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Hóspedes e viajantes: o comércio na coluna social

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3.2 Vende-se de tudo a qualquer preço: Compre nas casas

3.2.1 Hóspedes e viajantes: o comércio na coluna social

Para alimentar a propagação das casas comerciais já mencionadas e incentivar a vinda de novos empreendimentos para a cidade, o jornal O Anápolis mantinha uma coluna denominada “Hóspedes e viajantes”, destinada a divulgar o nome de comerciantes e viajantes que vinham a passeio e deixavam sua impressão sobre a cidade. Havia aqueles que chegavam e aqui fixavam residência, outros que residindo na cidade viajavam a São Paulo para realizar trocas comerciais. Nesse espaço, o jornal O Anápolis dizia aos seus leitores: “Estamos recebendo pessoas influentes, comerciantes, que poderão permanecer na cidade e montar seu negócio”.

Já nas primeiras publicações, o jornal referiu-se a essa sociabilidade da seguinte forma: “A fim de assumir a gerência das casas Pernambucanas, chegou de Itaberahy, acompanhado de sua excelentíssima família e duas cunhadas, distinto moço Sr. Declieux Chrispim” (O ANÁPOLIS, 5 maio 1935, p. 1).

As Casas Pernambucanas já funcionavam em Anápolis nesse período, indicando a integração no mercado nacional. Essa loja tornou-se muito conhecida por atingir as camadas populares.

O proprietário das Casas Pernambucanas é de origem francesa. Instalou em Pernambuco a Cia. de Tecidos Paulista, de onde vem todo

o tecido comercializado em suas lojas. Por isso, as casas Pernambucanas são bastante populares, pois só vendem fazendas nacionais e a baixo preço. (DEAECTO, 2002, p. 183).

Outro anúncio dizia: “Já está nesta cidade o Sr. Tarcis de Almeida Monteiro, agente da Cia. Singer, nesta cidade para realizar negócios” (O ANÁPOLIS, 26 maio 1935, p. 4). A cidade recebia representantes comerciais que aqui chegavam para conhecer o lugar e realizar novos negócios. Esse tipo de divulgação procurava mostrar o movimento comercial da cidade.

Quando determinado comerciante viajava a negócios, o jornal ilustrava esse acontecimento, como no seguinte exemplo: “Viajou pela VASP, para S. Paulo, o Sr, Alberico Borges de Carvalho, forte comerciante e capitalista da nossa praça” (O ANÁPOLIS, 26 abr.1940, p. 1). Havia nos anos 50 uma escala de viagens aéreas que partia de Anápolis e Goiânia com destino a Miami, São Paulo e Salvador.

Esse tipo de anúncio fazia parte da estratégia de concorrência num processo em que “[...] a urbanização rápida [vai] criando novas oportunidades de vida, oportunidades de investimento de trabalho” (MELLO; NOVAIS, 1998, p. 581). Em um sistema de concorrência, os comerciantes são motivados a buscar novidades e a enxergar as oportunidades, por isso o jornal não deixou de noticiar as novas aquisições de um comerciante árabe bastante conhecido no meio comercial de Anápolis.

Sr. Fares Falluh, um dos fortes comerciantes da nossa praça proprietário da já conhecidíssima Casa das Sedas. O Sr. Fares Falluh adquiriu grandes novidades para o seu estabelecimento, pois pretende reformar completamente o seu estoque e acompanhar os preços atuais na baixa, (O ANÁPOLIS, 24 jul. 1947, p. 1).

O envolvimento do homem com os negócios exige, além do capital para ser investido, que ele tenha sensibilidade para perceber como alcançar o cliente. A sensibilidade atua “[...] como um reduto de representação da realidade através das emoções e dos sentidos” (PESAVENTO, 2004, p. 2).

Outro anúncio evidenciou a presença de empresário de nacionalidade árabe em visita à cidade: “Sr. Tufy Patah, alto industrial paulista proprietário da grande fábrica de camisas Goyânia de São Paulo” (O ANÁPOLIS, 22 maio 1940, p. 1). Sua visita de negócios a Anápolis representava um momento oportuno de divulgação das potencialidades que a cidade oferecia a novos empreendimentos comerciais. Esse momento poderia render novos investimentos. Demonstrava também o interesse comercial recíproco entre o comércio anapolino e o paulista. Deve-se ressaltar que

algumas empresas de São Paulo já tinham filiais na cidade de Anápolis na década de 1940, conforme se observa em nota do jornal: “A empresa das grandes iniciativas. Informamos nesta cidade, a Rua Antonio Carlos, 35 – junto à Pharmacia S. João – Matriz – São Paulo. Teley Construtora” (O ANÁPOLIS, 26 maio 1940, p. 1).

A instalação na cidade do escritório de uma empresa construtora de nível nacional representava para Anápolis a existência de um mercado voltado para a construção civil que se expandia. Em outro anúncio do jornal, lia-se:

Visitou Anápolis um representante de “A Revolução”. Em dias de semana inspirante visitou esta cidade o Sr. Osvaldo Cesar de Figueiredo, representante de A Revolução, grande casa comercial brasileira, que tem filiais no Rio, Juiz de Fora, Itajubá, Campo Belo, Formosa, Patrocínio, Patos e Presidente Olegário, veio o Sr. Figueiredo em Anápolis, a fim de providenciar prédios para instalar também aqui mais uma filial, para muito breve. (O ANÁPOLIS, 16 ago. 1942, p. 1).

A Revolução era uma casa comercial especializada em armarinhos e tecidos que

veio se instalar em Anápolis no fim dos anos 40. Esse momento representava a existência de novas sensibilidades para perceber oportunidades de crescimento e de investimento no ramo comercial. Segundo Pesavento (2004, p. 2): “Os homens aprendem a sentir e a pensar, ou seja, a traduzir o mundo em razões e sentimentos”. Havia essa vontade em representar o que estava ocorrendo, transformando a energia empreendedora em resultados práticos para a cidade.

No campo concorrencial do capitalismo, segundo Mello e Novais (1998, p. 581), “A concorrência entre os homens formalmente livre e igual é um processo objetivo que determina quem escolhe os que se apropriarão das oportunidades de investimento mais ou menos lucrativos”. Essa é uma escolha feita pelo chamado tino comercial, ou seja, vocação empreendedora. Nesse sentido, o movimento verificado na cidade em detrimento do comércio e das oportunidades lucrativas que oferecia a quem manifestava interesse em lidar nessa área era promissor.

Se, por um lado, havia na cidade um surto de crescimento representado pelo comércio, por outro, o desemprego também trazia desespero, conforme observou o jornal: “Estamos passando fome. Declaram trabalhadores despedidos da Cia Rezende Costa – O infalível sistema de vales – A voz do desamparo” (O ANÁPOLIS, 9 maio 1946, p. 1).

Na sociedade moderna, liberal e concorrencial, ocorre o que Mello e Novais (1998, p. 581) observaram: “O capitalismo cria a ilusão de que as oportunidades são

iguais para todos, a ilusão de que triunfam os melhores, os mais diligentes, os mais econômicos”. Nesse mercado de concorrência, cada pessoa vale o que o mercado determina quanto ela vale. É bem verdade que não havia nenhuma consideração por parte do mercado pelas virtudes do indivíduo. Viver entre o sonho e a ilusão produzida pelas imagens da modernidade parece ser a marca da sociedade de consumo, em que todos estão envoltos pelos imaginários sociais daí advindos.

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