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4 FAXINAIS E TURISMO COMUNITÁRIO: POTENCIALIDADES

4.2 HISTÓRICO DAS COMUNIDADES EM ESTUDO

Para organização do histórico que segue, utilizou-se de documentação elaborada pela Prefeitura Municipal de Mallet sobre o histórico do Faxinal Lageado de Baixo. Esta documentação apoiou-se em técnica de história oral e teve como fonte Nicolau Grenteski, que na época da realização da presente pesquisa já era falecido. Essas informações foram checadas e complementadas através de entrevistas com faxinalenses.

Os aspectos históricos, socioculturais, econômicos, políticos e físicos dos faxinais foram descritos e explicados enquanto complexos simbólicos, com a captura de seus elementos mais aparentes 11, por meio de observação participante, entrevistas não-estruturadas com faxinalenses e mapeamento participativo. Acredita-se que para apresentação de alternativas socioeconômicas - como o turismo de base comunitária - para esses faxinais, primeiramente, é preciso tentar apreender a sua complexidade.

Nicolau Grenteski relata que até aproximadamente 1930 ou 1940, havia um grande faxinal que compreendia os dois lados do Rio Lageado. (PMM, 1999) Assim, os dois faxinais em estudo – Lageado de Baixo e Lageado dos Mello – eram no passado um único faxinal.

Salvador Mello, o primeiro morador desse grande faxinal, morava em uma residência de tábua de Imbuia construída em 1877, localizada onde hoje está a propriedade de Lauro Skrepec, do Rio Lageado em direção ao município de Mallet. Nessa mesma residência residiu, posteriormente, Francisco Mello. Então, pode-se inferir por meio da data contida numa viga dessa casa, que sua ocupação iniciou-se há, no mínimo, cento e trinta anos atrás. (SKREPEC, L., 2006) 12

Do Rio Lageado em direção à Rio Azul, o primeiro habitante foi Paulo Mello. Por isso a localidade foi denominada Lageado dos Mello. Outra família que foi uma das pioneiras, nessa mesma margem do rio, foi a de Francisco Vieira. (PMM, 1999) O “Vieira” era irmão ou parente dos “Mello” e veio junto com eles. (ANTONIV;

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Para um estudo mais aprofundado das especificidades culturais desses faxinais acredita-se ser preciso morar nessas localidades por, no mínimo, um ano, ou freqüentá-las por mais de um ano, pois no início o pesquisador é considerado um estranho na comunidade que mantém um certo distanciamento dele, mas com o passar do tempo de convivência, o pesquisador passa a fazer parte da vida das pessoas.

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SKREPEC, L., 2006) 13 As terras eram do governo (terras devolutas). Esses primeiros moradores as requereram e depois as “lotearam”. (SEMBAI, 2006) 14

Os “Mello” não faziam lavoura, como tinha muita caça, “a vida deles era só caçar”. (SEMBAI, 2006) 15 “Francisco Mello tinha grandes áreas, mas não era adepto ao trabalho, sobrevivendo das trocas de suas madeiras em Serrarias e de partes de suas áreas, por alimentos e bens móveis”. Por isso, aos poucos, se desfez de suas terras e doou parte delas a seus filhos. Estes, com o passar do tempo, venderam as propriedades e mudaram-se. (PMM, 1999) Cada filho herdou doze alqueires. (SKREPEC, L., 2006) 16

Paulo Mello adorava corrida de cavalos e para ter esse lazer ia para municípios distantes, além de negociar parcelas de suas terras. Doou áreas a seus filhos, e depois de seu falecimento, eles comercializaram-nas. Francisco Vieira, aos poucos, se desfez de suas propriedades e deixou partes a seus filhos, que também as venderam. (PMM, 1999) No Lageado dos Mello moravam dezesseis famílias “Mello”. Mas estes foram, gradativamente, vendendo suas terras. (SILVA, M. da, 2005) 17

Na década de 1920, chegaram aos faxinais em estudo os descendentes de ucraínos. Grande parte deles saiu da Colônia 6, próxima ao local, e, alguns, do Faxinal Lageado de Cima. (SKREPEC, L., 2006) 18 Tudo era um “taquaral” (mato fechado), com muito Pinheiro e Imbuia. Os primeiros ucraínos compraram suas propriedades dos “Mello”. (ANTONIV, 2006) 19 Essa venda não era necessariamente

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Informação concedida à autora por Valdomiro Antoniv, um dos faxinalenses mais idosos da localidade, morador do Faxinal Lageado dos Mello, em 24 de junho de 2006 e Lauro Skrepec, em 23 de junho de 2006.

