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Capítulo 3 – Eleições para Câmara Federal

3.2. A seleção de candidatos

3.2.1. Histórico de disputa dos candidatos do PT

Esta seção examinará o histórico de competição a cargos eletivos dos candidatos a deputado federal, tanto nas eleições gerais como nas eleições municipais. Estas últimas são especialmente importantes, dado que, conforme ficou sugerido na seção anterior, as candidaturas que despontam fora do núcleo do partido são sempre destacadas da política local.

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A Tabela 16 indica, para cada eleição, quantos dos candidatos da lista competiram nas eleições anteriores pelo PT, assim como o tempo médio de filiação ao partido. Dos 45 candidatos de 1998, 18 haviam concorrido nas eleições de 1994, e 31 haviam sido candidato nas de 1996. Apenas 13 candidatos estão concorrendo pela primeira vez, considerando o recorte temporal do trabalho (1994-2012). Eleição a eleição aumenta o percentual de candidatos que concorrem a deputado federal tendo concorrido a algum cargo nas eleições gerais anteriores, variando de 40% a 60%. Este percentual é ainda maior considerando as disputas municipais. Já no início da série 70% dos nomes da vista havia disputado cargo nas eleições municipais dois anos antes, com variação nunca inferior a 60%. Ademais, ao passo em que a lista do partido aumenta, diminui o percentual de candidaturas que são lançadas sem ter concorrido anteriormente, chegando a 15% na última eleição.

Tabela 16. Histórico dos candidatos

1994 1998 2002 2006 2010 N T médio filiação (anos) N T médio filiação (anos) N T médio filiação (anos) N T médio filiação (anos) N T médio filiação (anos) Gerais - 18 14 27 14 32 18 38 19 Municipais - 31 35 39 42 Sem histórico - 13 8 13 8 10 11 9 11 Total 48 8 45 12 59 13 59 18 62 18

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TSE

Ou seja, predominam na lista candidatos com algum histórico de competição a cargos eletivos. Outro dado a ser observado é o tempo médio de filiação dos candidatos que, naturalmente, aumenta, e mesmo para os candidatos sem histórico de disputa eleitoral é consideravelmente alto17. Daí se infere que o partido não é permeável ao lançamento de

17 Para o PSDB, o tempo médio de filiação é de 3 anos em 1994, 6 em 1998, 8 em 2002, 8 em 2006 e 10 em 2010.

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nomes recém ingressos na sigla, sem certo tempo de vinculação à organização. Sob esse ponto de vista, pela classificação de Duverger, o PT seria fortemente institucionalizado.

Todavia, o dado mais interessante a ser retido aqui, é que a grande maioria dos candidatos passa pelo cenário das eleições locais, o que corrobora a argumentação de Nicolau (2006) quando à importância da conexão com as redes municipais para os candidatos à Câmara de Deputados. Somado à descrição anterior do desempenho das candidaturas individuais, fica claro que o lançamento de candidaturas com algum relevo fora do núcleo do partido na RGSP passa pelo destacamento de figuras com algum capital político na política dos municípios.

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CONCLUSÃO

O primeiro capítulo organizou a literatura sobre partidos políticos em torno de dois eixos principais: a matriz clássica, tratando os partidos enquanto organizações, e a abordagem neo-institucionalista, que tendeu a permear as interpretações predominantes sobre o sistema político brasileiro. Diferentes paradigmas teóricos, todavia, conduziram a diagnósticos semelhantes no que diz respeito às instituições partidárias estarem fadadas a serem organizações frágeis. O PT se sobressai nesse contexto como único grande partido que teria resistido aos inúmeros incentivos negativos do sistema político, ao menos até um dado momento de sua trajetória, o que se atribuiria às especificidades organizativas do partido.

Ao perceber a adaptação do partido ao jogo institucional, os elementos de distinção tendem a ser enfraquecidos, e o refluxo do interesse acadêmico sobre a capacidade organizativa dos partidos parece atingir também o PT – paradoxalmente, no momento em que o partido mais teria se massificado e se aproximado dos setores onde até então não tinha penetração. Critico a essa compreensão, o presente trabalho buscou abordar o partido em uma perspectiva como a proposta por Panebianco, no sentido de aceitar que elementos de mudança são processados junto a traços que persistem no perfil de organização do partido.

Buscou-se captar as movimentações da estrutura partidária no estado berço do PT, tendo como indicadores a evolução da base de filiados e o comportamento do partido nas disputas municipais em São Paulo. O que se mostrou foi um movimento no qual o partido avança em direção aos municípios onde até então sua entrada era mais difícil, buscando assim colonizar o ambiente eleitoral, nos termos de Panebianco. Tendo como marco a eleição de 2004, argumentou-se que esse movimento reflete processos deflagrados anteriormente de ampliação da máquina partidária e expansão da base do partido. Argumentou-se também que a capilarização não se reverte necessariamente em saldo eleitoral, mas nem por isso deixa de ser importante, tendo em vista a conexão que as eleições para o legislativo federal têm com a dinâmica local do partido no tocante ao destacamento de quadros políticos com bases locais.

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Quanto à dinâmica das eleições proporcionais, foi apontado o descolamento em relação às eleições majoritárias e a concomitante queda dos votos de legenda do partido. Antes de entender isso como a simples “despartidarização”, buscou-se sugerir que esses movimentos correspondem à tentativa do PT extravasar as fronteiras do seu núcleo original e chegar nas regiões antes desabitadas pelo partido. O que o partido perde em votos de legenda ganha em votos nominais à medida que se constroem figuras locais que serão destacadas para competir nas eleições para o Legislativo. Esses esforços são descontínuos, e o que persiste a todos os movimentos de expansão e retração, garantindo a estabilidade eleitoral da organização, são as figuras fortes ligadas, sobretudo, ao núcleo original do PT.

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ANEXOS

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