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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.6 Hipoclorito de sódio

A solução de hipoclorito de sódio apresenta um equilíbrio dinâmico, onde pode apresentar-se como um sal não-dissociado, dando origem a outras substâncias ou apresentar-se totalmente dissociado. Ao entrar em contato com material orgânico, o hidróxido de sódio (NaOH) presente na solução de hipoclorito de sódio (NaOCl) reage com ácidos graxos, transformando-os em sabão e glicerol. A presença de sabão reduz a tensão superficial do restante da solução (Spanó et al., 2001). Simultaneamente, NaOH neutraliza aminoácidos, resultando em sal e água. O ácido hipocloroso (HClO) quando entra em contato com a matéria orgânica, age como

solvente liberando cloro, que se combina com o grupamento amina das proteínas formando o composto cloroamina. Esse composto interfere no metabolismo celular bacteriano, pois o cloro é um potente agente oxidante, uma vez que inibe a ação de enzimas bacterianas, através da oxidação de grupos sulfidrilas das enzimas essenciais para as bactérias (Estrela et al., 2002).

As atividades antimicrobiana e solvente do hipoclorito de sódio dependem da concentração da solução química. Soluções de hipoclorito de sódio mais concentradas apresentam maior atividade antimicrobiana. Da mesma forma, quanto maior a concentração da solução, mais rápida é a dissolução tecidual (Gomes et al., 2001). Porém, o aumento da concentração do hipoclorito leva também a um aumento de sua citotoxicidade, redução no módulo de elasticidade da dentina e resistência flexural da dentina devido a sua ação proteolítica (Sim et al., 2001; Marending et al., 2007). O hipoclorito de sódio na concentração 5,25% apresentou um efeito tóxico ao tecido conjuntivo e por isso não pode ser considerado como um irrigante ideal, principalmente quando se compara com outros agentes químicos com propriedades favoráveis, como a biocompatibilidade (Gomes-Filho et al., 2008). Além disso, mostrou interferir no substrato dentinário (colágeno da matriz orgânica da dentina), prejudicando a adesão e formação da camada híbrida (Moreira et al., 2009), já que a integridade da estrutura dentinária é importante durante a fase de hibridização dos sistemas adesivos.

A ação antimicrobiana do hipoclorito no biofilme endodôntico é influenciada pela concentração da substância, tempo de contato e micro-organismos envolvidos na infecção (Clegg et al., 2006).

A extrusão do hipoclorito de sódio para além do forame apical pode causar irritação grave ao tecido do periodonto apical, com posterior necrose tecidual, devido sua ação deletéria sobre o tecido conjuntivo. As sequelas imediatas deste tipo de acidente incluem dor severa, edema, hemorragia tanto intertecidual como através da abertura coronária, podendo evoluir com vários dias de edema crescente a equimose, acompanhado por tecido necrótico e, em alguns casos, infecção secundária. A maioria dos casos mostra resolução total em 15 dias, enquanto outros são marcados por longo prazo para a cura, com parestesias e cicatrizes (Ehrich et al., 1993).

2.7 Clorexidina

Das substâncias alternativas ao hipoclorito de sódio, a clorexidina (CHX) é a que apresenta melhores propriedades físicas e químicas e que preenche o maior número de requisitos para sua utilização como substância química auxiliar. É considerada um composto halogenado, uma vez que em sua constituição molecular contém o elemento cloro que pertence, na tabela periódica, à família dos halogênios. Em Odontologia é utilizada nas concentrações que variam de 0,12 a 2%, podendo ser em solução ou gel. A CHX é uma substância incolor e inodora com maior estabilidade de pH 5,0 a pH 8,0 e maior poder antimicrobiano entre pH 5,5 e pH 7,0. É um detergente catiônico sintético da classe das bisbiguanidas, sendo uma base forte e estável quando na forma de sal. Tem ação antimicrobiana, tanto em bactérias Gram- positivas quanto Gram-negativas, sendo mais eficaz contra Gram-positivas, tendo efeito comprovado sobre E. faecalis (Freire e Soares, 2012).

A CHX é uma molécula hidrofóbica e lipofílica, que interage com lipopolissacárideos e fosfolípidios da membrana celular bacteriana. Os efeitos benéficos de CHX são devidos à interação da sua carga positiva com o fosfato carregado negativamente de paredes celulares das bactérias e sua capacidade para alterar o equilíbrio osmótico de células bacterianas. Isto pode aumentar a permeabilidade da parede celular e permitir a CHX penetrar na célula. Em altas concentrações (≥ 2%), CHX é um bactericida, uma vez que provoca a precipitação do conteúdo citoplasmático; numa concentração mais baixa (0,2%) promove a saída de fósforo e potássio para fora da célula (Mohammadi et al., 2014).

A característica ímpar da clorexidina é sua substantividade. Lenet et al. (2000) evidenciaram em seu trabalho que quando a clorexidina foi aplicada por um período de 7 dias como medicação intracanal apresentou um efeito residual por 21 dias. Leonardo et al. (1999) relataram a capacidade desta substância aderir à superfície dentinária e ainda ser encontrado seu efeito após 48 horas. Já Khademi et al. (2006) observaram que a aplicação da clorexidina 2% por 5 minutos induz um efeito residual por até 4 semanas. O efeito antimicrobiano a longo prazo da clorexidina também foi comprovado por Dametto et al. (2005) comparando o hipoclorito a 5,25% e clorexidina gel e solução ambas a 2% e, como controle, soro fisiológico e natrosol. Resultados mostraram que os grupos controle e hipoclorito apresentaram crescimento

bacteriano após 7 dias, o que não ocorreu com os grupos da clorexidina, tanto gel quanto solução.

Em estudo realizado por Bashetty e Hedge (2010) em que empregaram o hipoclorito a 5,25% e clorexidina gel a 2% para avaliar o grau de dor pós-operatória, foi verificado que o grupo hipoclorito houve maior índice de dor nas primeiras seis horas de pós-operatório, porém após 24 horas não houve diferença estatística.

A clorexidina em gel, tendo como espessante o polímero hidroxietilcelulose (natrosol) quanto submetida à tensão de cisalhamento provocada pelos instrumentos rotatórios ou reciprocantes e deixada por determinado período no interior dos canais, sofre o fenômeno de tixotropia. De um estado menos fluido (gel) passa para um estado de menor viscosidade (sol), portanto de maior fluidez, incorporando resíduos em sua massa. Sequencialmente, volta a se reestruturar como em seu estado original quando removida a tensão. Caracterizada a tixotropia, verifica-se a presença de resíduos incorporados na massa geleificada, impedindo que estes se acumulem no interior do canal ou nas paredes dentinárias. Este fenômeno foi observado em MEV por Ferraz et al. (2001), onde houve menor formação de smear layer nas paredes dentinárias quando instrumentadas com gel de clorexidina. Além disso, preserva a estrutura dentinária, o colágeno e a hidroxiapatita, já que é um agente antioxidante e melhora a força de adesão dos materiais restauradores (Moreira et al., 2009).