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CAPÍTULO II HISTÓRIA ORAL COMO FERRAMENTA NA PESQUISA

2.1 História Oral

A moderna História Oral nasceu na Universidade de Columbia, em Nova York, em 1947, a partir da organização sistemática e diferenciada de um arquivo, realizada por Allan Nevins, que oficializou o termo que passou a ser indicativo de uma nova postura face às entrevistas (MEIHY, 1996). De abrangência multidisciplinar, ela tem sido sistematicamente utilizada por diversas áreas das ciências sociais, a saber: História, Sociologia, Antropologia, Lingüística, Psicologia, entre outras (DE FREITAS, 2006). O uso de fontes orais em trabalhos científicos é cada vez mais comum.

De Freitas (2006:46) diz que a história oral fornece documentação para reconstruir o passado recente. Sobre esta afirmação, concorda-se que a história oral é eficiente para coletar dados9 e produzir documentação, no entanto, reconstruir o passado seria uma tarefa puramente utópica, pois o passado não é tangível e a memória é expressão em constante evolução e diretamente influenciada por diversos fatores dinâmicos. Pollak (1992) afirma que, [...] a coleta de representações por meio da história oral, que é também história de vida, tornou-se claramente um instrumento privilegiado para abrir novos campos de pesquisa. A

9 Nesta etapa, o processo que merece elevado grau de atenção é o registro dos dados, que deve ser realizado

história oral, tal como propomos nesta pesquisa, “pode ser extremamente rica como produtora de novos temas, de novos objetos e de novas interpretações” (POLLAK, 1992).

Atualmente a história oral é uma ferramenta muito utilizada em trabalhos de arqueologia, principalmente em estudos de um passado recente, onde os agentes podem nos fornecer informações e impressões sobre fatos que vivenciaram e os seus patrimônios. Segundo François (1987) a história oral seria inovadora primeiramente por seus objetos, pois dá atenção especial aos “dominados”, aos silenciosos e aos excluídos da história (mulheres, proletários, marginais, etc.). Destaca-se, também, por dar espaço para que se conte outra versão da história pelos atores de grupos locais, marginalizados pela história oficial. A chamada história oral é “um procedimento metodológico que busca, pela construção de fontes e documentos, registrar, através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e interpretações” (DELGADO, 2006:15). A técnica, em si, consiste de entrevistas devidamente guiadas pelo pesquisador, a fim de manter o tema pesquisado.

Como procedimento metodológico, a história oral busca registrar - e, portanto, perpetuar - impressões, vivências, lembranças daqueles indivíduos que se dispõem a compartilhar sua memória com a coletividade e dessa forma permitir um conhecimento do vivido muito mais rico, dinâmico e colorido de situações que, de outra forma, não conheceríamos (MATTOS & SENA, 2011). Trata-se de um procedimento metodológico que busca, pela construção de fontes e documentos, registrar, através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História em suas múltiplas dimensões: factuais, temporais, espaciais, conflituosas, consensuais (BOLLE, 2000) 10·.

De acordo com Alberti (2005) a história oral pode ser definida como método de investigação científica, como fonte de pesquisa, ou ainda como técnica de produção e tratamento de depoimentos gravados. Nesta pesquisa, a história oral foi considerada como ferramenta metodológica que dará subsidio no alcance das memórias. A metodologia a ser aplicada se propõe ser realizada em três fases distintas fundamentadas nos preceitos sugeridos por Alberti (2006): a preparação das entrevistas, a entrevista propriamente dita e o tratamento final dado ao material coletado.

10 Em DELGADO, L. A. N.. História Oral – memória, tempo, identidades. 2 ed. – Belo Horizonte: Autêntica,

Miranda (2006) sugere a divisão da História Oral em três seguimentos metodológicos para entrevista: História Oral de Vida, História Oral Temática e Tradição Oral.

História Oral de Vida tem como meta retraçar os caminhos de vivências pessoais que se explicam em grupos afins (sejam familiares, comunidades, coletivos que tenham destinos comuns); História Oral Temática11 é um recurso que busca analisar um determinado evento ou situação a ser esclarecido segundo o estabelecimento de questionários orientados para fins específicos; e, finalmente, Tradição Oral é a prática decorrente do levantamento e estudo de mitos fundadores, questões ética ou morais e rituais do cotidiano e de grupos.

Com a História Oral temática, a entrevista tem caráter temático e é realizada com um grupo de pessoas, sobre um assunto específico. Essa entrevista – que tem característica de depoimento - não abrange necessariamente a totalidade da existência do informante. Dessa maneira, os depoimentos podem ser mais numerosos, resultando em maiores quantidades de informações, o que permite uma comparação entre eles, apontando divergências, convergências e evidências de uma memória coletiva, por exemplo (DE FREITAS, 2006:8).

A metodologia aplicada para a presente pesquisa consistiu em três fases distintas fundamentadas nos preceitos sugeridos por Alberti (2006): a preparação das entrevistas (utilizando o método de entrevista semi-estruturada), a entrevista propriamente dita (trabalho de campo)12 e o tratamento final dado ao material coletado13.

Entende-se que os dados obtidos por meio da aplicação dos métodos da história oral apresentam valor coletivo na busca do entendimento (mesmo que de um recorte temporal) das relações sociais estabelecidas “a partir das reminiscências, sobre o que as pessoas vivenciaram e experimentaram” (DE FREITAS, 2006), ou até das experimentações “por tabela”. A construção do sentimento de unidade (atrelado a memória e identidade), diante da existência das particularidades dos indivíduos e influências diversas é interesse desta pesquisa.

11

Sugerida para presente pesquisa por ter uma base temática para as entrevistas: “Memórias sobre o Velho e Novo Município de Remanso, a partir do marco histórico construção da Hidrelétrica de Sobradinho”

12 Para esta fase é necessário o uso de instrumentos que possibilitem gravar as entrevistas. 13

O documento gravado, como qualquer tipo de documento, está sujeito a diversas leituras. O procedimento do historiador/pesquisador diante de tal documento deverá ser o mesmo, no que concerne à sua análise e problematização (DE FREITAS, 2006:26).