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Histórico da polícia política no Brasil: organização, articulação e aplicação de

3 A POLÍCIA POLÍTICA PARANAENSE: ÓRGÃO REPRESSOR OU

3.1 Histórico da polícia política no Brasil: organização, articulação e aplicação de

Como se pôde observar, a polícia política, e em particular a Dops-PR, agiram como partidários do proibicionismo, como autoridades policiais que procuravam hierarquizar idéias, submetendo-as a um julgamento diário, com o objetivo de purificar a sociedade. Esses atos de “saneamento ideológico”250 funcionavam por meio de uma censura preventiva e punitiva, com a finalidade de impedir a circulação de concepções subversivas e que ferissem o estatuto ideológico imposto pelo regime governista. Os indivíduos que violassem as ordens estabelecidas seriam tratados como “bandidos” e “criminosos”, sobretudo aos olhos da lei.

Desde os primórdios do século XX, já havia um sistema de controle político- ideológico: o denominado Corpo de Investigação e Segurança Pública da Polícia Civil do Distrito Federal e também a Inspetoria de Investigação e Segurança Pública (1907). Ao contrário de outras seções que se subordinavam a subinspetorias, tais repartições receberam as seguintes competências:

velar pela existência política e segurança interna da República (...) desenvolver a máxima vigilância contra quaisquer manifestações ou modalidades de anarquismo violento e agir com solicitude para os fins da medida de expulsão de estrangeiros perigosos.251

Com o Decreto nº 15.848, de 20 de janeiro de 1922, é extinta a Inspetoria de Investigação e Segurança Pública e fundada a 4ª Delegacia Auxiliar, também subordinada à Polícia Civil do Distrito Federal. No entanto, a 4ª Delegacia Auxiliar foi suprimida pelo Decreto nº 22.332, de 10 de janeiro de 1933, que criou a Delegacia Especial de Segurança Política e Social (DESPS), subordinada à Polícia Civil do Distrito Federal. A DESPS, segundo a legislação de sua criação, organizou-se em três seções: Segurança Política, Segurança Social e a Seção de Armas e explosivos. Essas respectivas competências são assim expressas em 1943:

250 CARNEIRO, op. cit., p. 15. 251

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Os arquivos das polícias políticas: reflexos de nossa história contemporânea. Rio de Janeiro: FAPERJ, 1994, p. 12-13.

- A Seção de Segurança Política é encarregada de ‘inibir a reorganização dos serviços de espionagem (...)’;

- A Seção de Segurança Social cabe a observação e fiscalização do “problema trabalhista’, encarado como as vicissitudes do movimento sindical (...);

- A Seção e fiscalização de Explosivos, Armas e Munições providenciava autorizações para o ‘sempre crescente aumento do comércio de explosivos usados nas indústrias químicas e correlatas, construções e desapropriações.252

Nota-se que desde o Corpo de Investigações e Segurança Pública até a efetivação da Delegacia Especial de Segurança Política e Social (DESPS) – em 1933, a questão da ordem pública era anunciada de um modo amplo, porém vago. Os causadores da “desordem”, não eram específicos de um só grupo, ou seja, os subversivos tanto podiam ser os anarquistas, os comunistas, os vadios, os mendigos e muitos outros grupos sociais passíveis em infringir as regras ditadas por superiores.

A partir do Decreto nº 6.378, de 28 de março de 1944, a Polícia Civil transforma-se em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), também subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, tendo como funções a apuração das infrações penais e da sua autoria que atentarem contra a personalidade internacional, a estrutura e a segurança do Estado, a ordem social e a organização do trabalho. O DFSP é formado pela integração das seguintes unidades organizacionais: Divisão de Polícia Política e Social (DPS), Divisão de Polícia Técnica (DPT), Divisão de Política Marítima, Aérea e de Fronteiras (DPM), além de delegacias especializadas em defraudações e falsificações, roubos e furtos, costumes, tóxicos e mistificações, jogos e diversões, vigilância e menores. É importante ressaltar, que foi com o Decreto nº 17.905, de 27 de fevereiro de 1945, o qual instituiu o regimento do DFSP que distingue entre crimes contra a segurança política e contra a segurança social.

