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3. OS SISTEMAS DE MOVIMENTO NO ESTADO DO TOCANTINS

3.3 Hidrovia Tocantins-Araguaia: um projeto de grandes proporções

O sistema de movimento hidroviário no Tocantins é composto pelas bacias dos rios Araguaia e Tocantins, que atravessam o estado de norte a sul. Segundo Contel (2001), esse sistema tem como características principais o baixo custo relativo de transportes e grande capacidade de carga, grande rigidez, pois depende do traçado dos rios e apresenta desvantagens quanto ao tempo de deslocamento em relação aos outros sistemas de movimento.

Mesmo com uma grande vantagem econômica em relação ao custo de transporte, em comparação com o modal rodoviário e ferroviário, a participação hidroviária na matriz brasileira ainda é pequena. Dos 63 mil km de rios e lagos existentes no território nacional, 40 mil km são navegáveis e apenas 13 mil km são utilizados pela navegação comercial, com significativa concentração na Amazônia (BRASIL, 2010). Segundo levantamento da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ, atualmente são transportados pelas hidrovias brasileiras cerca de 45 milhões de toneladas de cargas/ano, enquanto que o potencial de transporte seria ao menos quatro vezes maior (BRASIL, 2010).

A Hidrovia Tocantins-Araguaia é um importante eixo de circulação dentro do vetor logístico Centro-Norte. O potencial de transporte desse vetor depende da implantação por completo desse sistema hidroviário, que abrange importantes regiões produtoras de grãos, como o leste do estado do Mato Grosso, sudeste do Pará, oeste de Goiás e o estado do Tocantins.

De acordo com Almeida (2004), o projeto de implantação da hidrovia Tocantins-Araguaia data da década de 1960, e foi retomado na década de 1980 com o objetivo de potencializar a navegação comercial na bacia, em trechos já navegáveis durante a maior parte do ano. A implantação da Hidrovia Tocantins-Araguaia está sob responsabilidade da Companhia Docas do Pará (CDP), sociedade de economia mista, vinculada à Secretaria de Portos da Presidência da

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República. A CDP é representada pela AHITAR – Administração das Hidrovias Tocantins Araguaia, que é uma superintendência descentralizada33 do DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que atua na execução da implantação e administração da hidrovia.

A bacia hidrográfica e a hidrovia são formadas por três rios principais, Tocantins, Araguaia e das Mortes, que percorre o leste do estado do Mato Grosso e deságua no Araguaia na divisa com o estado do Tocantins (mapa 3.3). Apesar de ter extensos trechos navegáveis, a hidrovia possui uma série de características que impedem sua efetiva utilização até o momento. Pode-se citar a existência de grandes barragens de usinas hidrelétricas que foram construídas sem o sistema de eclusas e trechos com formação de corredeiras e baixa profundidade, impedindo a navegação.

O rio Tocantins possui uma extensão total de 2.400 km e a maior parte de seu curso – da foz até o município de Peixe, no sul de Tocantins – é navegável, mas devido à existência de desníveis e corredeiras, como entre Imperatriz (MA) e Estreito (MA) e barragens sem eclusas, a circulação de comboios de barcaças e barcos é impossibilitada. No mapa 3.3 estão identificados os locais onde existe prioridade para realização de investimentos para a construção de eclusas, que permitiriam a navegação. No final de 2010, foi inaugurada a eclusa da usina hidrelétrica de Tucuruí (foto 3.5), no Pará, possibilitando a navegação a montante nos rios Tocantins e Araguaia. No rio Tocantins, a navegação somente se efetivará com a construção das eclusas em Estreito e na represa de Lajeado (Luís Eduardo Magalhães), entre os municípios de Miracema do Tocantins e Lajeado (TO) (foto 3.6)34.

33 Convênio de Descentralização nº DNIT/AQ315/2006.

34 A recente conclusão das eclusas de Tucuruí em dezembro de 2010 e a fase de testes operacionais representam um

marco para a implantação da Hidrovia Tocantins-Araguaia. Com isso, o acesso pela hidrovia a áreas interiores do território do Tocantins poderá iniciar a movimentação de cargas de modo efetivo, incluindo commodities agrícolas.

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Foto 3.5 – Construção da Eclusa da Usina Hidrelétrica de Tucuruí

Fonte: AHIMOR – Administração das Usinas da Amazônia Oriental.

Foto 3.6 – Trecho do Rio Tocantins entre os municípios de Miracema do Tocantins e Tocantínia

Autor: Alexandre C. Fornaro. 14 jan. 2012.

O rio Araguaia também é de grande extensão, com 2.115 km. Sua nascente está localizada na Serra dos Caiapós, entre os estados do Mato Grosso e Goiás, sendo que sua extensão navegável é de 1.818 km. Tem como uma de suas características representar o limite político- administrativo entre Mato Grosso e Goiás, percorrendo também toda a extensão oeste do estado

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do Tocantins. Dentre os principais impedimentos para a navegação está o baixo calado no período de estiagem (junho a novembro), a existência de corredeiras, bancos de areia, pedrais e a necessidade de construção de eclusa em Marabá (PA), pois deságua no Tocantins e depende do mesmo trecho de navegação até a foz com o oceano. As principais mercadorias transportadas no rio Araguaia são soja, milho, arroz, carne (congelada), calcáreo agrícola e madeiras.

O Rio das Mortes, que nasce em Cuiabá, é um dos principais afluentes do Araguaia; eles confluem na Ilha do Bananal, na divisa entre Mato Grosso e Tocantins. Possui 580 km de extensão navegável, entre Nova Xavantina (MT) e São Félix do Araguaia (MT). Assim como no rio Araguaia, o Rio das Mortes também tem restrições para a navegação no período de águas baixas (junho e novembro) devido ao baixo calado e aos impedimentos físicos como pedrais e bancos de areia.

No período de águas altas, a navegação é possibilitada entre os municípios de Aruanã (GO) até Xambioá (TO), onde existe um porto intermodal com o sistema rodoviário, construído em 1996 principalmente para atender a demanda por transporte de soja na região. O acesso pela BR-153 permite a conexão do porto com a cidade de Marabá (PA) e a Estrada de Ferro Carajás. No entanto, como apontam registros de Almeida (2004), o porto encontrava-se em total abandono e sem condições de operação.

Atualmente, a empresa que tem autorização para operação na Hidrovia Tocantins- Araguaia é a Atlantis da Amazônia Comércio LTDA35, atuando no transporte de granéis líquidos de derivados de petróleo e álcoois. As rotas na hidrovia são Belém (PA) / Xambioá (TO) / Belém (PA); Xambioá (TO) / Imperatriz (MA) / Xambioá (TO).

Segundo Almeida (2004), a implantação da Hidrovia Tocantins-Araguaia poderá incorporar novas áreas de produção agrícola e espera-se uma redução de 45% do custo do frete, no curto prazo, e de 60% no médio prazo. A hidrovia deve estimular a incorporação de aproximadamente 30 milhões de hectares ao sistema produtivo, com um potencial gerador de 73 milhões de toneladas de grãos, principalmente soja, milho e arroz, além do transporte de insumos agrícolas, calcáreo, combustíveis, gado, madeira etc (ALMEIDA, 2004).

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Mapa 3.3 – Prioridades de construção de eclusas na bacia Tocantins-Araguaia

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4. EXPANSÃO DAS FRONTEIRAS AGRÍCOLAS MODERNAS E A FORMAÇÃO