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Hipótese de mercado eficiente e a contabilidade

2.1 Hipótese de Mercado Eficiente

2.1.1 Hipótese de mercado eficiente e a contabilidade

A EMH, em sua forma semiforte, define que as variações dos preços das ações incorporam todas as expectativas sobre as empresas. Essas expectativas são formadas pela incorporação de toda informação disponível que possa influenciar os preços dos ativos negociados (FAMA, 1970; LIMA; TERRA, 2004). Seguindo esse raciocínio, as informações publicamente disponíveis seriam refletidas nos preços das ações, o que inclui as informações contábeis. Antes de prosseguir o raciocínio, é importante lembrar o conceito de valor de uma ação. Uma ação é avaliada pelos fluxos de caixa futuros e pelos riscos associados a eles. (ASSAF NETO, 2005; DAMODARAN, 2005; MARTINS et al., 2001; RAPPAPORT; MUBOUSSIN, 2002). Detalhadamente, isso quer dizer que o valor da empresa depende dos fluxos de caixa esperados e da respectiva taxa de retorno exigida pelo mercado, conforme os riscos do ativo. (WATTS; ZIMMERMAN, 1986). Dessa forma, os preços de mercado refletem as expectativas dos agentes econômicos acerca do futuro da empresa e da economia. (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004; LOPES; MARTINS, 2005).

Por isso, os lucros contábeis de uma firma para o período corrente podem fornecer informação sobre os fluxos de caixas correntes e sobre os fluxos de caixa esperados. (SANTOS, 2008; WATTS; ZIMMERMAN, 1986). Isso se dá porque, apesar de

23 metodologicamente diferentes, os fluxos de caixa e os lucros contábeis são ferramentas de mensuração de desempenho para a mesma entidade. São as entradas e saídas de caixa da empresa, os eventos fundamentais nos quais se baseiam as mensurações contábeis e nos quais se supõe que os investidores apoiem suas decisões. (HENDRIKSEN, VAN BREDA; 1992). Dessa maneira, onde o mercado é eficiente na forma semiforte, as informações geradas pela contabilidade deveriam estar incorporadas nos preços das ações. (SARLO NETO et al., 2004). Ross (1995, p. 267) corrobora esses conceitos afirmando que:

[...] um mercado é considerado eficiente no sentido semi-forte quando os preços refletem (incorporam) toda informação publicamente disponível, incluindo informações tais como relatórios financeiros publicadas pela empresa, bem como dados históricos de preço.

Sendo assim, se as informações contábeis devem ser refletidas nos preços das ações, qualquer variação no lucro contábil provocaria uma variação nos preços das ações. (SARLO NETO et al., 2006).

Como o mercado trabalha com expectativas futuras, visando aos fluxos de caixas futuros, isso implica que o mercado incorpora, antecipadamente, as informações contábeis esperadas ao preço das ações e esses somente se alterariam, posteriormente, se houvessem surpresas no momento da divulgação das informações, uma vez que novas informações não esperadas estariam sendo divulgadas para o mercado. (CUNHA; LUSTOSA, 2007). As variações dos lucros contábeis só terão conteúdo informacional, à medida que puderem sinalizar a ocorrência de fluxos de caixa não esperados. A surpresa causada pela informação contábil, no caso do lucro não esperado, nesse contexto, é o vetor que direciona um retorno anormal dos preços das ações. Como é possível constatar, a Hipótese de Eficiência de Mercado formou a base para que os pesquisadores pudessem verificar como o mercado se relaciona com a informação emanada pela contabilidade e quanto o mercado é eficiente a esse conjunto de informações.

Nesse contexto, encaixa-se o conceito de Information Approach (abordagem da informação), no qual a contabilidade é considerada como um meio de transmissão de informação. Sob a abordagem do Information Approach, as variáveis contábeis, como, por exemplo, o Patrimônio Líquido e o Resultado, possuem capacidade informacional. Essa capacidade informacional corresponde ao seu potencial de transmitir informações que influenciam as expectativas dos usuários. (LIMA et al., 2008; SARLO NETO et al., 2004).

