de novo calendário: o ANO 1 da Hégira. Maomé tinha então cinqüenta e dois anos e podia dizer: ‘Deixei minha família e abandonei meus bens pela Hégira, no caminho de Deus’. Assim fora com Moisés, deixando o país do Egito pela ‘terra prometida’; e, antes dele, Abraão, abandonando Ur por ordem de Javé. Jesus havia dito, de maneira muito próxima: ‘Vem e segue-me... deixa casa, irmãos e irmãs, pai e mãe, filhos e campos...’, e ainda: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus’. O êxodo e a ruptura não são sempre o primeiro passo de iniciativa religiosa?

Madina não apresentava condições ideais para a segurança e o

estabelecimento do profeta, uma vez que os chefes tribais não desistiriam de continuar a perseguição a Muhammad e seus seguidores. Além disso, clãs e tribos de Madina disputavam entre si o poder, impossibilitando a existência de um governo que organizasse as questões primordiais da cidade para protegê-la de supostas agressões ou investidas de tribos vizinhas.

É nesse cenário que Muhammad age politicamente, celebra a primeira constituição muçulmana e dá vida a Umma:

O Profeta propôs aos representantes das diversas comunidades que concordassem em designar um chefe comum. Escolhido pela maioria, ele deu à umma uma espécie de constituição, regulamentando o funcionamento da sociedade, da justiça e da defesa. Judeus e cristãos conservavam a liberdade de praticar suas crenças, ficavam desobrigados das leis e isentos das penas, reservadas aos muçulmanos. Era o primeiro código prático. Dele nasceu a Suna (SAMUEL, 1997, p. 244).

Os muhajerin (refugiados) encontraram algumas dificuldades ao se estabelecerem em Madina, pois haviam saído às escondidas de Makka, deixando os bens para trás. Assim, teriam que contar com os anfitriões para sobreviverem até se organizarem novamente.

Muhammad utiliza-se de especialidade no campo diplomático e resolve a questão propondo a prática da irmandade muçulmana aos crentes, convoca os

Ansar (nativos de Madina) a acolherem seus irmãos muçulmanos como verdadeiros

irmãos de sangue:

O Profeta dirigiu-se aos Ansar e disse-lhes: “Estes são vossos irmãos”. Chamou dois Ansar e dois Muhajir e ligou-os com laço de irmandade ao dizer: “Tu e tu sois irmãos”. Cada Muhajir tinha um irmão entre os Ansar. Isto elevou o prestígio moral dos Ansar e o bem-estar material dos Muhajerin. Amavam-se uns aos outros mais do que irmãos de sangue, porque era uma irmandade pela causa de Deus, e não pela causa da família. O amor entre eles aprofundou-se de tal modo que chegaram ao ponto de herdarem um ao outro quando um deles morria. Esse sistema de heriditariedade foi abolido depois da Batalha de Badr, quando os Muhajerin já não precisavam de apoio dos Ansar (MOHAMAD, 1989, p. 165).

Aos poucos a vida voltava ao normal, os muhajerin começam suas atividades comerciais com o apoio dos Ansar e com orientação dos ensinamentos do profeta:

O Islam não ordena que o crente dedique todo o tempo unicamente à mesquita. Diz sim, que da mesma forma que a oração é obrigatória no seu devido tempo, ganhar o lícito para a provisão e dos familiares também é obrigatório. Para isso, o crente tem que se ocupar dos negócios e outros assuntos considerados mundanos. Era preciso que houvesse um sistema em que as pessoas se juntassem na hora determinada para a oração em congregação na mesquita, para cumprirem também, o dever de Deus depois de já terem cumprido os assuntos mundanos. (MOHAMAD, 1989, p.166)

Tais acontecimentos determinam os primeiros passos da institucionalização do Islam. A primeira mesquita foi construída pelos crentes estabelecidos em Madina, lembrando que nessa época a quibla ainda era a cidade de Jerusalém.

As precauções com os aspectos religiosos eram devidamente tomadas a fim de que se mantivesse a coesão social entre os muçulmanos e tornasse Madina um Estado Islâmico, tendo Muhammad como governante. É nessa época que se inicia a

47 prática do azaan, o chamamento para a oração no alto do minarete, que tira Bilal do anonimato da história Islâmica, era o muazeen32 predileto do profeta,

acompanhando-o constantemente.

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