Da DPS partem sugestões para a criação de um organismo de polícia internacional sul-americano. Era de responsabilidade da “seção internacional”, a manutenção atualizada de todas as informações de caráter político ou criminal consideradas úteis à segurança das Américas. Nesse sentido, interessava, sobretudo a ficha de “líderes extremistas”, “agitadores”, “criminosos políticos”, “delinqüentes internacionais”, “ladrões e assemelhados”, no caso de viagem para outro país. No Paraná, havia uma repartição própria para o assunto: o Serviço de Registro de Estrangeiros. E essa ordem era cumprida até mesmo na ocorrência de viagens interestaduais ou estaduais e em casos de transferência de domicílio:

252

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Os arquivos das polícias políticas: reflexos de nossa história contemporânea. Rio de Janeiro: FAPERJ, 1994, p. 12-13.

Senhor Delegado:

Comunico a vossa senhoria que em data de ontem deferi o requerimento assinado pelo estrangeiro Hermann Bertelmann, de nacionalidade alemã, requerimento esse relativo à transferência de residência do elemento em apreço dessa cidade para Arapongas, município de Caviúna, deste Estado, a quem poderá ser expedido o respectivo salvo-conduto. Chefe do S.R.E, no Paraná.253

Observa-se que a dinâmica e autonomização da agência policial ocorreram no início dos anos de 1930, simultâneo à criação de agências estatais de regulação da vida social. Adolpho M. da Costa254 afirma que diversos foram os períodos e os perseguidos pelo aparato policial. Segundo ele, os inimigos comuns da polícia política, mudavam de acordo com o contexto histórico. Dessa forma, o governo de Artur Bernardes (1922-1926) foi caracterizado pela organização da Dops e ascensão do fascismo, enquanto que a “Era Vargas” (1930-1945) foi marcada pela organização do Estado Novo e seus instrumentos repressivos – como a Constituição Polaca (de 1937), o Tribunal de Segurança Nacional, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e a “famigerada Polícia Política, repressão brutal, mesclada de paternalismo. Ascensão irresistível do fascismo, nazismo, integralismo, período de mal.”. Paralelo a isso, a época de Dutra (1946-1950) conviveu com o anticomunismo, repressão aos movimentos sociais de agricultores, ligas camponesas, proscrição do PCB; cassação de mandatos de parlamentares comunistas e oposicionistas, além de violências contra sindicatos e sindicalizados.

Mas, nessa conjuntura, o comunismo foi o que mais se destacou, pelo menos temporalmente. Afinal, essa ideologia foi consignada como “inimigo número um da nação” pela agenda de segurança nacional, entre a década de 1930 e os anos de 1970. E trilhando esse mesmo caminho, os órgãos de polícia política intensificaram a vigilância sobre os suspeitos. É lógico que, com o decorrer dos anos e com uma sociedade cada vez mais complexa, os alvos se multiplicaram, mas a fronteira da tolerância estipulou o desprezo ao comunismo, principalmente de seu papel nos movimentos sociais e políticos. Posteriormente amplificada pela Guerra Fria, a “Insurreição Comunista de 1935”, tornou-se o símbolo do discurso anticomunista.

253 ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ – DOPS/PR. Pasta 544c, caixa 61. Delegacia de Polícia de Londrina (1942 a 1945, 1969).

254

Mesmo com a dinamização da polícia política no início dos anos de 1930 (com a criação da Delegacia), a sua institucionalização255 como agência federal de investigação, informação e repressão aos crimes contra o Estado, a ordem política e social somente se concretizou pela organização da Divisão de Polícia Política e Social (DPS), fundada em 1944 e regulamentada em 1946.

A Divisão de Polícia Política e Social (DPS) era uma instância subordinada ao Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), o qual possuía seus serviços restritos ao Distrito Federal, e só eventualmente atuava junto aos serviços policiais estaduais. Mesmo assim, a DPS foi responsável por rotinizar os procedimentos de investigação e estabelecer ligações formais com as Dops e as secretarias de segurança estaduais, com as seções de