• Nenhum resultado encontrado

POWELL et al. (1997) realizaram estudos experimentais com extrato dos ovos de P.

auritus, coletados na região de Green Bay próxima ao Lago Michigan, E.U.A., área de

grande contaminação por PHDHs (Hidrocarbonetos polialogenados diaromáticos). O extrato retirado dos ovos destas aves foi aplicado em embriões de galinha, que não

sofreram mortalidade maior que a do grupo controle. No entanto, tiveram o peso corporal, do cérebro e da bolsa de Fabricius (órgão diretamente ligado à resposta imune nos juvenis), diminuído. Mais recentemente, os efeitos de acumulação de mercúrio em ambientes

aquáticos foram demonstrados em aves pernaltas e cormorões (P. auritus) do Rio Carson, Nevada, E.U.A. (HENNY et al. 2002).

Em ambientes naturais todos os animais estão em contato com parasitos, que, assim como seus hospedeiros, acumulam metais pesados e outros contaminantes, estando sujeitos aos efeitos deste processo. A diferença de concentração por cádmio e chumbo em P. carbo e em um nematóide que parasita o seu proventrículo, C. rudolphii, foi testada por BARUŠ et al. (2001). A concentração de cádmio no tecido muscular foi mais alta do que no fígado dos

hospedeiros e do que nos nematóides. Quanto à contaminação por chumbo, os nematóides acumularam mais do que os tecidos do seu hospedeiro, sendo a acumulação em nematóides machos, significativamente maior do que em nematóides fêmeas. Os resultados obtidos por este trabalho são de difícil comparação com outros, devido à falta de estudos semelhantes abordando sistemas compostos por aves e seus parasitos. Todavia, este tipo de abordagem abre caminho para o uso de parasitos como indicadores da presença de metais pesados no ambiente.

15 Uma vez que as aves do gênero Phalacrocorax alimentam-se basicamente de

peixes, o conhecimento de sua fauna helmintológica e dos parasitos provenientes deste item alimentar pode ter importância econômica e em saúde pública. Formas larvais de helmintos que chegam aos biguás através da dieta, podem vir a contaminar seres humanos, através da ingestão de peixes crus ou mal cozidos. Estas também podem causar perdas econômicas, dependendo do local onde são encontradas nos hospedeiros intermediários e da quantidade presente.

FRIED et al. (2004) em um artigo de revisão sobre trematódeos digenéticos

zoonóticos, citam 36 gêneros de digenéticos, dispostos em 13 famílias que causaram infecções em seres humanos. Os digenéticos do gênero Paryphostomum Dietz, 1909, comuns em aves do gênero Phalacrocorax, e já registrados no biguá são citados pelo autor, infectando humanos. Nesta listagem, os casos relatados ocorrem em grande maioria na Ásia. Porém, nada impede que estas infecções venham a ocorrer aqui, em populações ribeirinhas, onde as condições de higiene e para cocção dos alimentos são precárias. As metacercárias de diversas espécies de digenéticos chegam aos seres humanos não só pelo consumo de peixes, mas, também através da ingestão de anfíbios, invertebrados e vegetais aquáticos mal cozidos e/ou mal lavados.

Além dos digenéticos, os nematóides principalmente os pertencentes à família Anisakidae, parasitos de aves podem vir a infectar seres humanos. De acordo com

ANDERSON (1992), os ciclos biológicos dos anisaquídeos estão sempre associados à água,

onde têm como hospedeiros intermediários crustáceos e peixes, e como hospedeiros definitivos anfíbios, répteis, aves e mamíferos, podendo utilizar peixes como hospedeiros paratênicos. No hospedeiro definitivo parasitam o estômago ou o proventrículo; nos peixes as larvas podem ser encontradas em número variado, em diversos órgãos e tecidos,

incluindo fígado, gônadas, musculatura, peritônio e mesentério (CHENG 1976). Quando

peixes, hospedeiros intermediários e paratênicos, são retirados da água, e mantidos à temperatura ambiente, as larvas dos anisaquídeos podem migrar para a musculatura permanecendo ativas, mesmo após a morte de seu hospedeiro, podendo infectar animais que vierem a ingerir estes peixes. Os anisaquídeos têm despertado interesse por causarem infecções gástrica e intestinal no homem, conhecidas como anisaquíase ou anisaquiose. Esta infecção abdominal é causada pela ingestão de peixes, principalmente, marinhos, crus ou mal cozidos, infectados com anisaquíneos (CHENG,1986,AMATO &BARROS 1984,

