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A HISTÓRIA DE VIDA COMO CONDUTORA DO PROCESSO DE

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3 A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: UM CAMINHO DE VIDA QUE SE

3.1 A HISTÓRIA DE VIDA COMO CONDUTORA DO PROCESSO DE

A metodologia científica é um caminho, um corpo de procedimentos para realizar uma pesquisa. Ela compreende um conjunto de conhecimentos e de operações para a formulação de hipóteses e possíveis respostas de acordo com os objetivos elencados.

Diferente de método, a metodologia, preocupa-se com “o caminho escolhido para se chegar ao fim proposto pela pesquisa e, portanto, não deve ser confundida com o conteúdo (teoria) nem com procedimentos (métodos e técnicas)” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 13).

Pesquisar, portanto, é buscar respostas. No entanto, é importante que, ao se formular uma pesquisa, levarmos em consideração nossos limites e possibilidades. Ratificando esta ideia, encontramos a fala de GIL (2002, p. 17), definindo a pesquisa como “Procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar possíveis respostas aos

problemas que são propostos. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados”.

Como metodologia de trabalho, utilizamos a pesquisa qualitativa. Essa surgiu no final do século XIX e são práticas interpretativas que representam e significam as ações dos próprios indivíduos. Tal afirmativa está apoiada na fala dos autores DENZIN E LINCOLN (2006, p. 17), ao afirmarem:

A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de matérias empíricas – estudo de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e produção culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais. [...]. Entende-se, contudo, que cada prática garante uma visibilidade diferente ao mundo. Logo, geralmente existe um compromisso no sentido do emprego de mais de uma prática interpretativa em qualquer estudo.

Partindo desse princípio, para realizar uma pesquisa, devemos fazer nossas ideias dialogarem com a teoria, interligando-a com o tema, problemas, hipóteses, conceitos e metodologia, pois esses são aspectos essenciais para a sua concretização.

Devemos também levar em consideração que um trabalho de pesquisa também terá características e estilos do pesquisador. É, por isso, um ato autobiográfico e político.

Dentro desta perspectiva, utilizamos como metodologia de pesquisa a história de vida. Ela é um método qualitativo que permite compreender os fenômenos sociais através de relatos de experiências.

No Brasil, foi implementada de forma mais institucionalizada, na década de 1970, com a criação do Programa de História Oral do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas/RJ. É utilizada, atualmente, pelos cientistas sociais de forma qualitativa considerando-se que a oralidade procede a escrita na construção da humanidade.

Segundo GODSON E GILL (2015), essa metodologia tem como base os conceitos de narrativa/relato. Por isso mesmo, é a junção das experiências de vida dos indivíduos/grupos ao longo do tempo são contextualizados social, político e economicamente dentro de um momento histórico.

Além disso, por estar ligado aos enfoques narrativos, apresenta características deste gênero como a temporalidade, significado e encontros sociais, significando a experiência humana. “O objetivo da história de vida é compreender a interação entre mudança social, vidas e ação dos indivíduos e grupos (GODSON; GILL, 2015, p. 215).

Para MEIHY (2002), há três tipos de História Oral: A história temática que parte de um assunto preestabelecido em busca de um esclarecimento. Nesta linha, o entrevistador

tem um papel mais ativo. O segundo tipo é a Tradição Oral que procura pesquisar questões do passado ligadas às histórias que são transmitidas socialmente de geração para geração e por isso, as entrevistas devem ser feitas com pessoas tradicionais e antigas da comunidade. Por fim, a história de vida. Nesta perspectiva, são priorizados os relatos de experiência, onde o narrador é a figura mais importante e desta forma, as entrevistas devem ser amplas e com uma sequência cronológica em torno da vida do entrevistado.

GODSON E GILL (2015), complementa nos apontando que há uma diferença entre narrativas e histórias de vida. A primeira, mostrando o papel do pesquisador é apenas dar voz ao entrevistado, sem interferir nessa participação. Já a segunda, mostrando a centralidade estão nas histórias pessoais e o pesquisador interage nessas histórias fazendo interpretações e análises desses participantes. Mas, mesmo assim, ambas estão relacionadas à vida humana.

