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Mapa 12- Zoneamento geoecológico do município de Nova Russas

3.1 Histórico do povoamento e desenvolvimento urbano

A ocupação do território cearense, se comparada aos demais estados nordestinos, é considerada como cronologicamente tardia, fato esse que afetou diretamente o desenvolvimento da região. Segundo Souza (2007), as primeiras tentativas de colonização do Ceará ocorreram a partir do século XVII, com a expedição dos portugueses Pero Coelho de Souza em 1603 e Martim Soares Moreno em 1612, com a fundação de fortes que tinham a função de proteger o território.

A pecuária e a produção de algodão exerceram um papel primordial no povoamento do Ceará, pois é através da implantação das fazendas de gado e do crescimento das culturas comerciais, como o algodão, que se dá a ocupação do território cearense (SOUZA, 90

2007). E com a implantação da estrada de ferro a partir do final do século XIX e início do século XX, os espaços começam a se estruturar originando as primeiras vilas e cidades que compõem o território cearense.

Os primeiros povoamentos foram originados de fazendas de gado, que evoluíam para povoados, vilas e cidades, sendo esse o processo de desenvolvimento de muitos municípios do Ceará como Nova Russas, que surgiu do desenvolvimento da Fazenda Curtume, situada às margens do riacho Várzea Grande, implantada pelo Capitão-Mor Bernardino Gomes Franco.

As terras localizadas no sopé da Chapada da Ibiapaba, às margens dos rios Poti, Acaraú e Curtume eram habitadas por diversas etnias indígenas, como os Tabajara e Tupinambá e segundo Souza (2007 p. 15), “as regiões dos vales dos rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú foram as primeiras áreas de colonização do Ceará, através da implantação das fazendas de gado”. De acordo com Souza (2007, p. 18) “as primeiras vilas localizavam-se nas proximidades das margens dos rios, facilitando assim a obtenção e o aproveitamento dos solos mais férteis para a cultura de subsistência”.

Com a ocupação definitiva do território cearense, na segunda metade do século XVII pelos portugueses, a expansão do ciclo do couro/charque e a doação de terras via sesmarias, atraíram para a região várias famílias que estabeleceram fazendas de gado como as do Curtume. Segundo Chaves² (1993)

a fazenda tinha denominação de Curtume por existir na sede uma rústica indústria de curtir couros e peles, cujo tanque de pedra e cal ficava em frente do Hospital Circulista, vizinho ao prédio que foi do Patronato Auxilium em terreno a leste da cidade, conhecido por Ventura, a margem direita do riacho Curtume, antigamente conhecido por Várzea Grande (CHAVES, 1993, p. 25).

Ao longo dos anos, a Fazenda Curtume passou por sucessivos proprietários, até chegar à posse de Manuel Oliveira Peixoto e sua esposa Manuela Rodrigues de Oliveira, que como católicos devotos, doaram em 1876, parte do terreno da fazenda à paróquia de Santo Anastácio de Tamboril para que fosse erguida uma capela devotada a Nossa Senhora das Graças, construída na época, pelo vigário de Tamboril, o padre Joaquim Ferreira de Castro (figura 13).

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² Temóteo Chaves é natural de Nova Russas, e escreveu um livro chamado “Reminiscências: histórias e passagens da vida de Temóteo Chaves”, onde o mesmo narra sua biografia mesclada com fatos que marcaram Nova Russas.

Figura 13- Capela de Nossa Senhora das Graças

Fonte: Acervo de Airton Simeão

No ano de 1894 foi erguida uma nova capela (figura 14), em homenagem ao mesmo santo, em torno da qual se desenvolveu um povoado que o padre denominou de Nova Russas, ou seja, outra Russas, em homenagem à vila de São Bernardo de Russas, localizada no Baixo Jaguaribe, terra natal do vigário Joaquim Ferreira de Castro, pois “os pequenos centros locais se formavam pela aglutinação da população em torno de uma capela, em terras doadas por um fazendeiro” (SOUZA, 2007, p. 19).

Figura 14- Igreja de Nossa Senhora das Graças em 1894

Fonte: Acervo de Airton Simeão

De acordo com Chaves (1993, p. 63), “a Igreja de Nossa Senhora das Graças foi construída pelo povo, orientado pela Cura do Padre Manoel Vitorino de Oliveira. Os tijolos eram carregados pelas comunidades que pareciam formigas trabalhando”. O povoado formado 92

nos arredores da Igreja, foi elevado à categoria de distrito judiciário do município de Ipueiras em 17 de agosto de 1902, ano em que adotou oficialmente o nome de Nova Russas, ficando a designação Curtume para o rio que banha a cidade.

Nova Russas foi-se desenvolvendo ao longo dos anos, tornando-se um local agradável para a população e de acordo com Chaves (1993, p. 20), era um local pequeno, mas era animado, visitado por companhias de teatro “...existia também, o Poço do Veado, o balneário da garotada de Nova Russas. Tomar banho no rio Curtume, quando cheio, era uma folia bastante animada. Pular da ponte da estrada de ferro e descer no rio até o Poço do Veado era o divertimento da época”.

A implantação de fazendas de gado e o cultivo de culturas, como o algodão desenvolveram-se rapidamente em Nova Russas, pois segundo Chaves (1993, p. 38), “o município de Nova Russas, encravado em zona do sertão árido é muito rico, prestando-se para a cultura do algodão, possuindo muitos oiticicais”. O autor comenta a existência de algumas fábricas que faziam o beneficiamento do algodão, como a A. Joaquim & Cia e a Casa Machado S/A, que contribuíram para o desenvolvimento local e para a expansão da atividade econômica, exportando o algodão até para a Alemanha.

