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D. Henrique Golland Trindade nasceu em Porto Alegre, em 1897. Iniciou sua formação com os padres da Companhia de Jesus e ingressou mais tarde na Ordem de São Francisco de Assis. Foi ordenado sacerdote em 1926, trabalhou como prefeito no Colégio Seráfico de Rio Negro, no Paraná. Em 1932 passou a dirigir, em Petrópolis, as revistas franciscanas “Vozes”, “Eco seráfico”, “Arauto” e “Voz de Santo Antonio”. Em 1938, foi nomeado guardião do Convento de Nossa Senhora das Graças em Guaratinguetá e, em 1941, fora designado vigário em Ipanema, no Rio de Janeiro, quando, no mesmo ano, foi eleito bispo de Bomfim, na Bahia. Em 1948, foi transferido para Botucatu145 onde permaneceu à frente da arquidiocese até 1968,

quando renunciou.

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MELLA, Antonio Natal. Minha pátria e minha fé. A Fé, Bauru, 6 set. 1959. A ideia da supremacia da Igreja sobre o Estado era defendida como uma simples ordem natural das coisas. Nas palavras de Padre Koop, explicita-se que “mais que uma união de municípios aparece-me o Brasil como uma união de paróquias”. KOOP, Pedro Paulo. Escolas paroquiais no Brasil. A Fé, Bauru, 19 jun. 1960.

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Até 1962 D. Henrique tinha ordenado 25 sacerdotes e tinha criado oito novas paróquias, sendo que cinco delas em Bauru.146

Em 1958, quando a diocese completou seu cinquentenário, foi elevada à categoria de arquidiocese por ato de Pio XII e D. Henrique Golland Trindade tornou- se o seu primeiro arcebispo.147 Tinha como dioceses sufragâneas Assis, Lins e

Marília. Em 1960, foi criada a diocese de Presidente Prudente, desmembrada de Assis e, em 1964, a diocese de Bauru desmembrada na quase totalidade da de Botucatu, sendo anexadas apenas duas paróquias da diocese de Lins.

D. Henrique demonstrou, desde o início de seu episcopado, uma identificação com a Ação Católica e com os movimentos de renovação litúrgica e bíblica. Esses movimentos de renovação interna da Igreja, de origem europeia, os quais foram desenvolvidos principalmente pelos beneditinos,148 (bíblico e litúrgico),

representavam os propósitos de renovação interna da Igreja com a finalidade de intensificar a vida espiritual do clero e dos leigos com a finalidade de manter e atrair novos fiéis para as fileiras do catolicismo.

Por outro lado, a ênfase doutrinária que, aos poucos, reservava ao homem a tarefa de artífice de sua história e como elemento central da obra da salvação, agente da Ação Católica, em íntima relação com membros da hierarquia, colocava a necessidade de o laicato tomar parte ativa da ação litúrgica com conhecimento e consciência daquilo que acontecia em torno do altar.

Em consonância com esses movimentos de renovação, em 1950, D. Henrique publicou sua 5ª pastoral “Pró Santificação do Dia do Senhor”, e desencadeou uma campanha para motivar a frequência dos leigos nas missas aos domingos. Escreveu sobre o que era necessário para se promover o que denominou de “assistência ativa” à missa:

a formação e instrução [...] e a assistência ativa à Santa Missa, com o canto e a oração em comum, muito contribuirão para diminuir essa fuga dolorosa do sacrifício dominical. Depois, horários de acordo com as necessidades do povo, pontualidade no horário, pregações breves e preparadas, atrairão mais fiéis à Igreja, nos dia do Senhor. Também não deixemos o asperges antes da Missa principal, seguido pelo Creio em Deus Padre e o ato de contrição, recitados por

146 KOOP, Pedro Paulo. A vinda do Senhor arcebispo a Bauru. A Fé, Bauru, 13 maio 1962.

147 Na ocasião, assim se expressou o vigário decano de Bauru: “Com toda e natural generosidade,

congratulamos a cidade de Botucatu, cabeça de uma magnífica, larga e fértil região, pela sua elevação a sede espiritual de um arcebispado, centro, portanto, de uma nova província eclesiástica, honra que ela bem mereceu”. KOOP. Pedro Paulo. Criado o arcebispado de Botucatu. A Fé, Bauru, 8 jun. 1958.

