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5.1 Casa-lar: a estrutura do abrigo e seus funcionários

5.1.1 Histórico da Instituição

Com a intenção de preservar ao máximo o sigilo da identidade dos sujeitos participantes da pesquisa e também do próprio abrigo pesquisado, somente alguns dados do histórico da instituição poderão ser aqui compartilhados.

Esses dados foram coletados através das entrevistas realizadas com os funcionários do abrigo e também pelo acesso a Ata de Fundação da instituição e do Estatuto que rege seu funcionamento.

O abrigo em questão foi fundando em 1996 por um grupo de pessoas que, preocupadas com a situação de crianças de rua do município, se organizaram para fundar uma instituição. Antes do surgimento do abrigo, os fundadores costumavam atender as crianças de rua em suas próprias casas, pois até então, o município não possuía nenhuma entidade que pudesse assisti- las. Como o número de crianças só aumentava e a capacidade de acolhimento dessas casas era pequena, a alternativa encontrada foi fundar uma casa-lar, que pudesse acolher tais crianças.

Surgiu, então, o abrigo, com a finalidade de “acolher provisoriamente crianças em situação de risco encaminhadas pelo Conselho Tutelar com idade de 0 a 12 anos, prestando- lhes os serviços de assistência social, psicológica e educacional, garantindo o bem estar físico e emocional” (Estatuto do Abrigo).

No início de seu funcionamento, o abrigo atendia também os casos de menores de 18 anos, que passavam a noite na casa até serem encaminhados para algum serviço de assistência social do município, podendo ficar acolhidos por até uma semana. Por haver uma discrepância de idade considerável, a direção do abrigo solicitou junto ao Ministério Público que a faixa etária dos atendimentos fosse reduzida, já que eles estavam enfrentando muitos problemas com os adolescentes, que eram em sua maioria, menores infratores. Portanto, em 2006, o abrigo passou a atender crianças de 0 a 12 anos, como consta no trecho retirado do Estatuto interno da instituição acima citado.

O abrigo é uma Associação Civil, com personalidade de Direito Privado, sem fins econômicos e de caráter beneficente e de assistência social. Isso significa que a instituição presta atendimentos sem que haja um custo para as famílias ou para os usuários da casa. A mesma é mantida em partes por recursos da Prefeitura, que custeia a alimentação, o salário de cinco funcionários, e algumas despesas básicas, como água, luz e gás; e em parte, por parcerias que a entidade faz com empresários, empresas e fundos de assistência social. Para obter os recursos necessários à organização, instalação, ampliação e manutenção dos seus

serviços, o abrigo também faz promoções, podendo também firmar convênios, nacionais ou internacionais, contanto que não implique na sua subordinação aos interesses desses parceiros que sejam contrários aos objetivos do próprio abrigo.

A pesquisa do IPEA (2004) revelou um dado interessante dos abrigos no que diz respeito à forma de financiamento das atividades da instituição e também da influência religiosa, afirmando que

do universo pesquisado, 68,3% dos abrigos são não-governamentais e 67,2% deles possuem significativa influência religiosa. No que se refere à manutenção dos abrigos não governamentais, cerca de 70% dos recursos são próprios ou se originam de doações de pessoas físicas ou jurídicas (IPEA, SILVA, p.12).

O fato de 68,3% dos abrigos serem não-governamentais nos indica que a criança não está entre as prioridades do Estado, e devido a isso, surgem instituições de acolhimento que não cumprem com os requisitos pressupostos pelo ECA, impossibilitadas de dar conta dos discursos da lei e principalmente, de dar conta do cuidado da criança para além das vias da violência, como claramente se observa no abrigo pesquisado, uma vez que, como veremos adiante, não conta nem com o quadro mínimo de funcionários para a demanda de cuidados e serviços gerais.

Quanto à orientação religiosa, o abrigo pesquisado não é proveniente de nenhuma iniciativa religiosa, não possuindo uma influência religiosa definida. Segundo a coordenadora da casa, cada um dos funcionários segue a sua própria religião, transmitindo-a ou não às crianças. O abrigo recebe visitas de grupos de várias religiões, que preparam brincadeiras, presenteiam e contam histórias.

Quando da fundação do abrigo, o mesmo funcionava numa casa de madeira na qual havia um caseiro. Os primeiros funcionários vieram mediante concurso público na Prefeitura do município, contratados como auxiliares de serviços gerais. Devido à existência de um caseiro, nos finais de semana e feriados os funcionários não precisavam ficar na casa, crianças ficando as crianças sob os cuidados da família do caseiro.

Depois de um tempo, o abrigo mudou-se para uma melhor localidade, uma vez que a anterior era uma casa muito velha. Já na nova sede, a forma de funcionamento também foi modificada. Agora já não havia mais o caseiro. O cuidado das crianças passou a se dar pelas “tias”, como são chamadas pelas crianças. Essas “tias” são em geral mulheres que, por gostarem de crianças, aceitaram trabalhar na casa.

Segundo dados colhidos na instituição, o maior número de abrigamentos ocorre nos meses de outubro a dezembro. Desde o período em que a pesquisa vem sendo desenvolvida na instituição (maio a novembro de 2010), o número de crianças abrigadas variou de 6 a 22 crianças, sendo que atualmente há 22 crianças na casa.

Ao entrevistar os funcionários do abrigo, observamos que, com exceção do técnico administrativo e da coordenadora, todos os demais foram contratados como auxiliares de serviços gerais. No entanto, a função prática é cuidar das crianças e também do serviço da casa, como lavar, passar, cozinhar, limpar, etc.

Atualmente o abrigo está passando por um momento de adequação legal dos serviços oferecidos pela instituição, uma vez que o mesmo não conta em sua equipe com profissionais como pedagoga, assistente social e psicóloga. Um projeto foi elaborado e encaminhado para a Prefeitura do município solicitando a contratação desses profissionais. Discute-se também, a possibilidade da municipalização do abrigo, o que significa que o mesmo deixaria de ser uma entidade não governamental sem fins lucrativos, para se tornar uma entidade totalmente custeada e mantida pelo município.