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5.2 Etapas com o Arco de Maguerez

5.2.4 Hipóteses de Solução

Na terceira semana de agosto de 2018, entre os dias 13 e 17, os alunos participaram da etapa de levantamento de hipóteses de solução. Essa etapa está

em consonância com o ciclo da pesquisa-ação em sua quarta fase que se caracterizou como mudanças na prática, conforme retratado na Figura 12. Nesta fase os alunos buscaram possíveis soluções para que houvesse mudanças efetivas na prática como forma de solucionar os problemas observados.

Figura 12 - Relação entre Arco de Maguerez e Pesquisa ação (Fase 4)

Relação elaborada pelas autoras, 2018.

Dentre os problemas mapeados nas três turmas, os alunos destacaram que a fome é o primeiro que deve ser suprido. Ao pesquisarem, compreenderam que a seca é a causadora da miséria, mas lidar com as questões climáticas ou criar políticas de solução como levar água para o sertão é algo que depende do Governo e seria uma medida a longo prazo, mas atender necessidades básicas é algo que pode ser feito de forma rápida, por qualquer cidadão onde ele estiver.

Os alunos verificaram também que a fome é um problema recorrente entre os imigrantes. Ao traçar paralelos com os retirantes, os alunos observaram que muitos imigrantes chegam no Brasil e tentam se estabelecer, mas não possuem itens básicos para a sobrevivência. Assim, é possível atender famílias de forma rápida, pois depender do Governo para essas questões demanda tempo.

As atividades posteriores ao levantamento de problema como os pontos- chave, a teorização e determinação de hipóteses de solução seguiram essa linha de estudo, logo as hipóteses que foram levantadas buscaram atender ao seguinte impasse: como solucionar a fome que assola retirantes e imigrantes?

Para o levantamento de hipóteses de solução a turma foi dividida em grupos, os alunos retomaram anotações que fizeram ao longo da intervenção, e cada grupo participou do debate apresentando as ideias. A professora regente conduziu a discussão a fim de levar os alunos a encontrarem a solução mais viável para o problema da fome, que se tornou o ponto central da discussão.

Ao retomarem as anotações feitas durante a etapa de observação da realidade e levantamento de um problema, os alunos viram que na região onde moram, nas cidades em torno da escola, como Limeira e Engenheiro Coelho, algumas famílias estavam vivendo em uma situação de miséria. Muitas dessas pessoas eram imigrantes, outros retirantes. A discussão se direcionou no sentido de atender às necessidades dessas pessoas que estavam próximas, pois atender diretamente as famílias do Nordeste não seria possível pela logística e pelo tempo do projeto.

A relação de problemas apresentados na obra com a realidade circundante foi importante para os alunos enxergarem que o necessitado está ao lado, não apenas na ficção, mas na realidade em que estão inseridos. Motivados com noção de realidade, cada turma propôs uma solução e traçou um plano de atendimento às necessidades de famílias próximas.

A turma de 1º ano chegou à conclusão de que deveria organizar um projeto para arrecadação de fundos e comprar cestas básicas para atender famílias na comunidade que estavam em uma situação de necessidade. Cada grupo ficou responsável por arrecadar um montante para esse fim. Seguem as falas dos alunos que mais participaram desse momento:

Aluna A: Pessoal, e se a gente se organizar e arrecadar alimentos? Podemos procurar famílias aqui perto que precisam.

Aluno B: Perto de casa tem uma família que veio do Haiti, posso ir lá e ver se precisam...

Aluno C: Acho mais fácil arrecadarmos dinheiro e alguém compra cestas básicas, é difícil a gente trazer muita coisa para a escola.

Aluna D: Boa ideia, podemos fazer isso. Vou procurar famílias na minha cidade. Aluno E: Então vamos traçar um plano, se cada um ficar responsável por um valor, podemos ter ideia do quanto vamos conseguir.