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todos.149

Em suas cartas pastorais, deixou transparecer a imagem de um homem de vanguarda, motivador do seu clero, ao mesmo tempo com senso de respeito às iniciativas criadoras de seus auxiliares no sacerdócio, às religiosas e aos leigos militantes. Na mesma carta, expôs que

esta pastoral quer ter uma feição essencialmente prática, dando algumas normas gerais, prescrevendo certas obrigações para este ano e, depois, deixando espaço bastante para o zelo inventivo e realizador dos nossos curas d’almas e de nossas religiosas, de nossa Ação Católica e de nossas associações, e, em geral, de nossos católicos sinceros e fervorosos.150

Nada comum na pena de um bispo, em 1950, incentivar o seu clero a tornar as práticas litúrgicas e pastorais mais atraentes e participativas e, ao mesmo tempo, permitir “espaço bastante” para iniciativas em suas comunidades.151

A identificação de D. Henrique com as forças de mobilização para mudanças possibilitou a vinda a Botucatu, em 1953, do líder nacional da Ação Católica, Alceu Amoroso Lima, para conferenciar para os estudantes secundários, membros da Ação Católica, clero e religiosas.152

Na diocese, promovia-se reunião mensal do clero, noticiada a partir de 1957. Apesar do fato novo, o conteúdo tratado avançou pouco. Entretanto, a atitude é inovadora. O fato é que ao colocar o clero em contato uns com os outros possibilitaria, a troca de ideias e discussão de problemas particulares, que levaria, aos poucos, à formação de uma consciência coletiva e a programação de ações em conjunto: dos padres entre si e dos padres com o bispo diocesano. Entretanto, a abordagem dos temas ainda estava voltada, em grande medida, para preocupações sobrenaturais, algumas ações práticas foram indicadas para aproximar mais os sacerdotes em relação ao povo. Destaca-se a insistência para o múnus sacerdotal de ensinar, principalmente através da catequese, e exercer o apostolado junto aos homens. Entre as novas orientações do bispo a seu clero, em 1957, constam:

1) haja muito contato de todos com o povo, sobretudo com as crianças e doentes. Devem ser os sacerdotes sempre muito

149 TRINDADE, Henrique Golland. Pró-santificação do dia do Senhor. Petrópolis: Vozes, 1950, p. 6. 150 Ibid., p. 7.

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Talvez não seja exagero afirmar que se iniciava naquele ano, com as posturas de liberdade concedidas aos membros do clero, o processo de transformação da Igreja local que levaria ao conflito de 1968. Este estaria relacionado com a personalidade e estilo de governo de D. Henrique somado a outros fatores. Cf. ZANLOCHI, Terezinha Santarosa. Padres rebeldes? O caso de Botucatu. Aparecida: Santuário, 1996. Cf. cap. 6.

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acolhedores.

2) não olvidar jamais que a função do padre é ensinar: donde a importância da catequese. Haja a preocupação de dar sólida formação aos membros das Associações e ao povo fiel em geral. 3) nunca se insistirá o suficientemente na cuidadosa preparação das crianças para a primeira comunhão. [...] Nunca deveria haver exibição de luxo nas vestes das crianças.

4) cuidem os Revmos. Srs. Sacerdotes, de intensificar seu apostolado junto aos homens e moços.

5) no mês de julho far-se-á na sede uma Semana da Doutrina Cristã. 6) mais uma vez se falou na necessidade de prosseguir na campanha para moralização das vestes e das modas.

7) também avisou o sr. Bispo que as Servas do Senhor poderão atender os pedidos dos revmos. sacerdotes, para trabalhos de apostolado rural.

8) o sr. Bispo falou sobre a Legião de Maria, atual e providencial movimento de recristianização, deixando a critério dos srs. sacerdotes a fundação nas paróquias.153

Dignas de nota são as advertências ao clero para modificarem seu relacionamento com o povo, para se tornarem mais acolhedores. As atitudes do clero tradicional eram normalmente elitistas, autoritárias, mal humoradas, viam-se como autoridade acima do povo simples a quem atribuíam o adjetivo de supersticiosos e viviam enclausurados em suas sacristias, com raras exceções. A atitude do bispo, de certo modo já atendia a um dos sinais dos tempos que seria o conceito e prática da Igreja-povo de Deus da década seguinte. Também é reveladoras da missão da Igreja social cristã, qual seja, cuidar da pastoral.