Os conceitos de que a contabilidade ultrapassa o paradigma normativo e é uma das principais fontes de informações para o mercado foram reconhecidos pelo FASB (Financial Accounting

Standard Board) em 1978. Nessa data, esse órgão publicou o SFAC1 (Statement of Financial Accounting Concepts, 1978), em que declarou que o objetivo principal da contabilidade

consiste em fornecer informações relevantes à tomada de decisão e completou: “o foco principal do relatório financeiro é a informação sobre o desempenho da empresa fornecida através das medidas de lucros e seus componentes.” Resumidamente, o papel da contabilidade consagrou-se em “[...] prover os usuários dos demonstrativos financeiros com informações que o ajudarão a tomar decisões.” (IUDÍCIBUS, 2000, p. 20).

Assim, a contabilidade pode ser percebida como um sistema de informações organizado e dinâmico que contribui para o fortalecimento do Mercado de Capitais mediante a disponibilização de informações relevantes para o mercado. (LIMA et al., 2008; LIMA; TERRA, 2004). E para que seja útil, será necessário que ela guarde estreita relação com a realidade econômica, por sua capacidade de alterar ou confirmar expectativas sobre fluxos de caixa futuros dos ativos. (LOPES; MARTINS, 2005).

Num cenário, em que o mercado é eficiente na forma semiforte, as informações geradas pela contabilidade deveriam estar refletidas nos preços das ações. Então, nessa situação, haveria uma forte relação entre a contabilidade e o mercado, de forma que a alteração em uma variável contábil provocaria a variação dos preços das ações.

A despeito da relação preconizada pela teoria entre lucros contábeis e o preço das ações, os resultados mostrados em várias pesquisas não apresentaram correlação perfeita (igual a 1) entre si. As evidências encontradas assinalam que apesar de seguirem a mesma direção, lucros e preços apresentam variações com intensidades diferentes, ou seja, as variações positivas nos lucros estão relacionadas com variações positivas nos preços, mas não com a mesma escala de variação. (SARLO NETO et al., 2004). E foi esse tipo de questionamento que motivou os acadêmicos a saberem se os números contábeis tinham ou não conteúdo informacional. (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004). Mas por que isso ocorre?

Parte do motivo para a falta de correlação perfeita está no fato de que os preços captam o impacto de um conjunto de informações muito mais amplo do que o representado apenas por lucros contábeis. Por exemplo, os preços reagem a coisas tão exóticas como boatos de guerra e tão corriqueiras quanto variações da taxa de juros de Letras do Tesouro. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p. 206)

25 Também, Lima e Terra (2004, p. 2) apontam que, somado a isso, no caso brasileiro

Apesar da relevância das demonstrações financeiras para o mercado de capitais, é discutível a sua eficiência: uma vez que estas informações são de natureza estática, enquanto o mercado é dinâmico. Esta dicotomia torna-se evidente quando analisado o prazo limite que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) instituiu para a entrega das demonstrações financeiras. De acordo com as Instruções CVM 202/93 e CVM 351/01, as empresas estão obrigadas à divulgarem suas Informações Trimestrais (ITR) no prazo máximo de 45 dias após o final do trimestre, e suas Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) no prazo máximo de até 3 meses após o final do exercício social. Esta defasagem temporal entre o fato gerador e a sua posterior divulgação é uma desvantagem para o conteúdo informacional das demonstrações financeiras. Desta forma, os relatórios tendem a ser apenas confirmadores das expectativas dos investidores.

Dessa forma, os pesquisadores apontam que existem diversos elementos influenciando o preço de uma ação os quais não estão presentes no lucro da empresa ou, ao menos, não estão presentes de forma concomitante. Outros autores afirmam que a relação não é perfeita pois o lucro da empresa é composto por elementos originados somente da própria empresa e o preço é influenciado por elementos da empresa e várias outras informações.

Levando em consideração a importância da informação contábil para o Mercado de Capitais, no tópico 2.2, serão aprofundados os conceitos da Teoria do Portfólio e Risco com o intuito de levar ao leitor um maior entendimento da relação dessas ferramentas com os números contábeis.

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