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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. ESTRESSE HÍDRICO

2.1.1. Histórico

O Histórico do estresse hídrico remete aos tempos mais remotos. Civilizações complexas viveram e desapareceram de regiões por não saberem utilizar de forma sustentável seus recursos disponíveis. O livro Colapso, cujo autor é Jared Diamond (2005), enfoca este tema e faz uma relação entre sociedades do passado que colapsaram pelo uso sem cuidado do recurso ambiental disponível e as sociedades modernas que indicam o mesmo fractal de exaustão.

O Homem esforçou-se por utilizar, em seu benefício, os recursos hídricos e por se defender das suas agressões. As primeiras grandes civilizações, por exemplo, as da Mesopotâmia e do Nilo, podem bem ser qualificadas de civilizações hidráulicas, na medida em que esses povos souberam fazer um bom uso da água. O Código Legal mais antigo, o de Hamurabi, promulgado há quase cinco milênios, é, fundamentalmente, uma Lei de Águas (LLAMAS, 1992).

Beeckman (1999) considera que o estresse hídrico está baseado no índice per capita para manter uma qualidade de vida adequada, atendendo as necessidades mínimas de água em regiões moderadamente desenvolvidas em zonas áridas. Define

como premissa a quantidade de 100 litros diários (equivalente a 36 m³/ano), como o ponto mínimo para suprir as necessidades domésticas e adequadas para a questão saúde.

Para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - UNEP (2001), o conceito de estresse hídrico foi colhido pela hidróloga sueca Malin Falkenmark, no ano de 1976, para os países membros das Nações Unidas. Tinha como premissa a análise das condições de abastecimento e a verificação de disponibilidade hídrica de cada país.

Há vários indicadores de estresse dos recursos hídricos, incluindo a quantidade de água disponível por pessoa e a relação de volume de água retirado para volume de água potencialmente disponível. Quando as retiradas são superiores a 20% do total de recursos renováveis, o estresse hídrico, muitas vezes é um fator limitante para o desenvolvimento (Falkenmark e Lindh, 1976); retiradas de 40% ou mais representa alta tensão. Da mesma forma, o estresse hídrico pode ser um problema se um país ou região tem menos de 1.700m³/ano-¹ água per capita (Falkenmark eLindh,1976). Índices numéricos simples, no entanto, dão apenas indicações de pressões parciais dos recursos hídricos em um país ou região, porque as conseqüências de "estresse hídrico" dependerão de como a água é gerida (UNEP, 2001).

Quadro 1 - Patamares específicos de estresse hídrico Volume disponível

per capita Situação

.> 1.700 m³/hab.ano Somente ocasionalmente tenderá a sofrer problemas de falta d’água. 1.000 – 1.700

m³/hab.ano O estresse hídrico é periódico e regular.

500 – 1.000 m³/hab.ano

A região está sob regime de crônica escassez de água. Nesses níveis, a limitação na disponibilidade começa a afetar o desenvolvimento econômico, o

bem estar e a saúde.

< 500 m³/hab.ano Considera-se que a situação corresponde à escassez absoluta.

Fonte: Setti (2001)

Em Datablog (2011), encontra-se uma fonte virtual com mapa interativo das regiões de estresse hídrico. Demonstra o desafio da escassez de água no Oriente Médio e o resto do mundo. Estes resultados foram apresentados por analistas da empresa Maplecroft (análise e mapeamento de risco no mundo) em 2011, com dados efetivos de 180 países descrevendo a exposição ao estresse hídrico, numa escala de médio, alto ou baixo. Observa-se que a ONU fornece dados para modelos computacionais, abrangendo águas subterrâneas e superficiais, quantidade consumida dessas reservas e se sustentável. Porém, entende que são superficiais e conclui que maior é a exposição de um país ao estresse hídrico, quanto maior for a proporção de seus recursos hídricos renováveis.

Ainda segundo Datablog (2011), não só o Oriente Médio, mas Austrália, África do Sul, Espanha, Índia, Cuba, Hong Kong e uma quantidade relativa de países são classificados como tendo um nível alto de estresse hídrico pela Maplecroft, o que significa ter demanda de água acima de 40% dos recursos renováveis ou máxima de 1.700 metros cúbicos por pessoa ao ano.

