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Para contextualizar os Planos de Gestão de Logística Sustentável é necessário situar a legislação inicial que desencadeou uma sequência de outras legislações, resultando na atual regulamentação desses planos. O ano de 1993 com a publicação da Lei 8.666, instituindo normas para as licitações e contratações na Administração Pública, regulamentando o Artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal. Consta no Artigo 37 da Constituição Federal, como parte integrante do título relacionado à Organização do Estado e da Administração Pública, a seguinte redação:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

[…]

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988).

Em 2012, dentro da classificação de Política do Meio Ambiente, o Decreto n.º 7.746 regulamentou o artigo 3.º da Lei n.º 8.666, estabelecendo os critérios, práticas, e diretrizes gerais para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal direta, autárquica e fundacional e pelas empresas estatais dependentes.

Em seu texto, o Art. 3.º, do Decreto apresenta a seguinte redação:

Art. 3.º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (BRASIL, DECRETO N.º 7.746, 2012).

As diretrizes de sustentabilidade previstas no Decreto 7.746 estão apresentadas em seu Artigo 4º:

Art 4º São diretrizes de sustentabilidade, entre outras:

I - menor impacto sobre os recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e água; II - preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local; III – maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia; IV – maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local; V – maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra; VI – uso de inovações que reduzam a pressão sobre os recursos naturais; e

VII – origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos bens, serviços e obras (BRASIL, DECRETO N.º 7.746, 2012).

No Artigo 5.º consta a possibilidade de a Administração exigir nos instrumentos convocatórios para a aquisição de bens, entre outros critérios de sustentabilidade, que estes sejam constituídos por material reciclado, atóxico ou biodegradável.

Quanto à contratação de obras e serviços de engenharia devem ser respeitadas as especificações e exigências constantes do Artigo 6.º do Decreto 7.746:

Art. 6º As especificações e demais exigências do projeto básico ou executivo para contratação de obras e serviços de engenharia devem ser elaboradas, nos termos do art. 12 da Lei nº 8.666, de 1993, de modo a proporcionar a economia da manutenção e operacionalização da edificação e a redução do consumo de energia e água, por meio de tecnologias, práticas e materiais que reduzam o impacto ambiental (BRASIL, DECRETO N.º 7.746, 2012).

Para a especificação do projeto básico ou executivo, o Artigo 12 da Lei n.º 8.666, apresenta os principais requisitos a serem respeitados:

Art. 12. Nos projetos básicos e projetos executivos de obras e serviços serão considerados principalmente os seguintes requisitos:

I - segurança;

II - funcionalidade e adequação ao interesse público; III - economia na execução, conservação e operação;

IV - possibilidade de emprego de mão-de-obra, materiais, tecnologia e matérias- primas existentes no local para execução, conservação e operação;

V - facilidade na execução, conservação e operação, sem prejuízo da durabilidade da obra ou do serviço;

VI - adoção das normas técnicas, de saúde e de segurança do trabalho adequadas; VII - impacto ambiental (BRASIL, LEI N.º 8.666, 1993).

A adoção de práticas de sustentabilidade também é referenciada no Artigo 7.º do Decreto 7.746:

Art. 7.º O instrumento convocatório poderá prever que o contratado adote práticas de sustentabilidade na execução dos serviços contratados e critérios de sustentabilidade no fornecimento dos bens (BRASIL, DECRETO N.º 7.746, 2012).

Para permitir seguimento das demais ações relacionadas com a implementação das práticas de estabelecendo os critérios, práticas e diretrizes gerais para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável em contratações na Administração Pública, o Decreto 7.746 instituiu a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública (CISAP). A referida comissão tem natureza consultiva e de caráter permanente, estando ligada à Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, tendo como finalidade propor a implementação de critérios, práticas e ações de logística sustentável no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional e das empresas estatais dependentes. É composta por representantes do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Ministério do Meio Ambiente, Casa Civil da Presidência da República, Ministério de Minas e Energia, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério da Fazenda e da Controladoria-Geral da União.

Coube à CISAP propor à Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, entre outras, as regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável para a administração pública federal direta, autárquica e fundacional e as empresas estatais dependentes.

