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Capítulo I Síndrome Fetal Alcoólico

5. Hidroterapia como Intervenção Psicomotora

No que respeita à terminologia do uso da água para fins terapêuticos, Biasoli (2006) afirma que:

o conceito do uso da água para fins terapêuticos na reabilitação teve vários nomes como, hidrologia, hidrática, hidroterapia, hidroginástica, terapia pela água e exercícios na água. Atualmente, o termo mais utilizado é reabilitação aquática ou hidroterapia (p. 78).

Assim, a hidroterapia é uma atividade terapêutica que consiste na execução de exercícios dentro de água, mais concretamente, numa piscina, com o objetivo de estimular os movimentos (Resende, Rassi & Viana, 2008).

Ainda de acordo com os mesmos autores, o meio aquático apresenta efeitos terapêuticos e psicológicos aos níveis motor, sensorial, preventivo e psicológico, sendo que este tem um ótimo papel educativo, o que faz com que os indivíduos possam-se desenvolver e superar as suas dificuldades, assim como apresenta uma alternativa de tratamento para indivíduos com condição de deficiência física, incluindo também, os indivíduos com doenças neurológicas.

A nível motor, a imersão em água aquecida tem efeitos positivos na dor, espasmo muscular, articulações e marcha, já que a imersão relaxa músculos e articulações, exige mínimo esforço para pequenas contrações e/ou movimentos articulares, além de auxiliar a marcha por não precisar de aparelhos ortopédicos (Resende, Rassi & Viana, 2008).

Neste âmbito, Varela, Duarte, Sereno, Dias e Pereira (2000), a nível sensorial, estimula o equilíbrio, a noção de esquema corporal, a proprioceção e a noção espacial, já que a água é um meio instável, levando a um constante desequilíbrio. Ajuda a facilitar as reações de endireitamento e equilíbrio, visto que não existem pontos de apoio e o indivíduo é obrigado a promover alterações posturais.

Ainda de acordo com os autores, a nível preventivo, pode evitar deformidades, atrofias e regressão do quadro do indivíduo. Verifica-se também diminuição do impacto e descarga de peso sobre as articulações. Por fim, a nível psicológico, mesmo o menor dos movimentos voluntários (não possíveis fora da água) ajuda o indivíduo a reter a “imagem corporal” do movimento. Deste modo, há um reforço psicológico do indivíduo e ele sente-se melhor por não necessitar dos aparatos ortopédicos usados no solo e pela facilidade dos movimentos, proporcionando confiança para alcançar a máxima independência funcional.

O meio aquático, se por um lado é um espaço de contenção que possibilita a entrega a um contato sensorial tátil e contínuo, por outro é um espaço de aventura e exploração na relação com o próprio e com os outros. Deste modo, este meio coloca assim a pessoa perante o dilema da confiança diante do desconhecido. A profundidade e o receio de afundamento contrabalançam com o prazer do abandono passivo em virtude da impulsão ou sustentação do outro (Matias, 2010).

A hidroterapia é essencial para os indivíduos com condição de deficiência e atualmente, tem vindo a ser recomendada pelos médicos para que estes indivíduos possam superar algumas dificuldades. Desta forma, as atividades aquáticas são fulcrais para estes indivíduos, e neste âmbito, segundo Ruoti, Morris, e Cole (2000), o meio aquático possui aspetos terapêuticos que são complementares a estes indivíduos e ajudam a promover um programa de reabilitação contínua.

A atividade aquática promove sensações de prazer e de bem-estar físico, social e emocional nos jovens, e em especial nos jovens com perturbações do desenvolvimento. Assim, Faria (1984, citado por Varela et al., 2000) salienta os benefícios do meio aquático, no desenvolvimento global da criança, particularmente no seu desenvolvimento psicomotor, percetivo-motor, afetivo e social.

O meio aquático proporciona nos jovens muitos benefícios quer em termos físicos, quer em termos psicológicos e sociais. Tahara (2006) ressalta os benefícios da atividade aquática no aspeto social, no favorecimento das relações interpessoais, no aumento dos laços de amizade, no interesse em compartilhar experiências e ideais, entre outros. Desta forma, podemos verificar que existem inúmeros benefícios quer

nas relações interpessoais, assim como para a própria saúde e para o próprio desenvolvimento psicomotor.

As atividades com alunos com síndrome fetal alcoólico requerem um trabalho específico de forma a promover o desenvolvimento integral destes indivíduos, no entanto, é necessário trabalhar individualmente para superarem as suas dificuldades (Costa, 2012). As atividades aquáticas podem ajudar os indivíduos a adaptar-se às variações do meio para que possam existir movimentos na água que lhe permitam uma maior autonomia dentro do meio aquático.

5.1. Hidroterapia e o Desenvolvimento Psicomotor

A intervenção no meio aquático é muito importante e proporciona aos indivíduos uma experiência complexa (Varela et al., 2000).

No caso do desenvolvimento psicomotor, uma intervenção no meio aquático desenvolve os fatores psicomotores, como a tonicidade, a equilibração, a lateralização, a noção de corpo, a estruturação espácio-temporal, a praxia global e a praxia fina (Marques, 2009).

De acordo com o mesmo autor, na tonicidade, a água quente ajuda a reduzir a espasticidade e a rigidez, permitindo uma melhor manutenção da circulação sanguínea nas zonas afetadas. Ao nível do equilíbrio, a posição horizontal influencia algumas alterações ao nível das sensações oculares e das sensações do tónus de manutenção. Por outro lado, o meio aquático permite que os indivíduos mudem tranquilamente de posição, mesmo debaixo de água.

Para Matias (2010), Arroyo e Oliveira (2007) e Santos (2010), o ambiente aquático proporciona experiências e vivências novas e variadas, favorece a perceção sensorial e motricidade, auxiliando no desenvolvimento das capacidades psicomotoras, como coordenação, equilíbrio, esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal.

Na lateralização, a água permite uma forte estimulação propriocetiva e exterocetiva, promovendo o desenvolvimento cognitivo. A função do hemisfério direito e do hemisfério esquerdo é facilitada segundo o processo de diferenciação e especialização (Marques, 2009).

O mesmo autor refere também que relativamente à noção de corpo, os movimentos realizados na água e a utilização de diferentes posicionamentos em contato com a água permitem adquirir uma maior consciencialização do corpo e de si próprio. Na estruturação espácio-temporal, a exploração do meio aquático é essencial na relação espacial, assim como na realização de deslocamentos com diferentes trajetórias. As noções temporais estão diretamente relacionadas com a noção de ritmo.

Por sua vez, na praxia global e na praxia fina, uma vez que ambos os fatores se relacionam com aspetos como a coordenação motora, a agilidade e a perícia, estes estão evidentes na aprendizagem no meio aquático (Marques, 2009).

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