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Informação fornecida à autora por Emílio Sembai, um dos faxinalenses mais idosos da localidade, morador do Faxinal Lageado dos Mello, em 14 de abril de 2006.

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Informação fornecida à autora, por Emilio Sembai, em 14 de abril de 2006. 16

Informação concedida à autora por Lauro Skrepec, em 23 de junho de 2006. 17

Informação fornecida ao Grupo de Pesquisa “O Sistema Faxinal e sua sustentabilidade enquanto forma de organização camponesa na região da Mata de Araucária do Paraná”, por Maria da Silva, ex- moradora do Faxinal Lageado dos Mello, em 12 de Dezembro de 2005.

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Informação concedida à autora por Lauro Skrepec, em 23 de junho de 2006. 19

Informação concedida por Emilio Sembai, em14 de abril de 2006, e Valdomiro Antoniv, em 24 de junho de 2006.

por dinheiro, também se realizavam trocas. Geralmente, os “brasileiros” 20 trocavam suas terras por comida, porque não tinham o que comer. A maioria deles era pobre. (SOBENKO, J., 2005) 21

Provavelmente, o Faxinal Lageado dos Mello e o Lageado de Baixo, no passado, tinham a mesma denominação, a do primeiro, devido à família Mello. Mas, a barreira física do Rio Lageado fazia com que, na prática, fossem dois faxinais distintos.

A parte do faxinal do Rio Lageado em direção à Mallet teve o seu nome de Lageado dos Mello mudado para Lageado do Barreiro, sendo que os “[...] atuais moradores não sabem o porquê deste nome [...]”. Posteriormente, seu nome mudou para Lageado de Baixo, o qual permanece até hoje. (PMM, 1999)

“Lageado” é o nome do rio que percorre o faxinal e que, a partir de 1950, tornou-se o limite entre o município de Mallet e o de Rio Azul. “De baixo” porque está na parte mais baixa do curso do rio. O Rio Lageado tem sua nascente no “Lageado de Cima” (parte mais alta) e desemboca no Rio Braço do Potinga. (PMM, 1999)

O Faxinal Lageado de Baixo teve sua área reduzida no ano de 1938, pois os faxinalenses tiveram que construir um mata-burro e cercas para impedir que famílias, originárias de São Paulo, que moravam nas proximidades, continuassem a maltratar seus animais que viviam soltos. (PMM, 1999) Antigamente, esse faxinal ia até a propriedade dos Siuta, entretanto, ele foi gradativamente diminuindo. (SOBENKO, S.; SOBENKO, J., 2005) 22

Observa-se através dos relatos, que no passado todas as áreas que compreendem os dois faxinais em estudo pertenciam a um único faxinal aberto, ou seja, sem delimitação do criadouro comunitário. A divisão entre terras de criar e terras de plantar parece ter ocorrido, apenas, na década de 1930. No criadouro

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Nesta pesquisa houve um esforço em utilizar o vocabulário dos próprios faxinalenses. E como grande parte dos que moram há mais tempo na localidade é descendente de ucraínos, durante as entrevistas, eles chamavam os outros faxinalenses de “brasileiros”, para estabelecer a diferenciação. 21

Informação fornecida ao Grupo de Pesquisa “O Sistema Faxinal e sua sustentabilidade enquanto forma de organização camponesa na região da Mata de Araucária do Paraná”, por João Sobenko, morador do Faxinal Lageado de Baixo, em 12 de Dezembro de 2005.

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Informação fornecida ao Grupo de Pesquisa “O Sistema Faxinal e sua sustentabilidade enquanto forma de organização camponesa na região da Mata de Araucária do Paraná”, por João Sobenko e Sergio Sobenko, moradores do Faxinal Lageado de Baixo, em 12 de Dezembro de 2005.

coletivo predomina até hoje a atividade silvopastoril. Este sistema integrado, típico das comunidades de faxinais, será apresentado a seguir.