Conforme o Artigo 16 do Decreto 7.746, na elaboração e implementação desses planos, as entidades devem prever, no mínimo:

I – atualização do inventário de bens e materiais do órgão e identificação de similares de menor impacto ambiental para substituição;

II – práticas de sustentabilidade e de racionalização de uso de materiais e serviços; III – responsabilidades, metodologia de implementação e avaliação do plano;

IV – ações de divulgação, conscientização e capacitação (BRASIL, DECRETO N.º 7.746, 2012).

Com base no Artigo 16 do Decreto n.º 7.746, em 12 de novembro de 2012, a Instrução Normativa n.º 10 da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do MPOG estabeleceu as regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável e definiu os principais conceitos apresentados no Artigo 2.º da Instrução Normativa n.º 10, os quais estão relacionados no quadro 7.

Quadro 7 - Conceitos dos PLS

Item Conceito

Logística Sustentável Processo de coordenação do fluxo de materiais, de serviços e de informações, do fornecimento ao desfazimento, que considera a proteção ambiental, a justiça social e o desenvolvimento econômico equilibrado

Critérios de

Sustentabilidade

Parâmetros utilizados para avaliação e comparação de bens, materiais ou serviços em função do seu impacto ambiental, social e econômico

Práticas de

Sustentabilidade

Ações que tenham como objetivo a construção de um novo modelo de cultura institucional visando a inserção de critérios de sustentabilidade nas atividades da Administração Pública

Práticas de

Racionalização

Ações que tenham como objetivo a melhoria da qualidade do gasto público e contínua primazia na gestão dos processos Coleta Seletiva Coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme

sua constituição ou composição

Coleta Seletiva Solidária Coleta dos resíduos recicláveis descartados, separados na fonte geradora, para destinação às associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis

Resíduos Recicláveis descartados

Materiais passíveis de retorno ao seu ciclo produtivo, rejeitados pelos órgãos ou entidades da Administração Pública

Material de Consumo Todo material que, em razão de sua utilização, perde normalmente sua identidade física e/ou tem sua utilização limitada a dois anos

Material Permanente Todos os bens e materiais que, em razão de sua utilização, não perdem sua identidade física, mesmo quando incorporados a outros bens, tendo durabilidade superior a dois anos

Inventário Físico- Financeiro

Relação de materiais que compõem o estoque onde figuram a quantidade física e financeira, a descrição, e o valor do bem Compra Compartilhada Contratação para um grupo de participantes previamente

estabelecidos, na qual a responsabilidade de condução do processo licitatório e gerenciamento da ata de registro de preços serão de um órgão ou entidade da Administração Pública Federal

Fonte: elaborado pelo autor. Adaptado da IN N.º 10.

A definição dos Planos de Logística Sustentável é apresentada no Artigo 3.º da Instrução Normativa n.º 10, tendo o seguinte teor:

Art. 3.º Os PLS são ferramentas de planejamento com objetivos e responsabilidades definidas, ações, metas, prazos de execução e mecanismos de monitoramento e

avaliação, que permite ao órgão ou entidade estabelecer práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos na Administração Pública (INSTRUÇÃO NORMATIVA N.º 10, SLTI/MPOG, 2012).

Instrução Normativa N.º 10 de 2012 ainda prevê em seu Artigo 4.º que os PLS sejam elaborados pelo órgão ou entidade e sua delegação e aprovação aprovada pelo Secretário- Executivo do respectivo Ministério ou cargo equivalente nas Autarquias, Fundações e empresas estatais dependentes. Os planos podem ser subdivididos, a critério de cada órgão ou entidade, em razão da complexidade de sua estrutura.

O conteúdo dos Planos de Logística Sustentável, devem contemplar, no mínimo, segundo o Artigo 5.º da IN.º 10 e conforme a determinação do Artigo 16 do Decreto 7.746:

Art. 5º Os PLS deverão conter, no mínimo:

I – atualização do inventário de bens e materiais do órgão ou entidade e identificação de similares de menor impacto ambiental para substituição;

II – práticas de sustentabilidade e de racionalização do uso de materiais e serviços; III – responsabilidades, metodologia de implementação e avaliação do plano; e IV – ações de divulgação, conscientização e capacitação (BRASIL, DECRETO N.º 7.746, 2012).

A Instrução em seu Artigo 6.º informa que para gerir o Plano, deve-se constituir uma Comissão, composta por no mínimo três servidores, designados pelos respectivos órgãos ou entidades. Conforme o Parágrafo 2.º do mesmo Artigo, à Comissão Gestora do Plano de Logística Sustentável será a atribuída a elaboração, monitoramento, avaliação e revisão do PLS. No quadro 8 são apresentados os itens constantes do Artigo 5.º da Instrução Normativa e as Ações e Artigos relacionados na mesma Instrução.