A partir daí podemos entender que a história de vida é uma proposta de pensar como as experiências e percepções têm influências sobre cada indivíduo. É ainda uma narrativa que permite a pessoa falar e refletir sobre essas vivências e por estar ligada aos seres sociais, possui padrões variáveis e sofre influências sociais, culturais, históricas e políticas.

NÓVOA (1992) aponta ainda que essa abordagem surge como forma de responder a uma insatisfação e buscar novas formas de pesquisa das ciências sociais. Assim, a pesquisa pautada nesta metodologia está relacionada a um contexto histórico, social, político e educativo. Sendo preciso cuidado nas análises dos discursos e também nas análises dos silenciamentos.

Portanto, neste tipo de abordagem, o ponto de partida do projeto são os indivíduos entrevistados, valorizando-se o significado simbólico de suas experiências, fazendo com que a tradição oral se fortaleça com a escrita. Segundo THOMPSON (1998, p. 44), “Ela lança a vida para dentro da própria história [...] traz a história para dentro da comunidade e extraí a história dentro da comunidade”.

A história de vida pode assumir diferentes enfoques. Pode ser usada como método ao utilizar-se de entrevistas ou como técnica para complementar falhas de documentação.

Nesta perspectiva, podemos dizer que essa metodologia pode auxiliar o reconhecimento que a história pessoal do indivíduo está ligada a uma história coletiva e, por isso, influência na constituição como um todo deste mesmo indivíduo enquanto ser humano (profissional e pessoal). Ou seja, tanto a história de vida quanto a narrativa podem possibilitar ao pesquisador entender a profundidade e a complexidade do comportamento humano. Desse modo, “A vida é cheia de significado, mas o significado é implícito e só fica

explícito em nossas narrativas ou histórias” (GODSON; GILL, 2015, p. 216).

Por estarem relacionadas (vida-narrativa), a segunda remete à questão da identidade e, assim, não está ligada ao eu, mas também, à questão cultural, histórica, social e pessoal.

Nesse viés, as narrativas tornam-se mediadoras entre diversas dialéticas, podendo ser ainda vista como narrativas vividas e como contadas. O indivíduo é visto como intérprete e como interpretado. Desta forma, “[...] com a identidade narrativa o indivíduo pode viver a vida num contínuo” (GODSON; GILL, 2015, p. 217).

Por ser subjetiva, essa metodologia foi objeto de várias críticas enquanto utilizada como método, pois a confiabilidade se apoia na memória do sujeito pesquisado e por isso, não se pauta na objetividade. Essa fala pode ser confirmada em NÓVOA (1992, p. 19), ao dizer que:

[...] Não admira que as histórias de vida tenham sido objeto de críticas cerradas [...]. No primeiro caso, centradas na frágil consistência metodológica, na ausência de validade científica ou nas dimensões analíticas implícitas nas abordagens (auto) biográficas; no segundo caso no esvaziamento das lógicas sociais[...].

No entanto, THOMPSON (1998), afirma que não há fontes seguras, todas elas podem estar corrompidas, pois a memória depende da percepção do indivíduo que, por sua vez, estão sujeitas às influências sociais. Aponta ainda que tratar fontes escritas como mais importantes do que as orais é uma ação errônea.

NÓVOA (1992) complementa essa reflexão ao afirmar que apesar de todas as fragilidades, é através da história de vida que se tem tido uma reflexão sobre as práticas e sobre as metodologias que os (as) professores (as) realizam. Podemos entender que tanto as fontes orais como escritas, possuem características autônomas e funções específicas, fazendo com que diferentes frentes de trabalho dialoguem entre si.

É notório entre os autores que estudam esta metodologia de pesquisa que a história oral produz narrativas históricas e que estas acabam revelando identidades, pois o entrevistado expõe o que vê de si e do mundo em que vive.

A entrevista, nesse sentido, é o ponto principal da história oral e por isso, sua elaboração e planejamentos devem ser feitas de forma criteriosa. É importante, que o entrevistador entenda e estabeleça confiança e compromisso com os sujeitos pesquisados, compreendendo que cada indivíduo é diferente e pode ter diferentes relações frente a essa ação.

das narrativas e do momento histórico em que são construídas. Torna-se uma ação colaborativa e de interação entre o entrevistador e o entrevistado e por isso, não é neutra. Traz consigo concepções de linguagens e de discursos.

