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Histórico: O Clube Social Negro Fica Aí

PRÓ-MEMÓRIA SOCIAL

3. Histórico: O Clube Social Negro Fica Aí

Os espaços do Clube Social Negro Fica Aí foram construídos coletivamente pelos sócios em 1921, marco importante, uma vez que é um dos últimos ainda em funcionamento no Brasil. Hoje, o Fica Ahí possui

aproximadamente 200 associados titulares, que usufruem das atividades do Clube, bem como seus familiares, o que perfaz um público de aproximadamente 1000 pessoas circulando pelas atividades. É importante frisar que, não só associados do Clube participam de suas atividades, mas também toda a comunidade Pelotense e suas diferentes interfaces, como o movimento organizado através dos estudantes, movimento

negro, movimento hip hop, universidades e organizações não

governamentais. Tal sede, também oferece, além de serviço de copa e bar, dois amplos salões, destinado para os eventos sociais, educativos e para as oficinas. Suas instalações com metragem de 1.280,00, mas em área construída é de 880m². O Clube tem dois andares, na andar térreo, há quatro salas, três banheiros, uma cozinha e churrasqueira. No andar superior, o salão principal, dois banheiros, uma cozinha e uma churrasqueira. Ressalta-se que até o momento não foi possível desenvolver o plano de acessibilidade, devido à falta de recurso; atualmente, a direção monitora seus visitantes e, conforme a necessidade, desenvolvem-se ações no andar térreo, como já ocorrem nas oficinas.

Visando potencializar e ampliar as trocas culturais articuladas na sua sede, ao final do ano de 2009, o Clube passou a acolher dois Projetos de Extensão, por meio dos quais vem recebendo assessoria de profissionais e estagiários voluntários das áreas de Antropologia, História, Literatura, Arqueologia, Ciências Sociais, Biblioteconomia, Museologia, dentre outros, da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Federal de Rio Grande. Esses projetos têm por premissa viabilizar a criação de um espaço dedicado à cultura afro-brasileira, nos marcos das recentes legislações e paradigmas, internacional e nacional, de reconhecimento das manifestações expressivas da diáspora africana. Ademais, um espaço de inclusão social por meio de intercâmbios qualitativos entre centros educacionais e grupos identitários e/ou de sociabilidade, de reconstituição e valorização das memórias e experiências de resistência ao preconceito racial e de preservação do patrimônio cultural dos segmentos afro-brasileiros de Pelotas e região.

4. Um Clube Social Negro... Um Ponto de Cultura

Nos últimos anos, as lutas das comunidades afro-brasileiras no estado do Rio Grande do Sul vêm conquistando o reconhecimento pleno de sua cidadania, cultura e religião – graças a sua organização e articulação juntamente com os segmentos da sociedade –, aos equipamentos culturais e ao poder público, que se somaram aos negros na luta contra a discriminação e a qualquer forma de preconceito.

Como resultado deste trabalho, podemos destacar as políticas públicas nos campos de educação, cultura e saúde, a criminalização do racismo na Constituição de 1988, a geração do Estatuto da Igualdade Racial Estadual (Lei n° 13.694) e Federal (Lei nº 12.288), a lei 10.639 (obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana), o Programa Integrado de Ações Afirmativas para negros e o reconhecimento de comunidades Quilombolas (Decreto Lei 4887/2003). No campo cultural, destaca-se o Artigo 215 e 216 da Constituição Federal, garantindo a proteção do estado às manifestações afro-brasileiras, a Portaria Nº 58/2012 IPHAE-RS que tomba o a sede do Clube Social Negro Fica Aí, a Lei n° 12.343/2010 que cria o Plano Nacional de Cultura, bem como a Política Nacional Griô ainda em debate no congresso através da PL 1.786/2011. Na área patrimonial, destaca-se a Convenção sobre Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, ratificada, no Brasil, pelo Decreto 485/2006. Desde o ano 2000, um conjunto de práticas da cultura afro-brasileira vem conquistando espaço nos registros dos livros do Patrimônio Imaterial do Brasil como: Festa de Santa Bárbara, ofício de Baiana de Acarajé, do Ofício dos Mestres de Capoeira, da Roda de Capoeira, o Samba de Roda do Recôncavo da Baiano, o Jongo do Sudeste, o Tambor de Crioula do Maranhão, as Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba

Enredo e Tambor de Sopapo1.

