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Capítulo III: A Empresa

III. 2. A História na Visão da Empresa

O processo de ocupação por parte da empresa no litoral norte do estado do Espírito Santo teve início em 1967, fruto do projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar, com recursos originados do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento)53. Além do

51 Época marcada pela censura, pela perseguição política, supressão de direitos constitucionais, e total falta de democracia.

52 Contendo indústrias de grande porte como a atual Arcelor Mittal, Companhia Vale do Rio Doce, Samarco e também a FIBRIA.

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fator político-económico, fatores naturais também foram determinantes na escolha do litoral espírito-santense: condições climáticas propícias ao desenvolvimento acelerado das espécies de pinus e eucaliptos, topografia favorável à mecanização, viabilidade de exportação pela proximidade com o mar. Foram esses elementos, inclusive, que somados ainda ao baixo custo da mão-de-obra, levaram ao reordenamento das empresas de celulose no cenário mundial, que migraram do hemisfério norte – de países como Estados Unidos, Canadá e Finlândia – para países periféricos como Brasil, Chile e Indonésia (PINTO, 2008:31).

Contudo, um fator curioso e igualmente determinante na escolha do norte do Espírito Santo foi a presença de “atividades economicamente inexpressivas”, ou ainda como concluiu o então presidente e idealizador da empresa – o norueguês Erling Loretzen, casado com a princesa Ragnhild -, em visita ao estado: “uma área abandonada” com “uma grande área não utilizada” (PINTO, 2008: 39). E, para os profissionais contratados pela empresa para realizar os estudos técnicos necessários à implantação do empreendimento, concluiu-se que “uma área atrasada, ou de fraco dinamismo, apenas melhora sua posição relativa na medida em que consegue incorporar setores de elevado dinamismo” (PROCESSO ADMINISTRATIVO, 2005:1122). Esses especialistas alertam, ainda, para essa, que seria a alternativa de possível desenvolvimento da região ao norte do estado, mediante a relativa marginalidade do Espírito Santo em relação aos estados vizinhos (PROCESSO ADMINISTRATIVO, 2005, 1123). Para colocar em prática essas idealizações iniciais, foi de fundamental importância a participação “ativa” do Governo do estado, sobretudo no que se refere a concessão de facilidades de estabelecimento e aos incentivos fiscais de grande relevância, além do apoio federal. Para tanto, a atuação da Aracruz Celulose foi justificada, em pronunciamento em 1973, pelas estruturas governamentais, perante a sociedade em geral, da seguinte forma (BANDES apud PROCESSO ADMINISTRATIVO, 2005:1134):

“A organização social de uma área subdesenvolvida funciona como fator de resistência a qualquer mudança efetiva. Adicionar simplesmente um enclave isolado não exige a iniciativa de mudança. Associar-se para o desenvolvimento sim. No choque do superdesenvolvido com o subdesenvolvido, ou nos ajustamos rápidos para uma associação de iguais ou a comunidade capixaba entrava o processo e se desmantela”.

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Sendo assim, a fim de não sucumbir ao subdesenvolvimento e deixar o “atraso” histórico de sua economia, o governo capixaba assume os riscos desses “ajustes rápidos” e confirma sua inclusão, agora sim, definitiva, no concorrido mercado global de bens de exportação. Esse acontecimento é resultado do incessante esforço da elite local no sentido de superar a condição de atraso a que o estado fora relegado desde a época colonial (PROCESSO ADMINISTRATIVO, 2005:1134-1136).

As terras, segundo as fontes empresariais, foram, portanto, adquiridas de maneira lícita e pacífica, em negociações feitas diretamente com o Estado ou com particulares, tendo respeitado os requisitos legais em sentido estrito, não tendo sido em nenhum momento questionados a os requisitos de validade dessas ações (PROCESSO ADMINISTRATIVO, 2005:1086).

A partir de 2009 a Votorantim passou a ser a maior acionista e, desde então, a “Aracruz Celulose” passou a se chamar FIBRIA, assumindo novos papéis junto às comunidades tradicionais que ocupam as áreas de plantio de eucalipto.

Segundo relatório de auditoria da empresa de certificação Bureau Veritas (2009:115), quando a Aracruz Celulose chegou à região do Sapê do Norte havia apenas alguns fragmentos de mata atlântica em razão da maior parte da região estar exaustivamente explorada pelas atividade cafeeira e madeireira, sem a presença significativa da floresta tropical. E, mesmo a legislação ambiental da época sendo menos rigorosa que as discussões atuais em torno do desenvolvimento sustentável, a empresa procurou obedecer, segundo os auditores da empresa contratada, e, ainda, preservar a vegetação original, utilizando para o cultivo do eucalipto apenas terras em áreas já desmatadas.

O engenheiro florestal Alexandre Bertola acredita que as críticas em relação ao (mono)cultivo do eucalipto, sobretudo, em território brasileiro, não passam de mitos provocados pela falta de conhecimento técnico e científico que caracterizaram os primeiros anos da atividade de “reflorestamento” no Brasil. Para ele:

“Em razão disso, alguns ´arautos da Ecologia`, leigos ou fanáticos, consciente ou inconscientemente, procuram maximizar os problemas e dramatizar as consequências. A maioria das críticas as atividades de reflorestamento, são meramente poéticas, sem qualquer consistência técnica e são emitidas por curiosos ou leigos da Ecologia, uma ciência muito importante, mas que muitos se julgam doutores sem o serem. Tais

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elementos se valem das falhas ocorridas na implantação e manejo dos primeiros povoamentos, quando por falta de escrúpulo e de conhecimentos técnicos, cometeram- se verdadeiros crimes contra a natureza.”

O resultado dessas “falhas”, ocorridas no início da implantação das “florestas” foram (BERTOLO, s/d:10) a formação de florestas desuniformes com baixa produtividade, o desenvolvimento de pragas e doenças, e os incêndios que destruíram áreas extensas, o que resultou em desastre ecológico.

A empresa de celulose se coloca, então, apesar dos “mitos” que cercam o eucalipto, como responsável por uma “atividade de reflorestamento” que representa uma alternativa de conservação dos solos, como consta em relatório de certificadora ambiental:

“O eucalipto é uma alternativa para recuperar solos exauridos e castigados pelas queimadas e pelo uso agropecuário intensivo. A decomposição de galhos e pontas de madeira remanescentes da colheita, que são propositadamente deixados pela Fibria nas áreas de plantio, ajuda a manter a fertilidade do solo. Essa fertilidade pode ser comprovada pela crescente produtividade registrada pela empresa em suas áreas de cultivo. Além disso, o eucalipto também contribui para combater a erosão.” (BUREAU

VERITAS,2009:12-13)

Segundo Bertolo, “o vasto sistema radicular” dos eucaliptais capturam nutrientes em áreas profundas, trazendo-os para a superfície, fertilizando as áreas por ele ocupadas (2001: 52- 53).

Para a empresa, são notórias as suas contribuições à economia brasileira, ao estado e aos municípios sob sua área de influência, é inequívoca a sua influência na melhoria das condições de vida dos habitantes dessas regiões54. (PROCESSO ADMINISTRATIVO, 2005 1142).

54 Elevação do PIB e do IDH dos municípios sob sua influencia, inserção dos habitantes numa economia moderna, maior formalização das relações sociais, programas sociais, entre outros (ARACRUZ, 2005:1144-5)

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