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3. Estado de Arte

3.1 História

A alvenaria era um dos principais materiais de construção utilizados pelo Homem até o século XX. As construções eram erguidas segundo regras empíricas, baseadas nos conhecimentos e experiências adquiridos ao longo dos séculos.

No início do século XX uma nova arte de construção desenvolve-se com o advento do aço e o betão armado. Os novos materiais facilitaram a construção com novas dimensões, com novas soluções construtivas e o suporte científico desenvolveu-se rapidamente. A alvenaria passou a ser usada raramente e quase exclusivamente como elemento não estrutural.

Na Europa vários países nunca abandonaram a construção em pequenas dimensões em alvenaria estrutural. Depois de 2ª Guerra Mundial, com a necessidade de reconstrução, a alvenaria foi re-descoberta. Assim cresceu também a necessidade de elaboração das normas modernas para assegurar a competitividade com as demais técnicas existentes e a segurança na construção em alvenaria estrutural.

As construções persas e assírias há mais de 10.000 AC eram feitas com tijolos secos ao sol. No Irão, em geral no Médio Oriente, a alvenaria, seja em blocos cerâmicos ou pedra, é a solução mais encontrada na construção civil. Dois exemplos representativos mostram-se nas imagens seguintes:

FIGURA 2: Mesquita Vakil, Xiraz, Irão, 1773 A.D.

FIGURA 3: Habitação típica tradicional no Irão

No Egipto, em 4.000 AC empregavam-se tijolos queimados em fornos, em 2000 AC construiu-se em alvenaria estrutural a Entrada da Torre da Babilónia em Uruk, o Farol de Alexandria, uma torre com uma altura até 150 m, foi construída em 280 AC e o Coliseu de Roma construído entre 70 e 90 DC.

Na Idade Média, a partir de século XII, a Lombardia, a França e a Alemanha tornam- se centros de produção de tijolo. Durante as épocas do Românico, Gótico e Renascimento, o tijolo propaga-se cada vez mais. Magníficos castelos e grandes catedrais dos séculos XII a XVII foram construídas especialmente nos países europeus do norte como a Alemanha, a Bélgica, a Holanda, a Inglaterra e a Escandinávia.

No final do século XVIII, após o Grande Terramoto de Lisboa, houve um grande avanço na alvenaria estrutural armada, com a inovação da gaiola de madeira, na reconstrução da Baixa de Lisboa, criada pelos engenheiros militares e arquitectos Manuel de Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel1.

FIGURA 4: Gaiola Pombalina2

Este processo incluía a partir do piso térreo dois tipos de paredes:

a) as paredes mistas, constituídas por paredes de alvenaria de pedra e com uma estrutura de madeira inserida no seu interior;

b) as paredes de frontal pombalino, formadas por uma treliça de madeira preenchida com elementos cerâmicos.

1Ramos, Luís F., Análise experimental e numérica de estruturas históricas de alvenaria, Universiadede de Minho, 2002

2Ramos, LuísF., Análise experimental e numérica de estruturas históricas de alvenaria, Universiadede de Minho, 2002

A combinação da estrutura de madeira nas paredes exteriores e interiores e nos pavimentos e coberturas ligado entre si com barras de travamento e cruzes para assentamento dos blocos, permitia resistir melhor às acções sísmicas. Trata-se da conhecida gaiola pombalina. Este conjunto de diferentes tipos de parede com a geometria regular em planta e a altura constante para todos os edifícios dos quarteirões, proporcionavam ao edificado um sistema anti-sísmico inovador e eficaz, único no mundo.

Importa referir os seguintes marcos importantes no desenvolvimento da alvenaria estrutural. No século XIX os Ingleses foram os primeiros a apresentar a produção mecânica de tijolo. A linha de produção foi desenvolvida pelos alemães de modo revolucionário. A primeira máquina foi apresentada pelo fabricante Schlickeysen em 1854 e, em 1858, o forno circular com patente do Eng.º Friedrich Hoffmann. Em 1880 realizam-se as primeiras pesquisas experimentais sistemáticas em alvenaria de tijolos nos Estados Unidos de América.

