• Nenhum resultado encontrado

Hipertensão Arterial: condição crônica sensível de alta carga social

1. INTRODUÇÃO

1.4 Hipertensão Arterial: condição crônica sensível de alta carga social

O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, vem enfrentando mudanças importantes relacionadas às condições demográficas, epidemiológicas e nutricionais, com maior ascensão a partir da década de 1960. Um dos resultados é o aumento substancial da prevalência das DCNT em detrimento das doenças transmissíveis e de caráter agudo, como mencionado na parte inicial deste estudo. No entanto, cabe destacar que em todo processo de transição é observado uma mescla entre os fatores substituídos (em menores proporções) e substituintes, ou seja, é observada a ocorrência de agravos crônicos, mas também de condições agudas, transmissíveis e contagiosas.

Na década de 2010, estavam associadas às principais causas de morte as doenças cardiovasculares, câncer, doenças pulmonares crônicas, doenças endócrinas e distúrbios metabólicos como o diabetes mellitus e algumas causas externas (GOULART, 2011; BRASIL, 2011a). Entretanto, observa-se que desde 1990 as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares vêm sofrendo declínio, descrito como sendo de 10% ou mais, relacionado provavelmente como resultado de ações de controle do tabagismo e do maior acesso à serviços de APS (MACINKO et al., 2010; SCHIMIDT et al., 2011).

Destaca-se, das doenças cardiovasculares, a alta prevalência de HAS tanto no Brasil quanto no mundo, sendo sua carga social extremamente elevada, constituindo uma das principais causas de morbimortalidade da atualidade, oferecem significativa perda da qualidade de vida, devido ao agravamento das condições de saúde do indivíduo e da letalidade precoce (BRASIL, 2011a; SBC; SBH; SBN, 2010).

A HAS foi responsável por quase oito milhões de mortes em todo o mundo (13,5% de todas as mortes), das quais 6,22 milhões ocorrem em países de baixa e média renda e 1,39 milhões em países de renda alta, na última década (GOULART, 2011). Estes dados ilustram o ciclo sugerido no Relatório Mundial de 2003 da OMS, o qual descreve que pessoas com baixo poder aquisitivo, que apresentam recursos financeiros limitados para comida, saneamento e tratamento de saúde, acabam por ter condições precárias de saúde, resultando em uma capacidade reduzida para trabalhar, contribuindo para a baixa produtividade de um determinado local ou região (WHO, 2003a).

Quase três quartos das pessoas com HAS vivem em países em desenvolvimento, em locais com recursos de saúde limitados, onde há pouca conscientização sobre HAS e necessidade de controle dos níveis pressóricos (IBRAHIM; DAMASCENO, 2012).

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde por meio de levantamento de dados do sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), a proporção de brasileiros diagnosticados com HAS aumentou nos últimos cinco anos, passando de 21,6%, em 2006, para 23,3%, em 2010 (BRASIL, 2011c).

Evidências científicas apontam uma prevalência maior de HAS entre homens do que em mulheres, não só no Brasil, mas também no mundo. Sendo estes dados associados com o nível de conhecimento e de autocuidado, que é maior entre as mulheres (IBRAHIM; DAMASCENO, 2012; SBC; SBH; SBN, 2010).

Estudos demonstram que a detecção, o tratamento e o controle da HAS são fundamentais para a redução dos eventos cardiovasculares. Destaca-se, ainda, que regiões com ampla e efetiva cobertura de APS mostram que os esforços concentrados dos profissionais de saúde, das sociedades científicas e das agências governamentais são fundamentais para atingir metas aceitáveis de tratamento e controle da HAS (IBRAHIM; DAMASCENO, 2012; SBC; SBH; SBN, 2010; GOULART, 2011). Ou seja, serviços de saúde que trabalham com a lógica da integralidade do cuidado, que possibilitam acesso, oferecem um cuidado próximo à população, com o acompanhamento e seguimento permanente, com atividades de educativas e de conscientização sobre ações preventivas e de controle da pressão sanguínea alcançam prevalências esperadas de HAS.

Segundo revisão realizada por Mendes (2012, p. 235), nos EUA, 62% a 65% dos portadores de HAS, de colesterol elevado e de diabetes mellitus não mantêm essas condições de saúde sob controle. Em boa parte, esses resultados desfavoráveis se devem a um modelo de atenção à saúde concentrado principalmente na figura de um único profissional de saúde, propiciada pelo modelo tradicional de atenção, caracterizado muitas vezes por consultas rápidas e pontuais. O que reafirma que determinadas condições crônicas só alcançam resultados favoráveis com a prática de uma atenção a saúde integral e integrada e com ação de uma equipe multiprofissional.

Sabe-se que a HAS, por ser um fator de risco e uma condição clínica multifatorial está relacionada com o estilo de vida e ambiente da população, hábitos alimentares, idade, sedentarismo, consumo abusivo de álcool e tabagismo, entretanto há fatores genéticos que podem também influenciar em níveis pressóricos mais elevados. Ibrahim e Damasceno (2012) afirmam que a HAS está mais relacionada a fatores ambientais e ao estilo de vida do que às diferenças raciais definidas geneticamente.

As doenças cardiovasculares são responsáveis pela alta frequência de internações, ocasionando custos médicos e socioeconômicos elevados. Em 2007, foram registradas

1.157.509 internações por doenças cardiovasculares no SUS. Neste mesmo ano, a HAS foi responsável por 12,8% das causas de mortalidade por doenças cardiovasculares. A doença renal terminal, outra condição frequente acarretada pela HAS, ocasionou a inclusão de 94.282 indivíduos em programa de diálise no SUS, registrando-se 9.486 óbitos em 2007 (SBC; SBH; SBN, 2010).

Devido às prevalências alarmantes em nível mundial, gastos e prejuízos econômicos altos e aos fatores incapacitantes ocasionados pela HAS, ela hoje é caracterizada como um dos principais desafios para a saúde pública mundial, juntamente com outras condições crônicas que afetam diretamente a qualidade de vida da população, principalmente nos países em desenvolvimento econômico.

1.5. Hipertensão Arterial e Condições Sensíveis à Atenção Primária: uma possibilidade