Essa iniciativa de reunir o clero para uma reflexão e ação conjunta resultou numa reunião dos decanatos de Bauru e Pederneiras, conjuntamente, em outubro de 1958. Além de decisões práticas fundamentais para a renovação interna da Igreja, na ocasião, durante uma tarde, o clero participou de “uma conferência dada pelo Revmo. Sr. Padre João Álvaro Ruiz sobre os temas ‘Conceitos de Ação Católica’ e ‘Movimento por Mundo Melhor’”.154 Padre Ruiz fazia parte de um grupo

de sacerdotes recém-ordenados e trazia para a diocese e seus decanatos, particularmente aquele de Bauru, onde atuava como coadjutor, os novos ares de uma nova autocompreensão de Igreja e a compartilhava com o clero.

Por outro lado, a insistência na atividade da catequese e no múnus de ensinar que caberia ao clero, o insere numa missão de educar para a fé e não a de

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REUNIÃO DO CLERO. A Fé, Bauru, 10 fev. 1957. p. 2.

restringir-se a mero zelador da doutrina cristã católica através da pregação e administração do sacramento, embora essas funções tivessem sido destacadas, concomitantemente, pelo bispo.

O apostolado rural e a criação da legião de Maria foram, naquele ano (1957), incentivadas nas diversas paróquias da diocese. Abria-se mais uma possibilidade de participação leiga no apostolado paroquial. Saliente-se que as relações pastorais eram centralizadas no clero e os leigos não tinham ainda participação mais efetiva nas atividades eclesiais em termos práticos.

Em 1958, a diocese de Botucatu foi elevada a arquidiocese. Por essa ocasião, D. Henrique publicou sua 7ª Pastoral: “A Diocese somos Nós, são as Almas”. O título sugere, antes mesmo do final do pontificado de Pio XII, uma nova compreensão de Igreja que vinha se forjando na década de 1950: que a Igreja não seria composta apenas pelo templo, pelas posses materiais, pela boa administração dos bens eclesiásticos, mas pelas pessoas. Se ainda não utilizou o termo “pessoas”, possivelmente porque poderia se levantar, por parte do clero, de religiosas e de leigos, algum tipo de estranhamento. Também pela razão de que a missão da Igreja ainda se detinha na concepção de salvação da alma, todavia seu discurso plantava as sementes do deslocamento da compreensão da Igreja como templo para aquela composta por pessoas, o povo de Deus.

Na mesma Carta Pastoral, depois de lembrar tempos idos da diocese, as pessoas e acontecimentos que se destacaram, fez uma leitura dos tempos de então, reconhecendo que havia mudanças operando-se na estrutura da sociedade e, por isso, a Igreja deveria se adequar à nova realidade:

mas mudaram os tempos; são outras as necessidades dos homens. Mudaram, profundamente, as relações sociais. Os inimigos da Igreja se multiplicaram, por toda parte, e tomaram as formas mais diversas, e seus ataques e suas forças se revestem de aspectos, nunca antes sonhados. A liberdade de costumes, a dissolução das famílias, o materialismo de mãos dadas com a impiedade espalham, por todos os lados, a irreligião e a morte. Cinemas, rádio, televisão e revistas, em contato diuturno com multidões e multidões de almas, as tornam incapazes de aceitar e de viver Jesus Cristo, que a Igreja lhes apresenta. A fome de ouro e do bem-estar e das posições privilegiadas, o desejo incontido dos gozos baixos e o mau exemplo dos que estão alcandorados em lugares de destaque, tudo isso faz com que não se compreenda mais o sentido das bem-aventuranças, e que só sejam elas lidas, com deleite passageiro, em páginas de

algum pregador ou poeta.155

Havia uma nítida consciência das mudanças sociais que estavam ocorrendo com a formação de uma sociedade urbana com seus novos costumes, meios de comunicação de massa que passavam a concorrer, de forma privilegiada, com as práticas do catolicismo tradicional que exigia sacrifícios, renúncias em lugar dos prazeres oferecidos pela vida moderna.

