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Hiperlink: como todo signo, em eterno deslocamento

Repousa em um mero clique sobre palavras sublinhadas todo um mecanismo de atualização da cultura atual. Forjado no meio digital e nas origens da criação da rede mundial de computadores, o hiperlink passa por uma realização mais plena, com seu estabelecimento em outros papéis nas relações contemporâneas. Mais que uma “ferramenta invisível” de acesso e articulação no uso da Internet, esse fragmento da linguagem digital demonstra-se como uma ocorrência cultural que atravessa seu lugar de origem e se estabelece como parte de uma lógica, um pensamento, na vaga de sentidos que articula as linguagens e, portanto, a Comunicação.

Ao mesmo passo que surge e se coloca como um ícone que demonstra o engendramento e a processualidade da rede de computadores, o link adquire uma outra dimensão no plano da cultura, causando embates e transformações em linguagens diversas, especialmente, aquelas já estabelecidas e demonstradas. Por esse viés, é necessário entender aqui a Internet mais do que como um sistema de códigos articulados por um dado, um ícone. Link, portanto, não realiza apenas o gesto de juntar, de conectar páginas da web. Não estamos aqui entendendo as capacidades de links apenas em sua “materialidade”, em seu propósito convencional, mas como um todo, na amplitude de seu mecanismo lógico, e, portanto, em sua noção diagramática: como um comportamento geral do raciocínio nas atividades contemporâneas engloba a dinâmica dos links?

Se pudermos enxergar o hiperlink para além de seu lugar de origem, de seu aparato físico e duro, conseguimos, assim, compreender o recobrimento de sentidos que envolve esse código cultural também em outros planos, ou seja, estamos, dessa forma, pensando um hiperlink semioticamente. Assim, essa investigação proposta nasce de uma visão semiótica sobre os links, sem a qual, o problema aqui colocado não teria propósito algum. Aquilo que estamos discutindo e colocando como objeto de pesquisa não é da ordem do suporte – o link a que iremos nos ater não está apenas nas páginas da Internet (não está sequer no computador, somente). Esse link está no signo (é signo!), está na dinâmica de linguagens pertencente ao repositório de vocabulário codificado semanticamente, está na própria cultura. Daí pensarmos e termos como objeto de pesquisa as linguagens “para além dos links”, ou seja, na superação de sua especificidade, em uma outra margem de sua interpretação.

Como esses códigos em torno da noção de link cumpre uma condição gráfica de gestor de uma outra linguagem, de organização sistêmica dos sistemas? Está aí nossa equação, nosso problema de base. Se a noção de hiperlink se desenvolve como código e se superpõe em várias linguagens, poderíamos falar da acepção de link na televisão, na propaganda, nas artes e em outros sistemas. Mas pela emergência de adaptação a um novo cenário informativo, o jornal impresso parece ser o meio de maior penetração desse caráter dinâmico de link. Tal abdução nos conduziu a verificar se no corpus composto por jornais brasileiros esse juízo percepto se mostra evidente ou não.

Reside aí, nesse embate e nessa busca, um sinal do caráter transformador da Internet sobre os meios. É preciso, no entanto, sublinhar que a investigação científica (aberta para hipóteses e resultados) nos afasta da noção muito difundida, mas pouco fundamentada, da tomada da Internet como um meio “revolucionário”, o que tanto tem gerado ufanismos ideológicos e determinismos tecnológicos. Não estamos aqui nos ancorando na vulgarização deslumbrada sobre o meio digital, que lhe conferiu uma posição privilegiada de um status quo. Se existe de fato uma atualização dos sistemas de linguagens e de signos a partir da Internet, é preciso, antes que se declare, constatar tal alteração – ou seja, cabe duvidar: como aquilo que já conhecemos tem se tornado algo novo? Se existe de fato um atual arranjo de sentidos para as linguagens que conhecemos, é necessário que se constate e se demonstre tal processo. Assim, o que se propõe aqui como comprovação dessa “realidade” é um entendimento de transformações das linguagens no jornal impresso, portanto, uma modelização, nos temos da teoria semiótica formulada pelo grupo de Tartu-Moscou.

Ao aceitar a transposição de seu lugar de origem, queremos propor que o link faça parte um pensamento diagramático, surgido como uma ferramenta lógica de reprodução de comunicação. Assim, enfrentamos aqui o juízo de se falar sobre uma maneira de raciocinar, sobre um diagrama de pensamento, que perpassa por uma “mente” de cultura, sendo esse nosso maior desafio teórico, nossa hipótese mais arriscada.

Se o conceito de mente, tal como postulado pelos estudos da Semiótica da cultura, nos leva à condição e exigência de se gerar textos ou construir sentido, poderíamos afirmar que de fato existe uma influência do hiperlink em um plano geral de raciocínio que cria informação nova? Assim, é a partir dos preceitos de mente cultural que se extrai um questionamento vital para se entender o link como parte de um pensamento sistêmico: há uma disseminação e geração de sentido designada como informação nova no contexto do jornalismo impresso? Estaria o jornal, por meio de sua expressão contemporânea, transformado em seu sistema e em suas linguagens?

O primeiro passo em direção a essa resposta pode estar na observação da própria trajetória dos diários: cabe lembrar que o sistema do periódico impresso já deu mostras de ser flexível às mudanças dos códigos e linguagens que surgem na cultura. Ou seja, o jornal diário não é impassível às transformações culturais. Essa constatação evidencia que esse meio está sempre em confronto, no embate de sentidos. Tanto é assim, que podemos admitir que a mudança editorial de um jornal faz parte de sua própria natureza, é recurso para sua sobrevida. É nesse aspecto que podemos, portanto, falar do surgimento de uma nova lógica, e aceitar que a formação de um diagrama de pensamento em conjuntura com a noção de hiperlink possa estar agindo sobre o meio impresso.

4.4. Pela organização de sistemas, relações entre os princípios de mente da cultura