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2.2 Metodologia

2.2.1 História Oral

A metodologia de história oral é utilizada para conhecer a realidade em vários aspectos através das lembranças, fatos e experiências vivenciadas ou transmitidas. Não é apenas uma metodologia para coletar informações, mas um meio de apreender o vivido que escapa aos documentos escritos e aos dados estatísticos, sendo, assim, uma maneira para a produção de novos conhecimentos. Segundo Portelli (1981), a história oral é uma ciência e arte do indivíduo, visando aprofundar o estudo de padrões culturais, estruturas sociais e processos históricos através da experiência e memória individual, levando em conta o impacto que esses tiveram sob a vida do indivíduo.

O interesse da história pela oralidade aconteceu no sentido de permitir novos conhecimentos, com base na criação de novas fontes. No entanto, cabe destacar que a história oral é mais do que uma técnica, é um método. A história oral é um espaço de contato e influência interdisciplinares, que permite interpretações qualitativas de processos sociais através da oralidade. Assim, busca centrar seu

trabalho na visão e versão das experiências dos atores sociais.

A história oral diz respeito à memória, pois se debruça sobre as versões do passado. E esse ato é individual, pois por mais que a memória seja moldada pelo meio social, o ato de lembrar é essencialmente individual. Conforme Portelli (1981, p.16-17):

A história oral tende a representar a realidade não tanto como tabuleiro em que todos os quadrados são iguais, mas como um mosaico ou colcha de retalhos, em que os pedaços são diferentes, porém, formam um todo coerente depois de unidos – a menos que as diferenças entre elas sejam tão irreconciliáveis que talvez cheguem a rasgar todo o tecido. Em última análise, essa também é uma representação muito mais realista da realidade, conforme experimentamos.

O trabalho mostra não a importância abstrata do indivíduo propagada pelo capitalismo, mas sim a igual importância do saber de todos, buscando não só a diferença, mas também a igualdade.

Segundo François (2006), a inovação da história oral está, primeiramente, em seus objetos, dando atenção aos silenciados, aos excluídos da história (mulheres, proletários, marginais, etc.), e à história do cotidiano, local e enraizada. Em segundo lugar, a inovação consiste em abordar a história dos de baixo, atenta às experiências e sentimentos individuais acerca das estruturas e determinações da sociedade. Hoje a abrangência da história oral é maior, pois há, por exemplo, vários estudos sobre a história da elite.

Por ser subjetiva, a história oral é constantemente questionada quanto ao conceito de verdade. A história oral trabalha com a interação do social e do pessoal e com a narrativa que é permeada de imaginação e subjetividade por um lado e, por outro, com fatos que podem ser comprovados, ou seja, trabalha com subjetividade, memória, discurso e diálogo. Portelli (1981) afirma que a objetividade da história oral consiste em assumir a tarefa da interpretação. E a responsabilidade pela interpretação consiste em ter consciência de que não há acesso completo e exclusivo à verdade, como em nenhuma outra fonte, mas sim versões sobre o passado.

O caráter subjetivo da história oral, que no passado era considerado uma limitação, atualmente é reconhecido como uma de suas principais virtudes. A escolha das histórias possibilita a percepção do modo de entender como o passado é construído, processado e incorporado na vida do indivíduo. Além disso, revela as

complexidades da vida cotidiana e as contradições nas relações de poder e de interação com as estruturas sociais (CRUIKSHANK, 2006).

Para Janotti (2011), enquanto a história está imersa no discurso relativista, encontrando tantos empecilhos em falar de factualidade, o uso de testemunhos como expressão de verdade e autoridade dá uma maior liberdade à história oral. Testemunhar não é apenas reproduzir o que viveu e ouviu, mas sim construir uma versão sobre o factual. Segundo a autora: “Extrapolando o limite da vida privada, o depoimento adquire seu significado coletivo, desde que tenha como referencial o mesmo contexto compartilhado pelos grupos sociais a que pertence” (JANOTTI, 2011, p.169). Assim, a história oral tem como característica principal a construção de identidades variáveis, de acordo com os objetivos do trabalho.

Joutard (2006) divide a história oral em quatro gerações, desde o surgimento e os tempos atuais, que começa nos anos 1990. O surgimento da história oral ocorreu nos anos 1950, nos Estados Unidos da América, com o objetivo modesto de coletar material para os futuros historiadores e ser instrumento para biógrafos, sendo uma prática da ciência política, que se dedicava a história dos notáveis.

A segunda geração é inaugurada no final dos anos 1960 pelos estudos de sociólogos italianos, próximos a partidos de esquerda, que utilizavam a pesquisa oral para reconstruir a história popular. Uma nova concepção é apresentada, de construção de uma “outra história” alternativa a história da academia e de fontes escritas, dando voz aos “povos sem história” e valorizando as minorias. Essa geração se pretende militante e é influenciada pelos movimentos de 1968.

A próxima geração é marcada, em sua origem, pelo encontro internacional de história que possuía uma mesa redonda sobre história oral e pelo colóquio internacional de história oral, em 1975 e 1976 respectivamente. Essa geração avança de experiências individuais para a constituição de grupos de pesquisas e estudos, sendo Itália e França pioneiras, e promoveu vários encontros que alavancaram a consolidação de uma comunidade de história oral.

A geração atual, quarta geração, se caracteriza pela influência dos Estados Unidos da América e de movimentos críticos pós-modernistas. A subjetividade é valorizada e, em alguns casos, é a finalidade desses estudos. Essa geração é marcada pela naturalidade com o mundo dos sons e oralidades, com a possibilidade de difusão rápida e de grande multiplicação da informação (JOUTARD, 2006).

vertentes: a história de vida, influenciada por sociólogos franceses e italianos, e a história oral moderna americana. A primeira orientou os trabalhos sob o uso de histórias de vida através do método biográfico. A segunda foi difundida a partir de 1975, através de curso ministrado por especialistas americanos e mexicanos na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, e orientou trabalhos voltados para a criação de arquivos.