A professora regente apoiou o plano, auxiliou os alunos e os ajudou a organizar equipes. Umas das equipes ficou responsável por levar o projeto para as

outras turmas de 1º ano, outra equipe se responsabilizou por ir aos segundos anos e levar a proposta e outra ficou encarregada de procurar as turmas de 3º ano. Logo toda a escola ficou envolvida com o projeto que surgiu no 1º ano, a direção da escola apoiou a iniciativa e incentivou os alunos a participarem da arrecadação. A professora regente ficou responsável por contabilizar as doações e comprar as cestas que seriam distribuídas.

A turma de 2º ano decidiu rastrear famílias de retirantes e imigrantes para, a partir dessas histórias reais, escreverem contos. Ao discutirem sobre as hipóteses de solução, consideraram importante conhecer retirantes e imigrantes, ouvir essas histórias e de alguma forma levar ao conhecimento das pessoas os problemas que enfrentaram e ainda enfrentam. Como a turma de 1º ano escolheu um projeto social, por meio da escrita, os alunos do 2º ano optaram por denunciar a realidade e buscar inspiração em histórias reais. Seguem as falas de três alunos durante o levantamento de hipóteses:

Aluna A: Pessoal, já que o 1º ano vai arrecadar alimentos, vamos buscar pessoas que podem receber esses alimentos? Alguém conhece algum imigrante ou retirante?

Aluna B: Eu conheço um retirante, mas ele está bem de vida, estudou muito e hoje não precisa de ajuda.

Aluna C: Legal, tem muito retirante que mudou de vida, acho importante a gente falar sobre isso, é um incentivo, até para nós.

Aluna D: Vamos então procurar, acho que vamos encontrar muita gente que precisa.

Para desenvolver essa atividade, a professora de Produção de Texto colaborou ao disponibilizar aulas e instruir os alunos na escrita, também auxiliou a rastrearem famílias e incentivou durante todo o processo. O gênero conto foi trabalhado com a turma, a professora abordou sobre a estrutura, a linguagem e especificidades do gênero. Para a produção, a turma foi dividida em duplas e cada uma ficou responsável por buscar uma história real.

O interesse dos alunos de escreverem histórias reais partiu do entendimento de que a literatura engajada é uma importante ferramenta de conscientização social, prova disso é o livro Vidas Secas, que apesar de ter sido publicado em 1938, encontra eco na sociedade contemporânea.

A turma de 3ª ano propôs a produção e organização de um evento cultural com o objetivo de divulgar o material produzido pelo 2º ano e o próprio trabalho. Eles

se organizaram para produzir poemas, música e um teatro inspirado na obra Vidas Secas. A ideia de produzir um sarau literário surgiu pelo fato dos alunos consideraram importante a divulgação de questões relacionadas aos retirantes e imigrantes. Para os alunos, a literatura deve ser valorizada, os problemas devem ser denunciados e assim engajar a sociedade em uma causa. Seguem as falas de alguns alunos durante a discussão sobre as hipóteses levantadas:

Aluno A: Esse assunto de imigrantes é muito sério, tem muitos acham que é algo distante, mas aqui perto têm famílias.

Aluno B: Acho legal a iniciativa do 1º ano, precisamos ajudar.

Aluno C: Já que nós vamos produzir um sarau, seria legal se conseguirmos levar imigrantes ou retirantes para dar um testemunho, falar o que viveram.

Aluna D: Podemos ver com os alunos do 2º ano se eles conseguem trazer no sarau algumas pessoas que eles vão procurar, assim podemos fazer uma entrevista.

Aluna E: Então vamos colaborar com o 1º ano e trazer uma doação. A nossa parte será produzir um evento, vamos precisar de poesia, música e teatro.

Aluna F: É importante a gente apresentar uma peça do livro, muita gente não leu

Vidas Secas, não vão entender de onde saiu esse monte de ideia.

Nessa etapa os planos foram traçados para solucionar o problema levantado, os alunos contaram com os meses de setembro e outubro para buscarem subsídios, rastrearem as famílias, produzirem o material que seria apresentado no sarau e organizar o evento que ocorreu no mês de novembro. Nessa etapa de produção foi imprescindível o apoio da direção da escola e de professores colaboradores, assunto que será abordado em outro item.