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No Brasil, as organizações sociais têm se transformado, desde o seu surgimento. Na busca por recursos, organizações sem fins lucrativos desenvolvem estratégias, com a finalidade do fortalecimento de suas ações. Conforme apresentam Haigh e outros (2015), as organizações tradicionais, sem fins lucrativos, modificam as formas de obter recursos, frente à elevação dos custos e do crescimento do número de organizações que leva à competição pelas doações diversas, para atender ao aumento das necessidades da sociedade, a exemplo do crescimento da desigualdade, da pobreza, entre outros problemas. Para Wood Jr.

(2010), a globalização tem acelerado o processo de mudanças, e isso se apresenta em relação ao afastamento do Estado para atividades sociais, proporcionando o aumento das organizações sem fins lucrativos.

Neste sentido, as ONGs são dependentes de recursos para o desenvolvimento de suas atividades e essa afirmação se confirma, como apresentou Silva (2010), quando, com a falta de recursos, as organizações buscam outros meios de captá-los. Outro ponto foi o crescimento no número de ONGs que reduz o volume de recursos disponíveis para captação e provoca uma concorrência no campo das organizações, que disputam entre si pela busca de recursos financeiros para manterem-se sustentáveis. O que motivou isso, segundo Angnes et al. (2011), foi a redução de recursos financeiros a partir do ano de 2006, fazendo com que as organizações sociais passassem a disputar os recursos disponíveis para garantir a sobrevivência.

Nesse contexto de falta de recurso que as organizações sociais atravessam, Cruz e Estraviz (2003) apresentam diversas fontes possíveis de captação de recursos. Assim, como afirma Freitas (2012), as organizações alteram as estratégias de ações atuando não só com recursos de filantropia, mas também desenvolvendo ações como negócios sociais. Esta junção de organização sem fim lucrativo com ações que produzem recursos, como organizações que visam o lucro, caracteriza o fenômeno híbrido organizacional (WOOD JR, 2010).

São híbridas as organizações que combinam a lógica social, mantendo a missão, com a lógica comercial, gerando recursos, com a finalidade de amenizar os problemas da sociedade (BATTILANA; LEE, 2014). Para os autores, essa forma na qual se apresentam é conhecida como organização híbrida, definida como ações de atividades, de estruturas, de processo e de significados, desenvolvidos em conjunto com formas de organizações variadas (BATTILANA; LEE, 2014). Além disso, Doherty, Haugh e Lyon (2014) acrescentam que ações de atuações conjuntas, contribuem na agregação de valores e objetivos das duas categorias ou mais que exercitam.

Battilana e Lee (2014), no entendimento da integração entre atividades comerciais e a filantropia tradicional, apresentam três conceitos de organização híbrida: o primeiro define organização híbrida como entidades, estruturas, processos e significados, que têm como foco as atividades e o alinhamento das formas

organizacionais; outro conceito parte dos estudos organizacionais, definindo que o hibridismo inicia-se como condição de que organizações não se originam separadamente ao ambiente externo, e sim, se constroem com pressões de questões sociais; o terceiro conceito de organização híbrida volta-se à caracterização das organizações que reúnem diversas lógicas institucionais. Todas as definições compreendem as inter-relações presentes nas estruturas das organizações híbridas, que são a lógica, as formas e identidades.

A adequação da estrutura é um desafio para as organizações ao adotar formas híbridas. A presença de objetivos e metas divergentes pode comprometer os resultados, e o alinhamento entre objetivos e meta contribui para a definição da melhor estrutura que atenda aos objetivos da viabilidade financeira e à meta de provocar mudanças sociais (HAIGH et al., 2015). Portanto, organizações que iniciam atividades híbridas, para se tornarem sustentáveis precisam manter um equilíbrio entre as lógicas: a missão social da organização e a atividade de negócios para a geração de recursos, anteriormente separadas, mantendo um equilíbrio na gestão da organização (BATTILANA; DORADO, 2010).

Essas atividades conjuntas têm o foco em ações sociais e ambientais, e se voltam para a captação de recursos através da oferta de produtos e serviços e contribuem para a popularidade da organização junto à sociedade (HAIGH et al., 2015). Estas organizações sociais surgiram pelas necessidades, em consequência dos problemas sociais, externas ao ambiente da organização. É nesse mesmo contexto que organizações são influenciadas e tendem a se tornar organizações híbridas pela lógica que impõe o ambiente, num contexto social vigente (BATTILANA; LEE, 2014). Esse termo, denominado organização híbrida, apresenta a combinação de ações para obter recursos por meio de Negócios Sociais (comercialização de produtos ou prestação de serviços) e através de Filantropia tradicional (HAIGH et al., 2015).

Segundo Doherty, Haugh e Lyon (2014), a flexibilidade existente no hibridismo possibilita receber recursos por meio de financiamento de origem da comercialização, bem como filantrópico. Mas, estas organizações “[...] precisam desenvolver atividades constantemente para a captação de recursos, tendo como foco atingir a missão da entidade” (ANGNES et al., 2011, p. 17). Porém, um ponto que merece atenção, refere-se à missão social da organização que tem como foco

principal e, ao partir para a atividade de organização híbrida, corre o risco de seguir outro caminho, desviando da sua missão, com a finalidade de gerar recursos, tornando esse, o objetivo fim nas suas ações desenvolvidas (EBRAHIMA, BATTILANA, MAIR, 2014).

Conforme apresentam Battilana e Dorado (2010) e Battilana e Lee (2014), outra questão importante para organizações sem fins lucrativos é que, ao iniciarem a atividade de organização híbrida, trazem consigo múltiplas identidades e que podem gerar conflitos para a organização. Sendo assim, a organização híbrida deve levar em conta a garantia da sua sustentabilidade, proporcionando a aproximação das inúmeras identidades, tornando-as comuns entre os grupos de pessoas ou projetos da organização, tornando possível o estabelecimento de equilíbrio entre as lógicas presentes. Sem esse entendimento, a sustentabilidade da organização não é garantida, podendo levar a problemas na sua gestão administrativa.

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