ROBERTS &JANOVY JR 1996). Segundo ROBERTS &JANOVY JR (1996), em 65% dos casos

as larvas alojam-se no estômago e nos 35% restantes alojam-se no intestino. Quando as larvas estão livres na cavidade do órgão, a infecção pode ser assintomática, porém quando se fixam na mucosa do trato gastrintestinal podem causar granulomas eosinofílicos e abscessos, produzindo sintomas semelhantes aos das úlceras gástricas, tumor abdominal ou peritonite, e a causa destes sintomas, geralmente, só é descoberta na mesa de cirurgia

(ROBERTS &JANOVY JR 1996). A anisaquiose é considerada uma infecção relativamente

comum em países onde a proteína da dieta advém, principalmente, da ingestão de peixes

(AMATO &BARROS 1984).

Os parasitos, além de causarem danos em seus hospedeiros definitivos, podem ainda causar perdas econômicas quando em seus hospedeiros intermediários. Entre os helmintos que utilizam peixes como hospedeiros intermediários, existem vários registros de

digenéticos causando prejuízos em cultivos de peixes, tanto ornamentais como para consumo. Estas perdas podem ser causadas tanto por danos na musculatura, na aparência, ou, até mesmo, pela morte de seu hospedeiro. OVERSTREET &CURRAN (2004) listaram

17 catfish’, criados em fazendas de aqüicultura nos Estados de Louisiana, Mississippi e

Arkansas nos E.U.A. A presença de metacercárias destes digenéticos tem causado morte de seus segundo hospedeiros intermediários em larga escala. Foram encontradas cinco

espécies de diplostomóides, das quais duas são parasitas de P. auritus e as demais de

Pelecanus erythrorhynchos Gmelin, 1789. A presença destas aves nestas áreas,

concomitantemente com moluscos, primeiros hospedeiros intermediários, faz destas fazendas de aqüicultura, locais perfeitos para a presença destes parasitos e a ocorrência de seus ciclos biológicos.

Todavia, o parasitismo não é somente um fenômeno que causa doenças e perdas econômicas. Entre as relações simbióticas, o parasitismo provavelmente seja a relação mais comum entre os seres vivos. Este fenômeno influencia de modo significativo os organismos envolvidos, podendo ser um dos fatores determinantes da estrutura da comunidade animal

(MINCHELLA &SCOTT 1991). Segundo POULIN (1999), a possibilidade dos parasitos

influenciarem simultaneamente a outros parasitos (interações intra- e interespecíficas) e organismos de vida livre nunca é considerada. Mas deveria ser, já que os organismos que assumiram este modo de vida afetam, simultaneamente, a estrutura de todos os níveis da comunidade, formada por outros parasitos e por organismos de vida livre. Os parasitos podem modificar a ciclos biológicos de seus hospedeiros alterando fenótipo, taxas de mortilidade, de predação, e de reprodução (CHOO et al. 2003) sendo também importantes

mediadores do comportamento animal (MOORE 2002). BROOKS &HOBERG (2000)

enfatizaram a necessidade de estudos dos parasitos e suas aplicações nas mais diversas áreas, destacando a idéia de que estas informações obtidas devem ser maximizadas. Segundo estes autores, quando investigamos a fauna de helmintos de determinado

habitat, interação com outros animais, e sobre a rede trófica, a variação da dieta em animais de sexos diferentes e nas diferentes estações do ano. Os resultados obtidos através da análise da fauna de helmintos, podem ser úteis para o manejo de áreas e espécies, assim como estudos bio- e zoogeográficos. Além disto, os parasitos, principalmente aqueles com ciclos heteroxênicos, poderem ser usados como indicadores de alterações ambientais.

Além de fatores bióticos, como a presença de outros parasitos e da interação do parasito com o hospedeiro, fatores abióticos, podem influenciar a estrutura das

comunidades de parasitos, fenômeno comum e bem documentado para vertebrados.

MOURITSEN &POULIN (2002) relacionaram uma série de fatores, como, precipitação,

circulação de massas oceânicas e temperatura, decorrentes de alterações climáticas no Oceano Atlântico Norte e do El Niño. Estes fenômenos globais, que alteram a temperatura dos oceanos, modificam o tempo/época de emergência das larvas, alteram a fecundidade do parasito, assim como sua motilidade e desenvolvimento das fases seguintes.

Documentos relacionados