Por outro lado, houve o reconhecimento de que a formação do operariado urbano trazia consigo a luta de classe. Havia a preocupação em atender e acolher os trabalhadores do campo para não perdê-los também. Porém, os dois polos sociais do conflito foram reconhecidos:

a multidão de operários das máquinas, sem fé, se levanta contra seus patrões, tanta vez tiranos, e contra Deus que eles não conhecem e contra a Igreja, que eles só conhecem, pelos seus aspectos humanos, menos simpáticos. Eles já desertaram. E desertarão com eles os operários do campo, tanta vez abandonados pelos governos, porque ainda não apresentam uma força unida, explorados por seus patrões, e esquecidos até por nós, que deles nos lembramos só nas festinhas do Padroeiro, com quermesse e com foguetes. O que se ensina nas escolas que não são nossas, nós imaginamos ou sabemos. E o resultado fraquíssimo das escolas que são nossas, aí está bem claro, apesar de vidas inteiras consagradas à mocidade e ao ensino, apesar de sacrifícios ingentes. É que o espírito do mundo e a mentalidade da época estragam tudo. E o pior é que, se não prestamos atenção e não nos apegamos mais a Deus e à sua graça, a mentalidade do mundo começará a envolver também a nós, clero, almas consagradas, associações inteiras, e terminará por nos estragar completamente, mesmo com obras e realizações, na aparência louváveis e grandiosas.156

Com a humildade que é própria dos autênticos franciscanos, reconheceu o esquecimento em que se encontrava o homem do campo não só pelo governo, mas pela própria Igreja, e o fracasso da escola católica que, apesar de muito esforço, não atingia seus objetivos de cristianizar os costumes. Igualmente, constatou o risco do próprio clero também ser contaminado pela “mentalidade da época”, isto é, corria-se o risco de a Igreja desviar-se de sua missão precípua de salvação da humanidade.

D. Henrique não escondia a sua preferência pelos pobres, humildes e marginalizados que marcaria a opção da Igreja uma década mais tarde. Na sua 7ª Pastoral, enfatizou a utopia dos grandes homens que marcaram a história do catolicismo pela sua dedicação aos outros: Francisco de Assis, Francisco Xavier,

155 TRINDADE, Henrique Golland. A Diocese somos Nós, são as Almas. Petrópolis: Vozes, 1958. p. 4. 156 TRINDADE, 1958, p. 5.

Vicente de Paulo. Enalteceu as atitudes do seu contemporâneo Abbé Pierre

que está revolucionando o mundo, a começar pela França, com seu grito de revolta, de compaixão e de ação em prol daqueles que morrem de fome e de frio ao lado do luxo e ostentação de Paris, que vivem e morrem sem fé, à sombra das torres de Notre-Dame.157 Em seu discurso, transparece a compreensão de uma Igreja que dê preferência aos pequenos e pobres: estes teriam maior valor:

não nos enganemos: vale muito mais para uma paróquia ou diocese, um cristão de bolsos furados ou vazios, mas com a alma cheia da graça de Cristo, do que cristãos de bolsos cheios de moedas e de notas, mas almas vazias da graça, ainda que dêem, generosamente, suas esmolas para nossas Igrejas e para nossas obras. Estaremos verdadeiramente convencidos disso?158

Para D. Henrique, não havia dúvidas que aquela Igreja que existia até a década de 1950 necessitava ser reformada. Essa ideia aparece explicitamente no texto de sua 7ª Pastoral e, quatro anos antes do início do Concílio, explicitou o conceito de Igreja como composta de pessoas:

recordemos a palavra de Pedro de Alcântara a um grande da Espanha, católico decerto, que se queixava das falhas e fraquezas da Igreja do seu tempo: “Senhor, não desanime. Coragem! Ponhamos mãos à obra, em um trabalho de reforma desta Igreja – divina e humana”. O fidalgo deve ter regalado os olhos: reformar a Igreja! E o santo franciscano continuou: “Senhor, a igreja somos nós. Esforcemos, seriamente, para nos corrigir, eu e vós, e a reforma verdadeira estará começada”.159

Ainda no ano de 1958, poucos meses antes da morte de Pio XII, ao pretender concretizar o apelo do Papa sobre o imperativo da participação do leigo na atividade de “santificar o mundo”, D. Henrique convocou para o mês de agosto daquele ano uma reunião com os párocos para tratar do tema. A Ação Católica foi colocada novamente em destaque ao lado das outras novas associações. Nas palavras do bispo, “precisamos trabalhar. E nossas associações devem ser a guarda avançada da Igreja, as forças ligeiras que estão sempre prontas a darem o exemplo e arrastarem muitas almas consigo”.160

Todo esforço estava voltado para realmente reformar a Igreja a partir da reforma dos homens e, por consequência, da sociedade. Essa intenção ficou

157 TRINDADE, 1958, p. 6. 158

Ibid., p. 6.