Quadro 8 - Ações e artigos da Instrução Normativa n.º 10

(continua) Inciso do Artigo 5.º da IN

N.º 10

Ações e Artigos Relacionados na IN

I - atualização do inventário de bens e materiais do órgão ou entidade e identificação de similares de menor impacto ambiental para substituição

Art. 7º A elaboração e atualização do inventário de bens móveis deverão ser feitas em conformidade com a Instrução Normativa SEDAP nº 205, de 8 de abril de 1988, ou normativo que a substituir.

Parágrafo único O inventário de materiais deverá ser composto pela lista dos materiais de consumo para uso nas atividades administrativas, adquiridos pelo órgão ou entidade no período de um ano, conforme Anexo I.

(conclusão) II – práticas de

sustentabilidade e de racionalização do uso de materiais e serviço

Art. 8º As práticas de sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e serviços deverão abranger, no mínimo, os seguintes temas:

I – material de consumo compreendendo, pelo menos, papel para impressão, copos descartáveis e cartuchos para impressão;

II – energia elétrica; III – água e esgoto; IV – coleta seletiva;

V – qualidade de vida no ambiente de trabalho;

VI – compras e contratações sustentáveis, compreendendo, pelo menos, obras, equipamentos, serviços de vigilância, de limpeza, de telefonia, de processamento de dados, de apoio administrativo e de manutenção predial; e

VII – deslocamento de pessoal, considerando todos os meios de transporte, com foco na redução de gastos e de emissões de substâncias poluentes.

Parágrafo único. As práticas de sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e serviços constantes no Anexo II poderão ser utilizadas como referência na elaboração dos PLS.

III – responsabilidades,

metodologia de

implementação e avaliação do plano

Art. 9º Os PLS deverão ser formalizados em processos e, para cada tema citado no art. 8º, deverão ser criados Planos de Ação com os seguintes tópicos:

I - objetivo do Plano de Ação;

II - detalhamento de implementação das ações;

III - unidades e áreas envolvidas pela implementação de cada ação e respectivos responsáveis;

IV - metas a serem alcançadas para cada ação; V - cronograma de implantação das ações; e

VI - previsão de recursos financeiros, humanos, instrumentais, entre outros, necessários para a implementação das ações.

§ 1º Para os temas listados no art. 8º, os resultados alcançados serão avaliados semestralmente pela comissão gestora, utilizando, no mínimo, os indicadores elencados no Anexo III. § 2º Caso o órgão ou entidade inclua outros temas no PLS deverão ser definidos os respectivos indicadores, contendo: nome, fórmula de cálculo, fonte de dados, metodologia de apuração e periodicidade de apuração.

IV – ações de divulgação, conscientização e capacitação

Art. 10. As iniciativas de capacitação afetas ao tema sustentabilidade deverão ser incluídas no Plano Anual de Capacitação das unidades integrantes da administração pública federal direta, das autarquias e das fundações, de acordo com o disposto no Decreto nº 5.707, de 23 de fevereiro de 2006, e nos planos de capacitação similares, no caso das empresas estatais dependentes.

Quanto à publicidade dos Planos de Gestão de Logística Sustentável, a Instrução Normativa N.º 10, em seu Artigo 12, determina que a elaboração e publicação dos PLS devem ser disponibilizadas no site das Organizações e, no Artigo 13, define a periodicidade e a publicação dos resultados alcançados a partir da medição de indicadores. Segundo esse artigo, há a determinação de publicação semestral dos resultados alcançados a partir da implementação dos PLS. Esse acompanhamento deverá constar no site das organizações, com as informações sobre as metas alcançadas, bem como os resultados mensurados pelos indicadores (INSTRUÇÃO ..., 2012).

Ao final de cada ano, conforme o Artigo 14, cada órgão ou entidade deverá elaborar o relatório de acompanhamento do PLS, de modo a evidenciar o seu desempenho na execução e avaliação dos PLS e disponibilizá-lo em ambiente eletrônico e encaminhá-los à Secretaria Executiva da CISAP. Esses relatórios devem conter informações quanto à consolidação dos resultados alcançados e a identificação das ações a serem desenvolvidas para o ano seguinte.