Dentro desta ideia, ao iniciar a entrevista, é necessário deixar claro seus objetivos, para que não se tenha dúvida de finalidade do relato. O local da ação também deve ser pensado com atenção e cuidado.

GODSON e GILL (2015), no entanto, nos alerta que nas análises dessas narrativas há interferência de diferentes contextos, porque as histórias contadas também sofrem essa interferência. Portanto, a construção da subjetividade; os discursos dominantes e a própria reflexão são fatores importantes para contribuir de forma crítica para a mudança social e pessoal. Apontam ainda, que o principal desafio para a aplicação dessa metodologia é o domínio metodológico e epistemológico. É preciso que haja uma ligação estreita entre o entrevistador e o entrevistado. Ou seja, “Respeitamos os participantes como pessoas, não só como meios para a pesquisa obter esclarecimentos, de modo que muitas vezes nós mesmos ficamos expostos, apresentando nossos relatos de vida aos participantes” (GODSON; GILL 2015, p. 219).

Portanto, trabalhar com essa metodologia é entender a importância do relato de uma pessoa sobre sua trajetória através do tempo. É um trabalho entre o sujeito da pesquisa e o pesquisador.

É ainda uma narrativa, uma memória que por si só carrega significados e características que nos levam a uma reflexão sobre a prática docente.

Dentro destas perspectivas, esta pesquisa foi desenvolvida com três Coordenadoras Pedagógicas de Escolas Municipais de Juiz de Fora que atende/ atendeu alunos (as) do projeto de correção de fluxo Tempos de Aprender, com os seguintes perfis de trabalho: Uma coordenadora pedagógica efetivas e/ou contratada que trabalhou com o projeto desde a sua criação (Maria); uma coordenadora pedagógica efetiva e/ou contratada que trabalhou no projeto durante três anos (Manuela) e uma coordenadora pedagógica que trabalhou no ano do início da pesquisa de campo em 2019 (Marina). Vale mencionar que os três nomes adotados no estudo são fictícios.

O critério de escolhas dessas coordenadoras passa pela ideia de entender como se deu a implementação do projeto, visão das coordenadoras ao longo do tempo de trabalho e de buscar diferentes visões entre coordenadoras efetivas e contratadas.

Foram construídos quatro roteiros, cronologicamente relacionadas para subsidiar as entrevistas de história de vida realizadas com cada uma das coordenadoras. Isso significa

que foram realizados quatro encontros com cada colaboradora da pesquisa, perfazendo o total de 12 entrevistas. Essas foram feitas em horários e locais combinados de acordo com a disponibilidade das coordenadoras entre os meses de agosto a novembro de 2019, na clara intenção de produzir uma relação de confiança e cumplicidade de forma a favorecer o diálogo. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas para a análise.

Todas as conversas foram realizadas de forma fornecer elementos acerca do que as coordenadoras consideram importantes sobre suas vidas a partir de destaques definidos pela pesquisadora, a saber: Na primeira abordagem, as perguntas perpassaram pela família e pela escola; na segunda abordagem consideramos a formação superior e as trajetórias profissionais; na terceira abordagem o foco foi o trabalho no projeto Tempos de Aprender e na quarta e última abordagem elencamos pensamentos em torno das políticas curriculares e o currículo no referido projeto.

Portanto, as histórias de vida não falam sozinhas, sua análise exige o enquadramento do contexto em que é produzido, isto é, os sujeitos envolvidos no diálogo, o tempo da vida que o mesmo se produz e a intenção que move a narrativa. Também exige no seu exercício interpretativo extrair do particular vivido as formas como os indivíduos se inserem e agem no grupo a qual se identificam e no mundo. Através desse movimento buscamos compreender a estruturação dos processos de construção curricular do Tempos de Aprender e mais ainda, dar voz ao papel e ao trabalho da Coordenação que em muitas ocasiões são deixadas em segunda instância no cotidiano escolar.

3.2 UM POUCO DAS HISTÓRIAS DE VIDA DAS COORDENADORAS

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