O povoado de Nova Russas experimentou um maior crescimento com a implantação da estrada de ferro em 3 de novembro de 1910, pois com a expansão da estrada de ferro Sobral – Camocim para a cidade de Ipú, a malha ferroviária chegou à Nova Russas, instalando-se uma estação de cargas e passageiros, passando a fazer parte em 1950, da linha Fortaleza – Crateús, sendo formada ao lado da Estação Ferroviária a Praça da Estação (figura 15). Com a construção da estrada de ferro, o rio Curtume teve que ser desviado para a implantação dos trilhos. De acordo com Chaves (1993, p. 28), “Nova Russas se desenvolveu extraordinariamente após a inauguração da estrada de ferro, obra de responsabilidade do engenheiro cearense Dr. João Tomé de Sabóia e Silva”.

Figura 15- Praça da Estação em Nova Russas

Fonte: Acervo de Airton Simeão

Segundo Souza (2007, p. 23), “a implantação da rede ferroviária possibilitou o desenvolvimento de muitos núcleos urbanos no Ceará, como por exemplo, Nova Russas”. Dessa maneira, com a instalação da via férrea no local, estavam estabelecidas as condições necessárias para a criação do município, emancipado à condição de vila em 11 de novembro de 1922, desmembrando-se do município de Ipueiras e instalado em 28 de janeiro de 1923, com a posse do seu primeiro gestor Antônio Rodrigues Veras.

Nova Russas começou a crescer e expandir suas atividades econômicas, o centro da cidade (figura 16) se desenvolveu com o estabelecimento de armazéns que comercializavam além dos artigos locais, produtos trazidos das cidades vizinhas que supriam as necessidades da população. No ano de 1960 surgem importantes escolas como o Instituto Nossa Senhora das Graças, sob a direção de Zilmar Mendes Martins (figura 17).

Figura 16- Centro da cidade de Nova Russas em 1948

Fonte: Acervo de Airton Simeão.

Figura 17- Instituto Nossa Senhora das Graças (1960)

Fonte: Acervo de Airton Simeão

O município passou por sucessivos desmembramentos e integrações ao longo dos anos conferindo formas territoriais diferentes ao município, que teve o seu auge de maior extensão territorial em 1968, com o município era formado por 9 distritos, sendo parcialmente alterado em 1995, quando Nova Russas passou a possuir 6 distritos, sendo essa a configuração territorial atual. Na figura 18 é possível visualizar essas modificações territoriais que foram ocorrendo ao longo dos anos e que fazem parte do processo de desenvolvimento urbano do município de Nova Russas.

O município de Nova Russas teve a sua gênese alterada como consequência do desenvolvimento urbano local, onde grande parte de sua paisagem natural foi gradualmente sendo modificada tornando-se uma paisagem cultural urbana, que expressa os costumes e a cultura de seus habitantes e que, ainda hoje, conserva vestígios do período de sua fundação que podem ser identificados em algumas casas e prédios comerciais localizados no município (figura 19).

Figura 19- Residências em Nova Russas construídas em 1918 e 1936

Fonte: Farias, 2012.

Destaca-se ainda como patrimônio cultural do município, inscrições rupestres encontradas nas localidades de Pitombeiras, Morro Agudo, Residência, Segredo e Letreiro, locais que guardam importantes vestígios de antigas civilizações e que não são explorados turisticamente e também não possuem tombamento para garantir a preservação do material histórico, importante para o resgate cultural da história do município (figura 20).

Figura 20- Inscrições rupestres encontradas no município de Nova Russas

Fonte: Airton, 2012.

Na sua configuração atual Nova Russas possuí 742,8 km², divido em seis distritos: Nova Russas (sede), Espacinha, Canindezinho, Major Simplício, Nova Betânia e São Pedro. Na sede do município concentram-se os principais serviços básicos como hospitais, postos de saúde, comércio variado, agências bancárias, serviços judiciários, dentre outros. Nos distritos é possível identificar um comercio mais “tímido”, voltado para as necessidades da comunidade e abastecido semanalmente na sede de Nova Russas.

No que se refere à estrutura urbana, Nova Russas possui 8 bairros: Água Boa, Alto da Boa Vista, Centro, Progresso, São Francisco, Tamarindo, Timbaúba e Universidade, que no total somam 118 ruas, incluindo 12 travessas e 3 Conjuntos Habitacionais, como o Conjunto Habitacional Lagoa do Mel, Conjunto Habitacional Zequinha Gildo, também conhecido como Pantanal e o Conjunto Habitacional Marinhinha Rosa, conhecido como COHAB. Existem também 6 praças principais no município que complementam o lazer da população e sediam uma série de eventos municipais.

O município dispõe ainda de serviços e locais como cemitério municipal Solar Eterno, terminal rodoviário José Santos Mourão, matadouro público municipal, Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), estação de tratamento, hospital municipal José Gonçalves Rosa, cerâmica São Luis, estádio municipal José Santos Mourão, delegacia de Policia Civil, cadeia pública municipal, agência dos correios, casa lotérica, Banco do Nordeste, Banco do Brasil e Bradesco, mercado público municipal, fórum e o departamento municipal de trânsito (DEMUTRAN). A figura 21 traz uma planta da cidade com os aspectos referentes à infraestrutura e ocupação do solo urbano no município.

Esses são os principais aspectos pertinentes ao município, que vão desde a sua fundação, pontuando os fatos mais relevantes que ocorreram em sua história, até a atualidade, onde temos um município bem desenvolvido e que é destaque na região em que se localiza.