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4.1 ÁREA DE ESTUDO

4.1.2 Hidgrografia e Vegetação

A bacia hidrográfica amazônica tem uma área de 6,1x 106 km², sendo drenada por uma grande diversidade de ambientes aquáticos de tamanhos variados. Estima-se que a rede composta por pequenos corpos d’água, igarapés, represente uma densidade de 2-4 km de cursos d’água por km2 terrestre, refletindo a mais densa rede hidrográfica do mundo (CLETO- FILHO, 1998). Os elevados índices pluviométricos encontrados nesta região constituem premissa básica para a existência desta extensa rede (BARBOSA et al., 2005).

Estima-se que as zonas de inundação representam uma área de 300.000 km² sendo 200.000 km2 de várzea e 100.000 km2 de igapó (JUNK, 1993), ou seja, 5% da superfície da bacia. No balanço hídrico, Richey et al. (1989) estimaram que 30% da vazão média do rio Amazonas transita pelas várzeas. Essas zonas permitem aplainar o hidrograma do rio Amazonas e explicam por que a vazão máxima (280.000 m3.s-1) equivale a só quatro vezes a vazão mínima (70.000 m3s-1), (MAURICE-BOURGOIN et al., 2007).

As águas do rio Amazonas entram na várzea, durante o período de cheia principalmente, alimentando os Lagos Grande de Curuai, Salé, Poção e Santa Ninha. O fluxo de água entra na várzea por Oeste fluindo para Leste com saída principal pela Foz Norte e Foz Sul localizadas, na extremidade sudeste do lago Grande.

Dados obtidos a partir de réguas limnimétricas instaladas em Curuai demonstram que a variação de nível das cotas de água nesta várzea e no rio Amazonas são praticamente sincronizadas, acompanhando temporalmente o fluxo de água do rio Amazonas (Figuras 26 e 27).

FIGURA 26: Hidrograma monomodal do Rio Amazonas. Varaição interanual da vazão do Rio Amazonas a partir das medições realizadas pela ANA (Agência Nacinal das Águas) na cidade de Óbidos, durante os anos de 1970 a 1994.

FIGURA 27: Hidrograma monomodal da várzea do Lago Grande Curuai. Vazão interanual da vazão durante os anos 1980 e 2002, figura retirada de Kosuth, 2001. Relatório projeto Hibam.

O período de cheia inicia entre dezembro e janeiro com o pico das altas águas nos meses de maio a junho, que correspondem aos máximos anuais de vazão no rio Amazonas (Figura 28). De agosto a novembro ocorre o período de baixas águas na várzea (Figura 29), coincidindo com o período de menores vazões no rio Amazonas (MOREIRA-TURCQ et al., 2005). No período de cheia, a várzea armazena não só a água superficial do Rio Amazonas

que entra nos lagos, como também a água acumulada pelas chuvas da região. Assim, a profundidade média da região pode variar de 0,5 m em baixas águas a 10 m de coluna d’água no período de águas altas (CECANHO, 2007).

FIGURA 28: Várzea do lago Grande Curuai durante período de cheia.

Estudos de Martinez et al. (2003), com o uso de imagens Radar e de Sistema de Informação Geográfica apresentaram uma estimativa da variação da superfície inundada de três vezes a área alagada, entre 700 km² nas águas baixas, até 2.300 km² em águas altas.

Assim como as demais várzeas ao longo do rio Amazonas, a Várzea do Lago Grande Curuai atua como uma região armazenadora de sedimentos, apresentando uma taxa de deposição muito alta chegando até 1 cm.ano-1 no Lago Santa Ninha (MOREIRA-TURCQ et al., 2004). Segundo Maurice-Bourgoin et al. (2007) cerca de 50% do fluxo do material em suspensão que entra na várzea Curuai pelo Rio Amazonas, são depositados neste sistema, na escala do ano hidrológico.

FIGURA 29: Várzea do lago Grande Curuai durante período de seca.

Dentro da Várzea do Lago Grande Curuai, há vários tipos de paisagens presentes, e que seguem o ciclo sazonal hidrológico do nível da água. Em águas baixas, podem-se

encontrar pastagens naturais que inundam gradualmente até desaparecerem nas altas águas. Em períodos de seca, essas áreas de pastagem são usadas para criação de animais. O restante da região estudada é ocupado de acordo com um gradiente de vegetação, que vão de áreas de pastagens naturais à formação de florestas com altura das árvores de aproximadamente dez metros. São classificados em quatro tipos de ocupações vegetais: pastos naturais; zonas compostas por pouca vegetação arbustiva dispersada entre as gramináceas; florestas que são parcialmente inundadas; e florestas que não sofrem influência das inundações (MARTINEZ et al., 2003, RADAMBRASIL, 1976).

As matas banhadas pelas águas brancas são chamadas de florestas de várzea e as banhadas pelas águas pretas e claras, de florestas de igapós. A vegetação da várzea é muito mais rica do que a vegetação dos igapós, devido à fertilidade das águas brancas e dos solos aluvionais por elas trazidos.

As árvores das matas alagadas têm várias adaptações morfológicas e fisiológicas para viverem parcialmente submersas. As árvores são pobres em plantas epífitas e o sub-bosque praticamente inexiste. Em seu lugar existe uma rica flora herbácea, como o capim-mori, a canarana e o arroz selvagem. Na estação das enchentes, o capim se destaca e forma verdadeiras ilhas flutuantes. Outras plantas flutuantes, tais como a vitória-régia e o aguapé, também acompanham o nível das águas.

Barbosa et al., (2004) mostra um mapa de distribuição de diferentes profundidades na planície do Lago Grande Curuai. Foi empregada a metodologia para processamento e utilização de dados batimétricos de alta resolução com um cotejo de série histórica de imagens disponível entre 1984 e 2003 e de dados de variação do nível da água entre 1983 e 2003. A Figura 30 mostra a profundidade das áreas da várzea no período de cheia.

FIGURA 30: Batimetria da Várzea do lago Grande Curuai em período de cheia. Retirada de Barbosa et al., 2005

Em outro estudo realizado por Arraut et al., 2005 foi utilizado modelagem e sensoriamento remoto no período de cheia para avaliar a distribuição espacial do Peixe-boi amazônico. A Figura 31 mostra a favorabilidade da ocorrência de macrófitas. Podem-se observar resultados semelhantes entre os dois trabalhos, uma vez que as macrófitas se desenvolvem melhor numa área alagada com profundidade de até 4 mts.

FIGURA 31: Mapa de favorabilidade à ocorrência de macrófitas no período de cheias na Várzea do Curuai. Retirada de Arraut et al., 2005.

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