159 Ibid., p. 9.

160 TRINDADE, Henrique Golland. Reorganização e reafervoramento de nossas associações religiosas. A Fé,

patente ao se evidenciar que

os membros das associações têm três obrigações principais: 1º) o seu próprio aperfeiçoamento; 2º) a dedicação ao fim específico de sua associação ou irmandade; 3º) o seu interesse concreto pelos interesses da paróquia, da diocese e da Igreja.161

O empenho do arcebispo para reformar a diocese pode ser mais bem apreendido nas suas próprias palavras:

só assim, com um trabalho vivo e unido, podemos esperar o reafervoramento da arquidiocese, entre outros motivos, para que ela não desmereça, de todo, a graça e honra e responsabilidade, que a Santa Sé acaba de lhe conferir, com tanto entusiasmo e compreensão de todos os seus filhos.162

A prioridade dada à organização do laicato ocorreu num momento histórico crucial tanto no interior da Igreja quanto na sociedade em geral. Ficou explícita a inquietação da hierarquia com a participação dos comunistas ao fazer alianças com alguns partidos e grupos políticos para as eleições de outubro de 1958; em outubro, morreu Pio XII e João XXIII foi surpreendentemente eleito Papa; este, em janeiro de 1959 anunciou a convocação do Concílio Vaticano II; em 1959, houve a Revolução Cubana que deixou a hierarquia católica perplexa. Em âmbito local, Bauru foi anunciada como futura diocese; Botucatu foi elevada à arquidiocese.

O conceito de que as práticas religiosas deveriam transformar as pessoas e não apenas restringir-se ao devocional e sobrenatural evidenciou-se ao escrever sobre os resultados que se esperavam da pregação das missões redentoristas, nas cinco paróquias de Bauru, em 1960. A advertência do arcebispo insistia para

que todos se lembrem de que Missões não é apenas um movimento para rezar, cantar, ouvir pregações e se confessar... é um movimento que deseja por homens e famílias no caminho da paz, do trabalho, da honestidade e do dever. É guerra ao álcool, ao jogo, à imoralidade dos costumes, à descrença e à impiedade. É o ano santo da graça, da purificação, da reconciliação, da conversão, do afervoramento, da volta para Deus.163

Embora estivesse ainda circunscrito aos quadros tradicionais da doutrina social católica, D. Henrique não deixou de se manifestar publicamente a respeito das questões sociais, campo incorporado à ação da Igreja social cristã. Sensível ao sofrimento das classes subalternas, desejava uma sociedade, como pregava a

161 TRINDADE, Henrique Golland. Reorganização e reafervoramento de nossas associações religiosas. A Fé,

Bauru, 10 ago. 1958.

162

Ibid.

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Igreja, plena de harmonia social, apesar das diferenças sociais. As soluções sociais apresentadas eram ainda do tipo paternalistas e em aliança com os poderosos: patrões e governo. Deste modo, em dezembro de 1959, período de certa conturbação social em face da elevada inflação e do êxodo rural com consequente aumento do desemprego urbano, dirigiu um apelo aos seus diocesanos:

o nosso primeiro apelo é aos que mandam, é aos que possuem grandes e pequenas fortunas, é aos que têm casa própria, fazenda, indústria, comércio, etc., aos que vivem com certa largueza ou em verdadeira abundância. Que se procure fazer alguma coisa pelas classes pobres ou desprotegidas e, sobretudo, pelos que, procurando trabalho, não o encontram. [...] aproveitemos o clima de colaboração mútua, sem cor de castas, ou de partidos.164

O arcebispo reconhecia que o trabalho artesanal e de pequenas indústrias eram importantes para gerar empregos, por isso, “se formos à Alemanha no próximo ano, nos esforçaremos junto a amigos com quem já falamos, para alcançar alguma indústria, alguma nova fonte de trabalho para a nossa Botucatu”.165 A Igreja social

cristã se responsabilizava também pelo desenvolvimento social e econômico. Tinha aderido ao projeto desenvolvimentista do governo como possível encaminhamento de solução ou minimização da questão social. Sinalizava no sentido de que a atividade do clero não deveria se restringir ao sobrenatural, mas contribuir para o