Mostra-se, na Figura 1, o mapa interativo de estresse hídrico no planeta, observando que as regiões mais castigadas encontram-se na faixa da América central, extremo norte e sul de África, Sul da Ásia e Austrália.

Figura 1 - Global water stress – interactive

Fonte: DATABLOG (2011)

A Tabela 6 apresenta a classificação de disponibilidade de água no mundo, conforme a UNEP.

Tabela 6 - Classificação da disponibilidade de água Disponibilidade de água doce

(m³/hab.ano) Classificação

Maior que 20.000 Muito alto

De 10.000 a 20.000 Alto

De 5.000 a 10.000 Médio

De 2.000 a 5.000 Baixo

De 1.000 a 2.000 Muito baixo

Até 1.000 Extremamente baixo

Fonte: UNEP (2002)

Para Waldman (2002), “o conceito de stress hídrico se refere à diferença entre a água utilizada e a disponível em recursos naturais.”

Pode-se observar, na Tabela 7, o percentual do potencial hídrico de cada continente.

Tabela 7 - Potencial hídrico mundial por região

Regiões do mundo Porcentagem (%)

Ásia 31,6 América do Sul 23,1 América do Norte 18,0 África 10,0 Europa 7,0 Antártica 5,0 Oceania 4,5 Austrália e Tasmânia 0,8 Total 100,0 Fonte: Tomaz (2003)

Conforme Tabela 8, o Relatório “O Estado do Mundo”, ano de 2004, no Worldwatch Institute, selecionou alguns países com estimativa da quantidade de água per capita, disponível por habitantes.

Tabela 8 - Quantidade disponível anual

Países Extrações de Água Per Capita

(metros cúbicos por pessoas por ano)

Etiópia 42 Nigéria 70 Brasil 348 África do Sul 354 Indonésia 390 China 491 Federação Russa 527 Alemanha 574 Bangladesh 578 Índia 640 França 675 Peru 784 México 791 Espanha 893 Egito 1.011 Austrália 1.250 Estados Unidos 1.932

Para o UNEP (2007), “Estresse hídrico ocorre quando a demanda de água excede a qualidade disponível durante um determinado período ou quando baixa qualidade limita seu uso”.

Carvalho (2004) refere-se ao estresse hídrico como um acontecimento implicado territorialmente conforme a região, o que se entende que os fenômenos natural ou antrópico podem ser permanentes, temporários ou intermitentes.

Os recursos hídricos, de modo geral, correm riscos evidentes de stress hídrico nos tempos atuais. A seca persegue regiões até mesmo consideradas abundantes de água, estando associados ao aumento da população na região e consumo excessivo de recursos hídricos. Além disso, ameaça a qualidade de vida, esse é o desafio para os gestores que tem encontrado dificuldades para atender as necessidades econômicas e sociais. Dessa forma, se comprovou que não existem limites regionais para o stress hídrico ocorrer, se confirma que regiões com o processo de crescimento econômico mais desenvolvido já sofrem ou tendem sofrer mais cedo as consequências da falta da água. (CARVALHO, 2008)

Relata Waldman (2009) que a oferta de recursos hídricos para o atendimento das necessidades humanas não pode ser inferior ao patamar de 1.700 m³/pessoa/ano, referência conhecida como índice de Stress Hídrico (WSI, abreviatura técnica de Water Stress Index) ou Indicador de Falkenmark. Apresenta-se, como estado de alerta, sempre que encontrar dificuldade para ser disponibilizado.

Paralelamente, patamares inferiores a 1.000 m³/hab/ano demarcariam a condição de escassez de água (Chronic

Water Scarcity), e abaixo de 500

m³/hab/ano, um estado de penúria hídrica absoluta (Absolute Water Scarcity), situações ainda mais problemáticas quanto ao abastecimento de água (WALDMAN, 2009).

Olic (2011) expõe que:

A carência de água é resultado da combinação de efeitos naturais, demográficos, sócio-econômicos e até culturais. Chuvas escassas, alto crescimento demográfico, desperdício e poluição de mananciais se combinam para gerar uma situação denominada de estresse hídrico.

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