4.1 O Fica Aí e a Promoção da Memória Afro-Brasileira

Impulsionados por um grande número de ações e políticas públicas governamentais que fortalecem e reconhecem a identidade, memória e cultura da população negra, tornou este Clube Social Negro, desde sua construção, um lugar de resistência, de memória, de cultura, de cidadania, de transformação e de apropriação, mas, acima de tudo, um espaço de direitos compartilhados. O Clube Cultural Fica Aí Pra ir Dizendo, fundado em 1921, vem, desde o ano de 2006, desenvolvendo atividades em complemento à legislação vigente para a implementação do Departamento de Cultura afro-brasileiro que tenha, como premissas, fomentar e promover a cultura, a cidadania e as manifestações culturais dos negros. Tendo como atividades permanentes deste departamento do Clube a livre consulta à Biblioteca Negra de Pelotas, que também desenvolve o ciclos de conversas, onde professores, estudantes, pesquisadores e ativistas do Movimento Negro expõem temas de interesse em uma linguagem acessível a todos; atualmente, esta atividade já desenvolve sua nona edição. Este departamento também promove atividades como as oficinas populares de capoeira, música, dança, atendendo cerca de 200 pessoas.

Outra ação que merece destaque é a aproximação do Clube com os Mestres Griôs. Tal atividades iniciaram-se no ano de 2011, com a primeira edição do Cortejo Griô, que teve, em sua proposta, exposições das vivências dos(as) Mestres Sirlei Amaro, Mestre Batista e Dilermando, bem como o Samba de Roda, com a participação do tambor de Sopapo, um instrumento afro-sulino, criado por escravos e, atualmente, produzido em baixa quantidade, somente no extremo sul do brasil. O II Cortejo de Griô que teve a participação de Griôs do Estado RS, com a anfitriã a Mestre Griô Sirley Amaro,celebrou a ancestralidade negra em Pelotas.

Além da sala de administração e da sala para reuniões, a sede possui a Biblioteca Negra de Pelotas (BINEPEL). Esta biblioteca conta com um significativo acervo – constituído para subsidiar a implementação da Lei 10.639 – de obras

(aproximadamente 500 obras) em vários idiomas, sobre história, etnologia e cultura africana e afro-americana; filosofia africana; pensadores negros, etc. A BINEPEL foi fundada pelo Grupo Sangoma (Grupo de Estudos Negros), sob coordenação do Prof. Dr. Uruguay Cortazzo, detentor do Acervo. Integravam o grupo vários estudantes universitários haitianos, configurando um interessante processo de intercâmbio cultural. A BINIPEL é responsável, ainda, pela organização de um evento cultural semestral denominado “Ciclo de Conversas”. Constitui-se em encontros previamente planejados e divulgados nos meios de comunicação da cidade, nos quais algum membro do grupo ou convidado expõe sobre um tema relacionado às sucessivas diásporas negras; reflexões teóricas sobre negritude, racismo e culturas de matriz africana; compartilhamento de pesquisas, etc. Participam destes Ciclos de Conversa não somente associados do Clube, mas estudantes, representantes de outras organizações e Movimento Negro e demais integrante da comunidade em geral.

Outras iniciativas propostas pelo Departamento de Cultura afro-brasileiro do Clube Social Negro Fica Aí vêm sendo desenvolvidas através do voluntariado. Tais atividades são propostas pelos sócios para atender as demandas da comunidade. Entre elas, as oficinas de Capoeira e Dança Afro, que atendem em média 200 ( duzentas) pessoas, as oficinas de Música, que já produzem resultados, como a criação do Grupo Vocal – que canta músicas afro brasileiras e é composto por mais de 30 ( trinta) pessoas, em especial, mulheres.