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Hipóteses explicativas para dificuldades linguísticas no DEL

2 Revisão de Literatura

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2.3 Hipóteses explicativas para dificuldades linguísticas no DEL

Estudos vêm apresentando hipóteses explicativas para as limitações linguísticas dos sujeitos com DEL. Em linhas gerais, as dificuldades fonológicas, morfossintáticas, semânticas pragmáticas e de compreensão são atribuídas a limitações do processamento auditivo central (mais especificamente o processamento auditivo temporal) e do processamento fonológico.

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2.3.1 Limitações do Processamento Auditivo Central (PAC)

Define-se processamento auditivo central (PAC) como mecanismos e processos realizados pelo sistema auditivo, tanto com estímulos verbais quanto com estímulos não verbais que têm influência na fala e na linguagem. Estes processos e mecanismos são responsáveis por realizar tarefas de localização sonora, discriminação sonora, reconhecimento auditivo, aspectos temporais da audição (resolução, mascaramento, integração e sequência temporal), desempenho auditivo com sinais acústicos em competição e desempenho auditivo em situações acústicas desfavoráveis (ASHA, 1996).

Daremos ênfase às habilidades de processamento auditivo temporal, já que uma das hipóteses das limitações linguísticas do DEL, como já citado, se dá por limitações neste processamento.

Sabe-se que grande parte das informações transmitidas através de sons, como a fala, é expressa por mudanças nas características do som com o decorrer do tempo, dessa forma, o processamento auditivo temporal envolve a competência para processar estes aspectos do som que variam com o tempo (NEVES e FEITOSA, 2003). Bishop (2006) relatou ainda que o problema fundamental do DEL é a dificuldade em distinguir ou identificar os sons que são breves ou que ocorrem em rápidas sucessões, independente de serem verbais ou não verbais.

A dificuldade em processar sequências rápidas afeta a habilidade de detectar e processar as informações acústicas e dinâmicas da fala, levando assim às dificuldades em desenvolver habilidades fonológicas necessárias para mapear fonemas e para decodificar e codificar palavras e frases de modo que sejam efetivas e automáticas (FORTUNATO-TAVARES et al., 2009).

Estes mesmos autores analisaram a correlação entre as habilidades de ordenação temporal e transferência inter-hemisférica do processamento auditivo temporal (teste de padrões de frequência - TPF) e linguagem (processamento sintático) lançando a hipótese de que crianças que apresentam baixo desempenho em tarefas de compreensão sintática também apresentarão baixo desempenho na tarefa de ordenação de frequência. Como esta dificuldade faz parte do perfil de crianças com DEL, verificou-se o desempenho destas comparando-as com crianças

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com DTL, cujos resultados mostraram que em TPF crianças com DEL apresentam desempenho inferior à normalidade, este baixo desempenho parece estar relacionado, como já citado, à dificuldade no processamento de sequências auditivas rápidas de vários estímulos, a qual poderia estar relacionada com a maturação do córtex auditivo. Outro fato observado foi que crianças de ambos os grupos apresentaram menor desempenho de compreensão de frases com alta complexidade sintática, pois demandam um maior processamento linguístico em relação às de baixa complexidade sintática.

Além disso, verificou-se que quanto maior o comprometimento no processamento auditivo temporal, pior o desempenho em tarefas de alta complexidade sintática. Este fato nos explica que a habilidade limitada das crianças com DEL em processar as características acústicas implicaria nos demais processos da linguagem, permitindo assim concluir que tanto o déficit no processamento auditivo quanto o déficit no processamento linguístico e cognitivo seriam a principal causa de alterações no desenvolvimento da linguagem, estando assim relacionados.

2.3.2 Limitações no Processamento Fonológico (PF)

Processamento fonológico (PF) é definido como um tipo de operação mental em que o indivíduo faz uso da informação fonológica durante o processamento da linguagem oral ou escrita (WAGNER e TORGESAN, 1987).

Fazem parte do PF a memória de trabalho (MT), o acesso ao léxico mental (nomeação rápida) e a consciência fonológica. Segundo Torgesan et al. (1994) e Capovilla, Gütschow e Capovilla (2004) essas habilidades referem ao modo de como as informações serão processadas, armazenadas e utilizadas.

Resumidamente, consciência fonológica refere-se às habilidades que vão desde a simples percepção global do tamanho das palavras e/ou de semelhanças fonológicas entre elas, até a efetiva segmentação e manipulação de sílabas e fonemas (MALUF e BARRERA, 1997). Já o acesso ao léxico mental (nomeação rápida) é a velocidade com que um indivíduo pode nomear objetos, letras ou cores (KERINS et al., 2006) e a MT é a habilidade de manter na memória, por um curto

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período de tempo, o material que está sendo processado naquele momento (BADDELEY, 1986), esta última habilidade é a que será mais bem descrita no decorrer deste trabalho considerando a temática do mesmo.

Nicolielo et al. (2008) descreveram o desempenho de crianças com DEL em provas de leitura, escrita, aritmética, consciência fonológica e memória de trabalho fonológica (MTF), verificando se há associação positiva entre as provas que avaliam a aprendizagem escolar e as que avaliam o PF. Os resultados permitiram concluir que o desempenho escolar, assim como as habilidades de PF mostraram-se defasados na maioria das crianças avaliadas, havendo associação positiva entre aprendizagem escolar e PF em crianças com DEL.

Gahyva e Hage (2010) verificaram que indivíduos com DEL em idade pré- escolar sem intervenção fonoaudiológica apresentaram desempenho inferior em relação ao seu grupo controle (GC) em provas de consciência fonológica, acesso lexical, discriminação auditiva e memória de curto-prazo auditiva, cujos valores de média encontrados foram: prova de discriminação auditiva (DEL 23,0 e GC 33,0); consciência fonológica (DEL 17,2 e GC 40,5); acesso lexical (DEL 61,6 e GC 100,5) e memória de curto-prazo (DEL 34,7 e GC 69,8).

Dentre as habilidades do processamento fonológico, a MT é aquela que vem sendo relacionada fortemente com as dificuldades linguísticas de crianças com DEL. Assim, segue tópico mostrando diversos estudos que apontam esta relação.