Em 1813, o Marc Isambard Brunel, engenheiro-chefe da cidade de Nova York, fez a primeira proposta de armar a alvenaria estrutural com aço. A primeira aplicação significativa foi na construção do Túnel do Tamisa na Inglaterra.

FIGURA 5: Parte da parede do Túnel do Tamisa no Museu de Brunel

Em 1891 finaliza-se a construção do edifício Monadnock em Chicago, com 17 pisos e 60 m de altura (paredes em tijolo maciço, no r/chão com 1.82 m de espessura).

FIGURA 6: Edifício Monadnock em Chicago

Em 1899 realiza-se a construção do edifício da Câmara Municipal de Filadélfia, Estados Unidos de América, com 167  m de altura (edifício mais alto de alvenaria com granito e mármore).

A partir de início de século XX utiliza-se gradualmente mais o aço e o betão armado, que oferecem vantagens técnicas e facilitam a industrialização. Consequentemente abandona-se a alvenaria estrutural como principal técnica construtiva.

FIGURA 7: Câmara Municipal de Filadélfia

Em 1920 Sir Alexander Brebner inicia ensaios com a alvenaria estrutural armada na Índia.

Em 1948 foi publicada a primeira norma para o cálculo de alvenaria de tijolos na Inglaterra - Code of Practice CP 111 “ S t r u c t u r a l R e c o m m e n d a t i o n s f o r Loadbearing Walls”, (British Standards Institution).

Em 1951 o primeiro edifício em alvenaria estrutural não armada é construído na Suíça, com 13 pisos e 41 m de altura.

Em 1969 foi publicado o primeiro código americano de alvenaria estrutural “Recommended Building Code Requirements for Engineered Brick Masonry”, (Brick Institute of America).

Na Europa em 1989 foi tomada a decisão de preparação e publicação dos Eurocódigos. Consequentemente em 2005 foi publicado a primeira norma europeia em relação da alvenaria estrutural, o Eurocódigo 6.

No período 1943 - 1996 o arquitecto e engenheiro Eladio Dieste, no Uruguai, realiza varias obras com tijolo maciço armado, coberturas de dupla curvatura, coberturas autoportantes, silos, estruturas plissadas, embasamentos para máquinas, pontes ferroviárias, infra-estrutura de água, torres e docas.

Algumas das suas obras mais conhecidas são:

FIGURA 8: Mercado de Porto Alegre, Brasil, 1972, cobertura de tijolo maciço armado com vãos até 43 m.

FIGURA 9: Silo horizontal de la Cooperativa Agrícola de Young Limitada (Cadil), Rio Negro, Uruguai, 1978, com 15 m de altura, tijolo maciço armado

.

FIGURA 10: Depósito Julio Herrera y Obes, Montevideo, Uruguai, 1979, cobertura de tijolo maciço armado com vão de 28 m.

FIGURA 11: “Estación de s e r v i c i o B a r b i e r i y Leggire”, Salto, Uruguai, 1 9 7 6 , c o b e r t u r a autoportante em tijolo maciço armado.

Recentemente a industria cerâmica de Alemanha e a associação cerâmica da Inglaterra premeiam obras de destaque com aplicações de alvenaria, entre os premiados encontram-se também obras em alvenaria estrutural. Um deles é o Museu de Arquitectura, uma obra do famoso arquitecto português, Álvaro Siza, em

colaboração com o arquitecto Rudolf Finsterwald acabado em 2008 e premiado pela industria alemã em 2010, (ver Figura 12).

FIGURA 12: Museu de Arquitectura em Hombroich, Alemanha Fonte: Industria Cerâmica de Alemanha

Os outros dois projectos são em Inglaterra e foram premiados em 2010. Um projecto é o London Court, um centro comercial do atelier Holder Mathias architects, e o outro é o Milton Keynes Academy do atelier BDP, Building Design Partnership, ambos de Inglaterra. (ver Figuras 13 e 14)

FIGURA 13: Milton Keynes Academy

FIGURA 14: London Court

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